Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 18
Divisão


Notas iniciais do capítulo

Atrasei um pouquinho, mas aí está o capítulo!



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Todos se instalaram no palacete. A maior parte do palacete foi posta em ordem para que eles se acomodassem da melhor maneira possível, e a divisão entre os quartos foi feita rapidamente; Amélia e suas amigas ficariam num quarto, enquanto as gêmeas ficariam no outro, junto com Alícia. Já os rapazes ficariam também num quarto separado. Fábio, Heitor e Anjo ficariam juntos e Christophe, Michael e Magno juntos num outro cômodo. Os irmãos Raimann se dividiram em dois quartos.

Uma vez acomodados, Adela tratou de chamar as garotas para ajudá-la a preparar o jantar. Kurt se ofereceu para ajudar também, enquanto os demais arrumavam outras coisas para fazer. Magno, por sua vez, ficou responsável pela guarda.

Enquanto o homem caminhava, Christophe o alcançou e se pôs a caminhar ao lado dele. Os dois fizeram isso em total silêncio durante alguns minutos até que pararam diante de uma fonte, na parte de trás do palacete.

O terreno do palacete era uma clareira em meio a floresta de Acádia. Havia um lago natural atrás da construção, e nada artificial além da fonte e dos muros em volta. Apenas em frente ao palacete havia o chão de concreto, uma grande fonte, e os portões.

Magno olhava para o céu escuro. Estava completamente limpo de nuvens, mas podiam-se ver as estrelas brilhantes em abundância. Naquele momento, Magno se lembrou de Victória e isso o confundiu. Não entendia por que aquela visão trazia a imagem da cantora tão insistentemente.

— Você está bem? — Christophe trouxe o homem de volta à realidade.

— Ãn... Sim, sim. Por que a pergunta?

— Você pareceu um pouco perdido agora? No que estava pensando?

— Eu não sei bem.

— Onde você deixou a senhorita Montserrat?

Magno olhou para Christophe, pasmo. A pergunta o aturdiu de forma inexplicável e até mesmo o primo notou a confusão, sem no entanto entender o motivo dela.

—  ... Eu a deixei no hotel... naquele perto da Bélle Café...

— Fala do Pier Pasolini?

— Isso, isso! Esse mesmo. É um hotel cinco estrelas, ideal para uma mulher como ela.

Magno virou o rosto. Christophe se inclinou um pouco e ficou abismado ao constatar que o primo estava ruborizado. Tateou seu bolso desesperadamente, ao que Magno notou.

— O que você tem?

— Estou à procura do meu celular. Preciso fotografar esse momento.

Magno levantou o punho em ameaça, e Christophe se afastou instintivamente. O homem, então, respirou fundo, na tentativa de se acalmar.

— Eu não sei bem o que está acontecendo comigo, mas esse não é o momento para distração.

— Carlos... Você não estaria... apaixonado pela senhorita Montserrat?

Dessa vez, o rosto de Carlos Magno ficou nitidamente vermelho. Ele limpou a garganta e fixou o olhar no céu, enquanto Christophe abria um sorriso de satisfação.

— Você está errado! — A voz de Magno saiu falha.

— Minha nossa, você gosta dela! — Christophe quase gritou. — Nossa! Eu já havia notado que você estava impressionado, mas é surpreendente mesmo assim.

— Já chega! — Magno falou bruscamente. — Esqueça-se disso. O momento não é...

— Não é o ideal? Nunca é para um militar, de qualquer jeito.

Christophe olhou para o céu também. Sorriu ao ver as estrelas brilharem e, por um momento, achou que elas passaram a brilhar com mais intensidade do que antes.

— Bem... — o rapaz falou num suspiro — Eu vou entrar. Boa noite.

— Boa noite!

Christophe se afastou, deixando Magno com seus pensamentos e sentimentos bagunçados. Quando o rapaz chegou à sala principal do palacete, ficou surpreso ao perceber que não havia ninguém ali. Só depois de se sentar, ele notou Amélia se aproximar. A garota se sentou ao seu lado.

— Oi.

— Olá, Amélia.

Amélia entrelaçava os dedos e olhava para baixo com o rosto corado. Ela levantou os olhos brilhantes para o primo, enquanto sua respiração ficava mais rápida. Tinha uma expectativa tal que não conseguia se controlar.

— Então... Sobre a carta...

— Ah! Sua carta. — Christophe suspirou. — Sim, eu me lembro.

— E...?

Christophe se endireitou, virando-se para a prima e a olhando no fundo dos olhos. Aquilo colaborou para a taquicardia dela. Seus olhos se iluminavam cada vez mais, enquanto sua respiração se alterava novamente. Ela mordia os lábios de ansiedade.

— Amélia, eu realmente gosto muito de você. Mas você é minha prima. Gosto de você como gosto das minhas irmãs, e penso no seu bem como no bem da nossa família. É assim que gosto de você.

Ao ouvir aquilo, o semblante de Amélia murchou subitamente. Seu sorriso desapareceu, sua expressão era de espanto e decepção. Ela desviou o olhar de Christophe para o chão e ficou sem saber o que fazer. O rapaz, que percebeu sem surpresa o efeito que sua confissão havia causado, tentou remediar.

— Lamento se te magoei, mas eu realmente tenho por você um sentimento de irmão. Espero que você entenda isso. Você ainda é tão nova, tem tanta coisa para fazer, tantas pessoas para conhecer... Não deixe algo assim te abalar.

Christophe tocou o rosto da prima, já sentindo as lágrimas dela molharem sua mão. Porém, Amélia o afastou e se levantou bruscamente, fechando os punhos e chorando abundantemente.

— Não deixar me abalar? Do que você está falando? — Ela riu, raivosa. — Como eu não ficaria abalada? Você prestou atenção na carta? Como eu me abri para você? E você me diz isso?

— O que esperava que eu dissesse? — Christophe perguntou, mantendo a calma.

— Eu? Eu esperava... eu esperava... eu achei mesmo que você pudesse gostar de mim, não só como sua irmãzinha. Você não precisa de uma irmã, você já tem duas. Não me trate como uma criancinha que você tem que proteger!

— Não é isso, Amélia...

— Claro que não! — Amélia gritou. — Você não me ama, eu entendi! Então tudo bem! Eu não quero ouvir nada, nenhum consolo, nenhuma dica de superação, nada!

Antes que Christophe pudesse falar algo, Amélia saiu batendo o pé e correu direto para seu quarto, onde suas amigas, alarmadas com o estado no qual ela adentrou o lugar, a abraçaram e deixaram que ela chorasse tudo o que tinha para chorar.

Ainda na sala, o rapaz passou a mão no rosto e se levantou. Também foi direto para o seu quarto e se sentou na cama, meditando em tudo o que estava acontecendo na sua vida. Quando foi que as coisas começaram a piorar tanto? Ele pensava.

***

O jantar não foi o momento mais feliz. Kurt sentiu um peso estranho que conseguia minar toda sua animação. Notou que Amélia estava com os olhos vermelhos e um pouco inchados, e evitava olhar para Christophe, que também parecia incomodado com o ambiente. Fábio e Magno se sentaram o mais distante que puderam um do outro. Alícia se sentou ao lado das gêmeas, bem distante das amigas de Amélia.

Ao perceber que os demais também pareciam abatidos, aquilo entristeceu o coração de Kurt, que não teve nem mesmo disposição para tentar animá-los.

Magno, assim que terminou sua refeição, se levantou e deixou a sala, indo em direção à saída. Mal ele alcançou a escadaria principal, sentiu que não estava sozinho. Olhou para trás e percebeu que Fábio o seguira.

— Se eu te entregar a pedra... o que fará com ela? — o garoto perguntou cruzando os braços.

— Não é óbvio? Vou entregá-la à princesa. O que preciso fazer para que você entenda que isso é algo perigoso?

— Eu entendo como é perigoso. Por isso não quero entregá-la a ninguém que possa usá-la indevidamente.

— E o que pretende fazer com ela? Guardá-la?

— É uma boa ideia.

Magno fechou os punhos. Suspirou e contou até cinco para tentar controlar um ímpeto de dar um soco em Fábio.

— Eu já sabia que você é uma criança mimada, só não sabia que era tão irritante!

— Criança mimada? — Dessa vez, Fábio quem ficou com raiva. — Eu não vou aceitar críticas de um homem emocionalmente descontrolado e que nem tem coragem de falar com uma mulher!

— Como disse? — Magno gritou. — Um pirralho egocêntrico como você não tem o direito de falar coisa alguma!

Antes que as coisas piorassem, Christophe surgiu e se colocou mais uma vez entre os primos. A situação já estava fugindo ao controle.

— Não acredito que você veio aqui só para arrumar confusão. — Christophe falou para Fábio.

— Eu não vim para brigar, vim para convencer o Magno de que ele está cometendo um erro!

— Erro? — Christophe passou a mão no rosto, já sem paciência. — Fábio, eu não acredito que você possa ser tão inteligente e tão sem noção ao mesmo tempo.

— Já chega! — Magno ordenou, caminhando em direção aos dois. — Isso está ficando ridículo. Entregue a pedra, agora!

— Não!

O homem gritou e avançou. Fábio, surpreso com a perda de equilíbrio do primo, se desviou de um soco. Christophe se colocou à frente do primo mais novo e segurou o punho do outro, puxou-o ferozmente para trás, no entanto, não soube controlar sua força e acabou por arremessá-lo longe demais.

Magno caiu no chão e seu corpo se arrastou por alguns metros, causando estrago no concreto. Ele se levantou, puxou sua taurus e disparou duas vezes na direção de Christophe, porém as balas ricochetearam em seu abdômen sem causar dano algum.

Fábio segurou uma risada, mas ficou pálido quando o primo apontou a arma em sua direção e disparou várias vezes. Ele, mais que rapidamente, usou o dom fantasma, mas não a tempo de evitar que uma bala passasse de raspão por seu braço.

— Desgraçado! — Fábio gritou, segurando o braço e sentindo o latejar do ferimento.

No mesmo momento, os outros Raimann surgiram na porta, surpresos com a confusão. Antes que Kurt dissesse algo, Christophe correu na direção de Magno, que saltou e se desviou de um soco do primo, desferindo um chute em seu rosto, ainda no ar. O ataque não surtiu nenhum efeito e Christophe ainda segurou sua perna e o girou, lançando-o mais longe ainda.

O corpo de Magno colidiu com uma estátua de mármore, quebrando-a em vários pedaços.

— E agora, vai parar? — Christophe gritou para Magno, que se levantou rapidamente depois de cair.

— Esse idiota... — Fábio se aproximava, mas, subitamente, Christophe direcionou um olhar inflamado para ele.

O garoto sentiu medo por um momento, pois nunca havia visto aquele olhar do primo, nem mesmo quando Marcos o irritara ao quase matar Michael e Branca. Os olhos de Christophe estavam completamente esverdeados e brilhantes de um jeito assustador.

— Você fique quieto aí! — Christophe apontou para Fábio, que recuou dois passos.

Carlos Magno se aproximava devagar, a taurus em mãos e pronta para ser disparada novamente, porém isso não o preocupava Christophe.

— Havia me esquecido do seu dom — Magno falou, parando a dois metros do primo. — É enervante, além de não sofrer dano, sua força ser grande demais. Lembro-me de que você sequer sabia se controlar. Parece que isso não mudou muito.

— Não importa! — Christophe falou. — Agora parem com isso. Não é hora de brigarmos. A situação já está bem feia sem haver guerra entre nós mesmos.

— Lamento, mas enquanto Fábio não entregar a pedra, ele será considerado um inimigo. Você sabe muito bem que se Áquila descobrir sobre isso, mandará emissários, e as coisas serão bem piores. Você irá desafiar os emissários aquilinos?

— Talvez — Fábio falou, se colocando ao lado de Christophe. — Mas eu não estou nem um pouco disposto a abrir mão dela.

— Que pena! — Magno exclamou e apontou a arma em direção a Fábio, porém, antes que puxasse o gatilho, um dos braços de Preta bateu em sua mão, fazendo-o derrubar a arma. Ele olhou na direção da garota, cujos olhos estavam completamente pretos. Apenas um braço se movia, ainda segurando seu punho.

— Eu não acho legal quando você tenta matar um dos membros da sua família — ela falou. Sua voz estava um pouco mais grossa e baixa do que o normal. Um largo sorriso se abriu em seu rosto.

Antes que Magno reagisse, uma lâmina passou rodopiando e cortou o braço escuro de Preta. Ela recolheu o braço, e a parte que ainda estava presa ao punho de Magno se desfez em fumaça.

Surpresos, todos olharam na direção de onde a lâmina viera, e perceberam um homem que usava apenas uma calça e possuía ainda outra espada na mão. Não tinha cabelo e seus olhos eram grandes demais.

Christophe se aproximou da espada que estava cravada no concreto. Era uma cimitarra e fora cuidadosamente afiada. O rapaz tratou de tentar tirá-la dali.

— Não toque nela, Chris! — Magno gritou, porém tarde demais.

Quando Christophe tocou na espada, um grande campo de energia o repeliu com força e ele foi jogado para trás, causando mais destruição no concreto. Apesar do susto, o rapaz se recuperou e se levantou um pouco zonzo.

— Minha nossa, você não morreu? — O homem em cima do muro pareceu surpreso e riu. — Você deve ser forte. Ninguém sobrevive quando toca na minha espada.

O homem esticou o braço. A espada se mexeu e voo de volta para a mão do seu dono que soltou outra gargalhada.

— É um prazer conhecer a família de Carlos Magno Raimann! Meu nome é Heikki, muito prazer!

— Vejo que os Óligos chegaram — disse Magno, pegando sua taurus e sacando outra que estava presa em sua perna.

— Maravilha! — Elric exclamou, levantando os braços com visível irritação.

O comportamento pareceu estranho para Heikki, que esperava mais uma reação de desespero do que irritação. Os Raimann eram uma das poucas famílias que viviam fora dos domínios de Áquila, conseguiam conviver com os humanos sem problemas e não se envolviam em lutas. Famílias assim eram mais suscetíveis a serem exterminadas por rebeldes como os Óligos, que tinham muita experiência em combate.

— Onde estão os seus amigos, Heikki? — Carlos Magno gritou.

— Relaxa, amiguinho. Eles acabaram de chegar.

Subitamente, alguns homens e mulheres saltaram o muro do palacete.

— O grupo de ataque dos Óligos — Magno falou. — Faço parte da divisão de soldados que procuram por membros desse grupo para exterminá-los.

— Entendi por que você os conhece — Christophe falou, se aproximando do primo. — Agora não há mais volta, há?

— Se você tiver problema em matar, é melhor nem entrar na luta! — Magno rosnou.

Christophe suspirou. Na verdade, tinha muitos problemas em matar, mas naquele momento estava irritado demais para pensar nos direitos vitais de inimigos que não se importavam com os direitos de viver dele.

— Que se dane! — o rapaz proferiu aquelas palavras com descaso. Seus olhos assumiram um verde ainda mais intenso.

Voando sobre os Óligos, surgiu Marcos. Estava razoavelmente bem vestido para quem pretendia entrar numa luta até a morte contra a própria família, e sorria já cantando sua vitória.

— Vocês ainda têm uma chance de viver. Entreguem o carbúnculo e se juntem a nossa causa. — Marcos falou do alto.

— Não, obrigado! — Elric falou com mau humor.

— Então isso é um adeus, caros irmãos!

 


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Notas finais do capítulo

Bem, agora estamos rumo à uma batalha. Obrigada por ler!



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