Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 16
Desentendimentos


Notas iniciais do capítulo

Hoje passei mal, fui ao hospital e, quando voltei, apaguei, dormi o dia todo. Mas, agora que estou melhor, aqui o próximo capítulo.



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Na Casa Grande, enquanto Christophe ainda estava fora a procurar pelas irmãs e pelos primos, os moradores continuavam suas atividades normalmente, e os Raimann aguardavam notícias.

Kurt estava mais inquieto do que costumava ser, e andava de um lado para o outro, ora pela casa toda, ora apenas num cômodo. Aquilo não ajudava em nada, mas ele não sabia mais o que fazer. Ficou tentado a sair e procurar ele mesmo, mas seus irmãos o detiveram.

Enquanto a angústia dominava todos os corações, Amélia e suas amigas conversavam no quintal. Michele observava Victória, que estava sentada no pergolado, tentando ler um livro. Ela parecia muito angustiada também e se esforçava em tentar se esquecer de tudo o que acontecera e o que ainda acontecia.

No olhar de Michele, a inveja e o ciúme borbulhavam como água fervente, embora ela se esforçasse para não demonstrar tais sentimentos.

Entre os arbustos, Jack e Jackson observavam toda a cena com sorriso no rosto. Gostavam muito de ver brigas, principalmente as que chegavam às vias de fato.

Antes que Jack e Jackson pudessem se aproximar de Michele, eles notaram Magno se aproximar de Victória, e se sentar ao seu lado. Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, até que a mulher fechou o livro e suspirou. Uma lágrima rolou por sua face, mas ela rapidamente a secou.

— Nenhuma notícia deles? — Victória se voltou para Magno. Sua voz saiu rouca e ela limpou a garganta.

— Não. Eu mesmo vou ajudar o Christophe. Só passei para ver se você está bem.

— Estou, sim, obrigada pela consideração. Mas, pelos reis, não perca mais tempo e vá procurá-los.

Magno assentiu com a cabeça. Estava sério novamente e não esboçou mais nenhuma reação desde a noite anterior, quando se mostrou tão atencioso com a cantora. Ela, por sua vez, parecia cada vez mais emotiva.

O homem se levantou e foi até a sala. Lá, conversou com Anjo, que aquiesceu ao um pedido para que ajudasse a procurar os garotos. Ele concordou em procurar dos ares, se aproveitando do fato de estar escurecendo e haver muitas nuvens para encobri-lo.

Não demorou muito, Anjo levantou voo, o que impressionou Victória. Foi uma visão muito bonita a de se ver; as asas brancas e enormes se abrindo e batendo, os cabelos loiros dançando com o vento, o enorme corpo levantando voo. Magno, por sua vez, pegou seu carro e saiu.

Passado mais algum tempo, Victória se levantou e começou a caminhar pelo quintal. Seu vestido preto se arrastava no chão e seus cabelos estavam soltos e cacheados. Ela tinha uma maquiagem escura que realçou a tonalidade de sua pele, mas lhe concedia um ar de luto. Seus olhos eram como duas pedras brilhando em meio a escuridão.

Michele, depois de assistir toda aquela cena, se enervou ainda mais. Victória caminhava na direção das garotas e se deteve diante delas, que estavam todas próximas às flores. A mulher sorriu com delicadeza e as cumprimentou, embora ainda estivesse tristonha.

— Então você é a grande cantora Victória de Montserrat — falou Christine, tentando parecer amigável, mas preocupada com o modo como Michele poderia se comportar.

— Muito prazer. E vocês são...?

— Eu sou Christine, essa aqui é a Lady, a Amélia e esta é a Michele.

— Encantada — Victória falou.

Michele, irada, se levantou e se afastou. A cantora não entendeu o que acontecera, pois notara a irritação no rosto e no comportamento de Michele. Atribuiu aquilo à preocupação que ela deveria sentir naquele momento em relação a Fábio, Branca, Preta e Heitor.

— Não fique triste com ela — Lady falou —, está apenas com um pouco de raiva, mas logo passa.

— Entendo.

A cantora se desculpou e pediu licença, porém, antes que se afastasse, ouviu Michele chamá-la, e se virou, esperançosa de poder encontrar um rosto mais doce. Apesar de sua esperança, tudo o que recebeu foi uma expressão de descaso.

— Onde você conheceu o Magno? — Michele perguntou rispidamente.

— Ãn...? — Victória franziu a testa de leve, achando a pergunta estranha. — No teatro, na noite em que me apresentei... Encontrei-o, e a Fábio, próximos à entrada para o meu camarim, então...

— Então faz uns três dias, não?

— Eh... Sim, mas não entendo aonde você...

— Você mal o conhece. O que pensou quando convidou ele para ir a sua casa? E o que pensa que está fazendo aqui? Você nem conhece ele, nem nós, nem ninguém aqui.

A expressão de Victória era de perplexidade. Seu lábio inferior tremeu um pouco enquanto ouvia tudo o que Michele tinha para dizer. Igualmente Amélia, Christine e Lady pareciam assustadas.

— Acho melhor você sair daqui. Aqui não é o seu lugar, e não tem lugar pra você. Você não faz ideia de quem ou o quê nós somos, então se coloque no seu lugar e volte para suas mansões e seus teatrinhos ridículos.

Michele cruzou os braços como se aquela fosse sua palavra final. Diante dela estava uma Victória completamente espantada e sem palavras. Ao seu lado, Amélia, em vez de surpresa, estava exasperada com o comportamento da amiga.

— Michele, o que foi isso? — Amélia perguntou com a voz um pouco mais fina. Isso acontecia quando algo a irritava.

— Eu só disse a verdade! — Michele revirou os olhos.

Alícia, que viu a discussão, se aproximou de Jack e Jackson, que observavam e riam da situação.  

Victória inspirou profundamente. Ficara abalada por um momento, mas logo se recuperou e sua perplexidade deu lugar a cólera. Levantou a cabeça lentamente enquanto inspirava e expirava com calma. Sua expressão se tornou altiva, e ela colocou uma mão sobre a outra diante do ventre como uma perfeita dama.

— Perdoe-me se minha presença te ofende, entretanto não vejo motivo para essa sua irritação. Convidei Carlos Magno sim, e que importa?

— Peça desculpas, Michele. Isso foi ridículo — Amélia falou.

— Não tenho que pedir desculpas — Michele falou com raiva.

— Tem sim! — Alícia falou com sua costumeira calma. — Ela é nossa convidada.

— Mas...

— Quem te deu o direito de falar assim com uma convidada? Por acaso essa casa é sua? Você sequer é parte da nossa família. Sua posição de amiga da Amélia não te confere nenhum direito aqui. É você quem tem que se colocar no seu lugar!

Apesar da calma de Alícia, suas palavras surpreenderam as meninas e principalmente Michele. Ela olhou para Amélia que baixou os olhos, um pouco constrangida, mas não se opôs a nenhuma das duras palavras da irmã mais velha.

— Agora pare com essa criancice! Senhorita Montserrat — disse, se virando na direção da mulher —, desculpe esse constrangimento. Fique à vontade.

Victória assentiu com a cabeça e se afastou acompanhada por Alícia. Michele ficou estupefata, enquanto as amigas se olhavam sem saber o que fazer. Jack e Jackson riram um para o outro e se afastaram também.

***

Preta correu para o lado e se jogou como se fosse uma goleira tentando defender um pênalti. Uma grande esfera amarela passou zunindo por seu pé e acertou uma rocha, esmigalhando-a.

Um pouco distante dali, Fábio se desviou de um soco, se abaixou e fugiu de um chute, mas foi acertado por outro soco que o arremessou para trás com brutalidade. Ele usou seu dom fantasma a tempo, pois o dano seria sério se ele se espatifasse contra a rocha que estava logo atrás e possuía algumas pontas grandes o suficiente para atravessar seu corpo.

Branca estava caída no chão, dentro de uma pequena cratera que se abriu quando ela foi jogada do ar por uma mulher que inexplicavelmente usava um vestido de gala nada condizente com o lugar e com a ocasião.

— Entreguem a pedra! — a mulher falou com voz ressonante. Estava suspensa no ar, a olhar para Branca que, apesar de onde estava sequer parecia ter sentido o impacto de sua queda.

— Por que faríamos isso? — a garota perguntou franzindo a testa como se aquela ordem fosse a coisa mais absurda a se fazer no mundo.

A expressão da mulher com traje de gala se alterou drasticamente de calma para extremamente estressada. Num instante ela se jogou na direção de Branca, mas acabou por se chocar contra parede extremamente forte que se formou de repente. Do outro lado da parede, Branca riu.

— Mulher burrinha!

Fábio, que havia caído no chão, se levantou um pouco tonto. Ter que usar seu dom tão repentinamente o deixou atordoado.

O homem que o havia atacado caminhava em sua direção. Era alto, musculoso e usava roupas escuras e parcialmente rasgadas. Seus olhos eram muito claros e as sobrancelhas grossas, o que lhe conferia uma expressão animalesca. Seus cabelos eram arrepiados e a palma de suas mãos era totalmente branca. 

— Você me ofende ao me subestimar! — Fábio falou, ofegante.

— Mas você não pode contra mim — o homem replicou enquanto se aproximava do garoto, já pronto para desferir um novo golpe.

— Você tem razão! — Fábio exclamou como se só houvesse se lembrado da limitação de seu poder naquele momento. — Então terei que usar algum trunfo.

Fábio pegou o carbúnculo que estava em seu bolso, o apontou na direção do homem e disparou, tudo isso em três segundos. Um raio vermelho emergiu da pedra e acertou o peito do outro em cheio, o que o arremessou para trás com um impacto gigante. Ao se chocar contra uma rocha, ela se partiu e ele acabou por se chocar com uma árvore logo atrás.

— Oh! Gostei disso! — Fábio sorriu.

Ao lado do garoto, uma árvore explodiu, o que o empurrou para o lado com considerável força. Ele caiu no chão e, ao olhar para cima, viu Branca esticar os dois braços e, de suas mãos, saírem duas lanças brancas que perseguiram a mulher de traje de gala. Apesar do esforço da garota, a mulher se desviava de todas as investidas das duas lanças.

— É inútil, menininha! — a mulher gritou assim que caiu seguramente sobre um galho grosso de arvore, logo acima dos dois primos. – Por que vocês não param com tudo isso e entregam a pedra? Será menos ruim se fizerem isso.

Num lapso de segundos, Fábio usou o carbúnculo para disparar várias esferas vermelhas, no entanto a mulher foi igualmente veloz e desviou de todas.

— Tudo bem, então! — ela gritou ainda no ar. — Infelizmente vocês terão que morrer, suas crianças mimadas!

— Estamos perdidos — Fábio cochichou para Branca. A prima, sem saber o que fazer olhou para os lados à procura de Heitor e de Preta, mas não viu nem um nem outro. Então, ela se deu conta de que já era noite e um sorriso largo se abriu em sua face.

—Ei, cara dama — Branca gritou —, acho que vocês se darão mal hoje.

A mulher estava em pé sobre uma rocha e sorriu. De repente, ela sentiu que havia algo errado. Seus olhos se esbugalharam e ela se virou para trás lentamente. Então, viu sete enormes braços escuros como que flutuando. Antes que ela pudesse gritar, foi agarrada por dois braços, enquanto outros dois tomaram a forma de duas lanças e transpassaram seu corpo com violência.

Preta largou o corpo sem vida da mulher e seus braços se recolheram. Um pouco de sangue respingou em sua face, ao que ela tratou de limpar.

— Maravilha! — Branca comemorou. — O que aconteceu com o cara que te atacou?

— Ele morreu! — Preta falou. Seus olhos, que ainda estavam totalmente escuros, aos poucos voltaram ao normal.

Antes que eles se dessem conta, o homem de cabelos arrepiados se levantou e correu. Um dos braços de Preta emergiu e o perseguiu, porém ele conseguiu se desviar e desapareceu na floresta.

— Ótimo! — Branca gritou o mais alto que conseguiu. — Foge mesmo, covarde!

Fábio suspirou aliviado e se deixou cair no chão. Preta se distanciou e, minutos depois, voltou com Heitor ao seu lado. Ele estava em perfeito estado, mas parecia com ainda mais sono que antes.

— Onde você esteve? — Branca perguntou com perplexidade.

— Eu? Eu dormi!

— O quê? — Branca gritou com visível irritação, o que faz com que seus primos achassem graça na situação.

Já um pouco distante dos quatro primos, o homem de cabelos arrepiados parou de correr e se sentou sobre uma rocha, ofegando muito. Amaldiçoou-se por não ser capaz de enfrentar quatro crianças, e jurou a si mesmo que os mataria na próxima oportunidade que tivesse.

Antes que ele pudesse se recurar totalmente da corrida, ouviu um bater de asas. Alarmado, ele se levantou e, ao olhar para cima, viu um ser enorme, com asas muito grandes, parado no ar diante dele.

Anjo olhava para o homem com dureza, e mesmo seu rosto angelical inspirava medo naquele momento.

Antes que fizesse algo, o homem recebeu um potente soco no rosto, o que o jogou para trás com força. Quando deu por si, viu Anjo suspender sobre ele uma enorme rocha pontiaguda. Ele ainda tentou gritar, mas a criatura soltou a pedra sobre seu tórax sem piedade.

***

Christophe estacionou seu carro numa praça. Saiu e se sentou num banco, apoiando a cabeça nas mãos. Suspirou profundamente e olhou para os lados sem saber o que fazer. Suas irmãs não estavam em lugar algum do centro e, àquela altura, ele já estava entrando em desespero.

— Nem o Michael me dá tanto trabalho! — o rapaz falou para si mesmo.

Já era noite. Havia mais pessoas na praça àquela hora, muitas passeando com seus filhos ou animais de estimação ou com os dois, outros praticando esportes, outros apenas aproveitando o momento.

Christophe levantou os olhos para o céu. Pensou que, naquele momento, ele deveria estar em casa a ler uma história para Michael, suas irmãs a conversar, e Fábio assistindo a alguma ópera, enquanto todos se divertiam e conversavam na Casa Grande. Pensou que aquela fora a pior hora para Marcos causar tumulto, justo quando uma mulher verdadeiramente impressionou ao primo, quando ele tinha que tentar convencer o pai a aceitar sua decisão de cursar medicina, e responder uma cartinha de amor entregue por Amélia.

Christophe se levantou e, subitamente, deu um soco numa árvore. A pancada foi tão forte e brutal que o tronco se arrebentou e a enorme árvore caiu. Só então o rapaz se deu conta do que fizera e, constrangido, olhou ao redor. Havia um senhor sentado num banco próximo e ele ficara espantado com a cena. O tronco da árvore era grosso demais para que alguém a derrubasse com um soco. Christophe sorriu sem jeito, correu para seu carro, deu partida e foi embora.


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Notas finais do capítulo

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