Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 10
Flashes do que aconteceu há treze anos


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez, me lembrei na hora certa!
Por esse capítulo ser muito curto, vou adiantar o próximo e postá-lo amanhã.



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Carlos Magno entrou na sala apressadamente. Queria mostrar à mãe o boletim do qual sabia que ela se orgulharia. Parou diante da porta da sala de jantar e a abriu devagar. Antes de entrar, ouviu a voz de seu tio Marcos que falava ao telefone.

— Tudo bem, eu entendi. Não, não. Eu não tomei nenhuma decisão. Você não pode esperar que eu me junte a eles assim, afinal, sei que a punição para um rebelde que é pego é severa. Não quero correr o risco... Mas eu entendo e simpatizo com a causa. Pode ter certeza que, se houver um cargo onde eu não tenha que me expor tanto, eu irei. Entendo... Há um rito para se tornar um Óligo ou algo do tipo? Não? Que bom, achei que vocês tinham essa mania estúpida de iniciação. Bem... Eu pensarei no assunto.

Os olhos de Carlos Magno se arregalaram enquanto ele escutava a conversa. Marcos se levantou e saiu pela outra porta. Magno pensou por um momento e decidiu segui-lo.

***

A pata da besta desceu com força sobre o garoto. Carlos Magno mal teve tempo de virar o rosto, uma unha grossa acertou seu olho direito. Pela mata, ouviu-se um grito estridente.

De uma rocha, acima do enorme lobo, os olhos de Marcos pousavam sobre a figura de seu sobrinho sangrando e caído no chão. Ao aproximar-se dele, o garoto o olhou com um ódio quase incontrolável que gelou o coração de Marcos. Aquele olhar não era de uma criança ferida!

***

O parque da escola era grande, tinha uma grama bem verdinha, vários brinquedos, uma grande caixa de areia e um tabuleiro de xadrez gigante. As crianças corriam divertidas por todos os lados.

Um dos garotos reparou num menino que estava distante e parecia triste. Usava um tapa-olho e seu outro olho fitava qualquer coisa no chão.

— Quem é você? — O garoto se aproximou e perguntou com desenvoltura. 

Magno apenas continuava a encarar o chão como se não ouvisse. Seu olho parecia estático, não acompanhava nada.

— Eu sou Jimmy. — O garoto insistiu. — Legal esse seu tapa-olho. Você tem problema de visão?

O olho esquerdo de Magno desviou-se do chão para o menino e só então ele pareceu notar que havia alguém ao seu lado. Jimmy o encarava sorridente aguardando pela resposta que nunca viria. Magno então desviou o olhar parecendo perdido no tempo e no espaço.

— Você não fala muito não é? O que tanto olha pra esse chão?

Jimmy aproximou-se e viu um grupo de formigas carregando uma aranha morta. A aranha era enorme perto das formiguinhas, mas todas juntas conseguiam mover o corpo.

— Que coisa! — falou Jimmy, se abaixando para ver melhor a cena. — Não é estranho que para um viver, outros tenham que morrer?

Magno olhou para Jimmy um pouco surpreso. Aquele pensamento nunca havia passado por sua mente, algo perfeitamente normal para uma criança de nove anos. Jimmy falara aquilo por que ouvira alguém dizer o mesmo.

— É — Magno concordou —, mas alguns bem que merecem morrer.

—Acha mesmo? — Jimmy perguntou, sorrindo. — Eu acho que todo mundo tem direito de viver.

— Talvez chegue uma hora em que você não vai mais pensar assim.

Jimmy encarou Carlos Magno e ficou um pouco triste e chocado ao mesmo tempo. O olhar de Magno era um misto de tristeza e raiva.

***

O saco de areia era gigante, duas vezes o tamanho do garoto, e pesava muito. Mesmo assim, ele o socava com sofreguidão. Já se passara dois anos desde que perdera seu olho direito. Mesmo com aquilo, os membros da Ordem não fizeram nada, afinal, Marcos afirmara não estar lá na noite em que o lobo atacara o menino.

Magno socou o saco mais uma vez, mas caiu no chão. Seus punhos estavam doloridos, mas ele não podia parar.

Um homem fardado aproximou-se e ficou a observá-lo enquanto se levantava e tentava novamente, mas novamente caiu. Os ossos doíam, a mão doía, o braço doía e o corpo doía. O olhar do homem parecia mais uma carga sobre seus ombros, tão pesados se focavam nele, como se tentasse intimidá-lo. Sem encará-lo, Magno levantou-se novamente com dificuldade.

Ignorando a dor, o garoto não parava de desferir socos cada vez mais rápidos e mais pesados. No rosto do homem surgiu uma expressão de satisfação. Virou-se e saiu.

Na mente de Carlos Magno, as coisas que um dia foi comum para ele como frequentar uma escola normal e ver seus parentes todos os dias estavam sendo lentamente apagadas e substituídas pela rotina de treinamento, no início muito doloroso. A imagem da mãe sorridente estava sendo substituída pelo rosto severo do homem fardado.

Lembrou-se de quando fora mandado por tempo indeterminado para aquela escola militar nada comum. O pedido viera da princesa de Áquila, por unanimidade do conselho, à sua mãe que poderia ou não concordar com a ideia dos anciãos. Magno nunca entendeu o porquê daquela decisão e menos ainda por que sua mãe permitiu.

***

Não eram todos que ignoravam a existência de seres sobrenaturais e diferentes na terra. Membros dos governos sabiam muito bem e faziam o possível para esconder esses fatos das pessoas. Por isso não interferiam na Ordem de Áquila e até cooperavam quando fosse necessário.

Existia uma divisão de soldados especiais para cuidar de casos que estivessem ligados a episódios com esses seres ou pessoas extraordinárias. E para essa divisão que Carlos Magno foi mandado depois de completar seus treze anos, por livre e espontânea vontade. Rapidamente, tornou-se um militar. Desde então, raramente voltava para os Raimann.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! ^.^ Comentem, e avisem se achar algum erro, por favor. A Haru e eu somos muito chatas em relação a isso.



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