Sociedade dos Corvos escrita por Raquel Barros


Capítulo 23
Capítulo Vinte e Dois - Arya




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Olho para o homem que estava sentado na minha frente. Ele era muito diferente de mim. Seus cabelos eram brancos, seus olhos cor de rosa e sua pele era translúcida. Era tão alto quanto Alef, na verdade tinham o mesmo físico. A única coisa que tínhamos em comum era o formato dos olhos: pequenos e puxados. Formato que o Alef compartilhava e louro areia atrás do Alef também. Aparentemente também é meu irmão.

Minha boca estava cheia de sorvete, então só olhei embasbacada enquanto me diziam que minha vida era uma mentira. 

—Ela é muito quieta.

Comenta o louro dourado, Zachary Chronos, em voz baixa para um Alef que por algum motivo não o deixava chegar perto do ouvido dele. Os olhos dele são diferentes dos olhos de Alef e Éden, sendo vermelho aveludado. Dava um contraste incrível com a cor dos cabelos dele, sei lá, parecia um bolo Red Velvet.

Alef olha para mim. Coloco outra colher na boca. Se estiverem achando que vou deixarem falar depois que eu terminar esse sorvete estão enganados. Muito enganados. Então o Dark olha para o bolo Red Velvet e responde:

—É o sorvete.

—Deveríamos tentar tirar?

Pergunta o Zachary. Trinco meus dentes tão fortemente na colher, que se esse Zachary ter ouvido e não desistir da ideia, ele não tem senso de auto preservação. Alef coloca a mão sobre o ombro de Zachary e responde:

—Você quer tentar? Eu dou apoio moral.

—Moral?!

—Acho que cada colherada é um time.

Comenta Éden, falando pela primeira vez desde que cumprimentou a Beverly e o Alef. Depois disso ficou em silêncio. Tirando isso ele até que é bem esperto.

—A Bev vai nós salvar caso ela pire?

—A Bev mandou boa sorte.

Responde Beverly, as minhas costas, lendo uns papéis. Nem se dignou a olhar para o Zachary por respondê-lo.

— Se ela pirar, o Alef vai à frente e problema resolvido. - Sussurra Éden de volta para Zachary e depois se volta para mim, como se não tivesse dito nada há pouco tempo e diz: - Sou o Éden.

Grunho em resposta. Simpatia: não aprendi e não sei onde comprar.

—Sinto muito não ter conseguido voltar a tempo.

—Nem me lembro de você! 

Outra vez grunho, colocando outra colherada na boca.

—Eu sei. Logo depois que você nasceu, a Beverly sumiu, então eu não pude voltar. Eu preciso da permissão dela para andar sobre New Earl em carne e osso.

—Sou obrigada a entender isso?

—Dizer que sou super poderoso e controlo um elemento inteiro serve?

—Absolutamente não.

—Eu explico. Ele é a Beverly do nosso mundo.

Toma a palavra Zachary, como se isso esclarecesse alguma coisa em minha mente.

—Que mundo?

—De onde nós somos?

Responde, dando uma grande ajuda o Red Velvet. Sim, por que até onde eu sei não encontraram vida em outro planeta ainda.

—São aliens? Tu é alien também, Alef?

—Mais ou menos. - Responde Zachary, meio encabulado, sei lá, ao mesmo tempo em que Alef discorda. -Eu não! Nasci aqui.

Sempre imaginei Aliens verdes, cabeçudos e com olhos que tomavam cinquenta por cento da cabeça, mas tanto Zachary quanto Éden parecia humano daqui e possivelmente somos todos da mesma espécie, por que Éden teve não um, mas dois filhos aqui e um destes é comprovadamente fértil. 

—No meu trabalho, viagens a outros planetas quando é necessário estabelecer equilíbrio entre determinados elementos, como a morte e a vida, por exemplo, são normais. A Beverly já viajou ao meu planeta por exemplo. E eu já vim mais de duas vezes. 

—Seu trabalho é qual?

—Regente Hades.

—Tipo o deus da morte?

—Sim.

—Então você controla a morte?

—É mais complexo do que isso.

—E você faz visitas ocasionais a Earl?

—Sim. 

—Eu deveria acreditar em você?

—Pergunta para o Dexter ou o Cam, a Beverly também serve. Eles foram lá uma vez?

—Jura?

—Sim. Aquele homem não tem presas a toa. 

Comenta Zachary, fazendo a mesma cara de sonso que o Alef faz quando apronta algo. Alef se afasta mais um pouco dele. Éden suspira e comenta:

—Zachary é o filho mais difícil.

—Você não pode dizer isso na frente do seu filho, sabe, mas é verdade. Sou o pior entre os quatro. 

Concorda o Red Velvet, com um sorriso de orgulho. Eu devo me preocupar com minha sanidade, considerando os tipos com o qual compartilho sangue. Ainda assim, tenho minhas dúvidas e procuro saná-las:

—Pior do que o Dark?

—O Alef só me bate como filho mais difícil quando tem as crises dele. 

—Isso é verdade.

Concorda Alef, de bom grado. Bem, já vi algumas crises do Dark e são realmente bem ruins apesar do meu senso de perigo todo ferrado. Já quis usar para meu benefício, não lembro? Continuo meu interrogatório:

—Humm. Tem mais filhos?

—Tenho outra filha.

—É a segunda pior, minha gêmea, Plutão.

—Parece que ser o melhor filho é mais fácil do que ser o pior.

Observo realmente temendo por minha sanidade ou pelos genes que deveria mantê-la. Éden apenas dá de ombros e comenta:

—Todos têm seus momentos.

—É casado?

—Viúvo. Já perdi três esposas.

—Quantos anos tem?

—Um milênio, três séculos e quarenta décadas no meu mundo.

—Achei que sadics vivem apenas mil e duzentos anos.

—Não sou um sadic. Teoricamente eu poderia ser considerado um, mas oficialmente eu sou um regente. E oficialmente você é um meio regente como o Alef, o Zachary e o seu marido, Alaryk.

Ignoro a menção ao meu suposto marido e continuo.

—Casou apenas três vezes?

—Sempre acabo amando a mesma mulher. Em todas as vidas dela. Todas as quatro reencarnações. 

—Como conheceu minha mãe?

—Isso é um interrogatório?

—Considere que sim. Por que eu deveria simplesmente aceita-lo como pai alguém que nunca vi na vida?

—Em um campo cheio de mortos, ainda no início da guerra entre humanos e sadics. Tinha acabado a uma batalha e eu fui guiar os mortos ao mundo inferior. Morreram pessoas em demasiado, era um trabalho muito pesado para os ceifadores cuidarem sozinhos. Eva era uma soldada no lado da Beverly, ela tinha dado conta de vários desses animais modificados sozinha e estava caçando quando me viu na forma de Hades. É impressionante um sadic comum me ver sem que eu esteja em forma humana. Então resolvi investigar. E meio que me apaixonei de novo. A Eva sempre tem algo que me atrai. Mesmo quando prometo a mim mesmo que não vou interferir na vida dela. - Éden faz uma pausa e suspira profundamente, ele parecia um pouco perdido em pensamentos - Fiquei aqui por muito mais tempo do que deveria, mas como a guerra ainda era a regra do mundo, consegui me manter por muito tempo. Tínhamos casado e sua mãe queria ter filhos. Optamos por inseminação artificial, já que ter filhos biológicos com meu sangue não se provou perigoso. Então o Ethan nasceu. Alguns anos depois, Eva engravidou e a guerra acabou, então fui expulso e volta a meu planeta. Eva não sobreviveu muito tempo após dar a luz a você e eu não pude voltar para cuidar de ti. Então sua tia e Hector assumiram sua guarda e de seu irmão Ethan e criaram vocês como filhos. Por isso você não tem lembranças minhas. Não consegui voltar, eu não tinha permissão por que a Beverly hibernou e tinha ficado tanto tempo seguido por aqui que só conseguiria voltar se acontecesse uma grande tragédia ou carnificina. Consegui voltar quando seus tios morreram, mas você já tinha sumido e Chronos estava preso a leis de não interferir diretamente na vida dos Mortais. Só consegui te achar quando esteve em perigo de morte muito grande e isso foi em Fell. Consegui convencer Chronos a te tirar da cela e ele a teletransportou no fim da ilha.

—Não poderia ter me levado mais longe?

—Não. Chronos só interferi diretamente quando há perigo de morte. Ele é meu avô, sabe. Depois que perdeu minha mãe por conta da lei da não interferência, a minha avó abriu uma exceção a livrar meus filhos da morte. O tempo deles não acabam enquanto eu for o Hades. Faz parte do nosso trato. Já tenho que guiar a Eva para a roda da reencarnação, não preciso enterrar meus filhos também. Por isso que você se livrou de tantas. 

—Achei que era protagonismo.

Resmungo colocando o sorvete de lado. Estou tão cansada que nem quero fazer barraco. Aí, acho que estou vacinada a revelações bombásticas. 

—Não se coloque deliberadamente em perigo de vida ou vai ficar como Alef. 

Diz Éden com mais um suspiro. Alef com os olhos cor de rosa arregalados e muito enfaticamente complementa:

—Ou pior, como o Zachary.

—Eu não consigo engolir essa dele ser pior do que o Alef. Suas crises são horríveis, Alef.

—Acho divertidíssimo.

Rir Zachary. Retiro o que disse, qualquer um que ache as crises do Alef divertidíssimas não deveria se quer andar em sociedade. Éden franzi o cenho e resmunga:

—Você só diz isso por que é a segunda opção mais eficiente quando ele tem suas crises.

—A Beverly é a primeira e única. 

Alef retruca com os olhos brilhantes. Não sei porque, mas senti um calafrio. E não foi só eu, por que Red Velvet logo tentou abafar o assunto:

—Não precisa começar com a sua idolatria pela Beverly. 

—Vou abrir uma seita.

Declara Alef cheio de energia. Parece que a loucura violenta dele se converteu em outra, e não tenho certeza se isso é bom ou ruim. Éden olha para a Beverly com os olhos esbugalhados e súplica:

—Repreende enquanto dá tempo.

—Sem seitas, Alef.

Responde Beverly, tirando os olhos dos papéis. Alef, que não sei quando chegou perto dela, segura a sua mão e tenta negociar:

—Uma estátua ao menos. 

—Não.

—Um dia eu vou conseguir te convencer.

Resmunga Alef com fervor, ainda cheio de energia, com os olhos brilhantes, obviamente sem colocar o não da Bev no coração. Meus calafrios ficam ligeiramente piores. Olho para o lado e está Zachary a um palmo de mim, sussurrando:

—Eu convenci a Hope. Minha esposa, muito incrível, deveria conhecê-la um dia desses. 

—Aquela lá precisa de uma estátua. Ser canonizada, virar Santa. 

Resmunga Éden aparentemente impedindo Zachary de se aproximar mais com a mão. Não vi quando ele chegou perto de mim. O Red Velvet levanta, e coça o queixo com um sorriso maroto no rosto, admirando a ideia:

—Canonizar uma vampira, que divertido.

—Não dá ideia sogro. Esse daí...

—Eu ouvi vampiro? É uma presai?

Pergunto, tentando mudar de assunto. Ou iam acabar falando de Alaryk. Não tenho energia para isso. Zachary discorda:

—Não, é uma vampira mesmo.

—Daqueles que bebem sangue?

—Sim. 

—No seu mundo tem vampiros de verdade?

—Não sei, pergunta para o Dexter.

Zachary desconversa de novo. O irmão louro sorrir para mim, mostrando aqueles caninos afiados e atitudes valendo mais do que mil palavras me levam a uma conclusão: acho que eu não vou perguntar para o Dexter como foi essa visita ao mundo do meu suposto pai. Acho que aquelas presas é argumento suficiente. Éden suspira e balança a cabeça. Ele é um homem cheio de suspiros, mas olha para os filhos com um claro orgulho. Acho que ele deve ser um bom pai com genes medonhos. 

Éden volta sua atenção para mim e toca no assunto do qual eu fugia descaradamente:

—Ah! Ouvi dizer que você está enrolada com aquele filho de Hazazel, o Alaryk.

Grunho em resposta. Descontente com a ideia de pensar em Alaryk.

—Meio que meus problemas com Alaryk são morais. 

Pergunta Zachary intrometido:

—O que ele fez?

Parece que minha vida amorosa é muito interessante.

—Disseram que ele matou muita gente.

Respondi não querendo me aprofundar no assunto. Eu também fiz isso, mas ignorei que estava sendo hipócrita. Estou muito brava. E se considerar o que Hazazel disse como verdade, o que eu tenho que analisar com calma, faço parte do grupo alvo do Alaryk. Não quero pensar nisso. Se for verdade significa que o homem que amo é no mínimo um psicopata. 

Zachary burfa quando tenta segurar uma gargalhada. Éden dá uma cotovelada nele, apesar de ter segurado um sorrisinho. Levanto a sobrancelha. O vampiro olha para mim e diz o óbvio:

—Eu também fiz isso. O Alef também.

—Ei ei ei! Pode parar por aí, que no meu caso foi em legítima defesa.

Retruca Alef indignado. Aparentemente para ele é ofensivo ser considerado no mesmo perfil que Zachary, que finge indignação, colocando a mão no peito e dizendo:

—O meu também. 

—Do seu estômago?

—Ninguém culpa o leão por atacar o cervo, não é? Sou apenas um predador. E faz tempo que não faço isso, minhas presas chega coçam. Você poderia pirar novamente, Alef... Só uma sugestão.

—Bev você é uma benção na minha vida de maneiras inimagináveis.

—Eu sei. Também te amo.

—Fui eu que os juntei. Eram tão dramáticos.

Sussurra Éden, revirando os olhos como se lembrasse do caso como se tivesse acontecido ontem. Agora sem fingir tristeza, Zachary reclama:

—O momento mais triste da minha vida. Faz tempo que não dou umas mordidas carinhosas no Alef...

—Ninguém quer mordidas carinhosas de um vampiro.

Esbraveja Alef fugindo de Zachary, que tentava abraçá-lo e possivelmente morde-lo. Tomo nota de não permitir que o Red Velvet chegue perto de mim. Beverly suspira enquanto olha a baderna dos meninos. Parece ser muito comum. Ela bate palmas chamando a atenção deles e nos dispensa:

—Acho que chega por hoje. Arya deve está muito cansada. Amanhã conversamos sobre Alaryk. 

—Não sei se quero conversar sobre o Alaryk. Hoje ou amanhã. Ou depois.

Reclamo cruzando os braços. Beverly levanta a sobrancelha e firmemente diz:

—Não tem escolha sobre isso. Pode odiar Alaryk o quanto quiser depois de que tudo esteja esclarecido, mas não antes. Não enquanto não souber o que aconteceu e quais são suas circunstâncias. Seria injusto com você e com o Alaryk. Principalmente com o Alaryk que sempre tem que carregar pecados que não cometeu, que ficou conhecido por um nome que não era dele e por mortes que não é culpa dele. Então amanhã conversamos. Hoje você dorme e descansa um pouco.

E enquanto eu penso nisso ela se vira e vai embora, com Alef a seguindo, sem que eu tenha a possibilidade de recrutar. 


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