Sociedade dos Corvos escrita por Raquel Barros


Capítulo 14
Capitulo Treze - Arya




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Andar em uma floresta escura e úmida não fez parte das minhas resoluções de ano novo. Na verdade, não fazia parte nem a minha lista de piores coisas que poderiam acontecer comigo. Sinceramente, depois de andar tanto tempo a ponto das minhas pernas doer e ser picado insetos imensos a todo instante, com animais perigosos prontos para me fazer da carne do dia e sociedades completamente fora deste tempo, me pergunto por que eu não pensei em colocar algo do tipo. Falta de imaginação, talvez.

—Eu não aguento dar mais um passo!

Anúncio deitando no chão, com o braço no rosto, quando minha perna fraqueja. Tento respirar, mas dói. Sou toda dor, na verdade. Estou fazendo mais exercício do que de fato eu aguento, e meu corpo está respondendo com dor. Acho que Beverly esqueceu-se que cresci em uma salinha minúscula. Não tinha espaço para fazer exercício, ou seja, eu sou sedentária! Simples assim. E meus pulmões não são exatamente os melhores. Eles estão sempre falhando em atividades muito intensas, como andar maratonas! Ou seja, vou morrer. O povo que passou a vida toda andando para lá e para cá, olha para mim como se eu fosse o Alien aqui! As meninas suspiram, Ethan coloca as mãos nos quadris, Caleb me olha desanimado e Cyrus dá um tapa na própria testa.

—Arya, não podemos parar aqui!

Resmunga Emma calmamente, cruzando os braços naquela postura de quem está certa e não tem discussão. Todos concordam com ela. Se bobear até eu concordo com ela. Stephan para ao meu lado e toca minha bochecha. Stephan está esquisito ultimamente. Não responde minhas provocações, algo que ele sempre fazia, e sempre o pego olhando para mim. Agora o porquê dele tocar minha bochecha, eu não imagino. Ele segura o meu braço e o coloca sobre seu pescoço, enquanto puxa o resto de mim e me segura, e levanta.

—Obrigada!

Sussurro baixinho, quase inaudível. Eu odeio ser carregada! Fala sério, é uma coisa tão princesinha indefesa. E eu já tenho cara de quem se precisa de um protetor por conta do meu biótipo. De qualquer modo, só estou aceitando a ajuda por que não há outra maneira. E estou grata sim, de todo o coração!

—Pronto! Problema resolvido!

Anuncia Stephan, tomando a frente. Todo mundo continua apesar de ter uma raivazinha em Emma. Eu andei em uma semana o triplo do que andei em minha vida inteira. A raiva que a Emma tomou de mim é por causa do motivo obvio da morte de Carmen Ivy. Ela nunca confessa, mas está lá, escondido, pronto para dar as caras e fazer bú! E tudo o que eu faça, o que alguém faz para mim e me favoreça, eu sinto aquele olhar de você não merece! Não é inveja, por que quando eu recebo algum presente, normalmente ela fica feliz comigo. São nesses momentos que parece que eu não coloquei uma bala na cabeça da mãe dela. De qualquer modo, eu prefiro morrer a ter que enfrentar a fúria da Emma quando ela não conseguir mais segurar!

—Pare de se preocupar!

—Como sabe que estou preocupada?

—Está escrito na sua cara!

Responde sussurrando e com um esboço. As pessoas dizem que sou transparente, um milagre, considerando que a infância que tive. Era de se esperar que eu fosse fechada em mim mesma, não tão cristalina que uma pessoa que não conheço direito saiba que estou preocupada. Não tenho problemas em ser sincera sobre o que estou sentindo, sou um pouco dissimulada, eu sei, mas normalmente não tenho que me preocupar com esse detalhe.

—Uma hora você vai cansar! E quem é que vai te carregar?

—Já estamos perto do rio!

—Já?

—Sim, ouça o som, sinta o ar, está ficando mais leve, e está menos escuro por aqui, as árvores estão mais ralas, não percebe?

—Não!

Digo um pouco impressionada! A pior parte é que é verdade. O ar está mais leve, mais úmido, mas mais leve. E estava menos escuro, entre as árvores fios de luz dourada nasciam aqui e ali, iluminando esporos de poeiras. O som do rio era fraco, com pouco movimento, mas próximo. Estávamos chegando perto dele. O rio se tornou um pouco morto desde o sumiço de Beverly. Foi tomado por uma espécie de sanguessuga que transforma sua água cristalina em uma água tão escura que é possível ver apenas seu reflexo. Com a perda das propriedades do rio, as árvores ao seu redor foram morrendo, até sobrar apenas pedregulhos. Não faço a menor idéia de como vamos atravessar.

—O que vamos encontrar do outro lado?

Pergunta Ethan, atrás de mim e de Stephan. Não estava acabado como eu, mas tinha uma sombra cansada em seus olhos. O embaixador suspira pesadamente.

—Não é com o outro lado que devemos nos preocupar, mas sim, em como atravessar.

Responde Stephan com paciência, usando um tom de: você á deveria saber disso. O que coincidentemente me lembrou um pouco do Aspen, apesar de não existir a menor das semelhanças entre eles. A voz de Stephan é muito mais suave do que a voz do Aspen, que tinha uma rouquidão característica. E Stephan tem um sotaque bem de leve enquanto fala. O mesmo sotaque que o Ethan, o Cyrus e o Caleb apresentam de vez em quando. Só que em Stephan é muito mais presente, mais pesado e até muito sexy. O único sotaque que Aspen tinha era o de Onyx, uma mistura de outros sotaques, por que varias nacionalidades são comuns em Onyx. A língua oficial de Master Great é o francês, apesar de Hazazel ser italiano, então isso explica por que o meu irmão apresenta aquele erre característico. Em Fell, falava-se em inglês, então não falo em francês.

—E você tem alguma idéia de como?

—Se tivesse não estaria tão preocupado!

Retruca suspirando pesadamente. O estresse é geral mesmo. Quando essa missão acabar, vou comer um pote de sorvete, assistindo algum filme bobo, com os pés dentro de um balde de água quente! Talvez até contrate alguém para fazer uma massagem relaxante. Claro que há coisas mais importantes, como minha macia cama e um banho quente para tirar essa sujeira de uma semana inteira ou mais, por que nem relógio funciona direito por aqui.

Andamos por mais alguns minutos. A cada instante a floresta ficava mais clara, as árvores menos espessas e o som do rio cada vez mais alto.  Até que as árvores se tornaram completamente separadas e cada vez mais raras, até finalmente não ter nenhuma. Uma praia de pedregulhos úmidos de estendiam a nossa frente logo atrás, um rio era calmo e negro. As nuvens acima de nós eram pesadas, em cinza tempestade profundo. A outra margem tinha o que parecia um córrego de surpreendentes águas límpidas seguindo a direção de uma trilha na floresta. Do nosso lado a única coisa que se encontrava era uma lancha encalhada na margem. Duvido que tenha combustível. Ou que aguente ir até o outro lado. Ou que ainda funcione.

Suspiramos quando paramos a margem do rio.

Logo tínhamos montado um acampamento temporário. Estavam todos cansados de mais até para pensar em como atravessar o rio, então paramos para descansar. E meu Deus! Quero tanto um banho. Com um rio perto de mim e eu não posso por que esta infestada por sanguessugas, até deve ser uma maneira de tortura. Com esse povo não duvido nada.

—A água acabou e os mantimentos estão perto de acabarem também.

Anuncia Emma claramente irritada. Resmungo geral. Jesus! Isso nunca acaba! Eu queria que a poderosa Beverly fosse capaz de salvar a si mesma, ao invés de mandar um bando de saídos da adolescência para isso. E de uma pizza também.

—Logo teremos mais.

Avisa Stephan agora parecendo um pouco tenso enquanto olhava para o córrego cristalino correndo estranhamente para cima. Eu não tinha percebido isso antes, mas agora... Bem, é estranho. Tudo desce por aqui, mas o córrego esta subindo. Emma semicerra os olhos e interroga completamente irritada:

—Como pode saber Stephan?

—Já estive por aqui! Logo teremos comida e abrigo, não se preocupe.

Responde o embaixador. Faz sentindo considerando o trabalho dele. A Emma bufa de irritação.

—Emma, você está terrível de irritação, respira querida.

Comento inocentemente. A verdade é que só atrai a raiva infundada dela para mim. O olhar que ela me lançou quase me convenceu a virar comida de sanguessuga. Seria isso TPM? Ou é algo pior.

—Respirar? Como a Carmem, Aryanna?

Pergunta quase que me fazendo calar a boca. Gwen arregala os olhos, enquanto Zoey sussura:

—Opa! Assunto proibido!

—Não haja como se eu tivesse feito por prazer! Sabe que foi por necessidade. Se eu tivesse escolha não teria feito...

—A escolha não era sua!

—E era de quem? Sua? Queria fazer você mesma?

Retruco entrando na onda. Okay! Até parece que eu quero palmas pela morte da mãe dela. Emma tem lá seus motivos para ficar com raiva de mim, mas ela tem que entender: Eu não tive escolhas! Ou era a mãe psicótica, ouça e destruidora ou era Onyx. Se eu tivesse escolha, a Carmen, Ivy, estaria viva.

—Jesus! Calem a boca vocês!

—Quem é você para mandar alguém calar a boca por aqui? É só um embaixador.

Retruca Emma raivosa. Stephan levanta uma das indagadoras sobrancelhas negras e cruza os braços ao perguntar:

—Agora eu sou o vilão? Ah! Sim! Falou a princesinha! Não faz nem dois anos que é uma Blood e já se acha a dona da Terra. E você? Ethan Baelfire? Vive como um príncipe quando não tem uma gota de sangue real! Depois vem falar de mim! Pelo menos não vivo de graça na casa de outro!

—Com gota de sangue real ou não, ele ainda é seu superior!

—Ele nunca será meu superior, Owl!

—Está andando com muito com a Arya!

—Claro! Aposto que são amantes!

Teoria Emma erroneamente. Stephan não tem a menor das reações.  Cruzo os braços e olho para o rio novamente. Eles estão insistindo que tem algo entre mim e o Stephan. Quer dizer, o Stephan e o Stephan. Ele é bonito como o próprio Eros, misterioso como uma manha com nevoa e silenciosa e elegante como um rei. É atraente e frio como um pote de sorvete sem dono na geladeira de casa. E sério, adoro sorvete. Eu brigaria por sorvete. Uma nevoa branca e misteriosa tinha se formado por cima do rio. A água estava verde e barrenta, como se os sanguessugas tivessem fugido. A água começa a se mexer, como se alguém estivesse nadando até a margem. É então quando uma cabeça conhecida emerge de lá. Os cabelos negros grudados na testa, os olhos cinza brilhantes, as bochechas e os lábios rosados como deve ser.

—Aspen?

—O que ainda faz aí?

Pergunta me estendendo a mão, com um sorriso preguiçoso nos lábios. É incrível como aquele mesmo sorriso era sarcástico e maldoso em alguns momentos. Seguro sua mão, tão quente que formigou, e começo a entrar no rio. A água estava absolutamente gelada. Tão gelada que doíam ao tocar a minha pele.

—Não estava morto?

—Nunca estive morto!

Retruca me embalando, tocando meu rosto, meu cabelo. Dou-lhe um sorriso fraco, antes de sermos puxados para baixo. Para o frio. Para a escuridão. Meu pescoço dói. Sinto braços quentes me segura. Uma mão estava em meu pescoço, segurando minha cabeça. Abro os olhos e vejo o Aspen novamente. Toco o seu rosto. Parece real, molhado, sua pele fria. Ele diz meu nome. Sua voz um pouco rouca, em desespero. Digo o seu nome. Desfaleço novamente, indo de braços abertos para a escuridão.


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Notas finais do capítulo

Comentem pessoas, isso me dar animo. Beijos para vocês.



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