Photograph escrita por Phoebe


Capítulo 1
One




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Pub da Edna, Londres. Uma quinta-feira.

EDNA FEZ SEU PEDIDO NO BAR e virou a banqueta para observar o sarau. Era quinta feira — dia de sarau — e ela tinha um favor a cumprir para um amigo, então botou a filha para dormir e foi para o pub.

Os dias de sarau livre sempre chamavam a atenção da elite indie da UEL. Os que cursavam música, literatura, artes, jornalismo, o que fosse, quase sempre se reuniam no pub para recitar suas novas criações. E, por algum motivo, seu amigo achava que aquele era o lugar certo para achar quem procurava. Que fosse.

Uma garota subiu ao palco. Ela era loura e chamava pouca atenção para si. Mas, ao ouvir sua poesia, Edna percebeu que achou o que procurava. Esperou o sarau acabar para poder falar com ela. Seria perfeita para o trabalho.

— Olá — ela disse cordialmente ao sentar-se perto da garota. — Sou Edna Banks.

— Tara.

— Tara, você vai passar o inverno na cidade?

— Eu pretendo.

— Isso é ótimo!

— Ótimo?

— Ah, me desculpe. Não me apresentei direito. — Edna acenou para um barman. — Sou a dona do pub, gostaria de tomar algo? Por conta da casa.

— Eu não bebo.

— Uma Coca, então?

— Pepsi.

— Duas Pepsis, por favor. — ela pediu e recebeu rapidamente, entregando uma para a universitária. — Você tem algum emprego?

— Não, na verdade. Universitária vinte e quatro horas por dia.

— Mas, nesses dois meses, gostaria de ter?

— O que você quer dizer?

— Tara, eu gostei bastante de seu poema. Acho que pode ser a pessoa certa para um trabalho que tenho.

— Que trabalho é esse?

— Você já ouviu falar em Logan Danes?

Los Angeles, Califórnia. Oito meses depois (junho).

— ENTÃO, TARA EVANS. — a repórter disse.

— Eu mesma. — Tara assentiu.

— Meu nome é Sarah. Eu gostaria de fazer algumas perguntas sobre como foi participar da criação do álbum x, de Logan Danes.

— É para isso que estamos aqui, não é?

Sarah sorriu.

— Uma garota com senso de humor. Podemos começar?

— Claro.

— Bem, Tara, você pode começar nos falando um pouco sobre você?

Tara sabia que o nos não era para a repórter e o câmera, e sim para todo o público que veria o documentário, e tentou não vomitar.

— O que quer saber?

— Seu nome, idade, o que faz da vida, de onde você é, essas pequenas coisas.

— Meu nome é Tara Evans, tenho vinte anos e bolinha. Estudo Jornalismo na University East London.

— Você estuda em Londres, mas esse sotaque nos é bem familiar. Onde você nasceu?

— Eu nasci e cresci em Washington D.C., aqui nos Estados Unidos. Fui para Londres para fazer faculdade quando tinha dezoito anos.

— Então, poderia nos contar como você acabou sendo uma das compositoras de um álbum famoso em todo o mundo?

— Tudo começou com o pub da Edna. Nos reuníamos às quintas para um sarau de poemas. Eu consigo me lembrar exatamente do dia em que Edna falou comigo. Edna Banks se apresentou como uma amiga de Logan e fazia um favor para ele, procurando, entre os que se apresentavam no sarau, uma boa mente para ajudar no processo de composição do segundo álbum de Danes. Foi o primeiro sarau do qual participei, porque era o último antes das férias de inverno, quando a maior parte dos universitários estaria fora da cidade.

Meu Deus, eu tinha passado semanas trabalhando naquele poema. Não consegui deixar de estar um pouco envaidecida quando Edna me contou que estava propondo um contrato de composição musical. Eu era jornalista e péssima poetisa — não uma compositora. Mas, quando eu expliquei isso, ela apenas sorriu e negou com a cabeça. Só desistiria de mim caso eu não conseguisse afinidade com Logan em um dia de teste.

Eu aceitei — precisava de algo para me ocupar e as férias estariam começando. Edna e eu nos encontramos no sábado, dois dias depois, para tomar chá e discutir sobre o álbum. Em seguida, entramos em um táxi e plam!, eu estava entrando na sala de música de Logan Danes.

— Logan, esta é Tara, de quem eu falei — Edna pegou-me pelo braço e me mostrou para o cantor, que estava sentado descontraidamente em um sofá. Ele deu um sorriso simpático e levantou-se para me estender a mão em cumprimento. — Tara, este é Logan Danes.

— É impossível não saber quem é. — murmurei e apertei sua mão.

Logan Danes era bem britânico, bem ruivo e bem famoso. Eu passara aproximadamente dois anos ouvindo em todos os lugares sua primeira música de sucesso — Give me Love. Minha sobrinha aprendera a falar cantando aquela música. Então era meio wow conhecer o cara.

— Bem, Logan, achei que você poderia trabalhar com ela aquela que está tentando, para ver se conseguem trabalhar bem. — Edna sugeriu quando ele sentou-se.

— Está trabalhando em uma música? — indaguei com curiosidade.

— Apenas na melodia. Esse álbum tem algumas músicas diferentes do que as pessoas esperam depois do que eu tenho de sucesso, mas acho que essa música é exatamente o que todos esperam, mas com algo novo. É difícil de explicar.

— Eu faço Jornalismo. Tudo é difícil de explicar para mim — tentei quebrar o gelo e ele sorriu.

— Estou vendo que já estão se entendendo, então posso sair, certo? Me ligue quando estiver acabando, Tara, e eu posso vir te pegar. — Edna avisou e saiu após se despedir.

Eu olhei para o sofá quase vazio.

— Eu posso me sentar?

— Claro — Logan abriu mais espaço.

— Você disse que tem uma melodia?

— Mais ou menos — pegou o violão que estava em cima da mesa de centro. — Algo assim — dedilhou e cantarolou. — Mas eu não acho que você está interessada nisso.

Eu ri forçadamente.

— Tem razão. E se a gente pegasse algo, sei lá, um bloco de notas, para poder anotar o que vier na cabeça?

— Pode ser.

Então eu peguei um bloco e uma caneta e cruzei as pernas sobre o sofá, tentando parecer confortável.

— Sobre o que você acha que essa música pode ser?

— Sobre amor. Mas não sobre um amor apenas romântico, uma coisa que pode se aplicar a tudo.

— A gente podia começar falando sobre amor. Vamos lá, pegue seu violão.

Logan começou a tocar as primeiras notas enquanto eu tentava pensar.

— Hum... amor pode curar.

— Como... amor pode curar sua alma? — ele sugeriu.

— É, isso. Que tal se você fizer algo como essa sua introdução, tan tan nan e Love can heal, Love can heal your soul?

Ele assentiu e tentou fazer, mas eu neguei com a cabeça.

— Que tal Love can mend your soul?

— O amor pode remendar a sua alma?

— É, assim mesmo! E então isso podia ser na segunda parte, não sei. Começamos com algo como Love can break your heart e coisas do tipo, mas a segunda vem compensando.

Love can hurt. Amor pode doer.

— Amor pode doer às vezes. — concordei.

— Essa é a única coisa que eu sei.

— Amor realmente dói — assenti com um sorriso. — Ei, talvez essa possa ser nossa primeira parte.

Love can hurt — Logan cantou — Love can hurt sometimes. But is the only thing that I know.

Know, know, know — eu fiz um coro que fez com que ele risse.

— Então, na segunda parte, acho que podemos fazer a compensação de novo. Amor pode curar a sua alma e é a única coisa que eu sei.

— Eu preciso anotar isso — assenti. — Agora fica difícil. Toda vez que vou escrever, o começo sempre parece brilhante, mas, sei lá, é como se ficasse difícil.

— Como as músicas também é assim. Mas, com a prática... Eu juro que fica fácil.

When it gets hard... — eu tentei cantar no ritmo da música, e Logan entendeu o que eu queria com aquilo.

You know it can get hard sometimes. — ele completou. — E como seria a compensação?

— Eu juro que fica fácil. Lembre-se disso... Lembre-se disso com cada pedaço da sua... o que rima com soul?

You.

— Hmmm — eu murmurei.

— Talvez eu possa usar até esse seu gemido, sabia?

— Ficaria um resultado lindo na música — gargalhei. — Vamos, cante o que temos até agora.

— Você poderia fazer coro com essas repetições e os gemidos?

— Sério isso?

— Fica musicalmente interessante.

— Tá bom. Ridículo, mas tá bom.

Logan cantou a primeira parte até onde havíamos escrito, e eu confirmei, anotando.

— Precisamos rimar algo com sometimes. — foi apenas o que eu disse.

Alive?

— Não, não vai ter nada com nada. Colocaríamos die na segunda parte?

— Não acho que ficaria ruim se fizéssemos assim.

— Oh, claro. Lembre-se disso com cada pedaço de você e então morra.

Logan gargalhou alto.

— Mas amor é... amor é a única coisa que levamos conosco quando morremos.

— E como podemos transformar isso para a primeira parte, senhor Beethoven?

— É a única coisa que nos faz sentir vivos.

— Porque machuca e dói, mas... Mas quando fica difícil nos faz sentir vivos. — assenti. — Fica bom.

— Você está pensando em algo?

— Nada demais. — balancei a cabeça.

— Ah, vamos. Podemos dar uma pausa nisso. — Logan colocou seu violão de lado. — Saudades de casa?

— Mais ou menos. Na nossa casa tem um gato. Meu Deus, como eu detestava aquele gato horrível. Nós apenas o chamávamos de “gato”, porque o imprestável não merecia um nome, sabe — eu falei quase rindo no caminho. — E ele gostava de se esfregar nos meus pés. Quando eu ia dormir, ele deitava entre minhas pernas e ficava me arranhando. Quando eu comia, ele queria subir na minha cadeira. Era incrível. Então eu vim para cá. E comecei a sentir falta do tal gato, enquanto minha mãe dizia que ele miava sem parar quando eu saí de lá. Eu comprei uma roupa jeans arranhada para o gato, sem perceber que era para cachorro. Coloquei uma foto minha dentro e mandei para casa. Ele ficava arranhando a foto e se esfregando nela como se fosse comigo. Era bastante engraçado, eu vi pelos vídeos. Então tem esse poema ridículo que fiz.

— Como era esse poema?

— “Nós mantemos esse amor em uma fotografia/ Nós fazemos essas memórias para nós mesmos/Onde nossos olhos nunca se fecham/Nossos corações nunca se partem/E o tempo fica congelado para sempre”.

— Parece melancólico.

— Isso porque você não sabe do resto.

— Como é o resto?

— É algo como “Então você pode me guardar no bolso do seu jeans rasgado/Me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem/Você nunca estará sozinho/ Espere que eu volte para casa”.

— Como você se lembrou de um gato que detestava com nossa música? Apenas por curiosidade, porque não quero despertar o mesmo sentimento em outros ouvintes.

Eu gargalhei com o tom de brincadeira de Logan.

— O poema. A parte da morte me lembra do final.

— Sabe o que eu acho, Tara Evans?

— O quê?

— Eu acho que, além de você ser uma poetisa brilhante que me deu uma ideia, merece um milkshake.

— Mereço?

— Merece. Eu vou ligar imediatamente para pedir um. E essa minha descoberta cai bem, porque eu estou morrendo de vontade de tomar um milk-shake.

Então eu caí na gargalhada.

— Está explicada essa sua súbita descoberta.

— Mas sério. Acho que isso pode se encaixar na nossa música.

— Seria ridículo.

— Por que você diz isso de toda ideia que temos?

— Porque esse não é meu negócio — tive que rir ao explicar. — Meu negócio é sentar e escrever coisas aleatórias no lugar de fazer meu relatório sobre relações entre a mídia e, sei lá, os maoris, ou se uma coluna ensinando urdu daria certo.

— Eu gostaria de aprender urdu. — Logan encostou a cabeça no ombro.

— Eu também. — dei de ombros.

— Mas o meu negócio é música e eu digo que você está sendo brilhante. Espero poder continuando trabalhando com você.

— Isso que são boas notícias!

— Emprego de férias garantido?

Assenti com um sorriso.

— E bem mais divertido do que eu esperava.

— Com isso eu posso concordar. Estará trabalhando comigo, afinal.

— Eu nunca imaginei que você fosse metido, mas as aparências enganam.

— Ei! Eu realmente ia pedir os milk-shakes.

— Ninguém está impedindo, afinal.

— Eu vou pedir — Logan sorriu e pegou o celular. — Chocolate?

— É de graça, não é?

Naquela primeira tarde-noite, foi o que compomos. Logan ainda pegou o violão e tentou encaixar meu poema na melodia, mas fomos fazer uma espécie de Estado da Arte de composição e ouvir o que havia de bom — ou nem tanto — nos CDs dele. E como havia coisas. Acho que você não pode dizer que viveu até ver Logan Danes dançando I want to break free ou cantando Love of my life em plenos pulmões no alto de uma cobertura.

— Uma cobertura? — Sarah indagou. — Vocês não estavam na sala de música?

— Nós fomos a um karaokê — Tara respondeu. — Estado da Arte, lembra?

Foi no final do milk-shake que Logan sugeriu que fôssemos a um karaokê ver o que havia para se escutar em músicas do tipo. Nós pedimos apenas água de início.

— Então, você é americana?

— De Washington, ainda por cima. E eu nem vou voltar para casa no final do ano.

— Por quê?

— Odeio despedidas. E talvez eu vá fazer mais poesia ruim sobre o gato.

Logan riu.

— Eu sou bastante apegado com a minha família. Viver tão longe é loucura para mim.

— A minha maior loucura não foi apenas sair de casa para vir para cá. Foi vir para a Inglaterra, onde as pessoas têm o sotaque mais estranho da Terra.

— Acho que Deus quis que você cometesse essa loucura.

— Por quê?

— Porque eu precisava completar meu álbum — Logan bateu o copo de água no meu em brincadeira. — E Things about love não seria a mesma música sem você.

Tara can mend your life. — cantarolei e ele assentiu aos risos.

— Tara, Tara... Você realmente remendou minha vida.

— E você remendou meu bolso, Logan Danes.

— Sabe, você realmente tem senso de humor. Deveria fazer algo como stand up de vez em quando.

— Eu sou mais do tipo de humorista passivo que faz piadas usando poesia magnética em carros no meio da rua.

— Você é muito culta, então.

— Foi você quem disse isso.

— Eu assumo total responsabilidade de minhas palavras.

— Eis uma declaração que pode voltar para assombra-lo.

Logan balançou a cabeça.

— Eu vou pedir algo de verdade. Me acompanha?

— Oh, a coisa mais selvagem que eu tomo é água com gás. Uma viagem muito louca.

— Mas você tem cara de quem saboreia vinhos com queijo.

— Sério? — eu gargalhei e joguei a cabeça para trás. — Mais ou menos. Água com gás, por favor — pedi ao barman.

— A coisa mais leve e alcóolica que tiver — ele pediu e me olhou como quem oferecia também.

— Então a parte de Give me love que fala que seu sangue vai virar álcool não é mentira.

— Você decora minhas letras?

— Eu decoro cada coisa inútil que me assusta — dei de ombros ao receber minha água.

— Vou desconsiderar o fato de que chamou minha música de inútil e chama-la para o karaokê.

— Apenas se você for primeiro.

— O que me sugere, cara compositora americana?

— Sabe, eu sempre achei que você se sairia bem cantando algo como PSY.

— Por favor, você não está falando sério.

— Meu plano é te induzir a isso quando você terminar sua bebida — apontei com o queixo para o copo pela metade.

— Eu canto Gangnam Style se você cantar Welcome to the jungle.

— Logan Danes cantando Gangnam Style? Meu Deus, eu vivi para isso!

— Deus amado, nem é isso tudo.

— Eu também quero ver você cantando Queen!

— Queen?

I want to break free.

— Eu posso fazer isso, mas não aqui.

— Onde, então?

— Quando você terminar de cantar ali naquele palco, nós vamos.

— Aceito.

Foi engraçado ver Logan virar dois copos antes de subir no palco — e reparar em como ninguém havia o reconhecido. Ele me explicou mais tarde que as pessoas do karaokê “compreendiam” e não ligavam pra quem você era fora dali. Perguntei se ele ia ali com seus amigos famosos e ele apenas sorriu.

Então, após eu ter que cantar e fazer o meu recém amigo rir de minha terrível voz, Logan me puxou pelo pulso até a cobertura do lugar, por uma escada bem mais iluminada do que eu imaginava que seria.

— Então, acho que agora você deveria cantar — eu gritei, apesar do silêncio que fazia lá em cima.

— Você vai ter que cantar comigo.

— E fazer você rir de novo? Nem pense.

— Vamos lá. Aqui ninguém escuta nada.

Eu peguei meu celular e coloquei a música para tocar, cantando junto com Logan. Aquilo era bem mais divertido do que eu imaginava. Então, quando acabou, eu coloquei Stay the Night e nós começamos a gritar e pular em círculos segurando nas mãos um do outro.

No final da música, eu gritei e gargalhei, e ele me imitou.

— E olha que você nem bebeu nada — Logan gritou quando nos deitamos no chão para ver o céu cheio de nuvens.

— Eu bebi água com gás. A maior viagem da sua vida está naquilo, sério — gargalhei. — Tem gosto de drogas.

— Você já usou drogas, por acaso?

— Eu acabei de beber água com gás. — respondi e percebi que só poderia estar sonolenta para falar algo daquele tipo, então fechei os olhos.

Apenas os abri de novo quando senti alguém pegando em meu rosto. Era Logan, claro.

— Quantos copos você tomou?

— Três, quatro... Importa?

Eu ri.

— Não. O sono me deixou meio bêbada também.

— Acho que a gente devia ir pra casa.

— Eu concordo — sussurrei sem nem perceber direito com o que concordava.

Nós ficamos de pé e descemos sem a correria da subida, mas Logan ainda segurava meu pulso. Quando estávamos na saída, ele me puxou para perto e me deu um beijo nada discreto.

— Nós somos amigos, não somos? — ele perguntou quando nos afastamos e eu, bêbada pela minha mente, assenti rindo.

— A gente realmente devia ir embora.

— Quer ir para o meu apartamento?

Me parecia uma boa ideia. E Logan pagaria o táxi, de qualquer jeito. Fomos parar em sua cama, comigo usando os seus pijamas velhos e nós dois conversando sobre qualquer assunto que parecia útil para nossas mentes pouco sóbrias.

— Você disse que o álbum tem músicas diferentes do que andam esperando. Pode me mostrar alguma?

— Sh — ele pôs um dedo sobre minha boca. — É sigiloso.

— Mas eu fui contratada para te ajudar a compor.

— Ah. É mesmo.

Eu ri da expressão dele ao perceber que eu podia ouvir tudo e ajudar. Então Logan se desenrolou de um lençol para pegar seu violão.

— Qual você quer ouvir? — perguntou ao voltar.

— Eu nem sei quais são.

— De novo: ah, é mesmo.

Nós gargalhamos novamente, como havíamos feito durante toda a noite, e ele começou a dedilhar uma melodia que disse combinar com Things about love — o jeito como chamamos a nossa composição.

— O nome que eu dei é Thinking about how, por enquanto.

— Você é bem original com seus nomes de músicas, não é? Things about love, Thinking about how... Talvez deva colocar o nome do álbum de Pensando Alto. — eu brinquei.

— Bela sugestão. Bem, tome isto — ele me entregou uma folha. — É a letra dessa música.

— Me impressione.

A música em questão era a atual Thinking out loud — é, Logan seguiu minha sugestão, e eu acho que coube bem na música. E, prestando atenção na letra, me senti um pouco desconfortável com a intimidade dela. Ele cantava como se estivesse cara a cara com a sua amante da canção. Era uma intimidade assustadora. Como se não fosse uma música que você decora e repete, mas algo que vem naturalmente do coração.

— Em quem você estava pensando? — perguntei impulsivamente quando ele acabou a música.

— Eu... Em uma amiga. Eu e ela nos envolvemos e, para variar, não acabou bem.

— Você parecia ama-la.

— Ah, eu amava — Logan suspirou e encostou-se ao travesseiro. — Mas não era o que pode ser chamado de recíproco.

— Coração partido?

Ele assentiu.

— Sabe, eu acho que daria para escrever muito sobre isso.

Logan sorriu — um sorriso tímido de quem queria parecer ter superado um coração partido que não superara.

— Eu escrevi essa — ele me estendeu um papel — e essa.

— Pelo menos ela te deixou a inspiração.

Ele riu.

— Bom senso de humor.

— Eu tento ajudar o quanto posso.

— Nós vamos nos dar muito bem trabalhando juntos.

— Já estamos dando certo. — sorri — E esses outros papéis?

— As terminadas, ou ao menos encaminhadas, são sobre mais corações partidos. Aventuras de uma noite ou um amor adolescente que voltou a florescer e me rendeu uma ou duas faixas. Me apaixono facilmente.

— E quebra o coração mais facilmente ainda. Bem, uma coisa leva a outra.

People fall in love in mysterious ways. Maybe it’s a part of a plan.

I’ll just keep on making the same mistakes, hoping that…

Esperando que isso renda uma boa música — Logan brincou e eu sorri.

— Parece uma excelente estratégia.

— Mas é dolorosa.

— Como foi essa história, da garota?

— Amigos, trabalhamos no mesmo meio. Eu me apaixonei, achei que ela também, nós tentamos fazer dar certo, então descobri que ela apenas queria alguém de uma noite, um ombro amigo... ou uma cama amiga. E então ela escreveu sobre mim. E eu não me sinto mal em fazer o mesmo.

— Você me deixou deprimida, Logan. E feliz porque achei alguém com a vida mais merda que a minha.

— Sua vida é merda? Espera, a minha vida é merda?

— Você se apaixona por todo mundo. Isso é ter uma vida péssima.

— Você é pessimista, não tem como eu ter uma vida pior do que a sua.

— Você está enganado — eu sorri vitoriosamente — Tanto porque, infelizmente, não sou pessimista, ou não tanto quanto gostaria, quanto porque pessimistas são os mais felizes.

— Como alguém pode ser feliz apenas esperando o pior?

— Assim mesmo. Se eu espero apenas o pior, qualquer coisa que me acontecer de bom, mesmo que for pequeno, vai ser muito melhor do que eu esperava. Para um pessimista, qualquer pequena coisa é melhor, enquanto otimistas nunca estão satisfeitos.

— Isso é loucura. Só podia ser coisa de americanos.

— Cuidado com essa sua xenofobia, Mr. Danes.

— Não é xenofobia! Apenas disse que a América é estranha. Vocês dirigem ao contrário!

— Nós e... todo o resto do mundo. — revirei os olhos, porém sorria com a conversa.

— Se vocês são tão superiores, por que veio para cá?

— É bastante vergonhoso, mas eu sempre quis viver aqui. O que é estranho, porque foi apenas em Londres que percebi o quanto amava Washington.

— Então quer ir embora?

— Eu nunca disse isso — sorri. — Não, continuo gostando daqui. Talvez eu tente seduzir algum inglês para conseguir visto permanente.

— Não seduza alguém. Case-se abertamente por interesse com alguém que seja algo como um amigo e também tire vantagem de você.

— O bom e velho relacionamento honesto. Seguindo essa linha, por que eu e você não nos casamos? Assim, você pararia de ser trouxa.

— E ainda teria uma compositora comprometida comigo.

Eu gargalhei e olhei em seus olhos.

— Acho que poderia dar certo. Nada melhor que quase estranhos para um relacionamento saudável e cheio de confiança.

— Então, Tara Evans, você aceita se casar comigo?

— Aceito, com certeza. Mas com uma condição. Você vai ter que adotar meu sobrenome depois. Pense em como ficará bonito Logan Evans.

— Oh, mas Tara Danes é muito melhor.

— Eu gosto mais do som do meu sobrenome com o seu nome — sorri e nós dois gargalhamos. — Você quer fazer uma coisa muito louca?

— O quê?

— Gravar um vídeo para a minha família.

E, em um piscar de olhos, estávamos com a webcam ligada e parecendo um casal de verdade.

— Oi, pessoal! — eu exclamei com um sorriso. — É a Tara, como dá pra perceber! Só estamos gravando essa mensagem de vídeo para... — eu olhei para Logan — para o quê mesmo?

— Para falar sobre nosso casamento.

— Ah! Isso mesmo! Esse é Logan Danes e nós vamos casar!

— Sim! Nós vamos casar quando... quando nós vamos casar?

— Quando eu terminar a faculdade! — botei os braços para o alto. — E isso é sério. Vou ter um visto e tudo mais.

— E eu vou me chamar Logan Evans.

— Eles não vão acreditar quando virem. — eu falei em um tom infantil.

— Talvez não. Como podemos fazer com que eles acreditem?

— Oh, já sei! Um beijo! — eu gritei e estalei minha boca no rosto de Logan, gargalhando em seguida. — Bem, isso é tudo! Vou mandar o pré-convite quando estiver sóbria.

Eu desliguei o a câmera e enviei pelo e-mail, caindo nas risadas com Logan em seguida. Minha família enlouqueceria com aquele vídeo — ainda mais enviado do e-mail de meu querido recém amigo Logan Danes.

— Então, após a primeira vez, começamos a nos encontrar para compor, discutir ideias e tudo o mais quase todos os dias. Nós saíamos para algum bairro com imigrantes e anotávamos tudo o que víamos para transformarmos em música no apartamento de Logan.

— Então foi uma amizade bem fácil?

— Eu acho que sim, porque conseguimos ser muito parecidos e muito diferentes, e basicamente todas as músicas foram feitas com bastantes gargalhadas.

— E a música que vocês compuseram primeiro, qual era?

— Ah, Photograph. Logan realmente não estava com dom para nomes naquele dia. — Tara sorriu.

— E as outras músicas, como vieram?

— Ah, as outras? Bem, Logan é uma pessoa extremamente comprometida com a música. E ele é bastante perfeccionista. Se fosse um pouco menos, teria terminado o álbum muito antes, mas ele continuava lapidando uma música e, quando eu quase havia me esquecido dela, chegava uma mensagem de Logan, dizendo “Ei, eu acho que podemos fazer uma melhoria em Nina” e coisa do tipo. É muito bom estar com uma pessoa assim. Ele tem muito compromisso, mas também é bastante divertido.

A verdade era que eu e Logan rapidamente caímos em uma rotina gostosa. Saíamos, nos divertíamos, compúnhamos — e nos apaixonávamos. Não é como uma história com rodeios. Eu gostava dele, ele gostava de mim, nos dávamos bem e nada nos impedia de apenas estar juntos e felizes com isso.

No Natal, ele foi estar com a família — era cedo demais para assumir algum compromisso meu com eles — e eu apenas aproveitei o feriado conversando com minha família por uma webcam.

Logan voltou, passamos os dias compondo e conhecendo novos compositores para ajudar no processo e veio o Ano Novo. Ele fez um show, que assisti como uma espectadora comum. Sem bastidores, sem beijos e sem “pessoas especiais na plateia”. Eu e Logan apenas nos conhecíamos em nosso incomum ambiente e horário de trabalho, onde éramos apenas Tara e Logan compondo músicas como dois idiotas que se gostavam. Lá fora, éramos Tara Evans e Logan Danes — e nenhum de nós se importava de verdade com o que acontecia lá fora.

Mas eu gostava bastante do que acontecia dentro.

E foi em uma noite, pouco tempo depois do Ano Novo, após Logan gravar uma versão que considerávamos completa de Photograph, que ele se deitou no meu colo em seu sofá e brincou com o colar que estava no meu peito.

— Bem bonito. — foi o que ele disse ao passar o dedo pela superfície oval com um B gravado no centro e um aL menor do lado. — O que significa esse BaL?

Be at the left.

— Fique à esquerda. O que significa?

— Bem — eu sorri — Ficar à esquerda, claro. O que fica à esquerda do centro do peito?

Logan usou o polegar para ir do colar à esquerda, afastando meu cabelo e tocando o lugar onde meu coração estava.

— O coração.

— Bem lembrado, Mr. Danes. Meu irmão mais novo, Theo, me deu no meu aniversário de dezesseis anos. Ele disse que era para sempre ficar à esquerda porque é o lado do coração e é de onde saem as melhores coisas — expliquei enquanto fazia círculos em seu cabelo levemente arrepiado.

— Você nunca me falou do seu irmão Theo.

Hesitei. Podia contar uma mentira. Inventar algo sobre Theo ou dizer que já havia falado sobre ele. Mas não valeria a pena.

— Não. — confirmei. — Nunca falei sobre meu irmão Theo.

— Você falou sobre sua mãe, sobre seu pai, sobre sua irmã Marina e seu irmão Harrison. Por que nunca falou sobre Theo?

— Porque eu apenas falei da minha família que está viva. — respondi suave e friamente. Tão fria que me surpreendi. Vaca. Falei exatamente como uma vaca.

Mas Logan não me tratou como se trata uma vaca. Ele se levantou e ficou ao meu lado. Pôs seus olhos brilhantes e honestos bem de frente aos meus. Sujos e mentirosos.

— Qual a mentira que você já me contou, Tara?

— O poema de Photograph. Theo era oito anos mais novo que eu, o gato era dele. Theo também era muito grudento, mas não em um mal sentido. Eu o amava muito. Quando eu vim embora, Theo choramingava. Eu não mandei uma roupa idiota de cachorro — mandei um jeans. Quando o pacote chegou, ele vestiu a calça e foi correndo mostrar para a nossa avó, que morava na casa vizinha. Theo não reparou na foto escondida na calça até que ela voou para o meio da pista. Ele correu para pegar a foto. E tinha um ônibus. Era noite.

Logan pôs uma mão no meu ombro e beijou atrás da minha orelha.

— Eu sempre soube que era mais que um gato.

— Agora aquele gato insuportável realmente mia de saudades. — eu sorri à força. — E não era um bom assunto para a primeira conversa falar sobre Theo.

— O que mudou entre nós de lá para cá?

— Mudou que agora eu gosto de você um pouco mais.

— Ainda bem que é recíproco. Então, pega mal se eu perguntar se ele tem algo com você não ir para casa no Natal?

— Eu não consegui ir ao enterro e não acho que consigo chegar perto de lá sem ele. É uma bobagem minha.

— Então, que segredos esse colar esconde? — Logan tenta mudar de assunto, percebendo que é isso o que eu quero, e brinca com o pingente.

— Ele tem espaço para duas fotos. Eu sempre esperei por alguém para poder levar perto do coração. Alguém que só pudesse ficar aqui.

— Agora um dos lugares tem Theo?

— Agora um dos lugares tem uma foto da nossa casa em Washington. Está torta e a casa estava mal pintada. Deixamos Theo pintar em seu nono aniversário — eu sorrio e deixo que Logan brinque com o colar. — E ele tirou a foto.

— Posso ver?

— É claro — eu tiro o colar e abro o pingente, entregando-o para que Logan possa ver a miniatura da foto.

— Estava lilás.

— Era para ser rosa, mas alguma coisa na tinta deu errado — eu ri levemente ao me lembrar da cena.

— Ele gostava de rosa?

— Quem gostava de rosa era seu namoradinho de infância. Theo preferia azul celeste.

— Theo era uma criança feliz. — ele sussurra.

— Theo era uma criança especial e feliz.

— Ele parecia com você, então. — Logan põe seu nariz na lateral da minha face. — Você é especial e me faz muito feliz. E me faz querer te fazer feliz também.

Enquanto deixo que Logan me beije, meus lábios quase fazem o movimento que precisam para a frase certa.

“Você já me faz feliz”, diria a frase certa.

Mas Logan e eu não precisávamos disso, de frases. Não quando éramos apenas nós. Apenas precisávamos de nós mesmos.

No mês seguinte, eu estava de volta às aulas e ele estava começando a gravar o álbum. Um dia, ele estava gravando — Tenerife Sea — e eu chegava no estúdio com a letra de Afire Love

Logan me dera a sugestão de escrever sobre o que eu sentia sobre Theo, e de lá saíra Afire Love, uma mistura de meu irmão e Logan. Nós nos víamos menos, eu com meu estudo e ele com as gravações, mas os nossos momentos ainda eram o essencial — nossos. Certos dias, ainda em minhas férias, ele dera um jeito de me fazer conhecer compositores de algumas músicas pelas quais eu era apaixonada.

Eu me sentia feliz com Logan, não havia como negar. Mesmo com a voz em minha cabeça me lembrando de que ele se apaixonava facilmente e quebrava o coração com mais facilidade ainda. Talvez ele também soubesse quebrar corações muito bem. Mas essa vozinha tendia a sumir quando eu o via e recebia um de seus melhores abraços.

Esperei que ele terminasse de gravar e saísse para poder falar. Não gostava de interromper o trabalho de Logan, apesar dele não se importar. Bem, eu me importava em ter que parar de ouvir sua voz suave cantando como se não houvesse nada. Mesmo que aquela voz cantando ao vivo para mim, em uma cama cheia de lençóis e com um violão fosse parte recorrente de meu dia a dia.

Quando terminou de gravar, ele saiu do estúdio e sorriu ao me ver. Antes que me abraçasse, eu entreguei a letra.

— Então, não está lá essas coisas, como ainda não trabalhamos, mas eu gostei bastante. Principalmente de minha fonte de inspiração.

Logan sorriu e pediu licença ao produtor.

— Podemos conversar lá fora? É rápido.

— Eu prometo que não atrapalharei muito — acrescentei enquanto ele já abria a porta.

— Também tenho uma coisa para você. — Logan anunciou quando estávamos às sós.

— Tem?

— Espero não estar sendo prepotente nem dando um passo maior do que as pernas, mas... — ele tirou algo do bolso e me entregou. Era uma fotografia em miniatura. Nossa. Eu me lembrava da foto, de quando o garçom de um restaurante nos confundiu com um casal de verdade e, sem reconhecer Logan, tirou a foto em uma câmera de revelação instantânea. Mas a miniatura... ela poderia caber em meu polegar ou em meu colar. — Caso algum dia eu mereça estar próximo ao seu coração... Já tem.

— Você já está em meu coração. E em toda parte.

— Mas, quando eu não puder estar em toda parte...

— Logan, o que há?

— Tara — ele segurou meus braços. — Não podemos estar juntos. Eu... eu não quero destruir você. Estou me tornando famoso e você não foi feita para ser amada em público. Você foi feita para ser amada em privado, em quatro paredes, em uma cama, em um sofá, em uma música, e não para o mundo todo.

— Não quer estar comigo com todo o mundo. Entendi. Companhia fácil com a compositora. Músicas dentro, eu fora. Apenas devia ter falado que não ia passar de companhia, Logan. — eu joguei a fotografia dentro da minha bolsa. — Eu não queria me envolver também. Novidade para você. Eu. Não. Te. Amo. — gritei pausadamente e lhe dei as costas, mas virei a cabeça para trás para uma última despedida. — TENHA UMA VIDA TÃO MERDA QUANTO SEMPRE FOI.

Há alguma última coisa que queira falar sobre como foi a experiência de X?

Tara sorri, dessa vez lembrando-se exatamente do porquê de seu cinismo.

— Foi nova. Foi a primeira vez que compus música e desde então não parei mais. Logan foi uma excelente pessoa me apresentando a outros músicos e desde então descobri minha verdadeira vocação.

— Então o X já mudou vidas mesmo antes de seu lançamento?

A garota lança um sorriso de imitação para as câmeras.

— Com certeza. É um álbum com amor e alma nele.

De volta a Londres. Três dias depois (junho).

— ESSA REUNIÃO PÓS-ENTREVISTAS é para agradecer a todos vocês que participaram do álbum “x” em todas as partes do processo — Logan começa. — Estamos a um mês do lançamento e só posso ser grato a cada um — ele passa os olhos rapidamente por cada um dos presentes e tenta não se deter demais na loura que olha para através dele. — Muito obrigada por fazerem desse álbum um sonho possível para todos nós. E chamei todos vocês, a parte que cuidou da criação do álbum, para fazer mostrar uma alteração que fiz em uma das músicas. Os álbuns de vocês estão sem, mas dá tempo de fazer para a tirada inicial de daqui a três semanas. Podemos adiar o lançamento.

— Qual música? — o produtor geral do álbum pergunta e percebe-se que a última fala de Logan foi inesperada.

Photograph. — o cantor responde e novamente tenta não olhar para ela. Sabe que não conseguirá se fizer isso. — Posso?

— Vá em frente — é sua resposta.

Logan alcança seu violão e dedilha de olhos fechados. Ele não pode abri-los. Não pode ver a decepção em seu olhar mais uma vez.

Amar pode doer/Amar pode doer algumas vezes/Mas é a única coisa que eu sei.

Ele escuta seu suspiro. É leve e ele sabe que foi inconsciente. Conhece demais dela para não saber disso. Tenta ser calmo durante o resto conhecido da música. Então ele chega à segunda parte. A resposta.

Amar pode curar/Amar pode remendar a sua alma/ E é a única coisa que eu sei/Eu juro que fica mais fácil/Lembre-se disso com cada pedaço seu/E é a única coisa que nós levamos quando morremos.

Nós mantemos esse amor em uma fotografia/Nós fazemos esses momentos para nós mesmos.

Ele se lembra. Ele se lembra de seus momentos juntos. De sua única fotografia. De sua história confidenciada após uma sessão de música.

Onde nossos olhos nunca se fecham/Nossos corações nunca são quebrados/O tempo está congelado para sempre.

Então você pode me manter dentro do bolso do seu jeans rasgado/Me segurando perto até nossos olhos se encontrarem/Você nunca estará sozinha.

Então ele tenta falar com Tara através da música. Tenta usar as palavras da música como se ela falasse. E se você me machucar, está tudo bem/Apenas palavras sangram/Dentro dessas páginas você apenas me abraça.

Espere que eu volte para casa. — ele repete e repete como se uma música pudesse remendar seu erro. — E você pode me guardar dentro do colar que você ganhou quando tinha dezesseis anos. Perto das batidas do seu coração, onde eu deveria estar. Mantenha com sua alma.

Ele abre os olhos. Ele procura os olhos dela. E não os encontra. Porque Tara saiu. Ela saiu no meio de sua música. Porque nenhuma música pode consertar um coração ferido.

Então, quando termina a música, Logan não espera pela aprovação. Porque a de ninguém importa senão a dela. Ele corre, ele procura por Tara. Pela jornalista compositora. Que nunca quis nada além do que ele dava. Que nunca pediu nada além do que recebia.

— Tara! — ele diz quando a encontra. E ela está na porta do banheiro, encostada, com uma expressão que a denuncia. Ela ouviu. Ela entendeu. Ela ainda sente. — Eu... Eu completei a música para você.

— Eu percebi.

— Porque eu acho que eu errei seis meses atrás.

— Eu não preciso falar nada sobre isso.

— Mas eu preciso — ele dá um passo a frente. — Eu errei ao falar que você não merece ser amada em público. Você merece ser amada para todo o mundo saber. Mesmo que não seja por mim.

— E não sou — ela responde. — Achei que você sabia.

— Do quê?

— Que eu estou noiva.

— Você... Você já ouviu I’m a mess?

— Eu falo que estou noiva e você pergunta se eu ouvi uma das suas músicas idiotas?

— Não é uma música idiota. Se você não tiver ouvido, essa é a letra — ele a entrega um papel amassado. — Eu escrevi na tarde do dia seguinte àquele. Quando Edna me disse que você havia ido visitar a família.

Tara respira fundo. Logan entende que ela precisa. São muitas coisas. Muitas dores.

— Eu precisava daquilo.

— Eu sei. Eu fico feliz por você.

— Que bom.

— E pelo noivado também.

— Excelente.

— Espero que seja feliz.

— Ok.

— E eu estou levando minha vida de merda pensando em você todos os dias.

— Foda-se. — Tara sussurra e passa por Logan, correndo para a saída do estúdio.

Mas ela leva consigo a letra. Sem saber que há mais de uma. E Logan apenas espera que ela entenda. Que ela entenda que ele sabia do noivado. Que ele sempre soube.

Sete meses antes (dezembro).

— É AQUI QUE você mora?

— Um belo alojamento estudantil que evoluiu para um prédio de três andares — Tara assentiu. — Obrigada por ter vindo me deixar em casa, Logan.

Logan involuntariamente sorri para a universitária.

— Já estava na hora de eu conhecer o lugar onde você vive.

— Já passou da hora — ela brincou e saiu do carro, sendo seguida pelo motorista. — Afinal, eu não podia viver dormindo na sua casa ou sustentando taxistas da madrugada.

— Isso é uma cobrança? — Logan arqueou uma sobrancelha e foi com ela até a porta.

— Interprete como quiser, Mr. Danes.

Ele sorriu e colocou uma das mãos atrás de seu pescoço.

— A garota da Rua Seis. Não vou me esquecer desse endereço.

— É bom que não, porque amanhã vamos comer sushi e você vai vir me pegar.

— Ah, essa americana que vive me explorando — Logan gargalhou e beijou-a em seguida.

— Mas eu tinha que dar um jeito de retribuir esses beijos roubados de algum jeito — Tara sorri encostando seus narizes.

— Que tal com mais um beijo? Muito melhor.

Ela atende à sugestão e sorri durante o beijo, abraçando-o e puxando o cantor para mais perto.

— Nem pense que fica por isso.

— Eu não ousaria.

Tara ri e o afasta, abrindo a porta.

— Está tarde, você tem que ir e eu tenho que dormir.

— Está claro!

— É porque estamos debaixo de um poste, seu idiota. Vá, o caminho é perigoso.

— Você me trouxe para uma zona de risco, Tara?

Ela sorriu como se tivesse um segredo guardado por trás de seus lábios rosados.

— Você descobriu! É sério, Logan, precisa ir. Me ligue quando chegar em casa para que eu saiba que está vivo.

— Ela me traz para uma emboscada e se preocupa depois — ele revira os olhos e volta para o quarto. — Boa noite, querida.

— Boa noite.

Tara entra e sobe para o apartamento, trocando de roupa e se jogando na cama em seguida. Passar quase todas as madrugadas no apartamento de Logan não fazia bem quando ela voltava para a cama quase quebrada de seu apartamento.

— Pelo menos é minha — ela sussurra com a cabeça de encontro ao edredom.

Quando está quase no mundo dos sonhos, o telefone toca.

— Olá?

— Apenas avisando para a minha querida Bela Adormecida americana que cheguei em casa são, salvo e com muitas saudades dela — Logan disse e a fez sorrir.

— Se eu sou a Bela Adormecida, posso assumir que você é Filipe? — Tara sussurra ainda com o sorriso bobo.

— Descobriu a minha farsa, droga.

— Eu preciso dormir, Logan.

— Eu não consigo dormir por sua causa, então você não vai dormir, querida.

— A culpa não é minha se eu sou extremamente apaixonante, Mr. Danes.

— Não se ache tanto, querida Tara. Não é porque eu quis te beijar quando você entrou na minha sala de música que você pode se declarar apaixonante.

— Logo na primeira vez? Você cai fácil, não é?

— Na verdade, eu caí quando você me fez cantar Gangnam Style em um karaokê. Apenas não queria ferir seu ego frágil.

— Obrigada, eu realmente precisava de incentivo — ela ri e boceja. — Se eu fechar os olhos durmo, Logan.

— Então durma. Eu quero ouvir você adormecer.

— E se eu roncar?

— Nada que eu nunca ouvi na minha cama.

Tara dá uma boa gargalhada.

— Um beijo de bom sono, Mr. Danes. Vá atormentar outra pessoa.

— Outro beijo, Tara.

Sete meses depois (junho).

“PODEMOS TOMAR UM café, comer um bolo? Quero conversar.”

Tara forçou um sorriso ao ler a mensagem de Daniel. Eles estavam saindo seriamente há quatro meses e já estavam noivos — não era uma promessa de casamento breve, apenas uma garantia de união com a qual ela estava bem a vontade. A vizinha e colega de Tara, Lucy, afirmou que ela estava indo rápido demais em um relacionamento para compensar a falta de ação de outro, o que a americana negou veemente, mas na verdade nem se importava muito. Daniel havia sido criado com pessoas que noivavam rapidamente e ela não se importava em ser uma dessas pessoas.

Daniel a fazia feliz, ela reafirmou para si mesma ao responder a mensagem confirmando o encontro. Ele havia aceitado a pausa de dois meses que ela dera em seus encontros quando Tara começou a ficar com Logan, e havia voltado apenas como um ombro amigo quando ela saiu da relação, mas o ombro logo se transformou em um coração e passou a ser mais que um amigo.

Era o que ela precisava. Sim, Daniel era do que ela precisava.

Então por que seus dedos ainda tremiam, ansiosos por desamassar o papel que Logan lhe dera e ela enfiara no bolso antes de fugir dele?

Porque ela era otária, era o que qualquer pessoa lhe diria. E Tara sabia que era a verdade.

— Tara? — ela ouviu o chamado do lado à sua porta. Era Edna. — Você está aqui?

— Edna! — Tara apressou-se em abrir a porta para a mulher. — Olá!

— Boa noite! — ela abraçou a garota e sorriu. — Atrapalho algo?

— Não. Eu estava prestes a me sentar no sofá e assistir algo. Bem, entre! O que a traz aqui?

— Você voltou de Los Angeles ontem, não foi?

— Foi — eu assenti e forcei um sorriso, fechando a porta. — Bem, sente-se.

— Como foram as entrevistas?

— Ah, foram bem interessantes. Me senti uma estrela de filme.

— Estrela talvez não, mas o filme vai sair no final do ano.

X: The experience, sim, senhora. Com minha linda cara em 3D — sorri e acenei para que ela se sentasse em meu sofá que lembrava tanto outro, azul, embora visivelmente não fosse.

— Como foi rever a equipe após seis meses?

— Ah, foi bem legal — Tara deu de ombros e se dirigiu ao balcão da cozinha. — Café ou chá?

— Chá, por favor.

— Morangos?

— Pode ser — Edna sorriu.

Tara pôs os saquinhos dentro das xícaras e derramou a água.

— Então, além de querer me ver, por que veio para cá?

— Estou incomodando?

— Não, é apenas curiosidade.

— Logan me pediu para entregar seu pagamento.

A americana se abalou pouco e pegou o envelope que estava sobre a mesa de centro.

— Bem, obrigada. Eu já havia me esquecido do terceiro pagamento.

— Ele, não — Edna sorriu. — E também há um CD para você. O lançamento é daqui a três semanas, então isso é confidencial. Mas pode ouvir a vontade no iTunes ou na Play Music.

— Eu vou — Tara mentiu. — Obrigada.

Edna apressou a visita, apesar de ter tomado o chá que Tara preparara sem pressa, então a garota se jogou no sofá e olhou para o CD que tinha em mãos. Apenas uma vez... não faria mal. Nada pior do que o que já havia tido.

Tara procurou um CD player e inseriu x sem hesitar. Pegou o papel que tinha no bolso e se surpreendeu ao ver que eram dois. Bem, I’a mess era a única que ela escutaria. Selecionou a faixa e esperou pelo começo.

Veja a as chamas dentro de meus olhos/Elas queimam tanto e eu quero sentir o seu amor/Talvez eu seja um mentiroso/Mas esta noite eu quero me apaixonar e fazer você confiar em mim.

Eu errei dessa vez/Ontem tarde da noite/Bebendo para suprimir a devoção/Com os dedos entrelaçados.

Embora eu só tenha te causado dor/Você sabe que todas as minhas palavras sempre terão um pouco do amor que tínhamos/ Quando você é meu caminho me trazendo para casa.

Tara repetiu a música. Merda. Não tinha que ser para ela, tinha? Não precisava. Logan se apaixonava por todas.

Mas ela sabia que era. Não apenas porque ele lhe entregara o papel, mas porque... Porque aquela relação não lhe dera nada de bom. E ela sabia que, de algum jeito, ele escreveria sobre ela.

— Por que agora, Danes? — perguntou para si mesma enquanto tentava voltar as músicas para escutar qualquer uma que Tara soubesse que não tinha nenhum significado para ela.

Mas a música que vinha antes era One, e, embora Tara não conhecesse, soube do que se tratava na primeira linha.

Me diga que recusou o homem que pediu a sua mão porque está esperando por mim/Eu sei que você vai ficar um tempo fora, mas eu não tenho planos de ir embora.

— Não — Tara sussurrou. — Não faça isso conosco, Danes. — ela murmurou enquanto a música continuava.

Tara mais uma vez tentou tirar as mãos dele seus olhos, sem sucesso.

— Onde estamos indo, Logan?

— Calma, eu vou deixar você ver daqui a pouco. — ele prometeu com um riso infantil.

— Não fique rindo de mim pelas costas, Mr. Danes.

— Eu não estou, querida.

— Então pare com esse suspense todo.

— Calma, garota. — ele sussurrou e Tara deu uma cotovelada leve em sua barriga. — Ai!

— Me deixe ver.

— Estamos quase lá. Apenas desça esse degrau com cuidado. E o outro.

Tara obedeceu com ansiedade. Então Logan tirou as mãos de cima de seus olhos.

— Pode abrir os olhos agora. — ele sussurrou em seu ouvido e ela abriu.

— Estamos em um salão de dança?

— Eu queria variar. Chega de comida toda noite. Essa noite, vamos dançar.

— Eu não danço de verdade.

— Vamos fazer do nosso jeito. — Logan puxou o braço da garota.

— Não temos música.

Ele pegou um controle no bolso da calça e ligou um aparelho de som remotamente. Quando reconheceu a música, Tara sorriu.

— Stay the night?

— Não sou do tipo que grava coisas, mas, se não me engano, foi como a gente se beijou pela primeira vez.

— E você estava bêbado.

— Não precisa lembrar dessa parte — Logan riu e a abraçou. — Vamos lá. Pode gritar também, aqui tem um eco muito legal.

— Como que você conseguiu que a gente entrasse aqui?

— É assunto confidencial.

— Até de mim?

Logan fez uma expressão infantil de quem guardava um segredo.

— É aqui que estamos pretendendo gravar o vídeo de Thinking out Loud, quando for lançado como single.

— Não faltam uns nove meses pra isso?

— Sabe como eu sou.

— Apressadinho. Como sempre.

Eles se movem aleatoriamente e riem ao final da música.

— Eu vou botar algo sério. — ele avisou — e você vai dançar comigo.

— Eu não sei dançar, sério.

— Não é sobre saber. — Logan pôs a mão sobre o peito de Tara. — É sobre ir no ritmo da música. E é apenas uma melodia. Ainda não pensei em uma letra e nem pense em me ajudar com essa música, querida compositora americana. Eu quero que seja sobre você e você não vai me ajudar com isso.

— Apenas se prometer colocar na letra como eu sou maravilhosa e como você não pode viver sem mim.

Logan gargalhou e pôs a cabeça para trás.

— Eu prometo.

— Então bote logo essa melodia porque eu me empolguei.

— Interesseira.

— Como você faz questão de lembrar, eu sou americana — Tara piscou para ele.

Logan apertou no play e uma música tocada no piano começou a tocar.

— Você que tocou? — Tara indagou e ele assentiu. — Eu me pergunto por que nunca te ouvi no piano.

— Você nunca pediu. Mas, se dançarmos, eu toco para você assim que chegarmos em casa.

— Então vamos dançar.

Tara encostou a cabeça no peito de Logan e eles se moveram lentamente pelo salão. O que bastava para ela era saber que, se ele havia feito aquela melodia para ela, não podia ser falso.

A lembrança da noite em que ela e Logan dançaram em um salão ao som daquela melodia invadiu a cabeça de Tara. E o maldito realmente escrevera a música.

E todos meus amigos foram encontrar outro lugar para deixar seus corações colidirem/Apenas me prometa que você sempre será uma amiga/Porque você é a única.

Então me diga o caminho para casa/Estou ouvindo músicas tristes/Cantando sobre amor e onde ele dá errado.

Tara olhou para o papel onde Logan havia rabiscado a letra e para o que ele havia colocado como post script.

Is too late to apologize?

Ela respirou fundo. Logan não podia sumir por meses e aparecer daquele jeito, querendo que ela voltasse. Por mais forte que o sentimento ainda pudesse ser. Tara tinha o mínimo de vergonha na cara.

E, por isso, ela pegou o celular e enviou uma mensagem de texto para Daniel perguntando se ele poderia encontra-la o mais rápido possível. A resposta instantânea quase partiu o coração de Tara.

“Estou a caminho da padaria da sua esquina. Sete minutos.”

Tara encarou seu sofá vermelho. Ele era ridicularmente diferente do azul de Logan, mas ainda lhe trazia lembranças dos tempos que eles passaram nele. As lembranças que incentivaram Tara a descer e ir encontrar com o noivo.

Daniel estava chegando quando Tara dobrou a esquina, e ambos entraram juntos. Após pedir um bom bolo de sorvete, ela pôs as mãos sobre a mesa.

— Daniel, eu sei que te incomodei de última hora, principalmente porque já é noite, mas eu preciso falar uma coisa.

— O que? Houve alguma coisa com a sua família?

— Não, não é nada disso. É sobre nós e como eu acho que apressamos as coisas um pouco demais. Você sabe, eu estava com uma pessoa antes da gente voltar e talvez eu tenha te usado para esquecê-lo. Mas agora ele voltou e eu estou muito, muito confusa, mesmo sem querer, porque eu gostaria muito de te amar. Então, eu acho que... — Tara tirou o anel do anelar direito sem encarar Daniel e pôs na mão dele, fechando-a delicadamente. — Que a gente devia dar um tempo, ver no que vai dar. Não quero te magoar no futuro.

— Tudo bem.

— Sério?

— É claro — Daniel sorriu. — Eu gosto demais de você para não querer que não se machuque no futuro. É melhor você ter um tempo para ver como se sente em relação a esse cara e poder tomar uma decisão boa. Sobre você e, quem sabe, sobre nós.

— Você não existe, sabia?

— Você diz isso para todos, Tara — ele brinca e Tara sabe que tudo vai ficar bem. — Isso e que gosta do bolo de sorvete da padaria da sua esquina.

— É a pura verdade — ela ri enquanto recebe o pedido. — Você é incrível, Daniel.

— É a pura verdade — ele repete o que ela falou e ri também. — Mas, me diga, quem é o cara?

— Você quer mesmo saber? Porque eu meio que rompi com você por causa dele.

— Eu estou desencanado. Quer dizer, gosto de você. Mas eu entendo. Podemos agir como amigos, não podemos?

— Eu morreria se não pudéssemos. — Tara admite.

— Então me conte quem é. Eu o conheço?

— Acho que sim.

— Algum colega?

— Logan Danes. — ela sussurra.

Daniel arregala os olhos e Tara ri diante de sua reação.

— É.

— Você estava trabalhando para ele no inverno, não era?

— Exatamente.

— Por que eu não me surpreendo? Você é uma caixinha de surpresas — ele sorri enquanto toma a bebida que pediu. — E ele gosta de você?

— Talvez. Meio que a primeira música do álbum dele é para mim.

— Quando você descobriu isso?

— Meio que no exato momento antes de te mandar a mensagem.

— Você age rápido, não é?

— Peguei isso dele.

Daniel sorri e balança a cabeça. Em seguida, ele olha da mesa para Tara.

— Você sabe que eu te amo, não sabe?

— Sei.

— E nós dois sabemos que eu espero que não me arrependa do que eu vou fazer agora. Certo?

— Sabemos?

— Com certeza. Porque eu não vou me arrepender. Vou?

— Espero que não.

— Eu também. — ele olha rapidamente para os lados. — Então, Tara, você sabe ensinar onde fica o apartamento do tal Danes?

— O que você quer fazer, Daniel?

— Eu quero te impedir de fazer uma burrada. — ele acena para pagar a conta e, após fazer isso, levanta-se e pede que Tara o acompanhe. — Vamos até lá. E você vai falar pra esse cara o que está entalado na sua garganta.

— Não, não vamos lá! Eu sequer sei o que falar!

— Você vai saber o que falar na hora.

— Como sabe disso?

— Porque eu te conheço, Evans. Você vai arrasar com aquele cantor — Daniel a puxa pelo pulso até a saída.

Meia hora depois.

— SENHOR, UMA JOVEM e um homem estão subindo para o seu apartamento. — diz o porteiro pelo interfone.

— O quê? — Logan indaga com susto.

— Sua amiga, Tara Evans, e um homem que se identificou como Daniel.

O noivo.

— Tara está aqui? Como assim?

— Ele disse que precisavam vê-lo, senhor. E Tara Evans nunca precisou de autorização pra subir.

— Tudo bem. Eu vou recebê-los.

Logan coça o cabelo. Que diabos. Por que ele teve que mandar o CD? Ela provavelmente viria lhe xingando e com o noivo para lhe dar uma bela coça.

Idiota.

Quando a campainha tocou, ele abriu. E lá estava Tara. Com Daniel a tiracolo.

— Olá.

— Olá — Logan responde.

— Podemos entrar?

Ele sente-se confuso, mas assente.

— Entrem.

— Nós podemos conversar em algum lugar? — Tara pergunta parecendo nervosa. Ela balança a perna e muda o peso de um lado para o outro.

— Podemos. Na varanda, se não se importar.

— Não me importo.

Eles vão até a varanda e Logan fecha a porta de vidro, mas Daniel sequer olha para eles.

— A que devo a visita? Principalmente com seu noivo.

— Daniel não é mais meu noivo.

— Desde quando?

— Desde que eu ouvi seu CD.

Logan entende o recado. Ela ouviu as músicas. Mas por que foi até seu apartamento?

— Ele vai ser alterado.

— Eu me lembro bem disso — Tara cruza os braços. — Gostei do que você fez com One.

— Era a sua música.

— Eu... eu percebi. Suas paixões passageiras sempre acabam em suas músicas, não é?

— Você sabe que não é uma paixão passageira.

— Sei?

— Imaginei ter deixado claro hoje pela manhã.

— Daniel acha que eu devo falar com você e abrir meu coração — ela solta de uma vez. — Mas não sei o que meu coração vai falar se eu abrir. Porque eu não sei o que sentir sobre você e não quero ser mais uma na lista de corações partidos, mais uma música, mais uma compositora, mais uma amiga, mais uma única.

— Você nunca vai ser mais uma.

— Você se apaixona fácil.

— Eu nunca deveria ter te contado isso.

— Você não sabe disfarçar.

— Já acabou? — Logan passa a mão pelo cabelo. — Eu acho que tenho o direito de abrir o coração também, não tenho?

— Vá em frente.

— Você uma vez disse que o bom de ser pessimista é que toda pequena coisa é boa, enquanto os otimistas não ultrapassam suas expectativas. Mas, mesmo com todo o meu otimismo, eu nunca poderia ter esperado algo tão bom quanto você foi. E, com esse mesmo otimismo, cada pequena coisa com você é a maior. E eu não me tornei pessimista, disso tenho certeza, pois sei que todos os finais ao seu lado seriam felizes. E, se isso não é amor, Tara, eu não sei o que o amor pode ser.

— Isso... É verdade? — ela quase se encosta na porta de vidro, ainda processando as palavras de Logan.

— Quantas vezes eu menti para você?

— E aquilo naquela noite?

— Pessoas estavam enchendo a minha mente de porcarias. Mas sempre foi você, Tara. Só você.

— Eu posso confiar em você?

— Sabe que sim.

— Porque, se você me quebrar de novo, não sei se Daniel pode me dar uma terceira chance.

— Você não vai precisar de Daniel. Eu prometo.

— Então posso pedir pra ele te dar uma surra caso isso acabe mal?

Logan riu.

— Com certeza.

— E...

— Tara, apenas faça silêncio — Logan calou qualquer comentário de Tara com um beijo.

O cantor colocou a mão de lado com o rosto de Tara, e a outra foi para sua cintura, puxando-a para mais perto. Tara passou um braço debaixo do de Logan e o abraçou durante o beijo.

— Sabe, eu não gosto dessa sua mania de me calar, mas acho que podemos ter um bom trabalho com isso. — ela diz ao acabar com o beijo e sorri.

— Eu também acho que vamos ter um bom trabalho aqui.

— Só preciso agradecer a Daniel.

— Ele te ama mesmo.

— Eu sei.

— Mas eu amo mais. — Logan beija seu nariz.

— Isso é novidade.

Los Angeles, Califórnia. Três meses depois (setembro)

— Estamos de novo aqui.

— Estamos — Tara concorda sorrindo sem disfarçar um olhar para Logan. Eles dão as mãos.

— Quem imaginaria, quando estávamos fazendo aquela entrevista sua como compositora, que você voltaria como a namorada de Logan Danes?

O casal entreolhou-se.

— Nós, talvez. — Tara respondeu.

— Então já havia algo antes?

— Nos apaixonamos quando estávamos nos conhecendo e compondo x. Mas algumas coisas nos separaram no meio do caminho e, novamente, o álbum nos uniu.

— Então x foi realmente uma experiência que mudou vidas.

Logan sorriu.

— Espero poder dizer que sim.

— Então, Logan, há alguma música do x que foi escrita pensando em Tara?

One. E I’m a mess. Uma pitada de Photograph também.

— Como você reagiu ao ouvir essas duas?

— Eu corri para o apartamento dele com meu noivo e fiz o Mr. Danes aqui falar que me amava. — Tara riu e respondeu a pergunta olhando para Logan.

— Vocês formam um casal muito bonito.

— Obrigada. E nós pretendemos estar assim por muito tempo — Tara acrescentou.

— Quem sabe para sempre.

— Não exagere.

— É bem legal ver um casal como vocês — elogia a entrevistadora. — Há algum detalhe relacionado ao x que queiram compartilhar?

Eles se entreolham de novo. Para as câmeras, é como se tivessem os próprios diálogos com os olhares dados sem o menor pudor.

— Eu aconselho vocês a verem o vídeo oficial de Thinking out Loud, que sai daqui a duas semanas. — Tara solta com um sorriso cúmplice.

— Nós conhecemos o local que deu inspiração ao vídeo antes mesmo do álbum estar com todas as letras prontas.

— Eu não senti ciúmes ao ver Logan fazer... todas aquelas coisas com a dançarina. Foi muito engraçado, na verdade, vê-lo fazer todas aquelas expressões...

— Sh — Logan bate o braço no de Tara — não precisa contar como você riu durante todas as gravações. É vergonhoso.

— É vergonhoso deixar o mundo saber que sua namorada riu da sua expressão sensual, Mr. Danes? — Tara ergue uma sobrancelha.

— É! — Logan ri para a câmera. — Tara é sempre assim. Nem se incomoda em fingir.

— Há mais pequenos segredos sobre o álbum e vocês?

— Na verdade, o atraso de uma semana do x foi culpa minha — Logan levanta a mão.

Nossa — Tara corrige. — Ele fez uma alteração de última hora em uma música quando faltavam apenas três semanas para o lançamento programado.

— Eu fui horrível, não fui?

— Todos se perguntaram o motivo do atraso, mas ninguém pensou em Tara.

— Ainda bem! — ela finge comemorar e ri. — Espero estar bem longe quando o filme sair.

— Isso é tudo, obrigada.

Quando a câmera para de gravar, o casal dá as mãos novamente.

— Vocês foram excelentes, obrigada pelo tempo — Sarah, a entrevistadora, sorri.

— Foi um prazer — é Logan quem responde. — Tara merece ser amada para que todo mundo saiba.

— E todo mundo merece saber das idiotices que Logan apaixonado fala.

— Você também é bastante idiota.

— Na verdade, eu sou apenas a pessoa que influencia nossas discussões por nada.

— Nós parecemos uma terapia de casal ambulante.

— E você não está gravando nada, está?

Até o câmera sorri diante da pergunta de Logan.

— Isso vai para o trailer, bro.

Londres, dois anos depois.

É LOGAN QUEM rompe o silêncio.

— Sabe, normalmente você deveria responder.

Tara sequer ri com a piada.

— Bem, eu apenas estou em estado de choque. Meu último pedido de casamento foi dois anos atrás e após três meses de namoro.

— Ah, Daniel...

— Eu gostava de Daniel.

— Nós podemos parar de falar do seu ex e voltarmos ao assunto muito mais importante que é se você aceita se casar comigo ou não?

— Esse é o assunto mais importante?

— Meu joelho está doendo.

— Você era mais romântico quando nos conhecemos.

— Você nunca foi melhor, então nem posso lamentar.

— Do que estamos falando mesmo?

— Tara Evans, sua irritante jornalista americana, aceita casar comigo?

— Você era muito mais romântico quando nos conhecemos.

— Eu te amo e não acho que há nada nos impedindo de completar esse ritual capitalista e infantil que é o casamento. Mas eu e você somos perfeitamente capitalistas e infantis e é por isso que devemos nos casar. Você deve ter uma aliança de ouro com meu nome gravado em seu belo anelar esquerdo e eu devo ter uma aliança com seu belo nome escrito. Nós devemos chamar um juiz de paz e meu nome deve ser Logan Evans. E eu não vejo nada de errado nisso, porque eu só sei que te amo e faço qualquer coisa para te ter comigo pela droga da eternidade que ainda temos.

— Você não espera uma resposta, espera? — Tara ajoelhou-se de frente para Logan e deixou que ele colocasse o belo anel em seu anelar direito. — Pronto. Está tudo quase oficializado. Posso te beijar agora?

— Finalmente você perguntou isso — Logan sussurrou ao puxar o rosto de Tara para mais perto e beija-la. — E espero que você não ache que estamos indo rápido demais.

— São dois anos, Danes. Estou acostumada com três meses — Tara sorriu enquanto encostava a ponta de seu nariz no dele. — Para compensar, é bom que esse casamento saia logo. Mal posso esperar para que você seja Mr. Evans.

— Eu serei com todo o prazer.

— Sabe como isso foi idiota?

— Você me faz ser idiota — Logan sorriu — Principalmente em não estar aproveitando a excelente chance de te beijar.

— Sabe, eu te amo. — Tara sussurrou entre o beijo.

— Sabe, eu sei. — ele respondeu.

— Como em uma pequena fotografia guardada no meu colar.

— Como em um beijo à meia noite.

— Como nós.

— Como nós. — Logan concordou.


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