O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 35
2.03 | Intro to Anxiety / The Suburbs


Notas iniciais do capítulo

DESCULPAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Demoramos horrores para fazer o comeback dessa temporada, mas antes tarde do que nunca, certo? Certo. Esse episódio não estava previsto, mas após alguns acontecimentos vividos e discutidos, resolvi escrever para acrescentar mais à história do personagem protagonista. Espero que gostem do capítulo e do fato de que usamos DUAS músicas para esse capítulo - vocês verão o quanto elas se encaixam no decorrer do plot -, e entendam as datas loucas que começarão a aparecer a partir de agora. Mudamos a ordem de postagem para a Lola conseguir escrever ;) Boa leitura!

AVISO: este episódio contém gatilhos emocionais para ansiedade e depressão.



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“A vida pode ser muito feliz, e a vida pode ser muito triste. Estou me esforçando muito para separar o bem do mal. Vou de volta para meu futuro apenas para buscar meu passado. Às vezes deixo meu ego ter o melhor de mim. Às vezes me pergunto por que meu estresse me estressa. Às vezes, preciso que alguém me controle. Às vezes, deixo meus demônios falarem comigo. Às vezes, eu acho que essa merda não é mais como antes. Esta é minha introdução à ansiedade.”

— “Intro to Anxiety”, Hoodie Allen

Washington, D.C.

20 de abril de 2017

370 dias depois da facada que não me matou

Hoje é dia de passar manhã e tarde na escola. Não que eu goste muito dessa parte.

Mentira. Não gosto mesmo.

Mas hoje tenho um sentimento diferente sobre essa quinta-feira. Tudo parece melancólico para mim, a começar pelo clima nublado no céu, as caras de tédio de literalmente 80% dos colegas de turma — afinal, ninguém aguenta mais esperar pelo fim do ensino médio! — e o fato de que nem meu pai, nem meu tio estão em casa hoje. Enquanto meu pai está viajando pela primeira vez a trabalho, o que é algo que ele nunca fez na vida e por isso atazanou meu juízo pelas últimas três semanas, tio Andrew foi passar a semana — ou transar a semana toda, prevejo — com meu tio Jason Ross.

(Sim, já o considero meu outro tio. Os dois se amam tanto que eu ainda não entendo como não se casaram a essa altura do campeonato.)

Portanto, estou sozinho em casa pela primeira vez. E eu deveria fazer um furdunço do caralho em cima disso. Mas não contei para ninguém sobre esse evento épico. Acordei hoje preferindo ficar sozinho, e se eu não tivesse amigos que entendessem o meu temperamento, isso não faria a mínima diferença.

Após todas as cansativas aulas, sinto-me pronto para ir de ônibus para casa. (Não voltei para a van, nem com o Shawn Hans me pedindo perdão ao vivo no ano passado. A gente perdoa, mas não esquece.) Caminho até a parada perto do colégio sozinho, cumprimentando meus amigos Raven, Peter, Edward e Charlotte (!) no meio da travessia. Formamos um grupo maravilhoso desde que nos reunimos no intervalo pela primeira vez, e a amizade da Charlie foi algo tão inesperado quanto maravilhoso. Mas parando para pensar agora, percebo que nem todas as amizades do mundo foram capazes de preencher o buraco que se abriu em mim.

Eu consigo ser feliz em 99% do tempo, para todos. Consigo fazer parecer que sou um hino de homem, que passou por cima das adversidades e que nada pode me parar, nem mesmo uma facada ou um macho hétero. Mas no 1% que me resta, eu choro no cantinho do quarto. Imagino um violino tocando na minha cabeça, como se fosse o piano no fundo de “Real Life”, do The Weeknd, e penso em todos os motivos que tenho para não ser tão feliz assim. Em todos os motivos que retiram todo o meu êxtase.

Minha mãe.

Eu, afastado do meu irmão.

O dia em que minha família me descobriu e reagiu de forma negativa.

Shawn.

O modo como ele fodeu minha vida.

O modo como ele sempre vai ser uma cicatriz na minha cabeça. (E nas minhas costas.)

Klaus.

Às vezes não consigo acreditar que ele me ama e que é meu namorado.

Penso que ele é demais para mim.

Que todas as coisas boas, que todas as pessoas boas, que vieram depois da facada… nada disso é bom para mim.

Eu talvez não mereça.

Não mereço todos me apoiando por eu ter um namorado.

Talvez eu devesse acreditar em quem aponta o dedo na minha cara e me chama de aberração. Porque eu sou incomum.

Não sou fácil de encontrar.

Ainda tem a mudança. Meu tio em breve vai morar com o Jason, e eu terei de construir minha vida fora do mesmo teto onde convivi com meu pai por um bom tempo.

Logo terei de me virar sozinho. Esse é o sonho de qualquer pessoa comum.

Mas não o meu. Eu sou novo no negócio.

Não consigo.

A vida sempre premia os babacas. Por que ela premiou um idiota como eu?

Quando finalmente abro os olhos na parada de ônibus, percebo que estou chorando. Meu rosto está escondido em meu casaco, e ninguém está vendo isso, mas eu estou chorando. Tenho um pouco de dificuldade para respirar por causa disso. Sinto que o chão vai se abrir e eu vou cair num eterno loop. Imagino-me depois de morto, sem poder sentir mais essas coisas. E me parece uma boa ideia esperar a morte para parar de chorar.

Todos que conheço já devem estar chegando em seus lares felizes, com suas vidas felizes, e eu aqui chorando por coisas que todos têm. Eu não carrego a alegria comigo. Eu apenas finjo. Apenas finjo que me falta alguma coisa. Apenas finjo que as palavras da minha mãe não me afetam mais — quando afetam de verdade. Ainda posso ouvi-la gritando na minha cara que eu sou uma decepção. E isso já faz mais de um ano.

Imagine se tivesse sido ontem. Seria mais devastador para mim.

— Daniel?

Enxugo meu rosto no casaco o mais rápido possível. Vai ficar sujo de secreção e lágrimas e eu vou ter que lavar? Sim, mas foda-se. Melhor do que deixar alguém me ver assim. Ergo a cabeça apenas para encontrar Luke Flanagan parado, de pé, em frente a mim.

— Está tudo bem com você?

— S-sim — tropeço na única palavra que tenho de falar — o que faz aqui?

— Emprestei o carro para a Charlotte usar hoje e ela esqueceu de me levar para casa. Vou pegar um ônibus… — ele se interrompe ao olhar direito para mim — Daniel.

Aquele “Daniel” com tom calmo foi o necessário para ele estender os braços e eu simplesmente chorar no abraço do meu professor.

— Olha, eu não sei pelo o que você está passando agora — ele começa a (tentar) me consolar, enquanto eu só falto berrar de tanto chorar — mas chore. Não é o que todo mundo diz, eu sei. Geralmente te pedem para não chorar e erguer a cabeça. Mas o que as pessoas não sabem é que, às vezes, para erguer a cabeça você precisa baixá-la e chorar o quanto for possível, porque é assim que você vai resolver a história. Tem que viver profundamente o momento do choro, sabendo que uma hora ele vai parar. Você pensa que não, mas vai parar. Uma hora, as lágrimas acabam. E pronto. Você não vai sentir mais a vontade de chorar, apenas a vontade de tomar uma atitude. E vai ser a hora perfeita. Mas, por enquanto, é pra chorar, sim. E você tem apoio para isso. A gente entende quando nosso amigo não pode ser forte o tempo todo. Você não precisa ser forte toda hora. Humanos têm altos e baixos. E precisamos sentir o máximo de todos.

Não consigo fazer nenhuma palavra sair de minha boca. Apenas deixo que Luke me aperte com mais força, e que saiam mais lágrimas de mim. Apenas revisito toda a tristeza, toda a ansiedade acumulada aqui dentro.

 

.::.

 

“Às vezes eu não consigo acreditar, eu estou superando o sentimento. De novo. E através da noite. Nos meus sonhos, ainda estamos gritando.”

— “The Suburbs”, Arcade Fire

 

Washington, D.C.

20 de abril de 2017

370 dias depois da facada que não me matou

 

Luke Flanagan acaba pegando o mesmo ônibus que eu. Ele não acredita que eu consigo chegar em cada sem sofrer mais um pouco, apesar de eu garantir várias vezes que sim. No fim das contas, acaba sendo o melhor para mim, já que as ruas estão apenas iluminadas pelos postes, não há quase ninguém no transporte e tudo isso, aliado aos meus poderosos fones de ouvido, com certeza me faria chorar de novo.

E é muito bom ter um ombro onde eu posso ficar recostado sem a necessidade de conversar com o dono desse ombro.

— Não sei se isso vai te ajudar… mas eu quero contar uma história para você.

— Adoro histórias — digo, ainda com a voz embargada.

— Eu fui diagnosticado com ansiedade com 19 anos de idade — ele começa, relaxando os ombros e expirando todo o ar que parecia estar preso nele — mas eu já sabia que meus descontroles não eram meros descontroles desde os 15. Sempre fui muito bom em química, e isso explica o porquê de eu ser professor dessa matéria agora… mas não era exatamente um nerd nas outras matérias. Por exemplo, inglês? Eu odiava com todas as minhas forças. E lá em casa, a pressão para ser bom em tudo era enorme, sabe? Meus pais também eram professores, e queriam que eu me encontrasse em alguma área para seguir a carreira acadêmica também. Naquele tempo, eu gostava de química, mas não via isso como sendo minha vida, então eu tentava desesperadamente ser o exemplo que eles queriam. Minha irmã gêmea, a mãe da Charlotte, conseguia ótimas notas. Junte tudo isso com o fato de eu não ser tão atraente para as meninas, com a descoberta de que meus pais traíam um ao outro regularmente e com a gravidez da minha irmã aos 15 anos… isso revirou minha cabeça muitas vezes, e em várias posições diferentes. Eu me considerava a pessoa mais fodida do mundo. E sempre que me faziam uma pergunta com resposta difícil ou colocavam um grande problema meu na minha frente, eu travava. Tinha falta de ar, até desmaiava às vezes. E meu pai achava que era tudo drama, então até eu conseguir mostrar a ele que não era, passaram-se quatro anos nessa novela. Eu chorei muito quando me formei, porque todos acreditavam em mim como o futuro da educação, graças aos meus pais. E eu sabia que não era verdade.

— E o que você fez?

— Surtei. Saí de casa no primeiro dia de férias, apenas com o dinheiro do fundo que eles fizeram para mim e disposto a descobrir sozinho a minha própria vida. Passei um ano inteiro apenas trabalhando num McDonald’s de uma cidade a quatro horas de distância da minha e tentando ver o que dava certo para mim. O cúmulo foi quando meu pai simplesmente ligou para mim e eu quase morri. De verdade. Ver o nome dele na tela do celular me fez parar no hospital. Foi quando eu percebi que precisava de ajuda, procurei e achei. E ainda por cima achei minha bendita ansiedade. A partir daí, foi mais fácil, porque eu sabia o que tinha, sabia o que fazer. Então conversei com meus pais, expliquei o que tinha acontecido… e procurei me apegar ao que me fazia bem. Não voltei a morar com eles, mas preferi visitá-los porque a Charlotte estava lá. Ela representou um recomeço para mim, e eu a amo muito. Uma pena que ela esquece disso às vezes.

— Jovens se afastam da família quando são jovens. Falo isso por mim. Mas depois… depois eles voltam. É um ciclo. Precisam sair para depois reencontrar o que não deveriam ter deixado para trás. Se ela te ama de verdade, uma hora ela vai reconhecer sua importância de novo.

— Acha?

— Acho. E acho também que virei o conselheiro dessa conversa em menos de dez minutos — rio do meu próprio comentário, fazendo-o me acompanhar no ato.

— O que eu queria dizer com essa história toda — Luke diz, ao parar de rir — é que você não tem que se sentir sozinho o tempo todo. Tem gente que te ama e te apoia, não importa o quê. E vai ter vezes em que vamos puxar sua orelha, quando você errar uma alternativa na prova, por exemplo.

— Ih, já vi que vai ter um carão bem grande na próxima aula…

— Não garanto nada — ele faz uma cara de “nunca nem vi” — enfim, quando fizermos isso, é porque a gente gosta de você e quer te ver bem. Eu sei que você é melhor do que aquelas provas, o Lucian também sabe, seus pais sabem, todo mundo sabe. Aquelas questões não te definem. Afinal, vai que você entre numa faculdade que não tenha absolutamente nada a ver com a escola…

— Tipo cinema? Ou música? Ou os dois?

— Tipo isso — ele sorri — viu? Vai ficar tudo bem. Você só precisa deixar que essa agonia saia de dentro de você. Não permita que isso te sufoque. Faz mal pra saúde.

— É, tô sabendo. Olha, meu prédio ali.

— Tem certeza de que você vai ficar bem o resto da noite? — Pergunta, deixando-me passar pelo seu banco e ir rumo à porta do ônibus.

— Sim. Acho que eu vou estudar um pouco para me sentir melhor.

— Mentiu.

— Menti mesmo, ainda bem que sabe, professor — lanço uma piscadela para Luke, que ri mais uma vez.

— Até mais, Boone.

— Até mais, Flanagan — despeço-me, descendo do transporte logo em seguida.

Corro para o apartamento do meu tio, e assim que chego ao corredor da porta referida, encontro Klaus Furler sentado no chão, com as costas na madeira da entrada.

O meu Klaus Furler.

Eu poderia te contar agora como começamos a namorar, mas isso fica para outro episódio.

A primeira coisa que ele faz é se levantar assim que me vê. A primeira coisa que eu faço é abraçá-lo com toda a força que consigo fazer. Klaus nota isso, e me abraça ainda mais forte com os músculos adquiridos na academia. Ele beija minha cabeça diversas vezes, e não parece querer me soltar.

— Obrigado, Klaus.

— Pelo quê?

— Por estar aqui.

— Seu pai ligou para o meu, e disse que você ficaria sozinho hoje e amanhã. Não quis permitir isso. Vim pra cá.

— Obrigado. Eu te amo.

— Eu também te amo, Danny. Muito.

— Eu sei.

— “Eu sei” é o tipo de coisa que quem diz não ama de verdade.

— Ah, mas eu te amo. Se tem uma coisa que eu faço todo dia, é te amar. Apesar de às vezes eu achar que não te mereço. Você é bom demais pra mim.

Ele corta nosso abraço apenas para me beijar na boca por longos segundos.

— Nunca… diga.. isso — ele sussurra, entre os beijos — nós somos bons demais um para o outro, isso sim. Por isso nos merecemos. E eu continuo te amando.

— Eu continuo te amando.

— Ótimo — e sem avisar, Klaus me ergue no ar e me carrega em seu colo até o elevador.

— O que é que você pensa que está fazendo, criatura?

Ele aperta o botão que vai nos levar até o térreo.

— Levando o amor da minha vida para um passeio.

— Exagerado.

— Em quê? Em te levar no colo ou em te chamar de “amor da minha vida”?

— Nos dois.

— Ótimo. Tô nem aí. Sou exagerado por você, Arthur.

— Não me chame pelo nome do meio.

— Eu salvei seu contato no meu celular como Arthur. Faço o que eu quiser.

— Idiota.

— Sou o seu idiota.

 

Washington, D.C.

18 de maio de 2017

398 dias depois da facada que não me matou

 

— ACABOOOOOOOOOOOOU! ACABOU ESTA MERDA DE ENSINO MÉDIO!

Tenho o prazer de gritar isso assim que ponho os pés para fora do colégio. Raven e Peter me acompanham na gritaria, bem como todos os outros estudantes. Fico feliz que não verei mais os seres dispensáveis da escola… até lembrar que ainda tem a formatura. Mas essa parte a gente deixa de lado no momento.

Líderes de torcida e jogadores de futebol do Woodrow Wilson High School — está aqui o nome desta porra para vocês — jogam confetes para todos os lados, enquanto os casaizinhos se beijam para se exibir.

Não vou mentir. Queria estar assim também.

— Oi, docinho de coco.

Falando no menino…

— Odeio quando você me chama assim — respondo, virando-me para Klaus.

— Tô nem aí. Sou exagerado por você, Arthur — e cola seus lábios aos meus, arrancando urros de aclamação dos nossos amigos que estão por perto. Até mesmo Shawn Hans grita um “QUE BAIXARIA” ao fundo, mas ninguém dá ouvidos ao dito cujo, e continuam a nos elogiar.

Sabe, eu nunca pensei que isso aconteceria. Às vezes nem consigo acreditar que estou superando os maus sentimentos. De novo e de novo. Como na música do Arcade Fire que Klaus me apresentou depois do meu ataque de ansiedade no mês passado. É bom ver minha própria evolução ao longo desse tempo. Para um gay escondido de 2015, ser essa pessoa extrovertida e feliz com o próprio namorado de 2018 com certeza significaria o mesmo que um escândalo total. Felizmente, as pessoas mudam. Sim, elas mudam. Têm que mudar.

Porque a mudança leva à evolução.

— Daniel? — Ouço meu professor Luke me chamar por trás.

Assim que me viro, encontro-o com uma carta nas mãos e os olhos marejados. Entendo o recado e dou-lhe um abraço forte, do tipo que ele precisa no momento.

— Recebi sua carta — ele sussurra para mim, e meus olhos se arregalam.

— Recebeu?

— Claro que sim. Estava meio escondida nas minhas pastas, mas eu achei. E tenho de dizer que estou muito emocionado com ela — diz, separando-se do abraço — sabe, é por essas coisas que eu decidi ser professor. Falar de química é bom, mas impactar a vida de alguém pela minha profissão é melhor ainda. Daniel, eu não sabia que eu te inspirava tanto assim.

— Nem eu sabia — respondo — mas acho que, depois daquele dia, eu percebi o quanto de ajuda recebi de você nesses anos. Em todas as piadas ruins que você fez quando me via reclamar do meu desempenho, em todas as conversas sobre a vida que a sala toda tinha no meio da aula. Você e Lucian Furler definitivamente foram os anjos adultos da minha vida nesse ensino médio. E eu devia ter te agradecido antes, devia ter feito essa carta antes. Mas acho que esse foi o momento perfeito.

— E foi. Muito obrigado, Boone.

— Você merece — estendo a mão direita, e ele a aperta com sua mão — nos vemos na vida?

— Com certeza. E me convide para o seu casamento.

— Não garanto um casamento na minha vida — digo, me arrependendo segundos depois ao lembrar que Klaus Furler está ao meu lado.

— O que você disse? — Meu namorado indaga.

— Nada, não, Furler, vamos sair? A comemoração está ótima, mas eu estou com fome — desvio do assunto rapidamente, e solto a mão de Luke, que entende o recado e se afasta.

— Eu sei o que eu ouvi. E não vou deixar barato.

— Ah, pronto — reviro os olhos, segurando no braço de Klaus.

— Para onde nós vamos? — Raven se enfia no meio do nosso caminho.

— Nós?

— Sim. Porque com certeza vocês vão levar a gente, né?

— Cabem cinco pessoas numa moto, por acaso? — Respondo com atrevimento.

— Charlie? — Ela grita pela amiga.

— Oi? Eu ouvi passeio? Estou de carro hoje — a outra responde.

— Resolvida essa parte. E agora?

— Deixa, Daniel — meu namorado diz — deixa eles irem com a gente. Depois fazemos nossa própria… festinha.

— Que baixaria — Peter Zaslavski usa a frase de Shawn ao se referir a nós, e logo completa: — adoro uma baixaria do meu shipp favorito.

 

“Luke Flanagan.

Não sei se você lembra de mim — ou se vai lembrar nos próximos anos —, mas meu nome é Daniel Arthur Boone. O senhor me deu aulas de química no ensino médio.

E foi meu ombro amigo quando a ansiedade me atacou naquela parada de ônibus.

As coisas mudaram em mim nesse meio tempo. Depois que eu ouvi sua história e percebi que nunca, jamais estaria sozinho nessa jornada árdua chamada “vida”, comecei a pensar mais positivo. Cada piada que eu faço, ouço ou leio é um motivo de risada. Antes eu analisava cada aspecto da piada para saber se ela me afetava ou não. Hoje eu entendo que nem tudo foi feito para me agredir. Hoje eu entendo que, às vezes, uma piada é só uma piada. E as palavras só vão te machucar se você deixar que elas te machuquem.

Penso nessa última frase a cada vez que lembro do que minha mãe ou Shawn Hans disseram na minha cara no último ano. Aquelas palavras talvez tenham tido mesmo o intuito de me magoar. E, por um momento, me magoei. Mas hoje… não mais. Sei que posso contar com meus amigos — e com o senhor, nas horas de choro em parada de ônibus (vou sempre referenciar isso) — para me sentir melhor. O senhor me fez sentir melhor.

Você e Lucian Furler são os tesouros da Woodrow Wilson High. Não deixem de inspirar seus alunos como me inspiraram a lutar por mim, por meus sonhos e pelo meu destino. Não deixem de fazer o que muitos professores já deixaram de fazer — ensinar para a vida. Nunca se esqueçam disso.

Espero ter te feito sorrir em algum momento dessa carta.

Atenciosamente,

Daniel A. Boone”


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Notas finais do capítulo

QUEM GOSTOU BATE PALMA, QUEM NÃO GOSTOU... comenta aqui o que devia ter sido feito, okay? Adoro comentários e críticas construtivas. A Lola Cricket também.
No próximo episódio, que vai ser de uma música da Lorde, Daniel vai ter dois plots num mesmo dia pra lidar. (Misericórdia.) Fiquem ligados!
PS. O prólogo do spin-off desta fic, chamado "Quem é Você, Shawn?" (QUEM PEGOU A REFERÊNCIA?), já está disponível no Wattpad e em breve sairá aqui no Nyah!



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