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...Vimos nossa quota de altos e baixos

Oh, a rapidez com que a vida pode mudar em um instante

Parece ser tão bom reunir

Dentro de si mesmo e dentro de sua mente...

(My Sacrifice - Creed)

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Olhei mais uma vez pela janela, mesmo sem mais sinal de neve o tempo estava ligeiramente frio, o inverno estava a um mês do fim e consequentemente meu ultimo ano estava a alguns meses de acabar também. Olhei meu melhor amigo sentado ao meu lado e sorri ele estava quase dormindo embora amasse estudar historia era o tipo de matéria onde Peeta tinha que se esforçar para manter boas notas, já que segundo ele era cansativo demais com muitas datas para lembrar. Eu estava quase jogando uma bolinha de papel nele quando batidas na porta chamaram a atenção da maioria dos alunos. Vi uma das inspetoras do colégio chamar a professora do lado de fora e em alguns instantes ela voltou.

— Everdeen e Mellark, por favor, recolham seus materiais e acompanhem a Sra. Gelman – trocamos olhares perdidos enquanto guardávamos nossas coisas, não tínhamos feito nada de errado.

Seguimos a inspetora que se manteve em silencio embora seu semblante demostrasse nitidamente que algo estava errado, achei que iriamos para a diretoria, mas ao invés disso seguimos até a saída e para minha surpresa vi minha mãe parada na porta, aquilo não era um bom sinal e pelo olhar do Peeta ele também havia notado isso.

— Obrigada Sra. Gelman – mamãe agradeceu se aproximando – Eu preciso falar com vocês – vi seu olhar parar no meu melhor amigo por um período um pouco mais longo.

— O que aconteceu?

— Quando o John saiu hoje de manhã ele sofreu um acidente um carro desgovernado o atropelou, levaram ele  para o hospital a algumas horas e ele precisou  passar por uma cirurgia importante e achei melhor levar vocês para lá para esperar com a gente – senti o meu coração apertar.

— Mas como ele esta? Que cirurgia?- Peeta perguntou.

— Vamos por hospital ok e lá a gente conversa melhor esta bem – eu concordei com a cabeça, mas ele não se mexeu.

— Tia, por favor, como esta meu vô? – pelo modo como ela estava falando não era nada bom, embora ela tentasse parecer calma mamãe estava nitidamente nervosa.

— Peeta, olha eu queria poder dizer a vocês, mas eu não tenho muitas informações. Haymitch esta vindo, mas por enquanto sua vó esta sozinha esperando noticias então é melhor irmos para lá esta bem – não era bom, ela tinha chamado meu pai então não era nada bom – Vai ficar tudo bem – ela falou embora estivesse nítido que ela não tinha ideia se iria ficar tudo bem.

O caminho até o hospital foi feito em silencio, Peeta passou todo o trajeto olhando pela janela, John e Mags eram como avos pra mim haviam feito parte da minha vida desde que me mudei para o Distrito 12, e saber que ele estava ferido me deixava em pânico. Assim que entramos na sala de espera do hospital Peeta correu até a avó que o abraçou, me sentei do outro lado dela e ela logo me abraçou também. Um residente nos informou que ele havia sofrido diversas fraturas com o impacto e que ele tinha tido uma hemorragia interna, a cirurgia havia acabado a alguns minutos e ele estava em observação. E pela primeira vez me senti impotente não tinha nada a se fazer a não ser sentar e esperar.

A sala de espera de um hospital tende a ser um dos piores lugares para se estar, do silencio ao cheiro do lugar tudo traz uma sensação de angustia, pessoas sentadas esperando por noticias, cada medico que sai pela porta pode trazer a noticia que pode mudar tudo, ficamos sentados esperando por horas em silencio. Já estava escuro quando um medico se aproximou.

— Sra. Mellark, sou o Dr. Gloss um dos médicos responsáveis pela cirurgia do seu marido a senhora pode me acompanhar por um instante? – levantamos todos e ele observou por um momento – Só membros da família.

— Eles são família doutor – ele assentiu e o seguimos até uma pequena sala com uma mesa redonda, nos sentamos e não pude deixar de pensar que aquele era um péssimo sinal, minha mãe se sentou ao lado da Mags enquanto eu ficava ao lado do meu melhor amigo.

            - O Sr. Mellark como já foi informado chegou aqui em um estado critico estava consciente devido ao nível de adrenalina, mas seu estado era grave ele passou por uma cirurgia complicada e teve duas paradas cardíacas durante a cirurgia. Ele passou as ultimas horas em observação e não parou de fibrilar sendo reanimado mais quatro vezes desde então.

            - Mas ele esta bem agora?

            - Seu marido passou por muita coisa nas ultimas horas tivemos que reanima-lo seis vezes e esse processo vai ficando cada vez mais demorado.  Ainda não conseguimos tira-lo do respirador, e os exames mostram alterações renais que indicam que seus rins estão começando a falhar o que é um sinal de que o outros órgãos vão começar a falhar um a um- ele fez uma pausa antes de continuar – Sei que é um momento difícil, mas preciso que a senhora me diga se quer continuar com as medidas extremas – Vi corpo dela começar a tremer em meio ao choro e mamãe logo se prontificou a abraça-la.

            - Ele esta sentindo dor? – meu melhor amigo perguntou e pude ver toda a dor em seus olhos e como não sabia o que fazer me limitei a segurar sua mão. O medico olhou para ele por um momento antes de responder lentamente.

            - Sim, mesmo estando medicado ele sente dor, o corpo dele passou por muita coisa e cada vez que o reanimamos o esforço é cada vez maior por isso demora mais.

            - Vó – ele se virou para ela e vi os dois conversando com o olhar.

            - Ele não ia querer medidas extremas nesse caso, tire ele dos aparelhos se ele sobreviver será a melhor coisa que poderia acontecer, se não ... – ela não terminou de dizer, mas não era preciso, senti meus olhos se encherem de lagrimas e fiz meu melhor para segura-las.

            - Preciso que a senhora assine alguns papeis – ela concordou com a cabeça eu sabia que ela já conhecia o procedimento já que tinha passado por isso com o filho anos atrás.

            As horas seguintes foram um verdadeiro borrão, antes de o tirarem do respirador  fomos autorizados a vê-lo e isso me fez desmoronar por dentro eu o amava tanto e ver Mags chorando ao lado dele só piorou cada minuto e não consegui controlar mais as lagrimas que vinha segurando. Peeta por outro lado subiu todos os murros possíveis se mantendo firme segurando a mão do avô enquanto o medico explicava como seriam os próximos minutos, tentei prestar atenção a cada palavra tentando me preparar para os minutos seguintes, mas nada poderia me preparar para aquele momento .

            - Peeta eu sinto muito – papai disse assim que chegou no hospital durante aquela madrugada, ele abraçou meu amigo que parecia estar em outro lugar.

            - O senhor pode resolver a parte burocrática? Vovó não esta em condições e eu ainda não fiz dezoito – eu realmente achei que ele iria desmoronar naquele momento, mas ele apenas respirou fundo e olhou para meu pai que concordou com a cabeça antes de nos deixar sozinhos – Katniss você pode cuidar da vovó?

            - Mamãe esta com ela, vou ficar aqui com você.

            - Eu estou bem, ela precisa de companhia.

            - Você também – o abracei sem conseguir imaginar a dor que ele estava sentindo, por mais que me doesse aquele momento não se comparava a dor que ele estava sentindo – Eu não vou a lugar nenhum Peeta, não vou deixar você agora esta bem. 

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            - O que aconteceu mãe?

            - Ela não estava se sentindo muito bem essa manhã disse que estava se sentindo tonta e hoje a tarde me ligou após uma queda eu levei ela para o hospital parecia tudo bem ela estava consciente fez alguns exames então ela começou a sentir muita dor no abdômen e precisou entrar em cirurgia.

            - Como assim entrar em cirurgia? Mãe o que esta acontecendo? – meu coração estava acelerado.

            - Não sei muito bem, mas disseram que ela teve um rompimento de um aneurisma aórtico abdominal. Filha ela acabou de entrar em cirurgia, e o hospital teve que ligar para o Peeta.

            - Mãe ...

            - Eu falei com ele em seguida e ele obviamente não esta bem – não era preciso dizer mais nada.

            - Certo, me liga se algo acontecer eu vou cuidar dele – desliguei e peguei minha bolsa deixando todos os papeis de lado, Peeta devia estar desesperado – Lavinia cancela qualquer compromisso que eu tenha para essa semana, tive uma emergência familiar, preciso que passe meus casos mais urgentes para outro advogado – pedi para minha secretaria que assentiu enquanto eu seguia para o elevador já com o celular em mãos, três toques foram suficientes para que ele atendesse – Que horas é o próximo voo? – perguntei assim que ele atendeu, eu sabia que ele estava indo para o Distrito 12 no próximo voo.

            - Em duas horas – a voz dele estava nitidamente abalada.

            - Compra minha passagem, encontro você no saguão do aeroporto o mais rápido que der.

            - Katniss você não precisa ...

            - Peeta não estou discutindo minha ida, eu vou então, por favor, poupa meu tempo comprando minha passagem e fica calmo em menos de duas horas eu estarei ai.

            - Ok – não disse mais nada antes de desligar e seguir para o meu apartamento o no limite máximo de velocidade permitido onde fiz minha mala o mais rápido possível somente com o essencial, segui no meu carro até o apartamento do Peeta e estacionei na segunda vaga dele que costumava usar sempre.

            O porteiro não me barrou ele já me conhecia e sabia que eu tinha a chave, fiz uma mala para ele com algumas roupas e alguns pertences essenciais enquanto providenciava um taxi para me levar ao aeroporto, eu não teria tempo de procurar vaga para estacionar então deixaria meu carro ali mesmo, pouco mais de uma hora e meia depois de falar com ele estava correndo apressada em direção a ele no saguão do aeroporto e não foi preciso palavras não importava se tínhamos discutido dias atrás, não importava se eu o amava mais do que como um amigo, estávamos ambos com medo então simplesmente o abracei forte.

            - Ela vai ficar bem – queria passar mais certeza na voz, mas eu estava com medo também.

            - Ela tem que ficar bem, eu não posso perde-la também – Peeta havia perdido pessoas demais ao longo da vida, os pais, o avô até mesmo a tia distante ele não merecia mais uma perda – Eu não posso Katniss, não dá pra perde-la.

            - Não vamos perde-la – olhei em seus olhos – Ela vai ficar bem, ela é mais forte que nos dois juntos sabe disso – ele concordou com a cabeça e respirou fundo – Vamos embarcar esta bem.

            Despachamos as malas e fomos os últimos a embarcar no avião que saiu no horário, eu não era muito fã de voar mesmo tendo estado em aviões mais vezes do que desejei na infância devido as visitas ao meu pai, mas naquele momento aquele sensação horrível da subida não teve a menor importância. Porque eu iria até o fim do mundo com ele se fosse preciso, mesmo que eu fosse a amiga, mesmo que ele nunca fosse capaz de me amar como eu o amava eu iria onde quer que fosse se ele precisasse de mim. O voo foi tranquilo, sem turbulência e ficamos em silencio durante praticamente todo o trajeto, chegamos ao aeroporto do Distrito 12 já passava das 22:00 horas, ambos estávamos sem bateria no celular e isso me deixava angustiada, pegamos um taxi direto para o hospital e confesso que o medo só aumentou ao passar pelas portas automáticas.

            A ultima vez que entrei naquele lobby eu tinha 17 anos e ironicamente estava acompanhada dele, e quando sai deixei uma parte de mim naquele lugar, na ultima vez tinha perdido alguém que amava. Tentei não pensar nisso enquanto buscávamos informações, e confesso que prendi a respiração quando minha mãe apareceu alguns minutos depois.

            - Ela esta bem – foi a primeira coisa que ela disse ao se aproximar e acabei soltando o ar que não havia me dado conta estar prendendo – Esta estável e o medico disse que a cirurgia correu bem, ele disse que a queda dela foi muita sorte que se o aneurisma tivesse rompido fora o hospital poderia ter acontecido o pior – ela se aproximou do loiro sorrindo e olhando em seus olhos, assim como eu ela o conhecia bem ela sabia o inferno que havia sido as ultimas horas para ele – Ela esta bem querido – ela o abraçou e vi quando o corpo dele relaxou em meio ao abraço.

            - Eu posso vê-la?

            - Pode, ela esta dormindo devido a medicação, mas já acordou depois que foi para o quarto. Só pode um acompanhante então você vai ter que entrar sozinho – ele confirmou com a cabeça.

            - Peeta – chamei e não foi preciso palavras eu sabia que ele tinha entendido que eu também queria vê-la, observei ele seguir para o quarto que minha mãe indicou e me sentei na sala de espera.

            - Ela esta bem filha – concordei com a cabeça e acabei deixando algumas lagrimas caírem.

            -Eu senti tanto medo mãe, de perde-la de ver ele passando por tudo isso de novo – ela me abraçou no mesmo instante.

            -Eu sei, eu também senti medo – ficamos ali por um tempo até ele voltar e eu poder entrar, Mags estava dormindo e odiei vê-la naquela cama de hospital, mas mantive em mente que ela estava bem, me sentei na poltrona o lado da cama e fiquei ali por um tempo antes de voltar para sala de espera – Vocês deviam ir para casa, descansar um pouco eu fico com ela.

            - Não, eu quero ficar - Peeta disse.

            - Querido, você acabou de chegar teve um dia cheio. Vai pra casa dorme um pouco e volta amanhã eu fico com ela.

            - Eu vou me sentir melhor aqui, você também teve um dia cheio ficou aqui com ela o tempo todo precisa descansar – eles trocaram olhares e eu sabia que ele não mudaria de ideia.

            - Certo, volto pela manhã – ele confirmou com a cabeça e beijou o rosto dele com carinho.

            - Obrigado Katniss – ele agradeceu – Por vir comigo, pela mala ...

            -Não tem que agradecer Peeta – disse sincera – Não importa o que aconteça eu sempre vou estar com você quando precisar de mim. Vou levar as coisas pra casa e volto assim que amanhecer – ele confirmou com a cabeça.

            Cheguei em casa e coloquei o celular para carregar e menos de cinco minutos após liga-lo vi um numero estranho me ligando.

            - Katniss é a Glimmer – eu não tinha ideia de como ela tinha meu numero.

            - Oi Glimmer.

            - Desculpa ligar essa hora, mas Peeta falou comigo mais cedo, sobre a avó dele ele disse estar indo para o Distrito 12, estou ligando pra ele a horas e só da caixa postal você sabe alguma coisa? – ela parecia realmente preocupada.

            - Mags esta bem, esta estável ele esta com ela vai passar a noite no hospital – eu não queria falar com ela, mas eu sabia que era o certo a se fazer então expliquei rapidamente o que minha mãe havia contado ter acontecido – A bateria do celular dele acabou pouco antes de embarcar por isso esta caindo na caixa postal.

            - Você esta no Distrito 12?

            - Estou – ela ficou em silencio por um tempo.

            - Certo, obrigada pelas noticias e desculpa novamente por ligar essa hora.

            - Tudo bem – nos espedimos cordialmente e minutos depois quando deitei na minha antiga cama, senti um perto no peito já conhecido que sentia toda vez que pensava nele e no fato de estar perdendo ele a cada dia.