Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 13
XIII - Batalhas Antigas pelo Amor Perdido


Notas iniciais do capítulo

Hey! o/
Boa leitura :3



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  Após o clarão passar, Aurora e Cinderela se viram em uma praia junto à Oráculo – ou pelo menos o espirito dela. Uma brisa fria e salgada soprava seus cabelos de um modo leve, mas congelante – Brrr – tremeu Aurora.

— Bibidi Bóbidi Bum – entoou a mais velha fazendo o vestido da outra virar uma roupa própria para o inverno.

— Obrigada, Cinderela— falou como se aquele nome fosse o pior dos xingamentos.

— Aurora, me escute...

— Te escutar? – gritou, sendo observada com espanto por Cinderela e com impaciência por Rapunzel – Por causa do seu Reino o meu caiu! Eu acordei sem meus pais e sem um lugar seguro para poder ficar!

— Parem, tipo, agora – repreendeu a Oráculo – Eu tirei vocês das garras da Malévola para poderem sobreviver, e somente juntas vocês poderão encontrar seus príncipes!

— Como poderei confiar nela? E em você? – berrou a mais nova – Cinderela mentiu sobre sua identidade e você sobre o que o sangue de gorgona podia fazer! Como poderei permanecer junta com mentirosas?

— Cinderela teve seus motivos para ocultar sua identidade, e você sempre soube que ela não era Chapeuzinho Vermelho – disse Rapunzel após a outra finalmente se calar – E o veneno da gorgona serviria apenas para me libertar daquele corpo, o outro curaria qualquer enfermidade, tipo aquela sua espinha encravada.

— O que? – perguntou atônita.

— Bem, espero que vocês fiquem unidas para a próxima etapa da sua missão. – falou olhando para as duas.

— Olha, Oráculo – começou Cinderela – Sem querer questionar seus motivos para nos ter trazido para a praia, mas se sabemos que Henry e Phillip estão presos na Montanha Proibida junto à Malévola, por que não ir para lá?

— Acha que é forte o suficiente para enfrentar uma bruxa como a Malévola, aprendiz de fada? – questionou Rapunzel – Nem mesmo eu quando viva tinha poder para tal feito, quem dirá vocês.

— Então o que diabos estamos fazendo aqui? – resmungou Aurora.

— Vocês não se lembram da missão que eu lhes dei?

— A Rosa – recordou Cinderela – Esta presa no fundo do Mar junto as irmãs Úrsula e Morgana. Mas como chegaremos lá?

— Finalmente uma pergunta sensata – disse a Oráculo fazendo Aurora revirar os olhos – Sigam reto até o castelo adiante – disse apontando para o norte – Vocês entraram nos domínios dos Reis Eric e Ariel. Pesam ajuda a eles e pelo preço certo lhes deixaram cruzar os limites que essas pernas lhe dão.

— Espera aí, sigam? Você não virá conosco?

— Infelizmente eu sinto que minha missão pós-morte aqui na Floresta Encantada vai além de lhes ajudar. Tenho que procurar a mal de meu verdadeiro amor e me retratar com ele. Sinto que você sabe o que é isso, Cinderela – a garota engoliu em seco – Mas, basta dizerem meu nome três vezes e eu aparecerei a vocês. Até breve!

— Espere, você não nos disse seu... – tentou falar Aurora mas logo a Oráculo havia sumido em uma grande explosão de luz – Ótimo. Agora estamos sem ajuda confiável. – bufou.

— Ora essa Aurora, você esta agindo igual a uma criança mimada – disse Cinderela por fim – Eu errei e estou tentando me retratar com você!

— Escuta aqui, por mais bondosa que você seja, aposto que não gostaria de andar ao lado da noiva do homem que atacou o seu reino – rebateu a mais nova – Eu teria entendido se você tivesse dito logo de inicio quem era, mas não, preferiu guardar esse segredo!

— Eu estava tentando poupar você! Agora você diz isso, mas mesmo que eu tivesse revelado quem era no início, seu olhar para mim teria tanto ódio quanto tem agora – a varinha nas mãos de Cinderela começou a brilhar vermelha e ameaçadora, formando uma tempestade sobre a cabeça das garotas.

— Então agora a culpa é minha? – perguntou ironicamente a mais nova. A espada em suas mãos começou a brilhar em feixes de rosa, azul e verde – Eu não menti em nada pra você desde quando nos encontramos!

— E que garantia eu tenho disso? – um relâmpago brilhou entre as nuvens junto ao som do trovão.

— Um mentiroso sempre espera dos outros aquilo que tem a oferecer, ou seja, mentiras! – acusou Aurora. O metal da espada começou a vibrar com a tensão instaurada ali.

— Quando você vai parar de agir como uma criança? Oh, espera, você é uma! – um raio caiu na areia a cinco metros delas, transformando-a em vidro.

— Ora sua... sua... – a de azul ergueu a espada e apontou ameaçadoramente para o peito de Cinderela – Se é guerra que queres, é guerra que terás! Iahh! B partiu para cima da mais velha que com um gesto da varinha a jogou para trás, em uma duna.

  Aurora caiu sobre a areia com a cabeça zonza e com raiva, mas aí se deu conta de um negócio estranho ao mesmo tempo que a Ex-Chapeuzinho Vermelho. Uma melodia diabólica ecoava no ar, como o mais belo canto que nem mesmo as gargantas afinadas das princesas podia reproduzir. Olharam para o mar e então depararam-se com três sereias cantando. Assim que perceberam que foram avistadas, submergiram.

  Aurora se levantou e Cinderela foi até ela. Ambas se olharam envergonhadas, e partiram em direção ao castelo sem trocar uma palavra.

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— Vamos logo com isso, Úrsula – rosnou Morgana ao ver que sua irmã ainda não havia conseguido passar pela janela da cozinha.

— Não me diga o que fazer, sua magrela raquítica – retrucou a outra – Se eu não tivesse comido aqueles camarões a mais ontem... – choramingou olhando para o corpo.

— E os de ontem, anteontem, antes de anteontem – provocou a mais nova.

— Oras, pare com isso, sua tola! Me ajude a sair daqui se não nunca conseguiremos pegar aquela maldita rosa! – disse Úrsula com raiva.

— Ai, tá bom! – cedeu Morgana indo até a irmã e pegando-a pelos braços – No três. Um... Dois... Três! – deu um puxão na modelo plus-size da moda das Mulher-Lulas fazendo com que esta caísse por cima de si mesma – Saia de cima de mim! – gritou em bom tom.

— Acho que você devia engordar mais maninha. Esta puro osso, nem como almofada é possível usar – vingou-se da outra.

— O que esta acontecendo aqui? – disse uma serviçal gordinha de touca entrando na cozinha – Quem são vocês?

— Ah... – as irmãs se entreolharam surpresas – Viemos trazer esse presente aos noivos – disse Morgana por fim, mostrando uma caixinha de madeira escura.

— E o que tem ai? – disse a empregada curiosa – Sabem, não posso deixar nada passar sem ser vistoriado.

— Ah claro – disse a irmã mais nova entregando a caixa – Pode olhar – um falso sorriso no rosto.

  Madame Samovar pegou a caixa desconfiada e a abriu. Um jato de tinta negra voou em seu corpo a paralisando – Eu disse que a nossa tinta ia servir - vangloriou-se Morgana.

— Tá, tudo bem – resmungou a outra – Agora cale a boca se não quiser provar dela também – tirou o mapa do meio do tecido de seu vestido e observou – Temos dois caminhos à tomar, um pelas escadarias onde esta acontecendo a cerimônia e o outro por uma escada que passa aqui pela cozinha.

— E por onde vamos? – perguntou magrela olhando o mapa.

— É meio óbvio, não? – disse a Úrsula fechando o papel na cara da mais nova – Venha logo – chamou-a pois tinha ficado para trás atordoada.

— Gorda – resmungou.

— Estou te ouvindo – cantarolou a maior.

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Acho que chegamos – disse Aurora para a companheira. Um castelo à beira mar reluzia com esplendor em todo o mármore branco onde suas pedras haviam sido esculpidas. Um muro feito do mesmo material cercava toda a construção e alguns guardas encontravam-se postados sobre o mesmo. Assim que avistaram as princesas, fizeram um sinal para os outros abaixo que saíram do portão à disparada.

— Quem são vós que ousam invadir as terras do rei Eric de Pices? – perguntou um dos guardas ao aproximar. Cinderela escondeu a varinha e Aurora a espada, mas logo ponderaram ao ver que a mão do guarda estava apoiada sobre sua lâmina.

— Sou Aurora, princesa do Reino do Sol Nascente – apresentou-se a mais nova primeiro – Essa é Cinderela, princesa do Reino de Prata – disse com um pouco de desgosto – Viemos até aqui pois precisamos falar com a Rainha Ariel.

— Ariel?! – disse o homem ficando vermelho de raiva – Como ousas citar o nome dessa mulher-peixe que fez tanto mal ao nosso reino e rei?

— O termo correto é sereia – corrigiu a loira mais velha.

— Guardas! – o rosto do homem passou de vermelho para roxo de ira – Prendam essas garotas afrontas!

— Mas senhor, não achas melhor levá-las à uma audiência com o rei para que ele mesmo decida seu destino?

— Tens razão – disse o guarda que parecia ser o chefe dali – Levem-nas ao rei.

— Parabéns, Cinderela – revirou os olhos irritada.

— Ei! Pelo menos deu certo! – tentou parecer otimista – Eu espero – sussurrou essa última parte.

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— Por aqui – disse Úrsula guiando-as pelos corredores – De acordo com o mapa que nos foi confiado, a Rosa deve estar no quarto real.

— Eu não entendo para que precisamos dessa flor – questionou Morgana – Existem tantas nos jardins lá embaixo, por que pegarmos essa?

— Porque ela foi encantada, garota tola – disse paciente a mais velha – Uma feiticeira de Lumus a enfeitiçou com o poder do verdadeiro amor, o que acabou tornando-a uma força tão poderosa quanto o poder que lhe foi embebido.

— Então compreendo o porque de Malévola precisar dela para o plano – compreendeu – Se nós a destruirmos, os verdadeiros amores serão encerrados!

— Lógico que não, sua burra! – bateu com o mapa sobre a cabeça da mais nova – Se a rosa for destruída sua mágica será espalhada por todo o mundo!

— Então o que faremos com ela? – choramingou Morgana.

— Isso eu ainda não sei. Vamos pegar a flor e fugir daqui, então aguardaremos novas instruções – a magrela meneou a cabeça concordando – Venha, o quarto é logo à frente.

  As duas mulher-lulas foram em direção à porta do quarto feita de madeira escura adornada em ouro com uma maçaneta folheada em prata – Nada discreto – murmurou a magrela.

— Espere aqui que eu vou tentar abrir – disse começando a mexer entre os tecidos do seu vestido – Onde diabos estão as chaves da rainha?! – murmurou chacoalhando toda a saia.

  Morgana suspirou impaciente. Se aproximou da porta e a abriu com um empurrão – Como você fez? – perguntou a outra assustada. Morgana revirou os olhos e mostrou que a porta estivera destrancada o tempo todo. Úrsula bufou indignada – Então entre logo e comece a procurar o raio da flor.

  Adentraram os aposentos reais e começaram a revirar todo o quarto, desatentos aos barulhos que vinham do salão principal logo abaixo. Derrubaram uma estante de livros e desarrumaram a cama. Tiraram os quadros do lugar e deixaram os tapetes do avesso.

— Onde diabos esta essa rosa?! – praguejou Úrsula.

— Você olhou o mapa errado – acusou a outra irmã – Sua estupida!

— Também pudera, com aquela sua cabeça enorme entrando na frente! Idiota! – gritou atirando uma caneca que estava no criado-mudo ao lado da cama.

— Ei! Não jogue nada em mim! – um mini-relógio na mais velha – Sua lula enorme e gorda!

  Uma troca de xingamentos se iniciou e ambas começaram a se atacar com a primeira coisa que vissem pela frente. Travesseiros e almofadas voaram para a direita assim como livros e esculturas decorativas voaram para a esquerda. As irmãs lulas saíram dali com a pele mais roxa do que quando entraram.

  Enquanto isso, no térreo do castelo, uma multidão saia correndo desesperadas por causa de um monstro descontrolado – no caso, a noiva – e uma Fera recém transformada. Mas por conta do barulho que a briga entre as bruxas do mar causava, nenhuma delas ouviu o rebuliço.

  Em um dos ataques, Morgana atirou uma bolinha pequena feita de vidro colorido. A tal esfera voou pro cima do ombro esquerdo da irmã maior e quicou em algo invisível – Espere... Espere! – gritou a magrela desviando de um biscuit – Atrás de você! Tem algo atrás de você!

— O que? – perguntou antes de lançar mais algum objeto aleatório sobre a outra – Esta tentando me distrair?

— Acho que essa guerra de crianças é uma distração o suficiente para esquecermos da rosa – ponderou – Mesmo assim, penso que a encontrei – disse se levantando e indo para trás da mulher-lula.

  Vagarosamente, foi passando a mão pelo ar até que esbarrou em algo – Bem... – deu duas batidinhas sobre a “coisa”. Os lábios se curvaram para cima – Aqui! – puxou o objeto para cima desfazendo o encanto.

— Morgana! – riu Úrsula ao ver a cúpula de vidro nas mãos da mais nova – Você achou! – foi até onde estava a rosa agora em evidência – Até que enfim...

— Ei! – reclamou a magrela.

— Até que enfim tenho a flor – completou a outra revirando os olhos e pegando a planta.

Temos a flor – corrigiu.

— Isso é um mero detalhe minha cara – fez um gesto de desdém – Agora vamos levá-la daqui e...

— Quem são vocês?! – berrou a princesa ao entrar em seu quarto e se deparar com as duas mulheres – Quem ousa entrar no quarto real?!

— Quem somos nós? – gargalhou Úrsula ao jogar a rosa para Morgana – Apenas meras enviadas de Malévola, querida.

— Malévola? Da Montanha Proibida? Filha de Benévola e irmã de Leah? – questionou Belle surpreendida.

— Hmm, Leah... – murmurou Morgana.

— Exatamente – disse a irmã mais velha interrompendo a outra – Viemos aqui para pegar apenas uma coisinha de nada. Não sentira falta.

— A minha rosa... – Belle arregalou os olhos – Não vou deixar levá-la!

  Um tentáculos negro saiu debaixo do vestido de Úrsula e atirou uma tinta sobre a princesa. No mesmo instante, a garota congelou no lugar com uma aura azul a encobrindo. Vários outros tentáculos saíram dos vestidos das duas irmãs, rasgando-os em picadinhos – Assim é bem melhor. – espreguiçou Úrsula.

— Tem razão – concordou Morgana – Esses corpetes são apertados – franziu o cenho.

— Muito bem, muito bem. Chega de papo – estalou o dedo – Vamos sair logo daqui. Vamos, abra um portal.

— Como diabos vou abrir um portal se nem na água estamos?!

  Bufou a mais velha – Eu tenho que pensar em tudo por aqui. – pegou uma jarra de água que milagrosamente ficou intacta sobre uma mesa durante a guerra de travesseiros. Tacou-a no chão formando uma poça – Vá logo!

— Hunf – resmungou e posicionou-se sobre a água derramada. Começou a girar os tentáculos e o corpo em sentido horário até que uma nuvem de tinta negra cobrisse as irmãs, teletransportando as mulher-lulas para o fundo do oceano.

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  Aurora e Cinderela adentraram o castelo de quem acreditava pertencer aos reis Eric e Ariel acompanhadas pelos guardas da corte. O hall de entrada não era nada o esperado pelas garotas e tão pouco parecido com as pinturas, que retratavam um salão lindo em salmão, com um grande tapete magenta encobrindo a escadaria que ficava logo atrás dos tronos reais. Vasos e aquários decorariam o corredor com plantas terrestres e aquáticas, demonstrando os dois mundos que se chocaram.

  Mas não era assim. No lugar do tapete havia um extenso mapa de batalha marítimo que parecia se mover em tempo real, mostrando uma guerra entre embarcações e... sereias? Aquilo fazia tão menos sentido que os mais variados tipos de armamentos dispostos pelas paredes e chão. Em uma mesa redonda no canto do salão, estavam reunidos cinco homens, um deles, com uma coroa.

  Aurora olhou rapidamente para os tronos no começo da escada, um feito de ouro com filamentos de prata e outro de algas e pedras multicoloridas que vinham do fundo do mar. Estranhamente, estavam escuros e empoeirados, como se não fossem usados a eras. Bem, pelo menos o trono marítimo estava assim.

  O guarda a sacudiu para que continuasse andando e foram até a grande mesa de madeira escura. Mais mapas de batalha e armamentos estavam dispostos sobre o tampo, o que fazia Cinderela pensar que tudo aquilo podia simplesmente ser um jogo, mas essa teoria foi descartada ao ver o rosto sério dos homens.

— Majestade – chamou o guarda que as abordara na praia – Estas garotas estavam entrando em domínios seus, então a trouxemos até aqui para que você mesmo desse o veredicto de sua sentença.

— Você mesmo pode fazer isso – falou o possível rei que se mantinha de costas.

— Mas senhor... Elas vieram falar com... bem, ela.

  Ao ouvir isso, o homem levantou a cabeça e deu ordem para que todos se retirassem dali. Muito a contragosto, a tropa real e os outros homens saíram, deixando o rei com as duas princesas.

— Então vocês querem falar com Ariel— disse o homem como se aquele nome fosse maldito.

— Sim, vossa excelência – disse Cinderela – Pode nos dizer onde ela esta?

— No fundo do mar, onde será para sempre seu lar – respondeu com armadura.

— Mas... Vocês não são casados? – questionou Aurora.

  Eric começou a rir da fala da mais nova e somente parou quando percebeu que ela realmente não sabia da verdade. Portanto, virou-se de frente para as duas finalmente mostrando o rosto.

  O rei Eric em quase nada se parecia com o Príncipe de quem haviam ouvido falar. Um homem de meia-idade, porem com cabelos negros e uma barba que cobrisse seu rosto. Os olhos azuis eram gélidos e passavam uma sensação de desagrado – Ariel e eu nos separamos à dez anos desde que ela traiu o nosso reino.

— Traiu? – a loira mais velha perguntou surpresa – Como assim ela vos traiu?

— Nossa vida sempre foi boa – Eric começou a contar enquanto seus olhos focavam o longe – Um pouco tumultuada, mas boa. Porem, em um certo dia, o Rei Tritão foi encontrado morto em nossas praias com um arpão lhe atravessando as costelas. Logo que as sereias viram isso, encontraram uma insígnia do nosso reino entalhada na madeira, e acusaram nós, humanos, de tentar usurpar o trono de Atlântida. No começo Ariel ficou do nosso lado, mas um dia ela simplesmente nos deu às costas e foi para o mar reinar no lugar do pai.

— E desde então vocês estão em guerra? Isso explica pancadas de batalha espalhados por aqui – observou Aurora.

— Mas Ariel não é a filha mais jovem? Como pode ter sido coroada rainha e não suas outras irmãs? – questionou Cinderela.

— Por ter sido casada comigo e a única sereia conhecida à andar em terra, suas irmãs deixaram o trono a sua disposição, já que ela saberia melhor comandar sobre nossas fraquezas – explicou o rei – Eu tentei conversar pacificamente com ela e mostrar que nossos sentimentos eram reais e que eu nunca faria uma coisa dessas, mas Ariel não me deu ouvidos – fagulhas pratas brilharam nos olhos de Eric após suas seguintes palavras – Até que uma garota me abriu os olhos para a ameaça que as sereias sempre foram aos humanos, então resolvi que se elas queriam guerrear, iríamos ataca-las também!

— Não! Vocês não podem fazer isso! - desesperou-se Cinderela – Sua história de amor é a mais linda e sustenta todos os verdadeiros amores da Floresta Encantada! Seu casamento rompido pode acabar com vários outros por não termos mais onde apoiar nossos romances!

— Sinto lhe informar, garota — pronunciou essas palavras como se fosse um insulto – Mas vocês terão de achar outro pilar para se escorar. Meu romance de mil e uma noites esta acabado, e não pretendo retoma-lo!

— Ótimo – murmurou Aurora – Ótimo! – falou mais alto chamando a atenção para si – Se não quer reatar seu casamento o problema é seu, mas viemos aqui para falar com Ariel, e não sairemos até conseguir isso!

— Vocês querem falar com Ariel? Muito bem, então. Que assim seja! – disse o homem sacando uma espada e partindo o trono de conchas ao meio. Um esguicho de água servente saiu do que restara do assento e tomou forma de uma mulher. Longos cabelos vermelhos caíam sobre os ombros e um vestido esmeralda e azul cristal cobria o corpo esbelto. Nas mãos, um tridente dourado como o sol, e na cabeça, uma coroa de pontas também dourada.

— Como ousas me chamar à terra depois do que fizestes? – perguntou Ariel, olhando para Eric com enormes olhos azuis como o céu – Quer negociar sua rendição?

— Você sabe que não. Os terrenos nunca se curvarão à seres meio peixes como vocês – rebateu.

— Se eu vim aqui para escutar desaforos que não tivesse quebrado a porcaria do trono!

— Não, eu a chamei aqui porque essas garotas querem conversar – apontou para as loiras que permaneciam observando o bate-boca do ex-casal.

— Queremos saber como podemos pegar a Rosa Encantada – deu um passo à frente, Aurora.

  A rainha das sereias começou a rir descaradamente da cara séria com que as duas tratavam o assunto – Vocês duas? Entrar em meus domínios? Mas nunca! – uma expressão de raiva tomou conta de sua face – Isso só pode ser um plano para tentar implantar um espião entre o povo marinho, não é, Eric?

— Não! Não estamos aqui por causa dessa guerra! – Não diretamente, pensou Aurora – Estamos tentando acabar com os planos de Malévola, uma poderosa bruxa de meu reino, e precisamos da rosa que é guardada pelas irmãs mulher-lula!

— Vocês estão delirando, estão loucas – murmurou a sereia – Úrsula e Morgana se escondem no local mais profundo e distante do oceano, onde nem mesmo meus poderes alcançam. Como vocês, meras terrestres pretendem chegar lá?

— Esperávamos que vossa Majestade pudesse nos abençoar com caudas para podermos nos locomover na água – antes que Ariel pudesse abrir a boca para responder, Cinderela a cortou – Em troca de um favor, é claro.

— Não tem nada que eu queira de vocês. A não ser é claro, lealdade a mim e as sereias.

— O que você quer dizer?

— Durante a batalha contra o meu reino, vocês lutarão ao lado das sereias. É isso que ela quer dizer – explicou o rei – E eu proíbo que qualquer trato desse tipo seja feita em meu castelo! Sai já daqui, sereia!

— Não! Ainda podemos negociar... – suplicou Cinderela.

— Não à mais negócio algum a ser feito sob meu teto! Desapareça, mulher-peixe! – ordenou para Ariel que simplesmente se desfez em água salgada – E quanto a vocês, saiam do meu Palácio!

— Mas majestade...

— Agora! SAÍAM! – esbravejou enquanto seu exército entrava pelo salão amedrontando as garotas que saíram correndo do Palácio.

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— Nossa tarefa foi concluída com êxito – disse Morgana olhando para Malévola por meio de sua bolha de comunicação – Já estamos sob as águas do submundo, e duvido que quaisquer pessoas venham tentar usurpar a rosa daqui.

— Muito bem – disse a Rainha do Mal – Hades também enfeitiçou o submundo terreno para que ninguém as importune. Qualquer entrada para esses domínios esta protegida.

  A irmã mais nova acenou com a cabeça para Úrsula, que amaldiçoava um recipiente para guardar a flor – Como pode ver, não estou mentindo. Nossa parte do trato foi cumprida, agora cumpra a sua – encarou-a – Queremos o Tridente Dourado de Poseidon e sua coroa.

— Bem, quanto a isso... – disse Malévola acariciando as penas de seu corvo – Temo que vocês terão de esperar um pouco para obter esses objetos.

— O que?! Você nos prometeu que teríamos isso! Descumpra sua palavra e a flor será destruída!

— Mas eu não estou descumprindo nada – observou a bruxa-dragão – Eu disse que sim, vocês iriam conseguir esse poder, somente não disse quando iriam obtê-los. – antes que a outra pudesse se pronunciar, Malévola continuou – Eu previ o futuro junto as Parcas, e elas me disseram que em breve, o todo poderoso Poseidon irá desaparecer misteriosamente, deixando o trono para seu herdeiro Tritão. Este por sua vez terá uma filha que ocupará seu lugar e iniciará uma guerra com os terrenos, o que levará a queda dos dois reinos. E então, vocês poderão ter o que querem.

— E quanto tempo isso vai levar? Um século?! – gritou Morgana, chamando atenção de Úrsula que se aproximou da bolha após terminar sua maldição – O que sugere que façamos nesse tempo? Morreremos antes do fim deste século.

— Eu sugiro que vocês... durmam – com um aceno de mão, a água ao redor das irmãs, já alaranjada, tornou-se de um verde turvo, amaldiçoada pelo feitiço do sono de Malévola – Boa noite, garotas.

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— Ótimo! O que faremos agora? – praguejou Aurora à beira mar.

— Não faço ideia – disse Cinderela sentada numa pedra, observando o pôr do sol – Não tem como vencermos Malévola sem o poder da Rosa.

— Não mesmo – disse Ariel surgindo na água. Agora sua cauda verde brilhava à luz como esmeralda – Felizmente eu posso ajudar vocês, pelo preço certo, é claro.

— Vai ter que nos desculpar, vossa Majestade sereia, mas não iremos nos envolver na sua guerra como pretende – disse a loira mais nova.

— Não, claro que não. Aquilo foi apenas um modo que eu arranjei para nos tirar daquele lugar contaminado por Eric e seus seguidores – explicou sentando-se sobre uma pedra à uns três metros de Cinderela – O que eu realmente quero propor a vocês é algo que nos ajudara a atrasar essa guerra.

— Bom, mas se é isso, por que não falar junto ao seu ex-esposo? – questionou a loira mais velha.

— Porque é isso que Eric menos quer: redenção. Ele e seu exército não vão parar até ver esse mar colorido com o sangue de meu povo. E acreditem, por mais que eu queira deixar essa praia tão vermelha quanto a luz desse pôr do sol ao derrotar esses soldadinhos de chumbo, sei que é preciso por um fim a essa guerra. – explicou.

— Então, o que temos de fazer? – perguntou Aurora curiosa.

— O que eu quero fica a mais ou menos cinco dias de viagem daqui, indo para o norte, em direção aos reinos gelados – apontou a sereia para além dos morros à sua direita – Lá é um dos poucos lugares onde não tenho poder além do local onde Úrsula e Morgana escondem a rosa. Vocês devem seguir a trilha a segunda estrela à direita até ver as Montanhas Pedregosas, lá esta o que eu quero.

— E o que seria exatamente isso?

— Um colar – disse simplesmente – Um pingente, para ser mais precisa, em forma de floco de neve. Ele detém um grande poder de gelo que poderia construir um muro que separaria o meu reino do de Eric, retardando assim a guerra por um bom tempo – balançou o tridente fazendo com que sua luz dourada formasse um “holograma” do pingente – Mas tem um porém.

— Sempre tem – murmurou Cinderela.

— Esse objeto é guardado por uma força terrível, que já me ajudou uma vez mas se provou tão pior quanto Úrsula – conforme Ariel ia falando, a imagem ia se afastando do pingente, mostrando uma mulher em um vestido brilhante com o colar pendurado no pescoço – É dele que essa feiticeira tira seus poderes, e também é dele que vem a força para suportar o grande castelo de gelo utilizado como fortaleza.

— Parece que tudo se resume à castelos hoje em dia – observou Aurora.

— E tem outro porém – continuou a Rainha – Esse palácio é amaldiçoado por um terrível feitiço, mas não tenho como informar a vocês como ele funciona.

— E por que não? – franziu a testa, Cinderela.

— Porque ninguém que entrou e saiu de lá sobreviveu o suficiente para descreve-lo, oras – disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

— Muito previsível – comentou a loira mais nova com um suspiro.

— Então, aceitam a missão ou não?

— Se fizermos isso, teremos passe livre para o seu mar? – perguntou a gata borralheira, recebendo um “Sim” como resposta – Com direito a caudas e respirar embaixo d’água? – um suspiro escapou dos lábios de Ariel, que respondeu outro “Sim” – E será o suficiente para sobrevivermos nessas águas onde nem seu poder alcança?

— Bem, assim que vocês forem transformadas em sereias só poderão voltar ao estado normal por meio do meu tridente ou de algo mais poderoso, então sim, vocês sobreviverão lá como qualquer outro. Só não contem com a minha ajuda.

— Então esta tudo certo. Aceitamos o acordo – disse Aurora – Vamos recolher nossas coisas e começar a viagem. Ah não, espera, não temos nada pra recolher. Vamos embora agora. Tchau Ariel! – disse saindo na frente, recebendo levantadas de sobrancelhas das mais velhas ali presentes.

— Posso fazer só mais uma pergunta? – pediu Cinderela recebendo um olhar de “Só mais uma?” – Como seria o nome dessa feiticeira?

  Ariel olhou para a princesa mais nova indo à frente apenas com uma cesta em mãos e um livro na outra, tropeçando nas pedrinhas da praia por não prestar atenção no caminho – Elsa – falou e mergulhou.

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— Ei! Vamos, acordem! – chamou Malévola por meio da bolha de cristal.

  Um aceno de mãos e a água voltou a tonalidade laranja, já sem a maldição do sono – Hã? O que? Já se passaram cem anos? – perguntou Úrsula sonolenta.

— Não, não. Apenas acordei vocês para perguntar se não queriam um tapa olhos ou algo do tipo – respondeu sem paciência – É claro que já se passaram cem anos, suas acéfalas!

— Não precisa gritar porque ninguém é surda aqui – reclamou Morgana enquanto esticava os tentáculos – Já esta na hora de pegarmos o tridente?

— Não, ainda não é tempo disso – respondeu Malévola – Mas se querem realmente isso é melhor começarem desde já. Escutem com atenção.

— Pode falar – as irmãs foram toda ouvidos para o plano da Rainha do Mal, que parecia entusiasmada – Mas onde conseguiremos essa poção de dons?

— Eu mandei por meio de um demônio aquático, deve chegar aí em breve. Lembrem-se, basta soprar um desejo sobre ela e será concedido.

— Mas qual o desejo que essa tal Ariel tem? – questionou Morgana, curiosa.

— O de possuir pernas – sorriu maliciosamente, Malévola.

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Notas finais do capítulo

Reviews? :3
Vão preparando os corações porque os próximos capítulos vão estar sensacionais 'u' (eu acho)
Principalmente você, viu, dona Lia? u.u



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