Bellatrix assistia a sobrinha andar de um lado para o outra do quarto enquanto cuspia profanidades, claramente direcionadas pela ira que sentia no momento. A mais nova havia batido em sua porta duas horas atrás. No meio tempo, a morena permitiu que ela bebesse cerca de duas garrafas de vinho, silenciou o quarto para que a mais nova, literalmente, gritasse sua raiva – o que seus ouvidos jamais lhe perdoariam, chorar por cerca de três quartos de hora e então, finalmente, dizer o que diabos na Terra a deixou naquele estado.

— Eles não podem fazer isso! – O tom de aflição na loira era mais do que óbvio para Bellatrix, ainda mais agora que haviam se tornado tão próximas – Não podem simplesmente, de alguma forma, ter pessoas da minha escola, que eram meus amigos, apoiando-os de maneira tão clara! Sem contar me estuporarem para fazer aquilo! E...

— Oh, vai ser agora que você vai esconder Cora estando lá ou depois? – Bellatrix questionou.

— O que quer dizer? – Samantha devolveu, ainda em seu tom impaciente, crispando os lábios.

— Toda aquela coisa, previsível para mim, onde Cora paga “oh, tão bem” de agente dupla, tripla em algumas concepções. Ela finge para os Puristas que mantém um olho em Potter e no Ministério, mas, de fato, trabalha para a Ordem, junto com nossa querida família. Corrija-me se estiver errada.

— Se está tão confiante em relação as lealdades de Cora, por que não a denunciou ainda? – Ela zombou.

— Ao contrário do que é acreditado popularmente, eu me importo com minha família, sobretudo com minha filha, e agora com você. Delatar Cora só acarretaria em uma longa e tortuosa morte para ela.

— O que você sugere? – Samantha indagou.

— Bom, já que perguntou...

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Narcisa Malfoy não acreditou em nenhuma palavra do discurso patético que Samantha dera ao deixar a sede da Ordem da Fênix. Ela sabia que Andrômeda, Cora e Draco haviam sido convencidos, mas nenhum deles havia criado a jovem. Por mais sonserina que fosse, Sam também possuía pitadas grifinórias, e era justamente isso que a preocupava.

Por este exato motivo, a aristocrata vagava pelos corredores de Hogwarts torcendo para encontrar a sobrinha. Ela só não esperava a encontrar em um dos muitos corredores vazios, conversando aos sussurros com uma mulher.

— Samantha. – Narcisa chamou, fazendo ambas se virarem em sua direção. Seu chamado foi recebido por uma expressão de choque e, parcialmente, desespero por parte da mais nova e indiferença pela outra.

— Tia! – A sonserina não evitou um guincho, que foi recebido por uma expressão de divertimento da mulher que a acompanhava – Essa, huh, essa é-é...

— Isabella Fawley. – A morena se apresentou sorrindo, apertando a mão de Narcissa, que não pode deixar de sentir algo familiar em relação a ela – Sam pediu que eu fosse sua mentora.

— Humm... Algo mais que eu deva saber sobre vocês duas? – Narcisa falou impaciente, fixando seu olhar nas mãos de Fawley, que estavam apoiadas nos ombros da sobrinha, recebendo um olhar de surpresa por ambas as partes – Não importa. Se você puder no dar uns momentos, srta. Fawley, preciso falar com minha sobrinha.

Samantha observou a bruxa se distanciar, exibindo um olhar que se assemelhava a pânico, após sua explosão na noite anterior. Narcisa se dirigiu para a sala de aula mais próxima, sabendo que a mais nova a seguia de perto.

— Achei que eu tinha te ensinado melhor do que escolher alguém só porque estão dormindo juntas. – Narcisa comentou, seca, fazendo Sam arregalar os olhos.

— Bella é minha amiga. – A sonserina replicou – Eu pedi que ela fosse minha mentora porque eu confio nela.

—  E não confia mais em sua própria família? – A mais velha perguntou, procurando manter a mágoa longe de sua expressão e de sua voz.

— Depois de ontem à noite? Praticamente me sequestrar para uma reunião estúpida da Ordem da Fênix? – Ela rebateu – Não, obrigada.

— O que você queria que eu fizesse? Você simplesmente cortou qualquer relação conosco, parou de responder cartas, se afastou dos seus amigos, além do que aconteceu no baile dos Le Fay? – Narcisa pode sentir seus olhos lacrimejando, recebendo como confirmação o crispar de lábios da outra – Eu não te criei extremista, Samantha. Não te criei a ponto de você odiar trouxas, nascidos-trouxas e mestiços.

— Você acha que eu quis fazer tudo aquilo? – A bruxa objetou, deixando seu temperamento escapar o suficiente para que sua voz estivesse a um passo de um grito – Você acha que eu quero torturar e matar toda aquela gente? Hein? Que eu odeio todos eles?

— Fala comigo, Samantha. – Narcisa ordenou, assim que ela parou seu desabafo e deu as costas para a mais velha – Me diz a verdade. Agora.

— Prometa. – Ela exigiu – Prometa por sua vida que você não vai interferir, contar para alguém ou sugerir.

— Eu prometo.

— O que quer que vocês pensam que sabem dos planos deles é extremamente longe da realidade. Morgaine planeja muito mais que Cora pensa, que eu penso. Duvido que ela tenha me contado metade da realidade. – Samantha bufou – Eu estou tentando manter vocês vivos quando o pior acontecer, mas aparentemente ninguém facilita.

— Sam, vem comigo para uma reunião da Ordem. – Narcisa pediu – Nós podemos ajudar.

— Não! Você prometeu! E se alguém sequer pensar que contei, não importa quem eu seja, vou morrer e levar todos vocês junto.

— Sam, confie em mim.

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Samantha se dirigiu para o Salão Principal, onde o Ministro estava prestes a anunciar os mentores. Ela não se importava por ter perdido o café da manhã, mas sabia que seu antigo grupo estava a vigiando como falcões ultimamente.

— Agora que a srta. Black resolveu se unir a nós podemos dar início as cerimônias. – O Ministro comentou, sorrindo para a sonserina – Srta. Pontmercy, um passo à frente.

— Para ser seu mentor, a srta. Delphine Pontmercy, que representará Beauxbatons, escolheu o sr. Maximus Yaxley. – Shacklebolt anunciou, claramente a contragosto, dando boas-vindas ao homem, que se prostrou atrás da francesa - Para seu mentor, o sr. León Tchaikovsky, que representará Durmstrang, escolheu o sr. Viserys Shafiq. E, finalmente, para sua mentora, a srta. Samantha Black, que representará Hogwarts, escolheu a sr. Isabella Fawley.

Os componentes da Ordem da Fênix, incluindo os estudantes que recém-integraram, observavam a mulher que seria a mentora de Sam. Todos sentiam algo familiar em relação a mulher, mas nenhum deles podia apontar exatamente o que era.

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Samantha estudava pela milésima vez a Árvore Genealógica da Casa Black, em um pequeno cômodo próximo à sala de jantar, onde ela sabia que estavam discutindo se poderiam ou não confiar em qualquer informação que ela fornecesse. Não que ela planejasse dizer qualquer coisa que poderia ser conectada a si. Uma batida na porta desviou a atenção da bruxa, anteriormente fixada nos nomes de Andrômeda, Narcisa e Bellatrix, revelando o próprio Harry Potter, sorrindo gentilmente.

— Srta. Black, estamos prontos para você.

Samantha o seguiu até a sala de jantar, que também era a cozinha, onde estavam presentes os membros da Ordem da Fênix, o que agora incluía sua família e seus (ex?) amigos. Ela estudou cada membro, gravando os rostos em sua memória, caso ela necessitasse mais tarde.

— Então? O que tem para nos dizer? – A matriarca da família Weasley questionou já impaciente, fazendo com que Narcissa a fuzilasse com o olhar e a sonserina olhasse entre elas, claramente entretida.

— Considerando que eu, mais uma vez, sequer concordei em estar aqui, querer que eu conte o que nem fui informada é um pouco excessivo, não? – A loira falou, o tom condescende claramente irritando algum dos presentes.

— Você estava com Bellatrix Lestrange na casa de Gregory Flanagan, meu informante. Ele e um senhor de sessenta anos foram deixados mortos no prédio! – Um homem de meia idade acusou, sacando a varinha.

— Black. Bellatrix Black. – Ela consertou. – E você é mais burro do que parece se acha que eu vou confirmar alguma coisa em uma sala entupida de aurores, verdade ou não.

— Samantha! – A repreensão de todos os Malfoys e Tonks e presentes fora imediata.

— Embora não haja muita solução para a maioria de vocês, – Sam falou, lançando um breve olhar para o lugar que Hermione Granger havia sido marcada por sua tia – vários poderiam ser dignos se ela voltasse da Ilha Sagrada, se mudassem algumas atitudes. Agora, se me dão licença, tenho um torneio para me preparar.

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Daeron ignorava a maior parte do que Ron Weasley estava falando para checar sua irmã de trinta em trinta segundos, o que ele sabia que estava a irritando. A reunião da Ordem com Samantha havia claramente afetado a todos, especialmente Hunith, Kate, Elize e Mary, que eram mais próximas dela. O moreno nunca admitiria em voz alta, mas a retórica da Black era assustadora, e o fato de que ela estava usando para destilar preconceito pobremente velado o deixava muito mais tenso que gostaria.

— D’Auvergne, estou te entediando? – O auror chamou, suas orelhas adquirindo um tom róseo.

— Não, sr. Weasley, eu só estava pensando na reunião.

— Foco no agora, sim? Agora façam duplas e duelem. Harry, Hermione, Draco, Jorge e eu vamos melhorar suas habilidades. Se Samantha tem treinado com Bellatrix nós estamos muito fodidos.

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Samantha não havia sentido tanto emoção em um bom tempo. Fosse alguma missão para seus tios ou algum jogo estúpido de quadribol, nada a fazia se sentir tão viva nos últimos tempos e, Merlin, ela sentia falta de, de fato, sentir algo que não fosse culpa, remorso e arrependimento. Quando o primeiro desafia acabasse iria, sem dúvidas, escrever uma carta de agradecimento a Morgaine por ter permitido que Bellatrix fosse sua mentora, mesmo sobre um codinome tão patético como Isabella Fawley. Terminando o zíper do casaco anti-chamas saiu de sua tenda e, prostrando-se junto a Bellatrix, se unindo aos outros campeões do Torneio.

— Preste atenção agora, Sam. – Bellatrix sussurrou – Não há possibilidade alguma de intervenção externa. Isso significa que não posso te ajudar nem que eu tenha que te assistir sangrando para a morte certa. Mas isso não vai acontecer. Você está preparada. É permitido que o uso de qualquer feitiço, exceto as Maldições Imperdoáveis. Não use nenhum encantamento que eles esperem que uma aluna do sétimo ano de Hogwarts não saiba, na primeira oportunidade o Profeta vai pular em sua garganta por causa de nossa família. Nem sequer pense em usar Magia Negra, me entendeu?

— Isso será tudo, Bella? – A sonserina indagou, após assentir positivamente para as palavras proferidas.

— Sim, minha querida. – Ela replicou – Não confie em ninguém. Boa sorte.

— Eu não preciso de sorte, eu sou uma Black. – Samantha respondeu, olhando de relance para o local em que Narcisa sentava junto a Cora, Andrômeda, Draco e Astoria, não muito longe de seus, provavelmente antigos, amigos.

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Ela esperava dragões, centauros, até sereianos, não contando com criatura folclóricas. O grito do wendigo foi a primeira coisa que ouviu quando o som que a plateia fazia fora da redoma foi abafado, sendo mais que o suficiente para gelar seu sangue.

Assegurando-se que sua varinha estava firme, ela seguiu o caminho previamente aberto para o representante de Hogwarts. A simulação de floresta criada na Arena de Quadribol era realista o suficiente para lhe dar arrepios. Ela prosseguiu até uma encruzadilha e, ao ouvir algo se mexer no bosque atrás de si, tomou o caminho da direita em uma corrida leve ao ver de relance um ponto dourado alguns quilômetros de si, como um pomo de ouro. Quanto mais perto ela chegava, mais velocidade o pomo adquiria; naquele ponto ela já estava ensopada de suor.

Tirando o casaco anti-chamas sem perder a velocidade, ela o largou no caminho e lançou um “Ascendio” quando o pomo alcançou o topo de uma falésia, infelizmente com força excessiva, o que fez com que ela, mesmo pegando o pomo, sobrevoasse o acidente geográfico e já iniciasse a descida para um amontoado de rochas.

Desesperadamente tentando descobrir se o pomo era ou não o objetivo do desafio, Sam segurava a varinha entre os dentes enquanto mexia na bola, revirando-a repetidamente. Olhando de relance e percebendo que não teria tempo de pegar a varinha para lançar o feitiço, ela murmurou “Reducto”, desintegrando as pedras, mas lhe rendendo alguns ossos quebrados e deixando-a inconsciente.