O dente de leão escrita por Diluah


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Quero primeiramente pedir desculpas pela demora na postagem dos capítulos. Como vocês sabem, eu viajei de férias para o meio do distrito 7 kkkkkkk só tinha mato! E a internet só funcionava em um vilarejo um pouco afastando então eu passei dias escrevendo no meu bloco de notas e enfim consegui postar uns dois capítulos. Mas, para alegria de todos inclusive a minha, já estou na capital (literalmente) e agora to postando o sétimo capítulo. Espero que gostem. Beijos



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Todos os dias acordo com a sensação de que alguma coisa a mais possa ser tirada de mim a qualquer instante então rapidamente me dou conta de que essa possibilidade é inexistente. Não sobrou exatamente o “tudo” pelo qual achei que lutaria e venceria para sempre. Existe aquela parte de mim que quer e precisa se reerguer apesar dos baques e apesar das diversas tentativas de minha mãe em me tornar uma pessoa um pouco mais animada e otimista, passei a reduzir minhas saídas de casa, minhas refeições e até mesmo minhas palavras. Me transformei em uma morta viva ainda no segundo dia sem Peeta em casa. Passei a dividir cama com minha mãe e Buttercup que agora parece um pouco mais atento as minhas oscilações de humor e sempre aparecia quando me ouvia fungar pelos cantos e mais ainda quando parei de fazer isso e assumi uma postura completamente fechada. De novo.

Haymitch me mantem informada dos passos do seu hospede praticamente fixo durante esses dois meses que parecem mais dois anos. Ele me faz visitas periódicas ou liga para avisar de alguma mudança ou alteração. Hoje de manhã ele parece um pouco exausto quando vem me trazer uma cesta de pãezinhos recheados que, obviamente, foram feitos por Peeta.

— É, eu acho mesmo que as coisas não estão indo muito bem. — Ele diz enquanto separo algumas sementes que pretendo plantar no jardim que começou a murchar assim como eu. Incrível como até a casa rejeita ao fato dela não estar aqui. — Não sei se ele está fazendo algum tipo de jogo mental com você, se é o telessequestro ou apenas o idiota sentimental do padeiro que conhecemos e amamos!

Solto uma risada sem graça e olho para ele pela primeira vez desde que chegou. Haymitch parece mais velho e muito mais cansado do que o normal. E sóbrio. Completamente sem álcool. Percebo que ele cheira a algum tipo de coisa simpática e me pergunto se pelo menos a estadia de Peeta não esteja fazendo bem para ele. Em todos esses anos ainda somos uma preocupação constante na vida dele e devo confessar que sem essa sua participação um tanto quanto torta e forçada no início, é bem-vinda nos dias de hoje tanto quando foram quando eu precisava de ajuda para me manter viva na arena.

— Me fala de novo como foi que ele disse antes de vocês darem um tempo. Já refiz todo o processo na minha cabeça mas sobre o efeito do álcool e não entendi, então quero tentar essa nova modalidade.

— No caso, pensar estando sóbrio?

— Exato. Agora fala.

Suspiro e paro de separar as sementes de flores tendo cuidado para não misturar tudo outra vez. Remoer coisas tristes é meu maior pesadelo e também ao que mais sou submetida a fazer.

— Fui até lá e me desculpei por ter feito aquela cena meio que exagerada na padaria — Haymitch revira os olhos e eu ignoro — Ele me disse que achava melhor continuar ali e que eu deveria ficar na casa. Então deixei o quarto, mas ele me surpreendeu me carregando de volta para o quarto onde.... Onde, bem, você sabe o que fizemos — baixo os olhos para o chão e continuo assim— E eu achei que tudo fosse ficar bem, mas ele simplesmente acordou de manhã e me disse que estava indo trabalhar e que eu deveria voltar para casa e esperar que ele se sentisse pronto para voltar, mas me deixou bem claro que eu deveria ter esperanças de que ele voltaria sim, mas não tão cedo! Foi isso.

Haymitch parece realmente irritado com isso e para falar a verdade eu também deveria estar irritada com a situação toda que as vezes me parece bem patética. Não fui a pessoa mais inteligente do planeta acusando de ter alguma coisa com a garota feliz, mas não joguei tudo para o alto e simplesmente sai de casa. E não foi por falta de motivo já que minha mãe me convida para ficar uns dias no distrito 4 com ela até que Peeta se decida. Agora a proposta dela não me parece tão absurda. Haymitch parece ler minha mente quando explode e se levanta da cadeira.

— Quer saber? Foda-se aquele padeiro chorão. Você já teve motivos muito maiores para sentar e chorar enquanto ele fica lá vendo tv e devorando a minha comida. Você é Katniss Everdeen e não pode aceitar isso de forma submissa. Você vai desaparecer desse lugar no próximo trem para qualquer lugar desse país e só vai voltar quando ele ir te procurar. Está entendendo, Katniss? O Peeta passou dos limites com essa história de gelo. Vamos mostrar para ele o que é nevasca!

Gargalho da sua expressão de psicopatia, mas também me ponho de pé. Já sei o que fazer.

Minha mãe me ajuda a fazer uma mala parcialmente grande já que não sei exatamente quando estarei de volta e dizendo ela, devo deixar a mostra que deixei apenas o dispensável para caso nunca mais tenha que voltar. Não consigo ver muito sentido nisso mas obedeço de qualquer forma. Deixo cair algumas lágrimas enquanto guardo o paraquedas com o medalhão e a perola, ela logo percebe e me abraça protetoramente.

— Eu sei exatamente o que passa pela sua cabeça, Katniss, e sou a pessoa menos indicada para lhe dar conselhos sobre qualquer coisa nessa vida, mas se tratando de coração partido, ah, nisso eu realmente tenho conhecimento. Seu pai e eu nunca fomos inteiramente felizes, principalmente no início. Ele era muito teimoso e extremamente machista. Acredite quando eu digo que seu pai não era um príncipe e me fez sofrer muito até aprender uma lição que o fez mudar para o resto da vida.

Deixo que mamãe me deite na cama e desfaça a trança para refaze-la. Isso a deixa um pouco mais tranquila para falar de sua vida antes de decidir ter filhos. E jamais deixarei de agradecer por esse tempo que estamos passando juntas onde a conheço um pouco mais e descubro como era com meu pai. Ela continua contando.

— Seu pai era tão mandão. Isso me deixava louca da vida e quase foi motivo da nossa separação um bilhão de vezes. Na maioria delas eu sempre ia atrás dele. Pedia para alguém dar recado já que meus pais não eram a favor do nosso relacionamento e eu quase não tinha permissão de sair de casa. Até que um belo dia ele fez algo que não consigo lembrar exatamente e eu disse que não queria mais aquilo e que iria embora. Ele não acreditou e até rio de mim. Nesse dia eu percebi que ou aquilo acabava de uma vez ou realmente iria atrás de outro destino para mim.

Ela para de falar e então está rindo muito. Acabo rindo também sem saber o que vem a seguir mas sei que vou me orgulhar dessa mulher assim que ela disser.

— Eu tinha que fazer algo realista o bastante para que não só ele acreditasse, mas as pessoas ao redor também. A mentira tinha que ser boa o suficiente. E então eu esperei meus pais saírem de casa e fiz uma enorme bagunça no meu quarto deixando roupas em todos os cantos e sai com uma trouxa nas costas andando pela vizinhança. Ninguém me parou. Só me observaram até que cheguei até a cerca e sem medo algum, ultrapassei os limites do distrito. Foi a primeira vez que fui até ali sozinha e se você me visse andando ali.... Foi incrível. A sensação.

Um filme se forma na minha mente com as palavras que agora dançam pelo quarto onde minha mãe diz aquelas palavras tão especiais de uma vida que eu jamais conhecerei. Há algo tão expendido naquilo tudo. Como se o casal de quem ela fala não passasse de dois desconhecidos e então percebo que é exatamente isso. Conheci meu pai que era casado com minha mãe ambos adultos que agora criavam duas crianças com a ameaça de uma morte eminente que poderia ser sorteada de ano em ano. Nunca pensei naqueles dois como seres humanos. Onde foi que esteve minha mente até então? Por que sempre foi como se eles tivessem nascido grandes? A resposta é tão simples que nem preciso pensar tanto para entender. A ameaça dos jogos, a fome, as teceras, a miséria, a casa cheia de vizinhos morrendo de fome onde nunca podíamos fazer nada a não ser observa-los fechar os olhos para nunca mais abrir. E então a colheita, os jogos, Rue, a ameaça de Snow, Cinna, o massacre, o golpe, o distrito 13, Peeta sequestrado, Peeta telessequestrado, a guerra, Coin e os paraquedas, Boogs, Finnick. Prim.

Não havia espaço para isso em todo aquele caos. Nunca ouve e pela primeira vez consigo distinguir perfeitamente o céu do inferno. Minha mãe refaz e desfaz a trança com a mente vagando em uma perfeita memória quase palpável. Fecho os olhos e deixo que ela continue narrando a maior de todas as suas aventuras.

— Me escondi durante um dia e uma noite em cima de uma árvore e só desci quando sentia calor suficiente para mergulhar no lago e retornar. Levei água e comida suficiente para o tempo que passaria. Sabia que seu pai iria aparecer a qualquer momento e foi exatamente o que aconteceu. Ele apareceu por volta de duas horas depois que entrei na floresta. Era sempre silencioso como um animal, mas nesse dia ele não foi nem um pingo discreto. Berrava meu nome por todos os lados olhando de cima a baixo e talvez o desespero o tenha cegado ou estava mesmo bem escondida por que ele parou para descansar debaixo da árvore onde eu estava. Não fiz movimento algum, nem respirei. Até que depois que o sol começou a se por ele se levantou, chamou meu nome em um tom baixo e soltou a frase que jamais serei capaz de esquecer...

Abro os olhos e encontro os seus fechados mas há um sorriso em seus lábios. Um sorriso que só pode significar que toda a sua vida até aqui valera a pena pelo simples fato de ter amado alguém tão profundamente. E então ela abre os olhos e diz, muito lentamente:

— Você terá que voltar para devolver meu coração. — Minha mãe sussurra segurando meu queixo. — Na manhã seguinte eu desci da árvore decidida a voltar para casa e ser exatamente o que vinha sendo durante todos aqueles meses. Ser a pessoa que voltava atrás e perdoava. Mas então o encontrei dormindo ao lado de uma pedra coberto por uma manta fina de tecido gasto. Aquilo acabou comigo e ao mesmo tempo me veio como um grande divisor de águas. Sabe por que, Katniss?

 Faço que não com a cabeça. Não quero que ela pare de falar.

— Porque eu realmente decidi voltar, mas antes disso ele decidiu ir atrás de mim. Dei a ele a chance de correr atrás de mim e não me decepcionei com isso. E eu acho que você deveria aprender com isso. Não foi certo o que você fez, confesso que não lhe meti alguns tapas por saber exatamente como as vezes também cheguei a sentir muito ciúme do seu pai com as meninas do distrito. Mas o que ele e Peeta fizeram não poderia e não pode ficar assim. Já que ele quer distância, dê a ele essa distância. Deixe que ele perceba que você se importa, mas que também é um ser humano. Não o mais maduro — Acho graça e ela me cutuca rindo. De fato, passo bem longe de um ser humano maduro. Liderei uma revolução sendo a peça chave de um jogo de xadrez.

 Terminamos de fazer as malas e minha mãe pede para que eu ligue para Haymitch e peça para nos ajudar com a ida até a estação. Em menos de dez minutos estamos os três sentados à mesa comendo uma torta de frango que minha mãe fez para a viagem, mas que acaba em alguns instantes. Apesar de estar partindo por tempo indeterminado para um distrito que me lembra um amigo especial e que as circunstancias dessa viagem seja uma das piores possíveis, consigo achar graça das piadas de Haymitch. Minha mãe está feliz demais e isso abre espaço suficiente para que eu pegue carona na sua vibração. Afinal, que mal faria sair do distrito 13 se fazem mais de dois meses que não saio de casa?

 Ponho Buttercup no colo enquanto minha mãe dá as recomendações para Greasy Sae de como cuidar da casa que ela cuida há dois anos, mas por incrível que pareça a velha decide apenas acenar com a cabeça e fazer alguns comentários paralelos sobre a arrumação e etc. O que para mim significa que as recomendações jamais serão atendidas.

Sinto um enorme aperto no peito por ter que deixar meu companheiro para trás assim tão der repente e temo que seja demais para sua pobre cabecinha de gatinho. Mas Greasy Sae sugere que ela e sua neta fiquem em casa até que eu volte para que o gato não sinta tanta falta de uma companhia. Pulo de alegria com isso e minha mãe torce um pouco o nariz. Dane-se, a casa é de Peeta, afinal, e o gato de minha irmã, o meu gato, merece qualidade de vida. Beijo seu focinho molhado e o coloco no chão para que ele corra e suba as escadas como uma bala.

 Na saída de casa percebo que quero chorar e não sinto que seja o momento para isso, até porque vejo um pequeno movimento na janela da sala de Haymitch e confirmo que seja Peeta quando Haymith suspira e segura minha mão sussurrando “é isso aí, garoto, observe ela indo embora, mas seja covarde suficiente para deixar isso acontecer. ” Não ouso olhar para trás quando enfim passamos em frente à casa, mas sei que Peeta não sairá correndo até aqui para frear minha ida de forma épica. Isso me incomoda de forma brutal e sinto que posso chorar à vontade enquanto caminhamos até a estação onde me despeço de um Haymitch de olhos marejados porem duros e onde logo pegamos um trem até o distrito 4. Até a casa de minha mãe. Até a casa de Annie Cresta e seu filho. Até a casa de Finnick Odair.

Dentro da cabine, retiro minhas botas sujas de terra e o casaco de meu pai de dentro da bolsa e o coloco em cima das pernas de minha mãe onde deito a cabeça e fixo os olhos no céu azul imóvel enquanto o trem avança e se afasta cada vez mais da minha casa. É impossível não comparar essa viagem com a última. Peeta, Haymith e Effie tentando administrar mais uma ida a capital para mais um jogo. O clima dentro do vagão era solido o suficiente para cortar com uma faca e mesmo assim estávamos ali de cabeça erguida dando adeus ao nosso distrito e nossa casa para começar mais um jogo.

Me sacudo de forma incomoda nos braços de minha mãe para tentar afastar o pensamento angustiante de que estou novamente partindo em um trem, e novamente para um jogo.  


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar sobre o que poderia ser melhorado. Beijos, até breve ♥



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