O dente de leão escrita por Diluah


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu peço perdão pela demora bastante significativa deste bendito capítulo. Estou em processo de tcc e a minha vida ta virada de cabeça pra baixo. Sinto muito, e espero que a leitura seja recompensadora. Beijos



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Quando abro os olhos percebo que acordei cedo demais e tenho quase certeza de que todos continuam dormindo em suas camas. Essa certeza se esvai totalmente quando olho para o lado e vejo as coisas minha mãe dispostas em cima da cama de solteiro ao lado. Percebo que ela modificou algumas coisas de lugar e isso significa que esteve por aqui a pouco tempo. Com anos de caça você simplesmente aprende tudo sobre o ambiente mesmo que o tenha visto apenas duas vezes. 

Levanto da cama sentindo um nó formado no meu pescoço, reflexo da viagem da noite passado e da dormida na cama que não estou acostumada. Tomo uma chuveirada quente apesar de sentir um pouco de calor dentro do quarto fechado. Visto uma calça folgada com um casaquinho somente por cima do tecido fino do top que um dia fora de minha mãe. Algumas de suas roupas menos gastas foram deixadas na nossa antiga casa e eu me neguei a deixa-la para trás, assim como Prim que fuçava tanto minhas gavetas quanto as de minha mãe em busca de algo que lhe pudesse servir. 

No momento em que penso em Prim mexendo em minhas coisas lembro do seu fiel escudeiro lá longe no distrito 12. Penso em ligar para saber se está bem mas acabo deixando para lá. Tentarei falar com Haymitch mais tarde quando tiver certeza de que estará acordado e sentirá a minima vontade necessária para atender um telefonema. 

Já devidamente vestida, escovada e limpa desço as escadas e caminho em direção a cozinha onde um delicioso cheiro de coisa assada atinge meu nariz e faz meu estomago roncar. Na mesa já estão sentadas minha mãe e uma Annie sorridente e linda com seus cabelos pretos presos em um coque desarrumado no topo da cabeça. Estou pronta para perguntar o segredo de acordar com esse brilho quando me dou conta de um pequeno movimento no chão bem próximo dos meus pés. 

Sentado ao chão coberto por um pequeno pano com desenhos infantis de animais, rodeado de brinquedos e algumas frutas cortadas em pequeninos pedaços está o bebê de cabelos ruivos e olhos focados em meu rosto como se me conhecesse, como se esperasse que eu o conhecesse de volta. 

É a primeira vez que vejo completamente o filho de Finnick Odair. E não sou capaz de definir o que me passa pela cabeça com o olhar fixo daquele par de olhos tão familiares. Um ser tão pequeno que carrega para sempre dentro de todo o seu ser um pedaço de um homem incrível que tive o prazer de conhecer, confiar e amar. 

Enquanto o observo com lágrimas nos olhos, o bebê continua a comer suas frutinhas e balançar uma especie de sino com a mãozinha livre. Esse se sacode no ritmo dele mesmo, ouvindo uma canção que só ele poderia ouvir e percebo que ele tem tamanha destreza  e precisão ao manusear os objetos ao seu redor e principalmente com as frutinhas.

Por sorte as duas sentadas a mesa sequer percebem que estou ali querendo chorar e gritar para o universo que Finnick deveria estar ali olhando seu filho crescer e segurar pedaços de comida, lambuzar suas roupas com baba e resto de frutas, dançar com o corpinho meio molenga com uma melodia silenciosa que os anjos cantam somente para ele. Ele. De Finnick. E Finnick dele. Todo ele. Já está quase insuportável continuar ali parada mas quando penso em virar as costas e correr porta a fora , o bebê arrota. É um som tão alto e tão engraçado que o deixa chocado e me faz rir muito. 

Acabo rindo a beça sentando-me a mesa ao lado de minha mãe que também ri do momento inusitado e mais ainda quando Annie nos conta como tem passado vergonha na rua com os barulhos que o bebê faz. 

— Acho que ninguém acredita que ele é que solta esse tipo de coisa - ela diz. — Mas eu não posso me bater com isso. 

Conversamos sobre nossas noites que obviamente é uma oportunidade para que as duas descubram se consegui adormecer  mesmo tendo ido dormir com essa angustia com que cheguei. Não digo a elas como sempre é difícil e que aqui não seria diferente, até porque eu acredito que elas saibam perfeitamente que seria uma mentira. Minha mãe nos conta suas aventuras em um sonho mirabolante cheio de coisas esquisitas e de como ficou confusa ao acordar por não saber onde estava. 

Annie por sua vez conta como adormeceu sem ao menos se cobrir com os lençóis e que acordou mais de cinco vezes para ver o porque do choro do filho. É estranho porém divertido ouvir aquelas histórias tão curtas porém profundas para as duas. Sei que em uma outra fase de minha vida esse tipo de conversa sem fundamento me deixaria irritada aos estremos. E sei também que em algum momento também farei esse tipo de comentário. 

Lembro de como era entediante ouvir os resmungos e choramingos da minha antiga equipe de preparação. Os motivos eram incontáveis mais o principal era que tudo aquilo ali jamais faria parte da minha realidade, primeiro por vontade própria e segundo por eles sempre estavam me preparando para a morte!

Como ser capaz de pensar em um futuro cheio de felicidade enquanto se é preparada para a inexistência? Como ter uma vida brilhante banhada em ouro e plenitude quando se teve obrigação de assassinar pessoas? 

Só conheci uma pessoa que mesmo torturada conseguia pensar nesse tipo de coisa. E ele agora está em um distrito há quilômetros daqui e o pior... vivendo sem mim. E o mais engraçado disso tudo é perceber que sempre foi fácil imaginar as possíveis mortes de Peeta, mas terrivelmente doloroso imaginar sua vida sem mim. 

 

 

Depois de um longo e satisfatório café da manhã peço licença educadamente e subo as escadas até o quarto. Troco de roupa até sentir que estarei razoavelmente protegido do frio e possivelmente do sol quente que irradia calor pela janela. Tomo meu arco e posiciono a aljava com minhas flechas convencionais. Quando a guerra acabou, foram tomados meu arco e as flechas confeccionadas por Beetee. Mas isso jamais faria diferença para mim. Meu arco precioso herdado de meu pai ainda esperava por mim em casa recostado na parede fria, implorando para ser usado. 

Como não me restam muitas coisas para fazer dentro da casa, decido explorar as proximidades em busca de algo que me distraia a ponto de fazer o dia passar mais rápido e assim o restante dos dias. Quando chego até o jardim arrependendo-me imediatamente por ter escolhido aquelas roupas quentes. Faz calor de quase 33º. Volto para o quarto batendo fortemente os pés nos degraus. Substituo a camisa de manguinha curta por uma camiseta folgada, uma bermuda de tecido e chinelos de dedo. Nesse calor não se pode ir muito longe. 

Esbarro com Dante assim que piso meio apressadamente no beiral da porta dos fundos. Ele abre um sorriso que poderia alcançar o topo da maior colina do planeta. Me sinto bastante incomodada com isso, não sei por qual motivo ele precisa sorrir assim para qualquer coisa. Qual é, acabei de pisar com força em seu pé descalço e eu sou uma pessoa parcialmente pesada para sair pisoteando as pessoas. Dante também veste roupas folgadas e aparentemente frias, logicamente já desceu as escadas vestindo elas. 

— Vai passear? 

— Vou explorar- respondo enquanto avanço um pouco em direção a rua de ladrilho.

— São só 7 horas da manhã, a cidade ainda está acordando. Você não conhece nada por ai - ele fala calmamente atrás de mim.

Reviro os olhos.

— E você quer acompanhar uma donzela em perigo, perigo esse que implica serem fãs astutos, banhistas de regata carregando barracas de campi? - digo rudemente o fazendo suspirar com uma expressão divertida no rosto. 

— Não se trata de ser a famosa que moveu a nação rumo a saida daquela porcaria toda. Se trata de ser uma mulher usando short meio curto e uma camisa de sei lá o que é isso pintado ai na frente. Não se lembra dos tipinhos de pacificadores lá do 12?

Lógico que me lembro. Cray e sua rede para pescar meninas e mulheres famintas com ais ou filhos morrendo de fome em casa e mais nenhuma alternativa. A preocupação de Dante é explicável mas de qualquer forma não me faz querer andar com um guarda-costas por ai. 

— Como você mesmo disse, liderei uma rebelião. Posso me virar sozinha caçando em um raio de 500 metros. 

Começo a me afastar e Dante ri de algo que com certeza diz respeito a mim. E só entendo o motivo quando de longe o ouço gritar:

— Boa sorte com seu arco invisível!

 

Droga! Esqueci de colocar a aljava nas costas e pegar meu arco quando troquei de roupa, agora não posso mais voltar e admitir que estava errada assim com toda essa moral. E então respiro fundo dando de ombros e continuo ali parada aguardando os passos longos e tranquilos chegarem até mim.  


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo e espero mais ainda que eu consiga terminar em breve o próximo. Beijos meus amores, que a sorte esteja sempre ao seu lado.



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