Gato de rua escrita por Aislyn


Capítulo 1
Quem não tem cão, caça como gato


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma boa fase escrevendo originais, estou voltando para o ramo dos animes!
E essa é minha primeira fanfic com Haikyuu, espero não ter fugido da personalidade deles...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669111/chapter/1

Toda a equipe da Nekoma estava reunida no chão da quadra enquanto o treinador passava as primeiras instruções para os novatos. Tetsurou Kuroo já jogava num time de vôlei desde o fundamental, e participou do time no ano anterior, então não havia regras que ele não entendesse ali. A diferença entre os jogos do fundamental e do colegial é que a competitividade nos intercolegiais costumava ser maior.

Passou os olhos pelos novatos, se perguntando se teriam bons jogadores aquele ano. Pelo menos um ele tinha certeza que seria. Kozume Kenma jogava consigo desde o fundamental, onde se tornaram bons amigos, e mesmo não estudando juntos no ano anterior, quando passou para o colegial por estar um ano a frente, Kuroo fez questão de manter contato com o baixinho.

Sorriu de canto ao notar o olhar do amigo se voltar para as próprias mãos, ignorando as boas vindas ao time e concentrando no game que estava em seu colo. Desde que o conhecia, ele sempre fora viciado em jogos, ao ponto de ignorar completamente o mundo ao seu redor.

O sorriso em seu rosto morreu ao se lembrar de como Kenma era quando se conheceram. Atualmente ele estava bem mais amigável, havia aceitado participar do time de vôlei sem grandes contestações e sempre aceitava seus convites para sair. Antigamente, ele mal abria a boca para cumprimentá-lo, mas não tirava sua razão de ser como era.

Quando o conheceu há alguns anos, Kenma era totalmente recluso. Não falava com ninguém, não interagia, não retrucava às ofensas, se tornando alvo de várias brincadeiras de mal gosto. Simplesmente não se importava. Era como se ele apenas existisse, porque parecia ser o certo a fazer.

Mesmo que os pais não o tivessem ensinado sobre injustiças e sobre o que é certo e errado, Kuroo sentiu uma estranha necessidade de cuidar do outro garoto. Sentou ao seu lado num dia durante o almoço, descobriu seu nome, sua turma, o que costumava fazer em casa… Não foi difícil tirar aquelas informações de alguém que respondia a tudo mecanicamente, num tom de voz baixo e monótono, enquanto se distraía com um jogo qualquer.

– Cadê seu almoço? – Kuroo questionou numa outra vez que sentaram juntos no pátio, se dando conta que o garoto trazia apenas o videogame consigo. Ele podia ter esquecido na sala de aula, distraído como parecia ser.

– Ah, eu não trouxe… esqueceram de preparar de novo, eu acho… – o tom de voz, tão apagado, fez o coração de Kuroo se apertar. Como os pais esqueciam de preparar o almoço dele? Era só uma criança!

– Você pode pegar um pouco do meu, se quiser. – estendeu-lhe o obentou, lembrando de pedir à mãe que preparasse mais para o dia seguinte.

E foi com satisfação com o viu aceitar e pegar um dos bolinhos, perguntando o que era aquilo enquanto levava à boca. Ele também pareceu maravilhado com as cores e disposição da comida, aparentando ser algum personagem de anime.

– Hei, por que você não dorme lá em casa? Minha mãe pode fazer um pra você também! – ele queria ver aquele garoto feliz. Ver de novo aquela expressão de curiosidade e interesse, ao invés do semblante sem vida.

– Não sei se posso… mas vou falar com minha mãe.

– Combinado!

Para infelicidade de Kuroo, a mulher não havia autorizado. Não conhecia o garoto e não podia simplesmente deixar o filho ir para a casa de um estranho. Mas ela não havia falado nada sobre Kenma levar um amigo para dormir em casa… não que ele houvesse perguntado, mas poderiam usar isso a favor.

Passar a noite na casa de Kenma fez Kuroo começar a ver o mundo com outros olhos.

– Kuroo? Hei, está ouvindo? – foi tirado de seus pensamentos pela voz e pela mão de de Kenma, agora mais velho e um pouco mais alto do que era na infância, puxando a frente de sua camisa.

– O que achou do nosso time? – Kuroo passou o braço por cima do ombro do amigo, levando-o consigo para fora da quadra. Ele havia interrompido uma lembrança bem obscura…

– Não sei… não dá pra avaliar só olhando, mas você já comentou que são bons… – e lá estava ele de novo envolvido em algum jogo, respondendo automaticamente.

Não o culpava por ser introvertido, de forma alguma. Às vezes, pensava em agradecer aos jogos, pois se Kenma ainda tinha um pouco de sentimentos e humanidade, era graças a eles. Os pais, divorciados, apesar de terem uma boa condição financeira, não tinham tempo, conhecimento e nem condições para cuidar de uma criança. Tentavam compensar a falta de presença dando-lhe vários presentes: brinquedos, roupas, eletrônicos. Tudo que ouviam estar na moda e que crianças gostariam de ganhar. Na adolescência não estava sendo diferente, mas agora eles já sabiam que o garoto gostava de jogos, então Kenma sempre ganhava os últimos lançamentos, como uma forma de compensar a falta de uma família presente em sua vida.

Kuroo ficou arrasado ao notar que o amigo era criado daquela forma, tão desleixada. Quase como se fosse um peso, onde os pais eram obrigados a cuidar da criança e faziam isso de qualquer jeito, de modo a oferecerem o mínimo possível para que se mantivesse vivo. A casa estava sempre desorganizada, pois a mãe não tinha tempo de arrumar e não queria colocar uma estranha para cuidar de suas coisas; a geladeira estava sempre repleta de comida congelada, onde o garoto comia daquela forma, pois nunca lhe ensinaram a usar um micro-ondas ou fogão, o que lhe deixava muito doente da infância.

Porém, pior que a aparência da casa, era o que aquele tratamento estava fazendo com seu amigo. Depois de ser mantido tanto tempo sozinho, apenas na companhia dos jogos, Kenma achava que era normal ser criado daquela forma, isolado, onde os pais só apareciam em casa para dormir. Cada dia de sua vida era uma batalha, onde ele precisava se virar para poder sobreviver.

– Kuroo! – o capitão piscou algumas vezes, voltando à realidade sob o olhar atento do seu levantador, que o encarava preocupado. Era impressão sua ou ele havia levantado o tom de voz? – Poxa… estou te chamando tem um tempo. Você está estranho hoje…

– Foi mal, Kenma. Não sabia que se preocupava tanto assim comigo!

E lá estava de volta aquele sorriso zombeteiro. Talvez a preocupação de Kenma fosse sem fundamentos, talvez não, mas não conseguia ser alheio quando se tratava do amigo, afinal ele sempre estava ao seu lado quando precisava.

– Não me preocupo… mas você está com a cabeça em outro lugar…

– Olha só… parece que trocamos os papéis! Afinal, você está bem atento hoje! – Kuroo soltou outra risada gostosa, bagunçando os cabelos do levantador – Vamos comprar uns salgadinhos e fazer uma competição na sua casa? Eu andei melhorando nos jogos.

– Claro… continue praticando pra tentar ganhar de mim. – Kenma abriu um dos seus raros sorrisos, aceitando a sugestão e acompanhando o mais velho até o mercado no caminho pra casa.

* * *

Era quase uma rotina ficarem daquela forma quando iam jogar juntos. Kuroo se sentava contra a parede e Kenma se aconchegava entre suas pernas, apoiando as costas em seu tórax. Era normal também que Kuroo o envolvesse pela cintura, afinal o baixinho era melhor nos jogos, de modo que sempre ficava com o controle em mãos por mais tempo. Contudo, aquela posição, naquela dia, estava incomodando Kuroo.

Na verdade, a presença do baixinho o incomodava desde que ele entrou para o colegial. Passaram um ano em escolas diferentes, já que Kenma era um ano mais novo, mas sempre se viam depois das aulas ou nos fins de semana. Agora que estavam no mesmo colégio e no mesmo clube, esses contatos se tornariam bem mais constantes. Se viam todos os dias, iam e voltavam juntos para o colégio e agora teriam as atividades do time, onde também estariam sempre juntos. Suspirou longamente, remexendo-se no lugar, atraindo o olhar de Kenma.

– Olha… eu sei que não sou de falar muito e nem sou muito atencioso, mas se quiser conversar… – desviou o olhar novamente, encarando o controle como se fosse algo muito interessante – É só que você parece incomodado com alguma coisa, então, se eu puder ajudar de alguma forma…

Kuroo ficou um instante encarando-o, quase com o queixo caído. Era sério aquilo? Tinha escutado o seu levantador oferecendo ajuda? Sentiu seu baixo ventre formigar junto com a noção de que o chamara de ‘seu’. Quando foi que ficou tão possessivo em relação àquele baixinho?

Protetor ele sempre foi, desde que descobriu as péssimas condições em que Kenma vivia, mas possessivo? E ele havia mudado tanto desde que entrou pro colegial… A primeira mudança foi tingir os cabelos de loiro, dando um ar um pouquinho mais rebelde e que favoreceu a questão de marcar presença. A segunda mudança, apesar de ser imperceptível para os outros colegas, era que ele estava um pouquinho mais sociável. Kenma não puxava assunto, mas respondia quando questionado, cumprimentava os companheiros de time e agora estava ali, perguntando se ele tinha algum problema.

– Você é realmente adorável, sabia? – Kuroo comentou sem um pingo de vergonha na cara, deixando o amigo extremamente corado e sem palavras.

– Pare de zombar de mim… se não quer minha ajuda, não tem problema. – retrucou num muxoxo, se arrependendo no mesmo instante de se preocupar. Era óbvio que Kuroo estava bem. Ele era sempre altivo, forte, independente. Por que precisaria da ajuda de alguém como ele?

– Hei… não estava zombando de você. Nunca faria isso com meu melhor amigo. – Kuroo apoiou o rosto no ombro do menor, apertando o abraço e puxando-o mais contra seu corpo, depositando um beijo em sua face – É só que achei fofo o seu jeito, Kenma.

– Ainda acho que está zombando… – mas não fez nada para afastá-lo, colocando as mãos por cima das de Kuroo e apoiando a cabeça contra seu ombro – Você não é só meu melhor amigo, Kuroo. Você é o único também. Por isso me preocupo. Se eu estiver te incomodando ou…

Foi calado pelo dedo do mais velho, cobrindo seus lábios num pedido de silêncio.

– Shiuu… pare de falar besteiras. Você não me atrapalha, entendeu? Nós formamos uma ótima dupla e vou te mostrar que isso não vale só para o vôlei.

– Hm. Se você diz…

Kenma havia fechado os olhos e Kuroo o achou ainda mais fofo. Essa confiança e entrega que ele só demonstrava quando estavam sozinhos… Era confortador. Sabia que ele estava apenas descansando a vista após jogar tantas horas seguidas, mas seu olhar não se manteve sobre os olhos do outro, descendo até os lábios pequenos e bem desenhados. Passou a língua pelos próprios lábios, sentindo um arrepio percorrer seu corpo.

Quando foi que começou a olhar para o amigo daquela forma? Quando foi que desejou beijá-lo?

Hormônios! Era culpa dos hormônios e da idade! Eram dois garotos, estavam na fase de procurar namoradas, era normal sentir interesse e querer descobrir coisas novas… mas ele não queria garotas. Queria o amigo, deitado contra seu corpo.

Abaixou um pouco o rosto, se aproximando do menor, passando a língua pelos lábios secos. Só iria tocar de leve… não tinha problema, não é? Eles pareciam tão convidativos…

Olhos dourados o encaravam fixamente, fazendo-o parar de se mover no mesmo instante.

– O que está fazendo, Kuroo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aguardo vocês na continuação! ^.~