Quando o despertador tocou naquela manhã ensolarada, eu já estava de pé, me olhando pelo espelho com apenas uma toalha cobrindo o meu corpo recem-saído do banho. Encarei meu rosto sereno, as sardas hospedadas ali e meu cabelo molhado, do qual teria que fazer um penteado depois (por ordem de Jocelyn, é claro); inclinando minha cabeça para baixo observei meus seios médios e meu quadril estreito. Logo após, minhas coxas também médias e meus pés pequenos, constatando o obvio: Eu não havia mudado absolutamente nada.
     Tirei minha toalha a trocando por um roupão e de frente ao espelho do banheiro, comecei a secar meus cabelos cor-de-fogo. Como tudo o que Jocelyn queria e fazia meu banheiro era infinitamente grande, para não achar outro adjetivo maior. Já na entrada, você se depara com um enorme espaço vazio (e quando eu digo enorme é enorme mesmo) se você olhar pro lado esquerdo, vai ver uma parede rosa chock, onde está o chuveiro prateado, dentro do box de vidro. Mas a frente a uma parede preta que serve como uma divisória, onde no canto direito dela a uma decoração com (o que eu acho ser) bambus, apoiados por pequenas pedrinhas brancas dentro de um recipiente de vidro, que vai do chão até o teto. Nesta parede, ainda do lado do box, há um banco com aparência madeirística (isso existe?) e mais a esquerda dela, escondido pelo chuveiro esta a minha banheira branca. Já do lado outro lado da divisória (onde eu estou) há duas pias de granito branco logo abaixo de um estreito espelho com bordas pretas, apoiado em outra parede rosa chock. Do lado direito da pia a uma cadeira branca, que contrasta com a janela de vidro, já do outro lado do cômodo. Como eu disse: Jocelyn gosta de exagerar.
     Já tendo secado meu cabelo e feito cachos nele (como minha mãe mandou em um bilhetinho colado no meu espelho) passo pelo quarto e vou pro meu closet, que se consiste em um lugar branco e muito espaçoso onde a puf's gavetas e muitas, muitas roupas e sapatos. Pego uma das inúmeras roupas 'fofas' e 'delicadas' com um sapato pior ainda e me visto. No final me sinto uma verdadeira boneca: uma blusa multicor (roxo, branco, Rosa e azul) junto com uma calça jens branca com pequenos rasgos nos joelhos um sapato de salto alto rosa claro. Uma mochila 'Moschino', um batom, um par de brincos em formato de coração e uma capinha de celular degrade, tudo rosa (tirando os brincos de diamante, é claro). Suspirou. Odiava rosa. Odiava ter que parecer uma patricinha fútil. E acima de tudo odiava Jocelyn por obrigar-la a fazer isso. 
     Desci as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível. Assim que cheguei no hall, fui silenciosamente para a cozinha, tomando um susto quando alguém tocou no meu braço.
     - Quer me matar de susto seu Demônio? - gritei na cara de Sebastian, sentindo meu coração acelerado. - Tá rindo de que seu idiota? Não foi engraçado. 
     - Tá de brincadeira? - perguntou recuperando o fôlego. - É claro que foi engraçado. Ownt... - ele voltou a falar com uma voz de bebê acariciando meu rosto, como se eu tivesse dois anos de idade. - faz esse biquinho não Claryzinha!
     Dei um tapa na sua mão.
     - Ai Clary! Isso dói. 
     - Jura? - indaguei irônica. - Nem percebi.
     - Tá bom, tá bom, ja parei. - colocou as mãos no alto, como se estivesse se rendendo. - Agora da pra me falar porque você estava tão silenciosa? Porque eu tenho duas prováveis ideias pra isso. Primeira - levantou o indicador, contando -, você está fugindo de Jocelyn, ou segunda, você está treinando pra se tornar uma das Três Espiãs Demais. Só que ai, estaria faltando a Alex e a Clover.
     Vocês nao devem ter entendido esse ultimo comentario né? Então, vou explicar: quando eu era pequena, adorava o desenho 'As Três Espiãs Demais' e ficava falando que eu era a Sam (porque temos olhos verdes e cabelos ruivos). A Maia, minha prima, era a Alex, pois segundo ela a Alex é a menos 'feminina' por assim dizer e na época, Maia também era meio moleque, brincava na lama, na chuva, parquinho de areia... Sem contar que as duas amam comida chinesa. Mas, como não tínhamos ninguém pra ser a Clover... Bem... Colocamos o Sebastian!!! E sim, zoamos ele até hoje por isso. Mais, voltando...
     - Ha-ha-ha. Muito engraçado Sebastian. Mas não se preocupe, é só a primeira opção mesmo. - informei. - Agora me fala, - perguntei quase com um sussurrar - cadê a megera?
     - Pode ficar tranquila, - ele também sussurrou - que ela já saiu.
     - Ah tá, valeu. Já tomou café da manhã?
     - Já sim. Tô indo pra escola, tenho que resolver umas coisas por lá. Aliás, porque estamos sussurrando?
     - Eu também não sei. - sussurrei de volta. - Tchau. - falei já no timbre normal.
     - Até. - observei Sebastian passar pela porta e logo depois fui para cozinha, cumprimentando os cozinheiros que trabalhavam ali e me sentando em um banquinho, logo vendo alguém um tipico 'breakfest' americano, tendo panquecas com mel, bacons, dois ovos fritos e waffles. Acompanhados, claro, por um perfeito suco natural sabor laranja, já que Jocelyn está me obrigando a fazer dieta. Aff.
      Terminei de escovar a tempo de ouvir o conhecido 'ding dong' da campainha pra atender. Logo que abri a porta, recebi um abraço de urso da Izzy, uma das minhas BFF's.
     - Uou. Calma ai garota da guilhotina. - nós (eu, Maia e Magnus) chamamos ela assim, pois, acredite em mim, quase sempre Izz esta com um salto agulha, ou seja: salto agulha + tombo = quebra do pescoço. Tipo uma guilhotina mesmo entendeu? - Ei, o que foi Izz? - perguntei com uma voz mais preocupada, quando ouvi um soluço.
     - O Igor Clary. - ela fungou. - Aquela filho da puta tava me traindo esse tempo todo acredita? - e desabou em sima de mim. Simples assim.
     Se eu dissese que não esperava isso do Igor eu estaria mentindo descaradamente. Porque, vamos falar a verdade? Ele era um galinha!!! Mas sair traindo a minha amiga... Ah, isso não ia sair impune.
     Depois de meia hora tentando acalmar minha amiga e cinco minutos depois de Maia ter chegado, consegui acalmar Izzy, que nos contou que o tinha pego com a boca na butija (ou no decote) de Celine (uma ex-lider de torcida se dependesse da Izzy) ela começou a chingar o Igor de todos os palavrões possíveis e impossíveis também. Cinco minutos depois ela já tinha esquecido o assunto (essa garota é bipolar) e começou a fofocar.
     - Ei, ficaram sabendo da novidade? Temos carne nova no pedaço. - e esfregou as mãos de uma forma que deveria ser maléfica.
     - E?... - perguntei tentando parecer interessada. Só tentando mesmo.
     - E... - ela prosseguiu - que eles compraram aquela mansão que tava a venda lá no condomínio. A do lado - ela começou a cutucar o meu ombro em cada sílaba que falava - da sua casa.
     Eu, Maia e Izzy  morávamos no mesmo condomínio. Um lugar com grandes casas luxuosas - ou mansões, como eu me referia - e muito espaço de lazer. As casas eram divididas por 'castas' por assim dizer. Os 'menos' ricos ficavam na entrada, que se constituía em um meio círculo com um pracinha no meio e os 'mais' ricos - ou bilionários - ficavam com as casas mais ao centro do meio círculo. Obviamente, a minha era a do meio (Jocelyn não aceitaria menos que aquilo). Do meu lado direito, ficava a da Izzy e duas casas a frente, do lado esquerdo a de Maia, que era tão rica quanto Izzy, mais escolheu uma casa menos 'extravagante' já que seus pais haviam morrido em um acidente de carro. Seu único parente vivo era seu tio Luke, que morava do outro lado da cidade.
     - Perai - Maia gritou me tirando do transe, e quase me fazendo nos matar ali mesmo. -, sabem o que isso significa meninas?
     - Paqueras? - tentei, depois de alguns minutos em silêncio. Ela fez um sinal de negativo, que captei pelo retrovisor.
     - Paqueras ricos? - Izzy tentou, recebendo um não como resposta.
     Depois de mais cinco respostas erradas, de acordo com Maia, ela gritou:
     - Não gente! Isso significa festa!!! - Izzy deu um gritinho fino na hora, se animando e começando a falar o que precisavamos comprar.
     - Uma festa?? Em pleno primeira semana de aula??? Não sei não Maia... Não me parece uma boa idéia. - protestei, vendo que ja estavamos saindo da estrada, e começando a entrar na 'cidade', Maia e Izzy começaram a tentar me convencer.
     - Ah vai Clary... - Maia apelou depois de muitos "Não". - Olha, a festa pode ser na minha casa ok? E você não disse que... Que... Que... - Izzy interrompeu Maia, logo pegando sua fala.
     - Que a tia Jocelyn iria viajar hoje é ficar pelo menos duas semanas fora??? Vai Clary! Porfavorzinho!!! - e fez aquele biquinho juntamente com os olhos do gatinho de botas, que me derretia todinha (e não, não sou lésbica). Vendo que eu estava perdendo  batalha, Maia deu a cartada final.
     - E quem sabe não contratamos... Como é o nome dela banda mesmo? - e colocou uma mão no queixo, fingindo pensar. - Ah, sim. - exclamou. - E quem sabe não contratamos a Shadowhunters??? 
     - Ok, vocês me convenceram. - desisti da batalha, colocando um meio sorriso nos lábios. - Mais se alguém descobrir...
     - Relaxa - Maia aconselhou -, ninguém vai descobrir. Ai meu Deus! Precisamos comprar copos, bebidas, contratar o bufê... - e continuou a fazer a lista com a Izzy. Suspirei. Ia ser um longo dia.

[...]

     Oito minutos depois, faltando apenas uma rua para entrarmos na escola, as meninas começaram a se 'ajeitar'.
    Maia estava usando uma blusa com nove pedaços cortados de melancia, três em cada linha. Sua calça jeans era clara, contendo vários rasgados, acompanhados por um sapato de salto estilo 'bota de escalada'. De maquiagem, usava apenas um delineador 'gatinho' e um batom vinho, combinando com seus cabelos soltos. Sua mochila jeans também tinha um tom claro, e seu colar continha apenas uma pequena lua crescente, o que ressaltada o amor de Maia por coisas e histórias lupinas.
     Já Izzy, usava um top preto de mangas longas, suas calças jeans também continham rasgos, só que sua cor era mais escura. Seus pés estavam cobertos por uma linda bota preta cano longo, salto 15. Em seus dedos, brilhantes anéis pratas chamam a atenção, os quais combinam com a sua mochila: preta e branca, tem a aparência de um mosaico. Seus cabelos morenos estão presos, e em suas pontas, haviam maravilhosos cachos. Para completar, sua maquiagem se consistia em uma sombra dourada juntamnete com o deliniador e sua marca registrada: um batom vermelho vivo em seus lábios.

[...]

     Quando entrei no estacionamento, confesso, eu poderia muito bem ter reparado na Land Rover Evoque 2016 branca que obviamente demonstrava alunos novos no pedaço, ou no meu irmão conversando com os prováveis alunos novos - que devo dizer, são uns gatos -, ou nas garotas que estavam babando por eles ou até em uma outra garota que estava no pescoço de um loiro muito gostoso com uma roupa que só Jesus na Causa (ok, digamos que eu reparei um pouquinho). Mas meu olhar logo caiu em um idiota ao lado do meu irmão que estava praticamente agarrado a uma cadela no cio.
     Estacionei o carro rangendo pneus, não dando a mínima para o 'público' principalmente de garotos que nos seguiam com os olhos.
     - Meus Deus Clary, o que você vai fazer?
     - Apenas me sigam. - ignorei a pergunta de Izzy.
     Joguei minha mochila por cima de um único ombro, fechando a porta do meu Audi A3 Conversível branco com um estrondo sendo seguida pelas meninas.
     Dando a mínima para os olhares curiosos, caminhei (lê-se: desfilei) pelo estacionamento, sendo acompanhada por Izzy e Maia, parando somente para cutucar aquele cachorro.
     - Com licença - fiz uma voz de inocente -, você é o Igor?
     - Claro que sou gata. Em que posso ser útil? - perguntou tentado ser sexy. Patético.
     - Ah, só em uma coisinha. Isso - dei uma joelhada em seus 'países baixos', fazendo ele cair de joelhos. -, é por ter traído a Izzy com essa puta de esquina. - apontei pra Celine - E isso - dei um soco em seu nariz ouvindo um estalo ali. Uh, acho que o quebrei. -, é por me chamar de gata. Idiota. Vamos garotas.

[...]

     - Uou Clary. Alguma coisa a declarar? - Izzy perguntou andando já ao meu lado, igual a Maia.
     - Sinceramente? Izzy, você tem um péssimo gosto para garotos.

As janelas se abaixam
Todos olham para nós
Todos ficam de queixos caídos
Olhem só, garotas, é tão divertido
Como abelhas no mel!

Pretty Girls - Britney Spears ft. Iggy Azalea