I didn’t save you. escrita por victoriarech


Capítulo 1
If I am lost in the world shadows ♥ I'll miss you!


Notas iniciais do capítulo

Você deve fazer de sua vida um sonho, antes que ela se torne um pesadelo.
Era uma vez uma menina que não acreditava nisso... Até tornar-se sua realidade.



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Todos sempre afirmaram que morreriam por ela. Ela jamais quis uma demonstração de afeto tão pequena quanto essa, queria uma demonstração de afeto maior, e com essa ideia em mente sempre respondia:

-- Não. Vivam por mim.

Seu coração que antes vivia entre tempestade e sol, agora vivia afogado pelo tsunami, derrubado pelo terremoto e quebrado pelo furacão. A menina, no entanto, sabia a poderosa arte de omitir sentimentos indesejáveis.

Ela abriu seus olhos com o doce som da voz de sua mãe a chamando e enchendo de beijos, pois nunca conseguia ouvir o despertador tocar. Estranhou. Não estaria de férias? Não tardou para o despertador de seu celular tocar às 8 horas da manhã para que levantasse a bunda da cama e fizesse algo de proveitoso com seus dias de folga, o que raramente acontecia. Aquilo fez a jovem lembrar de seu pesadelo da vez. Sua semana foi tomada por pesadelos que seguiam uma ordem, uma sequência criada por seu cérebro para fazê-la sentir-se culpada, provavelmente. No começo, sonhava com sua mãe alegre. Depois, que estava doente e precisava salvá-la de alguma maneira. O sonho desta vez foi que sua mãe havia retornado a vida e estava brava pela menina não ter conseguido o que planejava nos outros sonhos... Salvá-la.

Um mês atrás sua mãe adoeceu com uma doença que deveria ter sido descoberta e tratada há anos, mas fora silenciosa, esquecida e ignorada. A menina estudava de manhã e de noite e tentava de todas as maneiras ajudar sua mãe em casa. Estava perdendo a si mesma. Preferia perder a si mesma do que perder quem lhe deu a luz. Preferia ter perdido um pedaço do corpo, pois seria menos doloroso que foi perdê-la.

Quando morreu, a menina escolheu a vestimenta de sua mãe e chorou apenas quando voltou do velório. Estava com medo de vê-la, mas não chorou quando viu, pois queria realizar um dos sonhos da mulher, que era o desejo de ver sua filha forte e sendo generosa em momentos difíceis. A menina, lá no fundo, queria apenas deitar em cima do corpo no caixão e pedir para ser enterrada junto. Perderia seu ar como quase perdera em tantas crises de pânico. Desejava poder abraçá-la novamente. Na UTI, abraçá-la não era possível. Como a arrancariam de cima da mãe, cogitou a ideia de apenas sair correndo e esperar pela sorte de encontrá-la mais cedo. Não. Aquilo não era o que a mãe queria.

No dia do enterro cedeu e implorou para que não tampassem o rosto de sua mãe e que não a enterrassem. Sentia no fundo de seu coração que a mulher poderia acordar a qualquer momento e rir, por que havia enganado a todos como uma ótima atriz e com o caixão fechado, sufocaria e morreria de verdade.

Não queria ver quem amava sofrer tanto, mas de que adiantaria erguer uma barreira contra seus sentimentos? Eles eram mais fortes e destruiriam a barreira a qualquer momento! Percebeu algo que não havia percebido antes: Não estava sozinha.

Tantos sorrisos faltos, tantos agradecimentos a pessoas que nem mesmo havia visto antes, tantas lágrimas que limpara a fizeram perceber que as pessoas que não estavam presentes enquanto se preparava para pular no abismo estavam lá embaixo, esperando para segurá-la. Assim como sua mãe fazia.


Eu vejo você correndo

Todas as noites da mesma escuridão

Está vindo

Mas você não está sozinha

A menina finalmente levantou e agarrou o travesseiro para seu choro matinal. Soluçou, chamou por seu nome, implorou. Pediu para que se sua mãe estivesse ali com ela, mandasse um sinal.

-- Mãe, promete que nunca vai morrer?

-- Prometo que nunca vou te abandonar.

Sua mãe sempre dizia que a menina a acalmava, que suas mãos eram mágicas e curavam suas dores de cabeça, que a filha era a coisa mais importante em sua vida e a melhor coisa que fez foi ser sua mãe.

-- Mentirosa. Você é péssima em cumprir promessas.

Um vento passou pela janela tão suave quanto uma carícia e rapidamente secou as lágrimas da menina. Gostava de pensar que era sua mãe, atendendo seus pedidos.

Morrer não significava ter lhe abandonado. Ainda agiria como seu anjo da guarda.

Ela não conseguiu salvar sua mãe daquela doença. Sua mãe nunca deixaria de salvá-la de si mesma.

Se você acabou de dizer a palavra

Eu estarei lá ao seu lado

Você me faz mais

Você me faz sobre-humano

E se você precisar de mim

Eu vou te salvar

A menina sorriu. Não gostaria de ter o coração reconstruído. Gostaria de tê-lo para sempre em pedaços para que pudesse entregá-lo a todas as pessoas que amava, e assim, jamais estaria sozinha novamente. Suas costas não cairiam mais pela parede gelada enquanto ninguém olhasse.

Percebeu o quanto odiava que não a deixassem sozinha em contraste com a solidão ser algo tão relativo. Pode ser que ninguém esteja a sua volta e você se sinta completa. Pode ser que você esteja rodeada de pessoas e se sinta completamente vazia.
Seu sol jamais nasceria novamente para iluminar seus dias. Sorte a dela, que sempre preferiu suas próprias tempestades, então por que fugir dos raios?

Quando estiver apoiada contra a parede

Eu poderia ser aquela

Que sempre estaria lá para apartar sua queda

Você não está sozinha

Você é o sol, você é o dia

A luz que me guia

Nunca fuja

Eu vou te salvar

Sempre que se perder nas sombras desse mundo tão perigoso, saberá que não está sozinha, que há alguém pronto para atender quando chamar. Aquela que sempre a atendeu, que sempre cuidou, que sempre a protegeu jamais deixaria de realizar seu papel. Talvez os raios de sol consigam escapar por entre as nuvens um dia e, por algum momento, estampe um belo arco-íris para que todos vejam. Nesse dia saberá que está na hora de fazer o que desde o momento em que sua mãe morreu, soube que um dia faria:

Neste momento seu mar acalmaria, suas terras firmariam e seus ventos parariam de soprar. Neste momento seria o sol na tempestade de alguém. E, principalmente, neste momento finalmente poderia vê-la novamente.

Envie o sinal

E eu vou voar baixo

Se isso significa a minha morte

Eu não vou dar para trás

E se eu estou perdido nas sombras do mundo

Vou usar a luz que vem a mim

Da sua auréola

Após alguns dias de dor, distração e reflexão, Victoria resolveu escrever tudo o que sentia para que jamais perdesse seus sentimentos novamente.

Eu te salvei quando eu nasci, mãe. Você me salvará para sempre.

Te amo para sempre.


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Notas finais do capítulo

Ninguém nunca sabe das coisas que sentirá falta, do que deveria ter dito ou feito, até que tudo se torne irreversível.



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