Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 9
Curtindo a Noite


Notas iniciais do capítulo

Eu acabei esse capítulo hoje de madrugada, mas tava morrendo de sono, esqueci de postar ahahah Enfim, espero que gostem ;3



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Depois de quase uma semana almoçando sem Nathaniel, Rosa me arrastou com ela até a mesa das meninas. Iris, Violette e ela estavam de um lado, enquanto eu fiquei no meio de Melody e Kim. Aparentemente, a ponta era da Peggy porque ela conseguia ouvir todas as conversas assim.

Melody parecia meio desconfortável desde o dia em que passei mal, confirmando minha teoria de que ela sentia muito ciúmes de Nathaniel. Eu tentei mostrar que não rolava nada de um jeito sutil, mas ainda era um clima estranho.

Ou ao menos foi, até aquele dia. Eu cheguei na escola assim que o primeiro sinal bateu, então sai correndo até meu armário e peguei meu material. Tinha até acordado cedo, mas fiquei mexendo no facebook pelo celular e me distraí.

— Achei que ia se atrasar. – Rosalya comentou, me mostrando a cadeira ao seu lado. Dei de ombros e sentei, procurando a menina dos cabelos compridos cor de mel. Achei.

Assim que a aula terminou, antes que ela saísse da sala, fiquei de pé e fui falar com ela. Ela parecia chateada, mas tentei ignorar e simplesmente falei o que queria.

— Melody, oi. Parabéns.

— Oh, obrigada. Foi a primeira das meninas a lembrar. Bem, quase a primeira do dia. – Devia ser isso. As meninas não deviam ter falado com ela e Melody se sentia abandonada, ou algo do gênero.

— Oh, talvez elas só não tenham conseguido falar com você. E eu assumo que só falei porque vi no facebook mais cedo.

— É, mas você não sabia. – Ela suspirou. – Eu até tinha pensado em fazer uma reuniãozinha e tal, mas não sei se alguém vai querer ir...

— Eu vou. E, eu vou te ajudar a chamar as meninas, porque você vai fazer sim sua festa.

— Sério? Nossa, valeu. Sabe, eu confesso que não fui muito com sua cara de início, mas vi que errei. Você é muito legal. – Ela não precisava me falar o porque da antipatia inicial, mas não abordei aquilo. – Eu até fiz convites. Com papel colorido, mas enfim...

Peguei o que tinha meu nome e olhei o design que ela fizera. Era um cartão dobrado ao meio, com duas fitinhas coloridas na frente. E meu nome escrito de caneta.

“Festa do pijama lá em casa, a partir das sete da noite. Espero você lá ;)”

— Bom, eu posso entregar os convites se quiser. – Ofereci, colocando o meu na mochila.

— Entrega esses. Rosa, Kim, Vi. Eu entrego o da Iris e o da Bia. – Só de ouvir o nome daquela criaturinha eu arrepiei. Bia até parecia fofa de início, até que se descobria que ela era o maior pau mandado da Ambre. Ai o encanto acabou.

— Não chamou a Peggy? Digo, não é da minha conta...

— Gosto da Peggy, mas estou meio irritada com ela. Acredita que ela queria escrever sobre o sumiço das provas e deixar implícito que a culpa era do Nathaniel? E nem pediu desculpas.

— Bom, não chamamos então. – Peguei os três convites e pedi licença, indo atrás delas. O de Rosa eu entreguei no horário seguinte. Coloquei na mesa e ela leu, disfarçadamente. Disse que ia. Kim disse que talvez não pudesse ir, mas não disse porquê. E Violette disse que ia passar em casa e pedir ao pai, mas que provavelmente ia.

— A propósito, você não teria um bicho de pelúcia? – Só de falar ela começava a ficar rosadinha. Diferente de Bia, Violette era fofa de verdade. – É que...deixa.

— Que foi?

— Eu sempre ando com um coelhinho de pelúcia. Meu pai me deu para eu me sentir mais segura, mas eu fiquei dependente. – Esperei ela continuar, sem qualquer sinal de que ia rir. – Estou com medo de alguém achar e ficar zoando.

— Vulgo Bia contar para Ambre. Posso levar um se quiser. Se a Bia achar, vou ser um alvo mais interessante.

— Obrigada. Não que eu goste de te colocar nessa situação.

— Ela não vai achar, Vi. É só uma hipótese. Relaxa.

— Obrigada, ainda assim. E vou sim.

Eu estava indo informar Melody quem ia, mas vi o demônio informativo no pátio, me olhando. Peggy parecia ter notado a movimentação. Dei meu jeito de dar aquele olé nela e entrar no corredor sem cair nas suas garras.

Não que eu achasse legal tomar as dores do Nathaniel e excluir Peggy da festa, mas como não era decisão minha deixei de lado. Avisei para ela as meninas que iam e fui para a aula.

— Você vai treinar hoje? – Nathaniel perguntou, guardando os livros no armário.

— Não, vou ter que sair. Preciso de um pijama decente. E de um presente. Do que a Melody gosta?

— Eu não sei muito bem. – Ele respondeu, pensativo. – Hum, espera. Tem um conjunto desses que ninguém conhece que ela gosta. Stars From Nightmare, algo assim. O CD deve ser barato, né?

— Assim espero. E pijama? Calça é melhor, né?

— A não ser que algum menino vá também, o que eu espero que não seja o caso, tanto faz.

— Por que você espera que não seja o caso, hein? Ciúmes de quem, querido? De mim, da Melody?

— De ninguém, só acho que seria estranho. Enfim, se for de calça pode dormir esparramada, o que é raro em você. Ou pelo menos, era.

— Até não me mexo mais tanto, mas ainda assim, acho melhor do que ficar com a bunda aparecendo. Bom, eu vou meter o pé.

— Ok, eu vou para a academia. Saio com você. – Esperei ele fechar a mochila e fui com ele até o portão da escola, descendo para o centro comercial perto de casa.

Depois de encontrar o CD da tal banda que Nathaniel comentou, eu fui procurar um pijama decente. Os meus eram todos velhos e relaxados, ou simplesmente muito curtos e que me deixariam desconfortável.

— Posso ajudar? – Era Leigh. Não tinha reparado que eu entrei em sua loja, mas sorri quando o notei. – Hey, Anna.

— Oi, Leigh. Tudo joia, né? – Voltei a olhar o pijaminha verde que eu estava pensando em comprar. – Tem um desses maior?

— Provavelmente sim, no estoque. Deixa eu conferir. – Ele sumiu por uma porta atrás de seu balcão. Devia ser pesado, trabalhar ali sozinho. Ele voltou com o pijama ainda embalado. – Serve?

— É, com certeza. Trinta?

— Sim. – Pelo menos era barato, do contrário eu já não teria quase nada da minha mesada. Paguei, pegando minha sacola de papel e dando um sorriso antes de me despedir e ir embora.

Já tinha algum tempo que eu não dormia na casa de nenhuma amiga. A última vez deve ter sido em alguma festa na casa da Lety, na outra cidade, já tinha quase um ano. Arrumei a mochila, colocando o ursinho de Ken junto, e troquei de roupa. De calça jeans e uma camiseta azul, voltei para a escola. Bom, só depois de ligar para minha mãe e pedir autorização.

— Melody, que bom que você não foi ainda. – Comentei, esperando-a no portão.

— Ei. Você tinha dito antes que ia querer companhia para ir, e sempre fico até esse horário. Bom, vamos?

— Claro, estou bem atrás. – Fui andando junto com ela pela rua, mantendo uma conversa até bem animada. Melody virava outra pessoa comigo longe de Nathaniel.

Quando chegamos até sua casa, as outras meninas estavam chegando. Sexta de noite, tudo pronto para virarmos a noite. Ou cair tentando. Entramos e fomos direto para o quarto.

— Seu quarto é grande, Melody. – Iris comentou, deixando sua bolsa atrás da porta. Imitamos a ação, quase todo mundo falando ao mesmo tempo.

— Podem se trocar, eu vou pegar a comida. – Ela murmurou. – Ah, fiquem a vontade. Meus pais saíram, só devem chegar mais tarde.

— Tudo bem. – Rosalya concordou, pegando a bolsa. – Alguém ai tem frescura ou vai todo mundo se vestir aqui?

Fui obrigada a rir. O jeito de Rosalya era direto demais. Por sorte, na maioria das vezes só era divertido mesmo. Ninguém teve coragem de dizer que preferia se trocar no banheiro.

— Comprou isso com o Leigh? – Eu tinha acabado de vestir a camisa quando ela me perguntou. Ela tinha decorado até os designs do namorado? – Ficou ótimo.

— Obrigada. – Melody voltou e colocou as vasilhas cheias de salgadinho no tapete. Iris tinha ido atrás dela depois de se vestir e ajudou a trazer copos e refrigerante.

— Ok, vamos comer e...– Rosalya falou, parando no meio da frase. – Qual a ideia para o início da noite?

— Eu sei lá, a festa é dela. – Falei, enchendo a mão de batatas. Melody ficou esperando alguma sugestão, até que Bia decidiu se manifestar.

— Eu nunca. – Ela olhava seu copo com aquele sorriso torto que eu nunca sabia se era sarcástico ou não. – Já jogaram?

— Pode ser com refrigerante. – Dei de ombros. A ideia não era a mais agradável, mas era a que a gente tinha. – Aliás, alguém mais trouxe algum presente? Eu preciso entregar o meu.

— Ah, trouxe também. – Iris ficou de pé e foi buscar as bolsas. Melody ficou feliz com o CD, dizendo que gostava bastante das músicas. Fiquei feliz e anotei mentalmente para agradecer Nathaniel pela sugestão.

— Foi ideia do Nathaniel, fico feliz que ele tenha acertado. – Ela riu, olhando a capa do CD. – Bom, podemos jogar agora.

Todo mundo serviu o copo com refrigerante para beber a cada vez que precisasse beber. Basicamente, alguém falava algo que nunca tinha feito e se você tivesse feito, você bebia. Ninguém começou, no entanto.

— Okay. – Falei, pensando. – Eu nunca tive um namorado.

— Sério? – Achei que Rosalya fosse me bater. Ela tomou seu gole e me olhou, séria. – Minha vez. Deixa eu ver, eu nunca... nunca fiquei bêbada.

Tentei disfarçar que ia tomar meu gole, mas Violette ficou muito chocada. E eu acabei rindo, com refrigerante escorrendo pelo nariz.

— Foi na última festa de escola que eu fui, mas eu juro que não vi que era bebida até o terceiro copo.

— Você é louca? – Iris ficou chocada. – Isso é perigoso, vai saber quem quis te embebedar.

— É, mas minha amiga estava comigo, ela me ajudou. – Eu só me lembrava com clareza da dor de cabeça de ressaca do dia seguinte. – Enfim, próxima.

— Eu nunca... – Melody começou, sem muitas ideias. – Não sei, nunca...

— A gente não pode fazer outra coisa? – Violette sugeriu, notando que ninguém sabia muito bem o que dizer.

— É, podemos. Vamos falar da única coisa que presta.

— Homem. – Rosalya falou. Todo mundo riu, já esperando aquilo. – Então, o que vocês ficaram sabendo de novidade? Anna, fala do Nathaniel.

— Falar o que? – Eu estava com a boca cheia de batata e o nariz ainda ardendo do refrigerante que escorreu quando eu ri.

— Sei lá, você é amiga. Ou diz que é. – Rosalya murmurou. – Enfim, como era na infância? Como você acha que dá pra seduzir o representante?

— Ok, ele era diferente quando éramos crianças. Hiperativo, enlouquecido, parecia um capetinha. Fiquei chocada com a mudança, o jeito responsável dele. Mudou para melhor, pelo menos.

— Querida, a gente quer é a segunda resposta. – Rosalya riu, olhando para mim.

— Nossa, quanto interesse, Rosalya. Acho que vou falar com Leigh que você está pensando tanto num loiro.

— Não é para mim, idiota. Só nos ajude.

— Ok, deixa eu pensar. Eu não sei, eu não sei de ninguém que ele tenha ficado ou gostado para saber o tipo.

— Nenhuma ideia?

— Rosalya, se Melody quiser ajuda, eu posso tentar falar com ele. Sem promessas, mas posso tentar.

— Não precisa. Gente, sério. Eu só passo muito tempo com ele, mas não é assim. – O desespero na cara dela chegava a ser engraçado, mas só dei de ombros.

— Por falar em menino, alguém sabe do Ken? – Peguei um travesseiro e coloquei na parede, me recostando.

— Eu falei com ele há um tempo atrás, ele estava bem. – Iris murmurou. E eu sempre achei que ele fosse me ligar. Lembrei do ursinho na minha bolsa e suspirei. Ele devia ter mudado.

— Huuum, gente. Vamos agora falar do boy mais cobiçado do colégio. – Rosalya pegou seu copo e ficou esperando alguém falar. Quase sem notar, eu falei o nome que ela menos esperava.

— Lysandre? – Ela quase engasgou quando eu falei. E todo mundo ficou me encarando. – Não?

— Acha mesmo? Lys-fofo não é o tipo de muita gente por lá. – Rosalya comentou, dando um sorriso. – Parece que é o seu.

— Não, eu digo, tipo...a gente nem conversa assim para eu falar que ele é meu tipo. Eu nem tipo tenho. É só, ele é simpático, gentil, fofo...

— Lindo. – Rosalya completou e eu fui obrigada a concordar.

— Prefiro o termo charmoso. Não é assim, eu não gosto dele.

— Bom, você ainda é relativamente nova aqui na escola. – Iris tentou me defender. – É seu primeiro semestre com a gente, podem se conhecer melhor depois.

— Já shippo. E, se lhe interessar, ele é bem mais do que transparece. – Eu detestava quando Rosalya ficava tentando me deixar curiosa. Infelizmente, eu ficava mesmo.

— Pontinha do iceberg?

— Bem isso. Olha, isso não sai daqui, pelo amor de Deus. – Todo mundo chegou perto para ouvir. – Leigh me contou que o irmão tem uma tatuagem nas costas. E parece ser grande.

— Tatuagem? Lysandre?

— Uhum. Não sei o que é, eu só ouvi Leigh comentando. – Ela se adiantou. – Não sai daqui.

— Oh, sai sim. – Eu resmunguei e ela me olhou. – Relaxa, não falo que foi você. Mas que eu vou perguntar sobre essa tatuagem, ah, eu vou.

— Se não era afim, agora vai ficar. – Rimos, até mesmo Bia. Fiquei um pouco assustada com o que ela podia fazer, mas preferi deixar minha paranoia de lado. – Enfim, eu estava falando do Castiel no início.

— Sério? Gente, ele é muito sem educação. – Murmurei.

— Bom, ele é normal comigo. Acho que isso é um pouco rude, na verdade. – Iris falou, dando de ombros. – Bom, a gente se dá bem.

— Eu tento, mas ele parece que faz questão de me deixar bem distante dele. Eu ainda vou ser amigo dele, não quero nem saber.

— Eu conheço um monte de gente que gosta dele. A Ambre nesse meio. – Melody comentou. Bia até gelou ao ouvir o nome de sua soberana das megeras. – Bom, ele é bonito, mas não passa de colega para mim.

— Então, vamos encerrar o assunto? Escolham um dos meninos para uma situação hipotética. – Rosalya falou. – Acho que eu ficaria com Lys. Ele é o mais perto do irmão dele.

— Nathaniel. – Melody comentou. – Ele é o que eu mais conheço, para não falar o único.

— Bia?

— Eu? Ninguém. Nenhum deles me interessa.

— Ai, ok. Iris?

— Castiel. Vio?

— Não sei. Acho que nenhum deles. E você, Anna?

— Nathaniel é um irmão meu já, Castiel é um bostinha comigo...Depois dessa tatuagem, Lysandre, vem cá.

A gente riu muito naquela noite. O assunto ia e voltava em garotos várias vezes, como era de se esperar. A gente fez guerra de travesseiro, assistiu uns vídeos na TV do quarto dela, ficamos dançando do jeito mais imbecil do mundo.

O plano de virar a noite não durou muito. Fui uma das últimas a desistir, já eram quase quatro da manhã. Deitei no colchão ao lado do de Rosa e apaguei, com a boca meio aberta.

Fui a última a acordar. Troquei de roupa, tomei café e, aproveitando a carona que Rosa ia me dar, fui embora antes do almoço. A noite tinha sido ótima, mas eu ainda estava morta de cansaço. Tanto que entrei no carro e apaguei. Nem vi Leigh me cumprimentar.

Em casa de novo, eu fiquei sem ter o que fazer. Convidei Nathaniel para aparecer por lá e ele foi. Estava um dia quente, então eu usava um short curtinho e uma camisetinha larga. E assim que chegou, todo suado, eu mandei Nathaniel tirar a blusa.

— Não precisa.

— Vai ficar morrendo de calor? Anda logo, frescão. Está com vergonha? – Ele suspirou e tirou a blusa, deixando-a no braço do sofá. Passamos a tarde ali, na sala. Meus pais tinham ido visitar tia Ágatha antes que eu chegasse.

— Anna. – Nathaniel chamou, deixando a garrafa de refrigerante vazia sobre a mesinha de centro. Esperei o que ele queria. – Você ainda toca?

Olhei o piano parado no canto da casa. Tinha algum tempo que eu não encostava naquelas teclas, mas eu ainda sabia tocar. Concordei com a cabeça. Ele deixou o assunto morrer, pegando o controle da TV.

— Quer ver algum filme?

— Não, escolhe ai. – Acontece que ele escolheu um filme qualquer, que era tão chato que eu não consegui prestar atenção. Nem ele. Aos poucos, o som foi ficando mais baixo, eu fui caindo no sofá e apaguei, de novo.

— Querida, nós...– Minha mãe abriu a porta do apartamento, travando. Eu ainda estava meio atordoada, mas consegui entender bem o porquê do choque. Eu estava deitada no torso nu de Nathaniel, de um jeito estranho.

— Hey. Oi, pai. – Ajeitei minha camiseta, saindo de cima de Nathaniel. Ele parecia sem graça. Eu também estaria se o pai dele estivesse com aquele olhar para mim.

Nathaniel deu um jeito de se vestir e ir embora. Ri da cara dele, mas deixei ele ir sem muita insistência. Passei o fim de semana ouvindo minha mãe rir disso com meu pai, que parecia não ter gostado muito da situação.

Na segunda feira, eu já tinha descansado bastante, estava até bem empolgada. E com motivo. Tínhamos aulas de música na escola, aquela coisa bem teórica e tudo mais...até ali.

— Boa notícia para alguns, nem tanto para outros... – O professor falou, aparentemente animado. – Como alguns sabem, a parte teórica terminou, podemos começar a parte prática...Nem todo mundo vai cantar, tocar, nada disso...

Lembrei de Nathaniel perguntando do piano. Talvez fosse aquilo que ele quisera dizer. Suspirei.

— Vou dividi-los em quartetos, por sorteio. – Pânico geral. Eu queria sair com alguém conhecido. E fora da reta do grupo da Ambre, fora isso, não me importava muito. – Agora mesmo. A cada semana vocês terão uma tarefa para ser apresentada. Bom, começando...

— Melody, Iris, Todd, Violette. – Eu só queria ouvir meu nome e fim. – Castiel, Nathaniel...

Os dois ficaram extremamente incomodados. Nathaniel me olhou, desesperado, e Castiel parecia a ponto de pegar fogo. Fiquei esperando a continuação.

— Anna e Lysandre. Espero muito desses. Continuando.

Vi Lysandre falar com Castiel, naquele jeito super tranquilo dele. Nathaniel não estava feliz também. Agarrei seu braço e o arrastei comigo até os outros dois do grupo.

— Por que me trouxe aqui? – Nathaniel resmungou, tentando se soltar.

— Hora de virar adulto. Para com essa palhaçada e fica quieto. – Falei baixo, vendo Castiel tentando se levantar e Lysandre o segurando no lugar. Sorri para ele e esperei ele me encarar. – Eu te disse que você ia ficar muito perto de mim.

Ponto meu. Ele bufou e se soltou, mas não fez menção de ir embora. Esperamos juntos o professor acabar com os sorteios e passar a tal tarefa.

— Muito bem, para a semana que vem, vocês terão que me apresentar num modelo de conjunto musical, envolvendo todos ou não, uma música que escolherem. A condição é que todos tenham alguma participação e que a música seja dos anos 60. Boa sorte.

— Então, como vai ser? – Castiel grunhiu, querendo fugir de Nathaniel. O loiro fitava a parede ao seu lado, tentando ignorar.

— Você toca guitarra, Lysandre canta...

— Eu sei dessa parte, capitã óbvia. Falei de vocês. O que fazem, batem panela?

— Castiel, não precisa...

— Toco piano. – Respondi, começando a me irritar. – E Nathaniel aprende rápido, aposto que dá para ensiná-lo bateria.

— Ok, é seu plano?

— Vamos decidir qual música primeiro, não? – Lysandre sugeriu, tentando amenizar o clima pesado. Concordei, aceitando a ideia.

— Não conheço muito dessa época. Prefiro outros gêneros. – Nathaniel finalmente deu um parecer, tímido. – Você ouve muito Elvis, deve servir, não?

— Ele tem boas músicas, é uma boa ideia. Alguma em especial?

— Espera ai. – peguei meu celular e desenrolei os fones, entregando para Lysandre e Castiel. – Escolham alguma e ouçam.

— E eu achei que você só tinha umas duas. Sugere alguma?– Castiel pegou o celular e passeou pela lista.

— Acho que uma animada seria mais legal. Tem “A big hunk of love” ou “Moody Blue”...

— Opa. E essa Surrender? – Lysandre pediu licença antes de pegar o celular. – É muito legal. E não parece difícil. E é curta.

— Qual é essa? – Nathaniel perguntou. Cantarolei o ritmo para ele, que logo reconheceu. Eu sempre mandava audios com as músicas para ele. – Ah, tem uma bem legal. Qual é a que eu gosto?

— It’s Now or Never. – Lysandre apertou na faixa e sorriu. Castiel parecia relutante, mas concordou. – Querem essa?

— Por mim, é ótima. – O nosso vocalista falou, sorridente. Castiel concordou, ainda irritado. – Vamos precisar ensaiar. E não vejo um piano nisso.

— Vou dar um jeito. – Murmurei. Eu não queria muito, mas Nathaniel sabia qual era minha outra opção.

— Hum, onde vamos ensaiar? No porão?

— No nosso horário do fantasma. – Castiel respondeu, sorrindo torto para mim.

— O fantasma foi mais simpático em um minuto do que você nos últimos meses. – Rebati, respirando fundo. – Eu vou pedir para ficar até mais tarde então.

— Amanhã, depois da aula. Vou pedir a diretora. – Nathaniel comentou. Tudo acertado, deixei Nathaniel se livrar da presença do menino de cabelo vermelho, que também correu da sala. Lysandre me olhou, os olhos coloridos vibrantes.

— Sempre foi assim? – Perguntei.

— Acho que aconteceu do nada. – Ele comentou, dando aquele sorriso calmo. – Vamos dar um jeito de te colocar na música, fique tranquila.

— Está tudo bem, relaxa. – Ele ficou em silêncio. Aproveite a deixa e comecei. – Hum, eu ouvi de você.

— Ouviu? Eu nem fiz nada... – A confusão de Lysandre às vezes me deixava feliz, me fazia me sentir bem veloz em raciocínio.

— Ah, levando em conta que eu acho que você prefira honestidade, foi sobre a tatuagem.

— Quem falou disso?

— Eu ouvi por cima. – Desviei. – Seus pais te deixaram fazer?

— Era algo que eu queria, eles entenderam. Não tem nada muito grandioso.

— Desculpa sair me metendo assim, é só que...Eu adoro tatuagem. Na verdade, da trinca dourada, só Nathaniel não ficou muito fã da arte corporal.

— Quem é o terceiro?

— Viktor. Não vai reconhecer. De todo jeito, eu gosto muito de tatuagem. Confesso que morro de medo de fazer, mas...

— Bom, a minha não doeu tanto. Talvez pelo lugar.

— Posso pedir uma descrição?

— Claro. É um conjunto de asas, que se completam. Feito uma asa dentro de outra. Nas costas. Você queria algo específico?

— Um dragão com as asas desfazendo em pássaros. Acho que notou que eu adoro escrever, acho que isso cairia bem.

— Se o que te impede é o medo, devia deixar de lado. A dor passa, o resultado fica.

— Meu medo é esse. Não tenho medo de dor, só do que vai ficar depois e eu não vou ter como mudar. – Dei um sorriso sem graça, pensando na pior dor que eu já sentira. Viktor.

Ele percebeu e mudou de assunto. Foi rápido, só para eu poder ir para a próxima aula sem aquela nuvem escura acima de mim, mas funcionou tão bem que, sentada na minha carteira, escrevi um parágrafo sobre o que Lysandre me falou de suas asas. Tentei interpretá-las.

E eu queria a liberdade de alma que ele parecia ter.


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Notas finais do capítulo

Elvis < 3 Amo/sou < 3



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