Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 62
Tensões


Notas iniciais do capítulo

AAAAA, eu fiquei muito sumida, socorro. Não sabia que tinha sido esse tempo todo não, desculpem. De toda forma, espero que gostem do capítulo, quis botar umas cenas bem icônicas do capítulo do jogo aqui, por isso demorei um pouquinho para encerrar. Juro que não demora eu posto outro ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668946/chapter/62

   Assim que sentamos nos bancos do jardim, desatei a rir, tanto de vergonha quanto pelo estado de Faraize. Lysandre acabou rindo junto, incrivelmente com as faces levemente coradas.

   – Ele vai lembrar disso pelo resto do ano. – Comentei, finalmente me controlando. Lysandre concordou.

   – Pelo menos foi ele. Duvido que ele vá comentar com algum aluno sobre isso.

   Concordei, ajeitando meu cabelo mais uma vez. Nosso horário vago estava quase acabando, teríamos educação física em seguida, mas não tinha a menor vontade de ir. Suspirei. Ele me olhou.

   – O que foi?

   – Eu odeio educação física.

   – Um pouco de exercício não mata ninguém.

   – Era para você me defender aqui. – Ele deu uma risada. – Gosto menos ainda do uniforme.

   – Falando em uniforme, você devia se trocar. A aula começa em dez minutos. Eu vou fazer o mesmo. Vem. – Ele ficou de pé e me estendeu a mão, a qual eu prontamente aceitei e me ergui, sorrindo antes de soltar sua mão e sair andando na frente.

   As meninas já estavam todas se aprontando para a aula. Violette e Kim prendiam as franjas com algumas presilhas enquanto Melody amarrava seu cabelo num rabo de cavalo. Todo mundo me olhou quando entrei, mas simplesmente retomaram a conversa normalmente. Não era como quando Ambre chegava e todo mundo ficava incomodado, ainda bem.

   Bom, tinha Iris também, sentada amarrando seus tênis no canto mais recluso do vestiário. Preferi deixa-la sozinha e ir me trocar. Vesti as calças com a regata à la estilo basquete, com meus lindos tênis de corrida. Prendi somente uma parte do cabelo e fui para o corredor depois de guardar minhas coisas no armário. Peggy me seguiu, também já pronta.

   O barulho assustou nós duas, mas até quem ainda estava no vestiário ouviu. Como se alguém tivesse batido na porta do armário...e depois mais vozes elevadas. E eu conhecia as duas. Lysandre e Nathaniel. Engoli em seco.

   Os dois saíram do vestiário ainda discutindo. Peggy não perdia um detalhe sequer, mas sejamos sinceros eu também não perderia. Era praticamente ver Gandhi e Mandela brigando.

   – Eu só fiz uma observação, você não precisa falar disso o dia inteiro.

   – Uma observação bem deslocada vinda de você. O Lysandre que a gente conhece normalmente é mais reservado. – Senti o veneno escorrendo da língua de Nathaniel, o que era péssimo sinal. Não é possível que ele estivesse tão bravo por causa de uma frase.

   – Não foi por maldade.

   – Não pareceu. – Ele praticamente cuspiu a última frase na cara de Lysandre e passou pelo corredor, mal, mal olhando na minha direção. Fiquei um pouco chocada com tanto nervosismo, mas eu o conhecia. Era melhor deixar quieto por hora.

   Ignorei os dois e fui para a quadra, ainda descontente em ter que fazer aquela aula. Boris, por outro lado, irradiava alegria. Só podia significar que era alguma atividade mirabolante.

   – Bom dia, meus queridos. Hoje vamos trabalhar com um dos esportes mais bonitos da atualidade, ginástica acrobática. Vão precisar trabalhar em pares para isso. Sugiro que trabalhem em casais por questão de peso, mas se quiserem se testar mais ainda, sintam-se à vontade.

   A última coisa que eu queria era ter que ser carregada por alguém, menos ainda os dois fumegantes em quadra. Acabou que Nathaniel foi fazer com a irmã e Rosalya assumiu a responsabilidade por Lysandre. Acabei sobrando, para ser realista, até Kentin brotar do meu lado.

   – Os últimos? – Perguntei, lembrando dos jogos de queimada na escola onde nós sempre éramos os últimos escolhidos.

   – Como sempre. – Sorri com a resposta, voltando a prestar atenção em Boris. Ele nos explicou as poses que teríamos que fazer. Suspirei, desanimada. Kentin me olhou.

   – De onde ele tira essas ideias, hein? – Perguntei, girando os ombros. Era tudo bem básico, mas a maioria era baseada em se apoiar quase inteiramente na dupla. E alguém no meu tamanho claramente não se sentia muito confortável em depender de alguém para te segurar.

   – Hum, até que é tranquilo. Quando quiser começar... – Quis responder nunca, mas me segurei e comecei a fazer a pose.

   Foi extremamente caótico e patético. Kentin até tentava demonstrar que conseguia segurar mais do meu peso, e eu nem duvidava, mas que me faltava coragem, faltava. E aquilo me frustrava mais e mais, mas acabei deixando de lado assim que a aula acabou. Tinha coisa mais importante para resolver.

   Lysandre olhou na minha direção e eu simplesmente apontei de leve com a cabeça para a porta. Ele desviou o olhar e foi se trocar. Fiz o mesmo.

   – Que palhaçada foi aquela? – Perguntei assim que cheguei ao jardim. Ele ainda estava emburrado. – Lys eu te falei para deixar quieto.

   – Por que eu quem fiz qualquer coisa? – Ele se desviou, me fazendo revirar os olhos.

   – Sério? Lys, por quê? O que você fez para deixa-lo naquele estado? Ele só fica puto daquele jeito quando discute sério com o Castiel.

   – Eu falei que ele precisava arrumar uma namorada.

   – O que? – Perguntei, um pouco risonha. Tanto pelo choque que aparentemente congelou minhas bochechas, mas por graça mesmo. Aquilo lá era motivo de briga?

   – Ele começou a falar de você nos vestiários com o Armin...

   – Oi? Lysandre, eu preciso de detalhes.

   – Seu vestido claramente agradou ao público masculino num geral, não fui só eu.

   Eu abri minha boca para responder, mas Rosalya surgiu do nada, já segurando meu braço. Lysandre respirou fundo.

   – Incomodo?

   – Nunca. – Respondi, Lysandre concordou. Ela sorriu, lisonjeada. – Posso ajudar?

   – Eu pensei em ir para casa tomar um banho, você não? Meu cabelo está todo suado.

   – O meu também. Não pensei em ir, mas se você for... A gente continua essa conversa depois?

   – Talvez nem valha a pena.

   Suspirei e Rosalya entendeu que era nossa deixa para ir embora. Deixamos Lysandre e fomos imediatamente para os portões, aproveitando o intervalo. Ela não tardou em começar com as brincadeiras.

   – E sua grande paixão?

   – Você fica ai brincando, mas é bem isso mesmo.

   – Eu sei bem. Vocês dois tem uma tensão sexual que sufoca qualquer um.

   – Rosa! De todo jeito, do que você realmente queria falar? Ou a gente vai começar a falar de coisa que nem existe?

   – Uhum, minta para si mesma. Enfim, eu ia te avisar para ficar ligada. Algumas das meninas parecem ter reparado. Ninguém falou nada de ruim, mas não custa ser cauteloso.

   – E sobre o jogo?

   – Todo mundo percebeu, mas depois de tascar um beijo daqueles no Nathaniel deu pra gente se distrair.

   – Fica quieta.

   – Ora, foi mesmo. Aliás, foi bom?

   – O que?

   – O beijo.

   – Eu não ia dar beijo de língua. Foi ele quem começou.

   – E você deixou. – Ela apontou, como quem não quer nada. Olhei bem para ela, seca. – É normal se sentir atraída por mais de um cara...

   – O “cara” em questão é o Nathaniel.

   – E você nunca foi afim dele? Seja sincera. – Ela ergueu a mão como se já soubesse que eu ia responder não no automático.

   – Sei lá, até teve uma época que eu achava que a gente se daria bem. O que importa é que eu sou afim do Lys, muito obrigada. Vamos?

   Ela concordou e passamos a descer a rua da lanchonete, mudando completamente de assunto. Não demorou para eu estar dentro de casa, debaixo do chuveiro esfregando meu couro cabeludo. Aproveitei para trocar de roupa, vestindo uma saia comprida e uma camiseta qualquer com tênis.

   Rosa voltou direto para a escola, então fui caminhando sozinha. Passei pelo ponto de ônibus quando vi uma cabeleira ruiva já conhecida. Me aproximei, reparando que ela tinha os olhos fixos ao celular.

   – Iris.

   – Ai. – Ela deu um gritinho, bloqueando a tela na mesma hora antes de se virar e ver quem era. – Anna, oi. Que susto.

   – Foi mal. O sinal não vai demorar a bater, você não vem?

   – Já, já sim. Eu só vou pegar uma coisa e já vou. Te encontro lá.

   Concordei e a deixei sozinha, seguindo para a escola. Entrei direto para a aula, dividindo meu lugar com Nathaniel como sempre. Ele ainda estava emburrado, mas ficou na dele. Melhor do que descontar em mim. Não vi se Iris tinha voltado para a escola.

   Assim que o intervalo começou, eu queria conversar com Alexy. Só para fugir um pouco de um Nathaniel e um Lysandre, ambos ainda frustrados com a própria discussão. Encontrei-o com Violette depois de rodar o corredor inteiro, já na sala de artes.

   – Bom dia, Alexy.

   – A menina mais bonita dessa escola chegou.

   – Ué, cadê a Rosalya?

   – Ah, para, ciumenta. – Alguns alunos começaram a entrar na sala, enquanto eu ainda bancava a difícil.

   – Você fez sua escolha, bebê, agora aguenta.

   – Insuportável, embuste.

   – Muito bom ver a amizade de duas criaturas tão joviais. – O professor comentou vendo nossa pequena discussão, parado de frente para nossa carteira.

   – Amizade? Cadê? – Brinquei, e lógico que ele não ia perder a chance.

   – A gente se odeia.

   Ele deu uma risada voltando para a frente da sala. Até Violette deu uma risadinha, vindo dela era o máximo da graça. Sorri para ela, beliscando Alexy sem olhar para ele. A brincadeira acabou assim que a aula começou de verdade.

   Eu gostava do Patrick, a aula era interessante, mas não demorou pra fome bater. E ai, eu só queria almoçar. Quando o sinal finalmente tocou, eu quase corri escada abaixo. Rosalya e Alexy me contiveram, falando sobre alguma marca de maquiagem.

   Entrei na fila sem delongas, com a bandeja em mãos. Rosalya não parecia satisfeita com o cardápio, mas até ai ela nunca parecia. Os dois seguiam conversando, como sempre, mas estavam tão absorvidos que não demorou para eles se separarem de mim. Isso porque a Ambre e sua tropa se enfiaram na minha frente enquanto fofocavam. Revirei os olhos, mas não falei nada. Meus dois amigos iam na frente, sem perceber a atitude do trio.

   Já que eu não ia ter ajuda, me contentei em esperar. Os dois bem que podiam ter olhado para trás, mas agora tanto fazia também. Peguei meu almoço e sai da fila, procurando minha mesa de hábito. Quase do outro lado do refeitório.

   Eu só precisava atravessar um corredor e estaria sentado com meus amigos, meu humor voltaria ao normal. Ou seria o ideal. Meu pé de repente agarrou num obstáculo que eu não consegui ver e eu cai de uma só vez no chão. No chão não, no prato de macarrão.

   O silêncio imediato logo virou uma risada estrondosa, saindo de todos os cantos do refeitório. Tentei respirar fundo, simplesmente me levantar e fingir que tudo estava bem, mas era meio difícil com a cara pregando à molho de macarrão. Tentei mesmo assim, ignorando a humilhação total.

   Meu tênis tinha o solado liso, logo a primeira coisa que aconteceu foi escorregar no molho que tinha se espalhado e me fazer cair sobre meu joelho. Abafei o grito que eu queria dar, de dor e frustração, ouvindo a risada dobrar de volume. Eu só queria que a terra me engolisse e nunca mais devolvesse, enquanto meus olhos enchiam de lágrimas que eu me negava a derramar.

   – Vamos te tirar daqui, venha. – Senti as mãos delicadas no meu braço, me ajudando a me levantar para logo em seguida encontrar o olhar amargo de Priya. – Nunca vi tanta estupidez e maldade num lugar só.

   – Preciso limpar...

   – Quem foi o responsável que limpe. – Ela falou num tom mais alto antes de me arrastar para fora da cantina, para longe dos comentários idiotas que eu já conseguia ouvir.

   Assim que estávamos no corredor meus olhos finalmente cederam e comecei a chorar, calada. Priya me levou ao banheiro do vestiário para tentar me limpar o máximo possível antes de terminarmos nossa refeição na lanchonete lá fora.

   – Tudo bem?

   – Não. – Joguei mais uma bola de papel no cesto, tirando os resquícios de macarrão do cabelo. – Além de toda a humilhação gratuita e da chacota, meu joelho ficou dolorido.

   – Você bateu ele com força no chão. Deveria ir à enfermaria só para checar.

   – Não, vai melhorar. Eu espero.

   – Foi a Ambre, não foi?

   – Você ainda tem dúvidas? Ou ela ou uma das duas ratazanas que a seguem. Vamos comer?

   Ela concordou, caminhando lentamente comigo até a lanchonete vizinha. Evitei ao máximo pensar no joelho dolorido e me sentei logo, de cabeça baixa.

   – E o que você pretende fazer?

   – Sobre o que?

   – Ora, a atitude dela. Sua vingança.

   – Eu fico de fora dessa. Ambre é do tipo que quanto mais você rebate mais ela tenta se provar e atazana mais. A situação entre a gente nunca foi das melhores, mas eu simplesmente não tenho mais idade para ficar nessa. Se ela quer continuar como quando éramos crianças, problema dela.

   – Eu gostaria de pensar como você, parece maravilhoso, mas a ideia de deixar alguém acima de mim me irrita.

   – Priya eu já tive a chance de matar essa menina. Ela é alérgica a castanhas de qualquer tipo, ela só não morreu porque o Nathaniel estava lá. Ela só está acima de mim em ser burra.

   A risada dela encheu o ar e me fez sorrir também. Pedi um sanduíche para matar minha fome enquanto deixava o desabafo silenciar entre nós duas. Ela esperou alguns minutos antes de me perguntar se eu estava melhor. Concordei, sorrindo.  

   – Pensando em algo?

   – Hum? Não, é só...Bom, se o Lysandre estava no refeitório, mas pela falta de atitude imagino que não.

   – E como andam as coisas entre vocês? Segredo, juro.

   – Priya, você não ganharia nada falando disso, confio no seu sigilo. Estamos bem, eu acho. Ele é maravilhoso. Me surpreende que ele tenha se interessado em mim, mas... – Eu não gostava de me diminuir na frente dos outros, mas Priya era boa em ler as pessoas. Ela notaria de todo jeito.

   – Externamente falando, você é uma das meninas mais bonitas da escola, sem exagero meu. Você tem um corpo proporcional, traços delicados, tudo para atrair alguém. E internamente falando, você também é excepcional.

   – Olha, obrigada. – Sorri sem graça. – E você? Sem interesses ainda?

   – Aqui? Não, ninguém.

   – Sério? Nathaniel, Armin, Violette.

   – Violette?

   – Você é bi, não é?

   – Sou, podemos dizer que sim. Eu já tinha falado com você?

   – Não sei, pra ser sincera, talvez tenha. Eu só meio que defini depois do seu discurso na festa.

   – Justo. Não, ela é um amor de pessoa, mas com certeza não faz meu tipo. A ideia te incomoda? Sobre eu...

   – De forma alguma. Eu acredito que atração vai muito além de físico apenas. Eu só não consigo sentir nada por mulheres, mas se você consegue, por que não?

   – Eu sabia que você seria mente aberta. De toda forma, vamos? O sinal já vai bater. – Resmunguei, desanimada de novo. – Eu te garanto que já vai ter passado.

   Concordei. Paguei meu almoço e fiquei de pé, aproveitando a companhia dela de volta até a escola.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Beijos ♥