Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 43
Medo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas ♥ Bom, primeiro de tudo, desculpa a demora, mas eu realmente to penando para me adaptar com todo o estudo e afins. Não é fácil querer ser engenheira .q Em segundo, prepare o coração, capítulo de feels. Avisados estejam, boa leitura :3



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Precisei de mais alguns minutos no meio fio, sentada e tomando goles d'água. Lysandre ficou boa parte do tempo comigo, perguntando ocasionalmente se eu me sentia melhor. Eu concordava, dando um sorriso fraco.

─ Garota, você é impossível. ─ Alexy falou, rindo. Eu sabia que no fundo ele estava se tremendo de preocupação. ─ Sinceramente, se você não existisse a gente tinha que inventar uma, pra dar esse trabalho todo.

─ Vai à merda, Alexy.

─ A princesa ficou nervosa?

─ Faz parte do charme dela, irmão querido. Aliás, existe carinha mais maravilhosa do que a dela? Olha isso. ─ Eu devia ter enxotado Armin antes mesmo que ele tomasse o espaço do meu outro lado, teria evitado aquele mico. Ele passou um braço por meus ombros e com a mão livre se ocupou em apertar minhas bochechas até eu estar com um biquinho pronto. Rosalya riu. ─ Dá até vontade de te dar um beijo.

─ Eu te mato. ─ Foi o que eu tentei dizer, pelo menos. Saiu soprado, mas ele entendeu. Esfreguei a bochecha assim que ele me soltou, evitando olhar diretamente para Lysandre, ainda presente. Ele parecia desconfortável, mais até do que eu.

─ Bom, pelo menos a senhorita conseguiu salvar o papel, então não foi tão em vão assim. ─ Rosalya cruzou os braços, finalmente tornando a discussão mais séria. ─ Bom, podemos entregar para Peggy. Você vai para casa escutar o xingo da sua mãe.

─ Alguém me joga na fumaça de novo.

─ Não fala assim, sua mãe é um doce.

─ Só com você, Armin.

─ É porque ela sabe que a gente vai se casar logo, então…

─ Se acontecer eu aposto que eu fico viúva em três dias.

─ Eu digo que você não aguenta nem dez horas com esse dai. ─ Alexy riu, puxando o irmão pelo braço. ─ Anda, vamos encontrar a Peggy.

─ Sem necessidade. Vim checar Anna. Tudo bem?

─ Eu nunca mais escrevo nada para você.

─ Bom, deixe-me ver. ─ Ela pegou a folha que estava nas mãos de Rosalya e correu os olhos, séria. Muito séria. Até explodir numa gargalhada e apontar para o grupo de pé. ─ Nunca tentem ser jornalistas. Minha nossa.

─ O que foi?

─ Que informação é essa? Aliás, eu nem sei do que vocês estão falando. Só não é absurdamente chato porque alguém no meio de vocês, pelo menos, tem talento para escrever.

─ Espero que seja eu. ─ Comentei, fazendo-a rir mais um pouco antes de concordar. ─ Sinceramente, achei que teriam um pouco mais de eficiência.

─ Então, perdemos? ─ Armin estava vermelho de ódio. Fui obrigada a rir, cobrindo a boca com a mão, desviando o olhar. ─ Ah, não pode ser tão ruim.

─ Lamento, querido. No entanto… ─ Suspense. Peggy adorava fazer aquilo. Ela virou a folha nas mãos, deixando-a na horizontal e correndo os dedos pela beirada. ─ Eu talvez esteja considerando o que tinham me pedido.

─ Vai voltar para o jornal? ─ Alexy já estava pronto para dar o grito da vitória. Peggy fez questão de jogar um balde de água fria.

─ Não disse isso. Pelo menos, não ainda. Bem, valeu o sacrifício de Anna. Boa tarde, meus queridos. Até amanhã.

─ Argh, o que ela acha que a gente é? Se ela queria material de primeira, ela que fizesse.

─ Era o plano, idiota. Bom, eu e meu querido irmão vamos voltar para casa então. Rosa, você vem?

─ É, claro. Até mais, vocês dois.

Acenei, já me preparando para ficar de pé. Lysandre notou a intenção e se levantou antes, esticando uma mão para me ajudar. Aceitei, sorrindo.

─ Obrigada, Lys. Por ir atrás de mim e ficar aqui me vigiando depois. Eu fico te devendo essa.

─ Eu não fiz nada esperando que fosse me retribuir. O obrigada já basta.

─ Bom, então, obrigada. Agora eu tenho que ir encarar a fera de corte chanel. Ela vai surtar.

─ Boa sorte. Tem certeza que pode ir sozinha?

─ Não sinto nada de anormal, fique tranquilo. Tchau, Lys.

─ Tchau, Anna. ─ Deixei-o na calçada da escola e fui embora. É, nem com minha mochila eu me preocupei, mas Nathaniel provavelmente teria pensado naquele detalhe. Fui para casa, tentando me preparar para a tortura. 

─ O que há de errado com você, Anna? Quantas vezes eu tenho que te pedir para tomar cuidado? Philipe. Dá pra me ajudar aqui? Sua filha age como se tivesse seis anos de novo.

─ Foi para ajudar uma amiga.

─ Como morrer ajuda alguém?

─ Mãe, era aspirina. Eu duvido muito que fosse tóxico a esse ponto. E eu não fiquei lá.

─ Eu não ligo, que fosse só vapor d'água. O que importa aqui é que você agiu de maneira irresponsável e criou problemas, mais uma vez. Sabe quão preocupada eu fiquei quando me ligaram?

─ Eu estou bem. Pronto.

─ Anna, pare de rebater sua mãe. Ela se preocupa com você, nós dois. Ficamos felizes que tenha pensado em outra pessoa além de si, mas não justifica ter sido tão descuidada.

─ Irresponsável.

─ Sim. Não foi grave dessa vez, mas você não pode deixar o impulso te dominar assim. Precisa estar viva para ajudar, sabe?

─ Sinto muito.

─ Okay. Okay, não vale a pena ficar discutindo mais isso. Seu pai resumiu bem. Suba pro seu quarto, tome um banho...te chamo quando o jantar estiver pronto.

Fiquei de pé, reparando na forma como minha mãe ficava olhando para o tapete felpudo debaixo de si, e não para mim. Quando me falaram que eu ia ser obrigada a aguentar um tremendo sermão, achei que ia sofrer. Agora eu queria que fosse mesmo só aquilo. Cada palavra dela velava por trás o medo que ela sentia eternamente. O de perder outro filho. Parei no pé da escada e falei de novo.

─ Sinto muito, mesmo.

─ Nós sabemos, querida. Vamos, Lucia, preciso de ajuda na cozinha.

Subi, como ela tinha pedido, tomei meu banho e parei para pensar um pouco. Eles tinham razão em me xingar. Todo mundo. Peguei o celular e digitei o número mais familiar na minha agenda. Ele não demorou muito.

“Peguei sua mochila. Quer que eu deixe ai na sua casa?”

“Não precisa, eu pego amanhã.”

“Como foi?”

“Horrível, como eu sempre esqueço que vai ser.”

“Esquece?”

“Eu com certeza tento. Ah, Nath, você fala que eu sou inteligente, mas eu realmente gosto de fazer uma burrada.”

“Não fala assim, você faz coisas incríveis. Tem certeza que não quer que eu passe ai?”

Tentador, deveras. Eu estava sentindo que precisava de um abraço, e Nathaniel talvez fosse o que estivesse mais próximo de entender como eu me sentia. Ainda assim, respondi.

“Eu vou ficar bem, e já está ficando tarde. Mas obrigada.”

“Quando precisar.”

Desligou depois de garantir que eu ia jantar e dormir logo em seguida. Fiquei um pouco menos chateada depois disso. Todo mundo devia ter um amigo Nathaniel na vida. Era a melhor coisa do universo.

No dia seguinte, a notícia já tinha virado passado. A nova era que Peggy decidira reassumir o jornal, claro que com uma semana sem publicações. Ela precisava de tempo para se por a par dos assuntos. Fiquei feliz por ela.

Foi assim que se passou uma semana inteira. Aulas terrivelmente chatas, a ditadura um pouco menos rígida de Delanay, Bia tentando fingir que não tinha dado um ataque de pânico, e Ambre infernizando minha vida. Alguns empurrões nos corredores cheios, mas não passava muito disso. Acho que elas estavam perdendo a criatividade.

Naquela sexta feira, eu já estava doida para o sinal encerrando as aulas tocar. Nathaniel estava do meu lado, estranhamente inquieto também. Ele tinha dito que precisava descarregar um pouco na academia. E eu confesso que já estava há algum tempo sem treinar pesado, então aceitei ser o ombro amigo.

─ Senhorita Anna. Senhorita Anna. ─ Diretora em sala de aula. Aquilo geralmente era um péssimo sinal. E, quando reparei que ela não estava com a expressão sorridente, nem com a incrivelmente irritada, fiquei mais alarmada ainda. ─ Perdão. Senhorita Wright.

─ Oh, desculpa, eu… ─ Fiquei toda atrapalhada na hora de deixar meu lugar, o que fez o trio maldito dar uma risada um pouco menos que escandalosa. Os cochichos sobre o que eu tinha feito já surgiam, mas até ai, eu também estava me perguntando isso. Segui os passos curtos e rápidos da diretora até sua sala. Hoje, sem cachorro. ─ Hum, senhora Shermansky, eu juro que eu não fiz nada. E o incidente da sala de ciências…

─ Senhorita Wright, acalme-se. Não há nada que tenha feito.

─ Oh. Então, por que estou aqui?

─ Seu pai ligou faz pouco tempo para minha sala, pedindo que eu lhe desse um recado urgente. E pediu para que eu lhe liberasse mais cedo também. Pela gravidade, eu aceitei, claro.

─ Senhora Shermansky.

─ Oh, perdão. Querida, seu pai pediu para que fosse imediatamente ao hospital.

─ Como é?

─ Ele não me deu mais detalhes, querida, apenas pediu que eu fosse compreensível.

─ Como assim não deu detalhes?

─ Bem, ele disse algo sobre sua mãe estar doente e precisar de cirurgia. E querer te ver logo.

─ Doente? ─ Parei para pensar, mas era difícil com o barulho do meu coração martelando. Ela me parecia bem. Digo, ela as vezes se sentia cansada rapidamente, mas não me parecia caso de doença. ─ Doente?

─ Ele me pediu para que não falasse, senhorita, já que vai estar se locomovendo sozinha pela cidade.

─ Eu vou pegar um táxi.

─ Parece que foi encontrado um tumor.

Acabou. O chão com certeza tinha acabado de despencar e eu caíra junto dele. Fechei a boca e fiquei de pé, meio trêmula. A diretora fez menção de se levantar, mas eu agradeci e pedi para ela mesma chamar um táxi para ir até o hospital. E então deixei o escritório e fui buscar minha mochila.

A sala toda me olhou. Tentei disfarçar que estava chorando, mas o nervosismo fazia com que as lágrimas jorrassem. Ajoelhei ao lado da mesa e fui juntando as coisas. Nathaniel esperou que eu falasse algo. Acho que saiu mais alto do que eu queria, mas eu não liguei muito. Na verdade, nem um pouco.

─ Pode ir para o hospital saindo daqui?

─ Anna, o que foi?

─ Por favor, Nath.

─ Yeah. Claro, eu...eu te encontro lá, okay? Vai sozinha?

─ A diretora chamou um táxi. Obrigada.

E deixei a escola. O táxi estava na porta. Eu simplesmente entrei no banco do fundo e resmunguei o endereço. Acho que o motorista já tinha uma noção do destino. Eu fui de cabeça baixa, choramingando. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo. Não era.

Encontrei meu pai na recepção, pronto para pagar a corrida do táxi. Ele estava devastado, e minha cabeça começou a maquinar tudo de pior que ela conseguia.

─ Pai, o que está acontecendo?

─ Respire, meu bem. Está tudo bem. Sua mãe foi atropelada essa manhã.

─ Como é? Ela está bem?

─ Sim, não é o problema. Foi algo leve, mas o motorista insistiu para que ela fizesse uns exames checando tudo e...encontraram.

─ Onde?

─ No seio esquerdo. Mas eles nem tem certeza se é um tumor maligno. Por isso a urgência da cirurgia, eles precisam evitar o pior. Está tudo bem.

─ Você não ligaria se não fosse sério.

─ Sua mãe é quem está apavorada. A cirurgia é simples, mas ela tem mais medo com as anestesias e afins. Eu preciso que você mostre para ela que está aqui e que vai ficar tudo bem. ─ Ele segurava meus ombros. Fechei os olhos, tentando simplesmente absorver aquilo tudo. Ia ficar tudo bem. Tinha que ficar. Mesmo que fosse mesmo um tumor maligno e aquilo fosse câncer e...Não, ia ficar tudo bem.

─ Okay. Cadê ela?

─ Ela já ficou lá em cima no quarto, esperando para ir para a cirurgia. Vem, eu te levo.

Aquela era uma cena que eu nunca queria ter vivido. Por mais que tudo fosse ficar bem, e meu pai me dissesse constantemente que não era nada grave, vê-la numa camisola hospitalar e com o rosto tão pálido fez meus olhos se encherem de novo. Ela sorriu para mim, segurando meu rosto com as mãos.

─ Oh, meu amor, eu queria tanto ver esse rostinho lindo. Minha linda.

─ Mãe…

─ Seu pai te disse que eu estou bem, não é? Vamos só rezar, okay? Você sabe que eu não sou de perder luta. ─ Ela secou meu rosto, deixando o próprio começar a se molhar. ─ Eu amo vocês. Eu amo você. Eu não posso ir para a mesa de um doutor com o rosto inchado.

Fui obrigada a rir no meio do choro. Sentir aquele abraço me deu a certeza de que ela não ia se deixar abater e que ia encarar tudo que viesse. Ao mesmo tempo, fez com que meu medo parecesse maior ainda, que a chance de perder mais alguém fosse mil vezes mais real.

Ela foi chamada e lá se foi, um pedacinho do meu coração, junto dela. Meu pai disse que ia até a recepção acabar de preencher a documentação e eu fiquei no corredor, sentada numa das cadeiras de plástico azul.

─ Anna. Meu Deus, o que aconteceu?

─ Ei, Nath.

─ Eu não entendi muito bem a mensagem, você mandou tanta coisa que eu me perdi.

─ Já tem mais de uma hora que a cirurgia começou. É a parte que importa.

─ Deve estar tudo bem, então. Como você está?

─ Apavorada. Como eu não estive em anos.

─ Ei, tia Lucia é forte, você sabe disso. Vai ficar tudo bem.

─ É bom mesmo que fique. Nath, se acontecer alguma coisa, eu...Eu não vou conseguir. Eu não posso perder mais alguém assim.

─ Opa, não vai acontecer nada. Tenha um pinguinho de fé que seja.

─ Eu confesso que minha fé ficou bastante abalada desde o acidente.

─ Mas não sumiu por completo. É para isso que serve.

Eu quis responder qualquer coisa, mas ele simplesmente me prendeu num abraço. Quando foi que eu me levantei? Escondi o rosto entre o pano de sua camisa e seu pescoço, pouco me importando se aquilo ia deixá-lo com o pescoço todo sujo de catarro. E acho que ele não ligou também.


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Notas finais do capítulo

Sinceramente, eu praticamente desmoronei escrevendo isso, então peço perdão de antemão se tiver aquele famoso errinho. E para um desabafo desnecessário (pelo menos para vocês) desde que eu comecei a pensar nessa fanfic, eu imaginei um capítulo assim, pelo simples fato de algo parecido ter acontecido na minha vida. Sem expor muito da minha vida, mas deixando um momento aqui esclarecido, minha mãe teve câncer, já há muito tempo. Em resumo, ela se curou depois de anos de tratamento (quimio, radio, remédio, depois de uma cirurgia cuja marca ela carrega até hoje) Eu era bem mais nova, mais criança. E sinceramente, eu não sei explicar muito bem como eu lidei. Eu sei que esse é o tipo de doença que, no fim das contas, acaba cruzando o caminho de todo mundo, mesmo que seja apenas em um parente distante e que você mal mantenha contato. O importante, é que se tenha noção de que nem tudo está perdido. Coragem e perseverança não podem faltar, e eu simplesmente preciso deixar por extenso que eu simplesmente amo minha mãe. E acima de tudo, eu amo que ela sempre lutou. E eu amo e admiro todo mundo que passe ou enfrente algo parecido, e que saiba que tem meu total apoio.
Ufa, chega de choro. Um beijo, queridos, até o próximo. Com menos, lágrimas, prometo!