Somebody that I used to know escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 1
Meu melhor amigo/Meu maior inimigo


Notas iniciais do capítulo

One-shot dedicada a todos os traidores que existiram muito tempo atrás em galáxias muito distantes e ao Panigassi, que sempre quer que eu escreva, mesmo com meus atrasos e acúmulos de projetos. ♥



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Eu me lembro de quando a Primeira Ordem nos recrutou. Éramos centenas de crianças sem nome, e em breve sem rosto. Contudo, todos nós tínhamos ordens para seguir. Aulas de tiro, aulas de combate, treinos com armas giratórias.

Tirando o nosso número de identificação, nada era verdadeiramente nosso. Tudo o que tínhamos pertencia à Primeira Ordem. Exceto a nossa amizade. Ele era o FN-2187. Poucas vezes tínhamos visto o rosto um do outro. Não era necessário. Nós nos conhecíamos muito bem. Nossos estilos eram parecidos. Quando possível, ajudávamos um ao outro. Nos serviços da nave, escoltas e vigílias. Eu achei que duraria para sempre.

Tudo mudou quando ele saiu em missão. Sua primeira missão. Se eu pudesse ver os seus olhos através dos nossos capacetes, diria que estariam brilhando de empolgação. Aquele, provavelmente, foi o meu primeiro engano a respeito dele. Porém, meu coração ignorou aquele instinto de que havia algo errado e preferiu acreditar que ele ainda era um de nós.

FN-2187 nunca voltou de Jakku. Assim que subiu na nossa nave, com o capacete manchado de sangue, perguntei o que tinha acontecido. 2187 nada me disse. Se escondeu em algum lugar, onde, como eu soube depois, desobedeceu às normas e removeu o capacete, recebendo uma repreensão da capitã Phasma.

Talvez eu tenha errado. Deveria ter conversando com ele. Perguntado o que havia. Mas decidi lhe dar algum espaço. Com o tempo, ele voltaria ao normal e voltaríamos a integrar tão orgulhosamente a linha de frente da Primeira Ordem. E foi quando eu me enganei novamente sobre o meu amigo.

Em uma atitude ousada, e levemente habilidosa devo reconhecer, ele libertou nosso prisioneiro, um piloto da Resistência, e fugiu com o mesmo em uma das nossas naves de caça.

Me lembro de atirar, em vão, contra o caça, na esperança de impedi-lo de partir. FN-2187 quase me atingiu enquanto disparava contra tudo o que via na tentativa de ganhar tempo para sua fuga. Me convenci de que tinha sido acidental. De que algo tinha acontecido a ele em Jakku. Alguém tinha feito alguma coisa a ele. Mas eu sabia, no fundo do meu coração, que ele fazia aquilo de acordo com a própria vontade.

E, em um rápido e sujo pensamento de traição, me perguntei porque ele tinha escolhido o piloto, aquela escória rebelde, em vez de mim.

Tive notícias de Jakku. FN-2187 já tinha mais companhia. Mais amigos. E eu estava sozinho. Sozinho e desolado. Tudo o que me restava era a lealdade à Primeira Ordem, e nesse sentimento me agarrei.

Agora, nós encontramos em Takodana. Ele não me viu, e se visse, como reconheceria? Meu amigo está morto, e estou diante de um estranho. Um estranho com um rosto que me trazia tantas sensações boas e familiares, mas, ainda assim, um estranho. E um inimigo.

Diferente do meu amigo FN-2187, esse Finn utiliza um sabre de luz azul. A cor dos Jedi, inimigos da Primeira Ordem. Meus inimigos.

– Traidor! – Eu grito. Finn se vira para mim em tempo de me ver largar o escudo e sacar a minha arma elétrica, girando-a. Eu vejo em seu olhar que ele me reconhece, mas não há palavras dele para mim, nem palavras minhas para ele. Não há nada mais a ser dito. Nossa amizade já morreu. E agora, um de nós irá junto. Para sempre.


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