Do Outro Lado escrita por Shakinha
Barty Crouch Jr não sabia como fora parar naquela rua deserta. A única coisa que sabia, é que estava andando ali há horas e não via ninguém. As casas pareciam antigas e desabitadas e não havia o menor sinal de pessoas. De certo modo, para ele, aquilo parecia irreal, mas ele tinha certeza de que estava lá. O rapaz andava em linha reta, seguindo a rua. Por quê? Ele não sabia.
Andou até bater em algo sólido, mas invisível. Ele percebeu uma parede de vidro que fechava a rua, isolando dali para frente. Crouch não conseguia enxergar o final da rua, além da parede de vidro, mas pôde distinguir uma pessoa caminhando em sua direção. Finalmente alguém aparecia naquele lugar estranho. Ele reconheceu o outro rapaz quando ele se aproximou mais.
- Regulus...
Regulus Black andou até tocar o outro lado do vidro. Pálido e delicado, como da última vez que Barty o vira. E ele tentava se lembrar de quando fora isso.
- Barty...
Crouch percebeu que a parede era fina, vendo seu velho amigo e amante tocá-la do outro lado.
- Regulus, o que está fazendo aí? Como foi parar aí? E que lugar é esse?
O moreno deu um sorriso triste.
- Tantas perguntas, Barty. Eu também as faço.
Estavam frente a frente. O loiro colocou a mão no vidro, de modo que sua palma ficasse na frente da de Regulus. Como se pudessem se tocar.
- Há tanto tempo te procuro, Reg. Você desapareceu. Você se esqueceu de nós?
O outro não respondeu, apenas olhou para baixo.
- Tínhamos planos. Íamos ser grandes. Estávamos juntos nessa. Por que você simplesmente sumiu e me deixou para trás?
Algumas lágrimas escorriam pelo rosto de Barty e ele notou que muitas mais molhavam o rosto de Regulus.
- Me desculpe... Eu não esqueci. Você tem razão, estávamos juntos nessa. Mas esse não era o meu destino.
- Do que está falando?
Nenhum deles se mexeu. As mãos ainda juntas, separadas pelo fino vidro. Barty fitava Regulus, mas ele continuava olhando para baixo.
- Eu te amava, Barty. Mas não podia continuar. Não era para mim.
- Regulus, por favor... Onde você está?
Ele levantou a cabeça, fazendo com que seus olhos acinzentados olhassem diretamente nos castanhos do outro.
- Você não pode me encontrar, Barty. Não estou mais ao seu alcance.
- Quer que eu desista de você, assim como você desistiu de mim?
- Eu não desisti de você. Apenas não podia mais andar na mesma direção que você. Eu tinha que tomar uma atitude.
Barty socou a parede com a outra mão. Não se atrevia a soltar a mão de Regulus. Apesar de ser fino e parecer que se quebraria com aquele movimento, o vidro não se alterou. Regulus se assustou com o movimento brusco.
- E isso quer dizer o quê? Não muda o fato de que você deixou a nossa causa! Pior, que você me deixou!
- Barty...
- Acabou de dizer que me amava. Era verdade?
- Você sabe que sim.
- Então por quê?
Regulus balançou a cabeça, num gesto negativo.
- Você estava cego, Barty. Cego pela causa. Eu, tolo, te seguia. Quando abri meus olhos, vi que nunca conseguiria abrir os seus. Foi então que algo aconteceu e eu tomei a decisão mais difícil da minha vida.
- O que aconteceu?
- Não posso te dizer.
Ele olhou para baixo, pensando nas palavras que acabara de ouvir. Sem coragem de voltar a fitar os olhos de Regulus, perguntou:
- E que decisão foi essa?
- A decisão que nos separou. Para sempre.
Ele arregalou os olhos e levantou a cabeça depressa. Regulus estava sério do outro lado, o rosto molhado pelas lágrimas.
- Para... Sempre?
- Eu sinto muito, Barty.
De repente, o vidro se espatifou. Mil pedaços caíram em cima de Barty, mas ele não sentiu nada. Quando olhou adiante, viu que Regulus desaparecera.
- Regulus! Não!
Então, tudo ficou escuro.
Barty se sentou na cama, assustado. Acordara de repente por causa daquele sonho estranho. Olhou para a própria mão, a mesma que tocara o vidro onde estava a mão de Regulus. De certo modo, aquilo lhe parecera tão... Real.
- Regulus... Então é isso.
Ele entendeu que não podia ir do outro lado do vidro. Regulus estava morto. Barty não sabia como, não sabia por quê. Ele não abandonaria a causa, seguiria em frente mesmo sem o outro. Apenas tinha certeza de uma coisa: jamais esqueceria Regulus, nem o amor que viveram juntos.
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