Meu final de dia foi muito tumultuado. Havia muito trabalho para fazer e meus pensamentos estavam longe. Eu não conseguia parar de pensar em Chris e seu comportamento para comigo. Ninguém nunca havia feito comigo o que ele fez. Me obriguei a parar de pensar naquilo e voltar ao trabalho.

No final do dia fiquei contente ao saber que havia conseguido terminar tudo o que eu tinha para fazer. Guardei minhas coisas em minha mochila, desliguei o computador, me despedi dos companheiros de trabalho, bati o cartão de ponto e fui em direção ao ponto de ônibus.

Por sorte o ônibus não demorou a passar e ainda estava vazio. Consegui me sentar em uma cadeira e a primeira coisa que pensei foi em retomar a leitura que Chris havia me interrompido. Quando abri o livro, um pequeno papel retangular caiu de dentro dele. Uma moça sentada em outra cadeira o pegou e o entregou a mim. Não me lembrava de ter deixado um marcador de página em meu livro, mas ao pegar o papel percebi o que ele realmente era.

Se quiser conversar...

97556-5663

Chris

Eu definitivamente estava surpreso. De repente surgiu um mim um sentimento de raiva. Pensei em jogar o papel fora, mas alguma coisa em mim me impediu. Então apenas o guardei no bolso de minha camisa e tentei voltar a minha leitura, coisa que definitivamente não consegui. Eu sempre me pegava pesando na ousadia de Chris e tinha que voltar ao início da página para tentar entender o que eu estava lendo. Irritado, eu apenas fechei o livro e o guardei em minha mochila. Fechei os olhos e cochilei até chegar ao lugar em que eu descia do ônibus.

Ao sair do ônibus, fui o mais rápido possível para minha casa. Só queria esquecer o que eu havia passado no dia com um bom e demorado banho. Ao chegar em casa, cumprimentei minha mãe e meu pai. Vi meu irmão jogando Xbox, então resolvi não atrapalha-lo. Peguei minha toalha e fui direto para debaixo do chuveiro. A água quente descia sobre meu corpo me acalmando, me deixando mais leve e me fazendo esquecer – mesmo que momentaneamente – o que eu havia passado.

Ao sair do banho, olhei-me no espelho e vi uma expressão mais calma, mas ainda confusa em meu rosto. Meus cabelos negros estavam bagunçados, então peguei a escova e os endireitei do mesmo jeito que sempre fazia – para os lados –. Saí do banheiro, atravessei o corredor de minha casa e fui até o meu quarto. Sentei em minha cama e peguei meu celular. Não havia nenhuma mensagem no Whatsapp, muito menos no Facebook. Não me surpreendi, pois nunca fui um cara popular. Talvez seja por eu sempre ter sido uma pessoa tímida, ou talvez seja por eu nunca ter tido interesse em divulgar minha vida nas redes sociais como as outras pessoas. Rolei o feed de notícias de meu Facebook para baixo e vi uma foto de minha ex-namorada, Samantha. Ela estava abraçada com um cara que havia sido da minha turma quando eu ainda estava na escola. Na legenda podia se ler um “I love you forever!”. Ler esta legenda acabou me deixando chateado, pois a praticamente dois meses antes daquele dia ela havia dito a mesma coisa para mim. Eu não entendia e acho que ainda não entendo como as pessoas podem amar uma pessoa a cada mês. É realmente muito estranho.

O nome do garoto que estava abraçado com Samantha era Alex. Me recordo que ele era famoso por ter ficado com várias garotas em uma festa de fim de ano da escola. Ele já era pai de dois filhos, que por acaso eram de mulheres diferentes. Me perguntei em pensamento o que ela havia visto nele e porque a maioria das mulheres preferem os homens que só querem uma transa, do que os homens que as valorizam de verdade.

Pensar naquilo me deixou irritado, então fechei meu facebook e abri o whatsapp. Apenas uma pessoa me interessava para conversar. O nome dela era Carol, uma amiga distante. No passado ela havia estudado comigo durante quatro anos seguidos, mais infelizmente ela teve que se mudar para o interior.

Carol era a única pessoa com quem eu tinha coragem e liberdade de dizer o que eu quisesse e contar todos os meus segredos. Não havia mais ninguém que conseguia me entender e me dar os melhores conselhos como ela, mas para o meu desgosto ela não estava online naquele momento.

– Oi, quando estiver online, me chame!! – Digitei e mandei para ela –

Não me restava mais nada a fazer, então deitei em minha cama e olhei para o teto. Fiquei ali por alguns instantes até me recordar da conversa que eu havia tido com Chris. Eu ainda não havia entendido o porquê dele ter puxado assunto comigo em meu horário de almoço, não havia entendido o porquê dele ter me elogiado, não havia entendido o porquê ele deixou seu telefone em meu livro. Na verdade era quase óbvio o porquê dele agir daquele jeito, mas eu não queria admitir aquilo.

Com a curiosidade cada vez ficando mais forte, corri até o banheiro, peguei a blusa que eu havia usado no dia e retirei do bolso o pequeno papel, agora amassado, que estava escrito o telefone de Chris.

Corri novamente ao meu quarto e peguei meu celular. Digitei o número e salvei nos contatos. Abri o aplicativo de mensagens, atualizei a lista de contatos e plim. Lá estava o contato de Chris. Na foto ele estava sorrindo e com o mesmo brilho nos olhos de quando eu o havia visto.

Meu coração disparou. Um turbilhão de perguntas começou a se formar em minha cabeça. Sim ou não? Devo ou não devo enviar uma mensagem para ele? Porque eu deveria mandar uma mensagem para ele? Fiquei em dúvida por alguns minutos, mas acabei que decidi tomar coragem e perguntar de uma forma “ignorante” o porquê dele ter deixado o número do celular em meu livro. Toquei na caixa de digitação, logo o teclado se abriu e com isso digitei a mensagem.

– Porque deixou seu número em meu livro? – Mensagem enviada. O frio em minha barriga novamente se materializou. O que ele responderia? A dúvida em minha mente me atordoava. Eu não sabia porque estava tão nervoso. Eu olhava de segundo em segundo para ver se havia alguma resposta, mas sempre que olhava não havia nada além de minha mensagem.

Respirei fundo e fechei o aplicativo. Concluí que não havia motivo para tanto nervosismo e ansiedade. Bloqueei a tela de meu celular e o coloquei o mais longe possível de mim. Para me distrair, decidi assistir algum filme. Peguei meu notebook e o liguei. Mas alguns instantes depois do filme começar, ouvi um barulho de mensagem chegando em meu celular.

Meu coração disparou, fui até meu celular e o peguei. Era o que eu esperava. Chris respondera minha mensagem.