Collision Course escrita por rhy


Capítulo 1
Prólogo - O Começo do Fim


Notas iniciais do capítulo

Então................. Acho que eu me animei demais para um primeiro capítulo, mas, é. Os capítulos da fic provavelmente vão ter o mesmo tamanho, espero que gostem tanto quanto eu! Caso gostem da estória, deixem um comentário, significaria muito para mim [insira aqui emoji da carinha com dois corações nos olhos].



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144 horas atrás, duas raças alienígenas revelaram viver entre nós.

144 horas atrás, uma batalha entre as duas quase destruiu toda Nova York.

144 horas atrás, o mundo enlouqueceu.

(...)

Talvez o dia de hoje estivesse ensolarado.

O Sol estaria a pino, esquentando a água dos rios e derretendo o sorvete de alguma criança. O céu, de um azul brilhante, estaria límpido, e quase nenhuma nuvem conseguiria ser avistada. O clima, provavelmente, estaria agradável e as ruas de Nova York não estariam tão congestionadas — um dia perfeito para um passeio no Central Park com a família.

Ou talvez não.

Talvez lá fora estivesse frio e assustador, com nuvens pesadas e negras cobrindo todo o céu, mostrando para nós como eram imponentes. Talvez o dia estivesse tão gélido que assustasse qualquer um a sair do aconchego de seu lar, e fizesse com que as pessoas buscassem refugio em suas casas quentes e secas. Talvez a paisagem estivesse tão inóspita, tão cinza, que o dia provavelmente seria marcado por desconfiança e temor.

No entanto, a verdade era simples e bastante direta: eu não faço ideia de como as coisas estão lá fora.

Desde que a “Grande Batalha de Nova York” – como está sendo chamada por todo o globo – destruiu quase toda a cidade e revelou a existência de alienígenas entre nós, eu havia me confinado em casa. As ruas de Nova York, até uma semana atrás tão movimentadas e caóticas, estão completamente desertas e bombardeadas. Aqueles que tinham juízo arranjaram um jeito de sair da cidade e refugiar-se no interior, ou até mesmo em outros países, enquanto outros pobres condenados como eu haviam se trancado em casa e rezado para que nenhum mogadoriano irrompesse pela porta da frente pronto para se juntar a você no café da manhã. As patrulhas mogadorianas estavam cada vez mais frequentes, fazendo prisioneiros e matando os que se rebelavam, contudo, as coisas estavam mais calmas desde que a grande nave parou de sobrevoar Manhattan – algo que eu pensava estar relacionado ao fato de que o garoto loiro, John Smith, havia saído da cidade.

E pensar que eu imaginava que o meu maior problema esse ano seria lidar com as líderes de torcida.

Bocejando, eu arqueio minhas costas ao mesmo tempo em que estiro meu braço esquerdo sobre minha cabeça, o suave barulho dos meus ossos estalando preenchendo todo o cômodo. Meu cabelo castanho está atipicamente preso por um rabo de cavalo – que agora está quase irreconhecível, apenas uma confusão de nós e fios entrelaçados –, uma tentativa ligeiramente falha de fazer com que ele não acabasse esparramado pelo meu rosto enquanto eu dormia. Não me incomodo em caminhar silenciosamente quando saio da cama e me dirijo à cozinha, pisando com força sob o assoalho desgastado, fazendo um som irritante que ecoa pela casa inteira durante alguns segundos.

Desço as escadas rapidamente e não me preocupo em trocar meu pijama de ursinhos por uma roupa apresentável, muito menos ajeitar meu cabelo indomável. Preguiçosamente, abro a geladeira e solto um suspiro contrariado quando percebo que a comida começava a ficar escassa — o que significava que, mais cedo ou mais tarde, eu teria de ir ao supermercado e enfrentar o que quer que estivesse acontecendo do lado de fora.

Tentando ao máximo poupar o restante de comida que tinha, pego uma maçã tão avermelhada quanto a cor de meu sangue e encho um copo de leite até a boca, sentando-me à mesa da cozinha logo em seguida. Rolo meus olhos pelo cômodo e, quase que por força do hábito, os deixo cravados nas cadeiras vazias onde meus pais costumavam sentar todas as manhãs. Balanço minha cabeça afim de me livrar de tais pensamentos e desvio minha atenção do local, mas não sem antes sentir uma lágrima solitária escorrer sorrateiramente pelo meu rosto. A última vez que eu vira minha família fora durante a batalha, quando uns adolescentes que aparentavam ter mais ou menos a minha idade decidiram imitar a Liga da Justiça e tentar lutar contra um exército mogadoriano que atacava civis sem piedade.

Eu ainda consigo reviver todo aquele dia caótico muito vividamente, como se a cena estivesse acontecendo bem diante dos meus olhos. Cada mísero detalhe, cada pequena expressão presa no rosto de alguma pessoa que esbarrava em mim; estava tudo memorizado e sem planos de deixar meus sonhos tão cedo.

Era um dia como qualquer outro. Lembro que tinha ido ao centro da cidade visitar meus pais, que quase nunca passavam um tempo em casa. No começo, estava tudo tranquilo — não fosse pelo trânsito infernal e as pessoas tipicamente irritadas. No entanto, poucos minutos depois, o caos se instaurou. Nova York, a cidade que ficou conhecida por suas luzes, queimava com uma intensidade que era impossível capturar em palavras.

Prédios colapsavam, carros pegavam fogo, pessoas gritavam e corriam para todos os lados, apavoradas. Uma nave alienígena passou a bombardear diversos quarteirões de Nova York, mas eu não conseguia ouvir o som das bombas se chocando contra o chão; eu ouvia os gritos quase animalescos que escapavam da boca das vítimas, apenas durando alguns segundos antes de silenciarem-se por completo. Parada praticamente no olho do furacão, vi quando algumas pessoas abandonaram seus carros sem remorsos e decidiram correr por suas vidas; muitas esbarravam em mim, gritando para eu sair do caminho, mas mesmo que eu tentasse, eu não conseguia me mover. Era como se minhas pernas estivessem coladas no lugar, estáticas.

Tanta fumaça. Tanta morte. Tanta destruição.

Nova York está perdida.

E então, no meio de todo aquele desespero, eu os vi. Meus pais, vestindo suas típicas roupas empresariais e um colete à prova de balas, corriam em minha direção. O cabelo castanho de minha mãe estava bagunçado e ela tinha uma expressão preocupada, enquanto meu pai destravava uma arma que até então eu não havia percebido que ele segurava e posicionava o dedo no gatilho.

— Brooklyn, o que você está fazendo aqui?! — minha mãe tentou falar por cima dos gritos quase inumanos.

— Eu... Eu vim fazer uma visita... — balbuciei, surpreendendo-me em conseguir formular uma frase com sentido.

Ao mesmo tempo em que conversávamos, a apenas alguns metros de distância de onde estávamos parados, uma nave mogadoriana começou a pousar e liberar diversos soldados que se assemelhavam a humanos. Contudo, eles eram altos demais para a estatura média, e a pele era de um tom pálido que lembrava uma folha de papel. A armadura que vestiam, preta e assustadora, entrava em contraste com a paisagem em chamas, e eles rapidamente viram-se para os civis e abrem fogo para todos os lados, sendo seguidos por um monte de criaturas que descem da nave juntamente com eles.

Entretanto, antes que eu pudesse ter uma melhor visão dos monstros, minha mãe puxou minha cabeça em sua direção, colocando meu rosto entre suas mãos em um gesto maternal e protetor.

— Brooklyn, eu preciso que você preste atenção em mim e faça exatamente o que eu mandar, está bem? — ela esperou por uma confirmação de que eu estava ouvindo. Fiz que sim com a cabeça. — Você vai dar meia volta e vai correr como se sua vida dependesse disso, por que depende. Você vai chegar em casa e trancar todas as portas e janelas, e vai esperar por nós lá. Não olhe para trás e não tente voltar por nós, estou sendo clara?

— Mas mãe...

— Eu perguntei: estou sendo clara, Brooklyn?

— Sim, mãe. — assenti contra minha vontade.

— Ótimo, agora corra. — minha mãe deu um beijo em minha testa e voltou-se para a batalha. Quando eu finalmente comecei a correr, ela gritou uma última vez: — Aconteça o que acontecer, não saia de casa até voltarmos!

E assim eu o fiz por quatro dias inteiros.

No quinto dia, eu já estava menos confiante de sua volta milagrosa e mais curiosa para saber o que se passava ao meu redor.

No sexto dia, eu finalmente pego meu casaco jeans que estava sempre em cima do pendurador de roupas, na sala, termino de comer minha maçã e abro a porta.

(...)

Não sei o que eu esperava encontrar quando abrisse a porta e me deparasse com Nova York, mas definitivamente não é isso.

Todo o bairro que se revela diante de meus olhos aparenta estar desabitado — e provavelmente está, mas todo cuidado é pouco. As casas e apartamentos que não estão completamente destruídos estão quase ruindo: sem janelas, sem portas, sem gramado e muito menos jardim, é como estar em um episódio de The Walking Dead, observando o mundo pós-apocalíptico erguer-se diante de mim.

Ando pelas ruas silenciosamente, de vez em quando tendo que escolher outro caminho até o supermercado graças a uma transversal que foi completamente explodida ou um trecho da calçada que foi comprometida por causa de fios de eletricidade ricocheteando o ar. Diversos postes estão caídos e muitos outros afundados no solo, que já não se encontra em boas condições. A calçada está cheia de fissuras e praticamente deformada pelos canos de esgoto que se projetam para fora do concreto.

Depois de cerca de meia hora consigo chegar ao supermercado, um trecho que, em qualquer outro dia, eu completaria em menos de dez minutos. As luzes da loja piscam sem parar, e o vidro da entrada está todo estilhaçado. Muitas prateleiras estão caídas, e as que não estão encontram-se quase vazias. Pego o que preciso por pelo menos mais duas semanas e tento encontrar uma cesta — ou até mesmo um carrinho — para colocar tudo aquilo. Quando chego perto da caixa registradora, ouço passos atrás de mim e sinto todos os meus músculos gritarem para que eu saia correndo.

— Ei, garota, você sabe exatamente onde nós estamos? — ouço uma voz masculina perguntar por detrás de mim, e por alguns segundos me permito relaxar. Não é uma voz assustadora ou robótica, é simplesmente um garoto tão perdido quanto eu. Viro-me em sua direção, feliz por encontrar outro humano como eu, e quase me permito sorrir. — Quer dizer, eu sei que estamos em um supermercado, isso é óbvio, mas em que bairro exatamente?

— Brooklyn. — respondo quase que imediatamente, sem conseguir me conter. O garoto na minha frente aparenta ser apenas um pouco mais velho que eu, com ombros largos e músculos que se sobressaem em sua camisa manchada de fuligem. Ele também tem cabelos negros desgrenhados um tanto quanto longos e olhos que parecem ter uma fagulha de encrenca. Seu corpo está cheio de escoriações e ele parece cansado. — Ou pelo menos o que sobrou dele. — acrescento, dando de ombros.

— Brooklyn? — ele pergunta confuso e eu quase viro em sua direção com a menção de meu nome, só então percebendo que não era de mim que ele falava. — Ótimo, fomos deixados para trás, Stanley. — o garoto resmunga e, como se soubesse que estava sendo chamado, um gato gorducho sai detrás de uma das prateleiras, espreguiçando-se ao chegar perto do garoto.

— Ok, certo... — mudo de assunto, voltando-me para a saída. — Eu preciso mesmo ir... — começo, mas, na mesma hora, um estrondo sacode todo o supermercado e eu preciso me segurar no caixa para não cair com o restante das prateleiras.

O garoto faz uma careta irritada e tira o que parece ser um tubo da parte de trás da sua calça jeans. Ele dá um sorriso mostrando todos os dentes para mim e diz: — Lá vamos nós de novo.

O tubo então se expande até atingir mais ou menos dois metros e ficar vermelho, com diversas navalhas saindo de sua ponta. Eu o encaro, completamente absorta pelo que acabou de acontecer.

— Mas que merda acabou de acontecer? — solto, irritada com o fato de que o mundo inteiro estava enlouquecendo e eu parecia ser a única pessoa sã no meio de toda aquela confusão.

Quer dizer, quem é que sai de casa para dar uma volta no quarteirão com um bastão de dois metros cheio de navalhas?

Pensando bem, na situação em que estamos, eu provavelmente deveria ter feito o mesmo.

— Sem tempo para explicações... — ele espera até eu perceber que quer saber meu nome.

— Brooklyn.

— Também? — pergunta divertido, um sorriso travesso pintando seus lábios carnudos. — Bom, Brooklyn que mora no Brooklyn, eu preciso que você corra na direção oposta em que eu for, pode fazer isso? — o moreno pergunta ao mesmo tempo em que outra pancada quase me derruba. De novo.

Aparentemente tudo que eu venho fazendo nesses últimos dias é correr, então por que ir de contra, certo? Faço que sim com a cabeça e então seguimos para fora do supermercado.

A princípio, não vejo nada demais. A rua está deserta e eu diria que tudo estava normal se não fosse pelo chão tremendo de instante em instante, como se João tivesse decidido plantar um pé de feijão em meu bairro e deixar um gigante muito puto.

No entanto, depois de alguns segundos, uma criatura aparece em meu campo de visão. Ela está há uns vinte metros de distância, mas mesmo assim consigo ver que está furiosa e que deixa um rastro de destruição por onde passa. O monstro tem cerca de 900 metros de altura, olhos vermelhos cor de sangue e dentes afiados, grandes demais para caber dentro de sua própria boca, além de quatro pernas projetadas em um ângulo um tanto quanto estranho.

É, por falta de uma palavra melhor, aterrorizante.

— Corra! — O garoto aconselha, e assim que ele o faz o seu gato começa a transmutar-se ao meu lado, dobrando de tamanho e emitindo gritos animalescos sufocados.

Assustada demais para discutir, eu corro como nunca em toda minha vida. Depois de alguns metros, quando chego ao segundo quarteirão, meus pulmões queimam e imploram por oxigênio, e sou obrigada a parar contra minha vontade. Planejo continuar correndo, mas logo ouço o chão começar a tremer de novo, e dessa vez sei que nenhum garoto com um tubo estranho e seu gato gorducho estarão aqui para salvar o meu traseiro.

Tento correr novamente, mas um passo da criatura acaba afundando o lado frágil da calçada em que eu estava, e minha perna acaba ficando presa. Estou tremendo e sinto minha respiração sair gelada. Estou mortificada, aterrorizada pelo fato de que este será o fim para mim e eu não posso fazer nada.

Completamente inútil. Por que eu não fiquei em casa como havia prometido? Pelo menos ainda estaria segura, não correndo de monstros.

Dominada pelo ódio que estava de mim mesma e de minha imprudência, sinto-o borbulhar dentro de mim, e sou apoderada por uma urgência em extravasar o que quer que seja isso que estou sentindo. É como se estivessem comprimido todas as emoções que possuo em meu pequeno corpo e, se eu flexionar meus músculos, eu posso acabar quebrando. Eu preciso fazer alguma coisa. Eu preciso tocar alguma coisa. Preciso liberar isso, seja lá o que isso seja.

E com esse pensamento em mente, eu soco o chão, devastada.

A princípio, nada acontece.

Mas então, pequenas fissuras começam a surgir no lugar onde minha mão atingiu, e elas começam a se ramificar, unindo-se aos buracos já existentes no chão, e o chão começa a desmoronar. A terra então treme como se aquilo não tivesse sido causado por um soco meu, mas sim por um abalo sísmico. Em segundos, todo o solo num raio de cinco quilômetros passa a ser engolido, levando o monstro e pelo menos metade da avenida junto.

Ergo minha mão com dificuldade e sinto vibrações percorrendo todo meu corpo, queimando minhas veias e me fazendo sentir como se cada osso de meu braço estivesse sendo quebrado de novo e de novo e de novo. Minhas juntas estão roxas, mas não só elas: do meu pulso até o meu ombro, não tem sequer uma área que não tenha sofrido as consequências do que acabei de fazer.

Olho para trás, assustada, e vejo o garoto do supermercado correndo em minha direção, diminuindo sua velocidade quando começa a se aproximar. Ele está cheio de cortes novos e sua camisa está encharcada de suor. Seu gato-monstro também está machucado, mas está com uma expressão tão feliz que é como se tivesse acabado de caçar um rato com sucesso.

Ele me olha divertido por alguns segundos, completamente maravilhado pelo que aconteceu, sem um pingo de medo. O moreno me analisa por alguns segundos, dá um passo para frente e sorri antes de falar:

— Como você conseguiu fazer isso? Sandor ficaria radiante se estivesse aqui. Você é uma de nós? Oh, cara, Johnny vai ficar tão animado quando nos encontrarmos! — ele me enche de perguntas, mas minha cabeça está rodando demais para eu prestar muita atenção. — Ah, esqueci de falar, meu nome é Nove. — Nove estende sua mão incrivelmente grande para mim e me ajuda a levantar.

Abro a boca para responder que não faço ideia de onde veio tudo isso, que até esse momento eu sequer conseguia abrir um pote de picles sem pedir ajuda, quanto mais abrir uma maldita cratera no chão; mas antes que consiga fazê-lo minha visão fica turva e tudo ao meu redor parece perder o equilíbrio.

Sem forças para manter-me em pé, eu desmaio.


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Notas finais do capítulo

Oi gente, por favor me deem um feedback do que acharam ♥



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