I

A chuva descia com rapidez, quase alagando aquele jardim iluminado pelas velas que se posicionavam nas colunas de pedra do grande corredor. Ele observava atentamente cada gota, seus olhos vermelhos brilhando e seus lábios levemente mordidos; como se quisesse abafar alguma coisa. As gotas faziam desenhos na janela que estava em sua frente. E tudo que ele conseguia fazer era acompanhá-las, e apertar forte uma rosa vermelha — já seca — que estava em sua mão.

O barulho da chuva era intenso, já que a construção daquele templo era antiga, mas ele nunca tinha se preocupado com isso. A sala, onde ele se encontrava, possuía poucas mobílias — mas as mesmas muito bem decoradas. As cortinas vermelho escuro dançavam com o vento das janelas abertas, e um sofá era iluminado por uma lareira que parecia não ser limpa a tempos.

Seus cabelos brancos que batiam em seus ombros estavam bagunçados, como se ele não os cuidasse a tempos. Aquele silêncio e aquela melancolia lhe fizeram sentir algo estranho na garganta. Algo que ele queria e devia calar, mas que lhe parecia amargo demais para conseguir fazê-lo. Mordeu mais os lábios, ignorando a dor que suas presas poderiam causar em si mesmo, e engoliu em seco.

A rosa fazia alguns barulhos quando ele passava seus largos dedos pela folha, e suas pétalas já estavam em um deplorável estado marrom. Quase todas já haviam caído. Mas duas tentavam se manter lá, mesmo que ele apertasse com força.

Ele poderia associar aquelas pequenas pétalas cor marrom, que antes eram tomadas de um vermelho vivo, com o esforço dela. Ele ainda conseguia lembrar daqueles cabelos cor de ouro se movendo com o vento, ou daqueles olhos azuis que tanto lhe lembravam o céu parando no vermelho dos seus. O sorriso que com o passar do tempo, foi se apagando. E ele não fez nada para mantê-lo vivo.

Lembrava do dia em que os olhos dela tomaram um azul tão intenso que ele pensava que iria lhe atingir com toda aquela fúria que parecia que ela sentia. Mas não, ela apenas chorava. E tudo que ele fez foi assistir aquilo.
Ela chorava por sua culpa. Pelo seu descaso, pelo fato de que sua maldita sede de sangue tinha atacado novamente. E chorava mais ainda pois era ele mesmo quem estava lhe afastando.

— Por que? - Ele lembrava da sua voz fraca e de como ela olhava o chão, recusando-se a mostrar sua dor para ele.

— Nós não devemos ficar juntos. É isso. - Ele respondeu, forçando sua voz para que não falhasse, enquanto gotas — como as da chuva daquela noite — caíam dos olhos de Lux.

— Você não me machucaria! - Ela forçou a voz, tentando parecer autoritária mas suas lágrimas não paravam de cair. Dessa vez, ela lhe encarava.

E ele jurava, tudo que ele queria fazer naquele momento era abraçá-la.

— Eu sinto muito. Eu não posso controlar isso. É um adeus, senhorita Crownguard. - Teve uma imensa dificuldade em se virar e partir daquele lugar onde eles sempre se encontravam. Mas o fez. Sem olhar para trás.

E depois disso, ele nunca mais a encontrou novamente. Era justo. Não deveria machucá-la mais. Ou pelo menos, pensava que era melhor assim.

Apertou mais uma vez sua mão, e para sua surpresa, uma pétala havia caído. Talvez a única que estava sobrando representasse ele. Admirou-a por um tempo, ainda mordendo seus lábios como se estivesse contendo algum soluço patético. E então, arrancou-a.

A pequena e única pétala dançou um pouco antes de cair no chão com leveza, quase sobre seus pés.

Vladimir abriu um pequeno sorriso, enquanto aquela sensação que sentia na garganta finalmente parecia se esvair, e para sua surpresa, pelos seus olhos.

Então ele soube, não haveria nada para ser feito.

Porque eles não seriam nada além daquilo.