- Só mais um pouco para esquerda, querida. – Dona Fiorina disse em um tom alto para que Manuela pudesse ouvi-la, a menina apenas assentiu, enquanto tentava ajeitar um letreiro que ela e seus amigos construíram para a entrada da sorveteria. – Só mais um pouquinho belo. – Dona Fiorina disse novamente, Manuela ajeitou mais um pouco. – Um pouquinho mais.. Isso!!!! Agora sim está perfeito. – Esboçou um sorriso se sentindo orgulhosa pelo trabalho de Manuela e as outras crianças.

Manuela apenas sorriu, enquanto ajudava Mateus que martelava um prego que fixasse a nova placa da sorveteira, então começou a descer as escadas, se pondo ao lado de Fiorina e Dóris, observando trabalho recém terminado.

- Acho que ficou legal. – Dóris se manifestou.

Dona Fiorina sorriu assentindo e depositou um beijo no topo da cabeça das duas meninas, que ainda observavam o letreiro onde se lia: “Gelateria Cavichioli”.

Manuela sempre fora uma menina dócil, gentil, carismática e brincalhona. Criada em um lugar simples, rodeada por sua família, se conformava com pouco. Era religiosa, sua crença a fazia sempre olhar o lado bom das coisas, mesmo quando havia maldade. Rebeca, sempre a ensinou os valores da vida, a ser honesta e nunca inventar mentiras, ser sempre honesta com seus erros.

[...]

Narrado por Isabela:

Estou profundamente preocupada com meu pai, durante esses dias ele não tem se sentido bem. Regina também não faz nada para ajuda-lo, mas eu sim estou sempre ao lado dele, como ele sempre esteve ao meu. Ao contrário da minha mãe, pobretona, que vive num fundinho de bairro no interior. Só de pensar naquele fim de mundo já me da calafrios. E para piorar, tenho uma irmã gêmea, Manuela, a maior caipira do mundo. Não me lembro ao certo quando foi a última vez que a vi, mas sempre foi brega e nunca teve noção de nada, além disse é a maior crentola que conheço.

[...]

Acordei no meio da noite, tateei por baixo da coberta o meu celular e vi que era por volta de 03h00 da madrugada. Que ótimo, era só o que faltava, ter insônia no fim de semana.

Sai de meu quarto em direção ao corredor que dava nas escadas, isso é o ruim de morar em mansões, você nunca chega no lugar desejado rápido. Ouvi um grito, - provavelmente deve ser Regina, ô mulherzinha escandalosa e desnecessária. - comecei a voltar e fui em direção ao escritório de meu pai. Me encostei na porta para ouvir melhor e como imaginei, era a Regina que estava gritando novamente com meu pai. Eu já não aguentava mais essas brigas repentinas.

- ORLANDO, VOCÊ PRECISA SE TRATAR. – O nervosismo era visível nos gritos de Regina. – VOCÊ SABE QUE SE NÃO SEGUIR OS TRATAMENTOS CORRETAMENTE VOCÊ VAI TER QUE ARCAR COM AS CONSEQUÊNCIAS. – Senti uma pontada no fundo do meu coração ao ouvir isso.

- EU NÃO POSSO ABANDONAR MINHA FILHA PARA ME TRATAR! – Meu pai berrou ao mesmo tom que Regina. – ISABELA JAMAIS VAI ACEITAR PASSAR CINCO MESES AO LADO DE SUA MÃE! – Meu queixo caiu ao ouvir isso, não, não, eu me recuso, não é possível.

- A ISABELA É UMA MENINA MIMADINHA, ISSO TUDO É CULPA SUA ORLANDO. VOCÊ A EDUCOU ERRADO, SEMPRE SATISFEZ TODAS AS VONTADES DELA, AGORA ELA VAI SER EGOÍSTA AO PONTO DE DEIXAR O PAI MORRER AO MENOS SEM TER TENTADO SE TRATAR? – Regina estava fulminante. Eu não queria acreditar no que eu estava ouvindo. Eu não poderia ir morar com Rebeca, eu a odeio.

- ORLANDO NÃO HÁ O QUE DISCUTIR, ESTÁ DECIDIDO! DURANTE ESSES CINCO MESES DE TRATAMENTO, A ISABELA FICARÁ JUNTO DA MÃE E DA IRMÃ, QUER ELA QUEIRA OU NÃO. – Concluiu Regina aos berros.

Nessa hora eu não quis ouvir mais nada, eu já estava aos prantos, não é possível, eu não posso aceitar isso. Eu não suporto falar com a Rebeca ao telefone, quem dirá passar meses na casa dela. Eu preciso convencer meu pai, eu tenho que dar um jeito.