Minha vida sempre foi de alguma forma feliz, e de jeito nenhum poderia dizer que era o paraíso. Eu sofria bullying na infância. Não pelo o que eu gostava, nem mesmo porque eu era feia ( eu mesma me achava bonita ) ou por usar algum óculos e coisa do tipo; e sim porque tudo aquilo era necessário para se passar de ano na minha antiga escola. Nunca reprovei de ano, mas sempre acabava indo pra tal recuperação, mas eu me esforçava para ser o que eles queriam, deu de entender o motivo? Desde colocar taxinhas na cadeira da professora até cortar o cabelo de quem sentava em minha frente. Se ainda não entendeu, a minha escola era realmente o inferno.

Viver no submundo não é como todos os contos de almas com corpos (habitantes da terra), posso dizer que tinha muitas pessoas boas, que vivem lá pelo mesmo motivo que eu, nascerem lá, os ACC (almas com corpos) acham que tem que fazer algo ruim pra estar lá, mas não necessariamente, meus pais se conheceram no inferno, porque morreram cedo e ainda tinham toda sua vida para continuar sua família, então me tiveram aqui, minha mãe foi para o inferno por matar seu ex marido, que ela cismava que tinha a traído, e meu pai foi para o inferno por ser um chantageador, não tem aquilo de "aprendeu em casa", porque sempre me irritei com as coisas ruins que ela faziam, então eu saia e voltava quando pensava que já podia estar tudo bem, mas por incrível que pareça "aprender em casa" sendo uma coisa ruim já estava ótimo.

Os bons sempre eram desprezados e zoados, até mesmo pelos pais, que era o meu caso, mas entre os bons, nós nos amávamos. Sebastian era meu melhor amigo, podia me ajudar a qualquer momento que nunca se fazia de indisposto, era o melhor amigo que eu podia ter, ele me chamava de Sophiris, pois meu sonho sempre foi ver um arco-íris. Meus pais achavam que nós éramos namorados ou algo do tipo, não vou mentir e falar que não gostava do Sebby, eu o amava; Toda a nossa história começou quando ele me salvou de um grupo de humanos que estavam prestes a me queimar, e é com esses acontecimentos que eu percebo que os ACC são mais maldosos que os próprios demônios. Quando morávamos lá no inferno éramos conhecidos como o corvo e o gato,os melhores demônios do submundo; fugíamos de casa para ir buscar almas já caçadas pelos ceifadores, o que nos dava uma má fama entre eles. Claro que não foi sempre assim. O acontecimento que mudou minha vida tinha que acontecer. Eu estava na adolescência, indo para casa do Sebastian como todos os dias, mas quando cheguei lá seus pais falaram que ele havia achado uma alma especial no mundo humano. Um pirralho havia tirado a pessoa que eu estava começando a perceber que amava da minha vida, talvez para sempre...e como comigo não tem essa de "para sempre" fui atrás do tal garoto e do Sebby. Arrumei minhas malas e fugi de casa apenas deixando uma carta para meus pais dizendo que eu tinha que acha-lo e eles sabiam muito bem quem, apesar de acharem errado essa minha obsessão. No mundo humano é tudo mais claro e,na minha opinião, muito melhor de tudo que já havia visto antes.

Procurei o endereço que os pais do Sebastian haviam me dado. Quando cheguei no destino vi uma imensa mansão,parecia estar sendo reformada ou reconstruída; era muito bonita e com muitas árvores podadas ao redor. Após andar um longo caminho, me deparei com uma porta de madeira de muito bom gosto e logo dei duas batidas para ver se era realmente ali o lugar que eu gostaria de chegar. Quem abriu foi Sebastian, vestido com um terno bem passado; me dei conta que estava praticamente deixando ele cair no chão de tamanha a força que eu estava o abraçando. Ele ria e me abraçava gentilmente como sempre fazia antes de tudo o que aconteceu. Após alguns segundos um garoto com um tapa-olho chegou logo atrás, ao olhar pro menino meus olhos azuis se rosaram por completo algo que raramente acontece comigo. Ele tinha uma alma muito especial, algo que nunca havia visto antes; no seu olhar era possível ver todas as tristezas uma mais profunda do que a outra. Minha raiva pelo pirralho não existia mais, sabia que Sebastian havia vindo por um bom motivo.