Sherlock Holmes nunca foi um homem de muitas palavras aos olhos de John. Falava muito sim, mas sempre eram temas relacionados aos casos que os dois resolviam juntos, mas tirando isso era comum para si ver o moreno preso em seu palácio mental lhe concedendo o silêncio.

Aquilo no inicio o deixava feliz. Era um colega com um trabalho excepcional, admirável e além de ser muito culto, e com a metamorfose do relacionamento deles indo de coleguismo para amizade John notou que Sherlock era extremamente barulhento.

Gritava. Atirava. Reclamava. Falava consigo quando não estava em casa. Reclamava e para melhorar tocava por horas seu violino. Sim apreciava as notas delicadas e precisas que o moreno soltava ao ar, mas quando elas eram sempre a mesma nota monótona e um arranhar dos infernos ele tinha vontade de jogar o instrumento e o amigo junto.

Só que sentimentos geram emoções e elas modificam as pessoas. Era um dia frio em Londres e John estava sentado em sua poltrona enquanto o moreno brincava com alguns cigarros ignorando a aversão do amigo pelo vicio, quando Sherlock lhe pediu uma xícara de chá. John a fizera entre uma reclamação e outra, mas assim que o moreno lhe encarou divertido e brincalhão falando que a simples bebida que loiro fazia era a melhor para si que o soldado notou.

John amava Sherlock. Não foi em meio a uma luta, ou briga, mas em uma simples conversa sobre chá que o loiro concluiu que seus sentimentos pelo melhor amigo eram diferentes do começo. Cuidava e zelava de Holmes, pois para John ele era uma pedra preciosa.

Não por ser o homem mais inteligente que conhecera além de ser altamente fascinante. Não eram os títulos, era o simples fato de Sherlock ser Sherlock. Um homem que agia como criança. O sociopata altamente funcional que deixava seus inimigos intimidados, mas que na intimidade de suas casas era apenas um idiota e chato.

Não era paixão ou atração. O amigo era belo e disso ele não duvidava, mas essa questão de estar apaixonado por ele parecia tão ínfima, pois John amava Sherlock de corpo, reclamações e alma.

Uma vez sua mãe lhe dissera que o verdadeiro amor vem da convivência. E John conhecia o moreno bem demais para o seu gosto. Não o passado, não o conhecimento de John eram sobre as manias e atitudes do Holmes que para muitos passavam despercebidos, mas o loiro sempre prestava atenção.

A mão que amarrava o cachecol. As unhas bem feitas. O modo como o cheiro de baunilha lhe enjoava. O cuidado excessivo com o cabelo. O desgosto por gravatas. A estranha paixão por jogos infantis. O modo como levantava a sobrancelha esquerda quando estava pensando em aprontar algo. O vicio de batucar os dedos sobre a poltrona. O modo como tocava. E sua paixão pelo seu chá.

Eram pequenas nuances que ele deslumbrava, mas que fazia compreender o moreno um pouquinho. Gestos humanos que todos tinham, mas que para a insensível máquina que Sherlock tentava demonstrar eram os suficientes.

Ao notar que amava o moreno logo também notou que o silêncio lhe preocupava na intensidade qual o machucava. Aquele mesmo silêncio de três anos da morte de Holmes, ou quando ele se machucará por sentir algo por Adler. O silêncio de culpa e de irritação. De falta de fome e sono. O de pensar demais.

Cada um destes espaços em que o detetive se calava eram momentos em que o loiro se perdia em seu sentimento. Ele dar-lhe-ia inúmeros assassinatos e mistérios apenas para vê-lo falando demais a ponto de irritar, mas o faria sem reclamar.

Pois na presença ou não de som de Sherlock Holmes em Baker Street morava o amor de John Watson.

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