Segredos de Sangue escrita por Amanda Santos


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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O palácio de Cristal fazia jus ao seu nome, eu estava diante da imensa estrutura que mais parecia feita de vidro. Não dava para ver o interior, pois a luz do sol refletia em suas paredes fazendo com que um eterno brilho em forma de arco-íris refletisse em todas as direções. Uma ponte de ferro batido se levantava sob a entrada com uma guarita de segurança, um guarda de aparência ameaçadora esperava com uma lista nas mãos por qualquer intruso.

— Nomes? - Alexandria dá um sorriso sedutor e se aproxima, o vestido realçando os lugares certos do seu corpo atraí a atenção do guarda em menos de um segundo.

— Sou Alexandria, filha da primeira casa de guardiões. - ela apontou o dedo para mim sem dar muita importância. - Esse é meu protegido.

— Alexandria, seu nome não consta na lista. O que veio fazer aqui?

— Temos uma audiência com a Irmandade, sobre... Ahn... Problemas na ligação. - ela sussurrou a última parte e corou.

Finja vergonha, sua voz entrou em minha mente fazendo com que eu desse um pulo de surpresa, mas o guarda não pareceu notar. Abaixei a cabeça e tentei fingir estar envergonhado.

— Ah, lamento muitíssimo, mas nos dias de hoje é meio impossível ter absoluta certeza sobre com quem fazemos a ligação. - ele sorriu e gesticulou, fazendo uma pequena reverência. - Podem entrar.

O Palácio por dentro não era muito diferente de um castelo da época renascentista. Alexandria parecia encantada com tudo, mesmo já tendo estado ali mais de uma centena de vezes. Memórias dela com os pais naqueles mesmos corredores me atingiam como bombas fazendo minha cabeça doer.

— Consigo senti-lo na minha cabeça, pode pelo menos me dizer o que está vendo? - ela sussurrou, sua voz se perdendo num eco vazio no imenso corredor.

— Quem me dera ter o poder me manter fora da sua cabeça, é como se algo me puxasse para dentro de você. - não era possível de se explicar, apenas acontecia. - Eu consigo ver você com uns oito ou nove anos, correndo com seus pais, eles dizem algo sobre uma reunião importante da qual você não pode participar.

Eu sentia que ela sabia exatamente do que eu estava falando, mas que se esforçava para esconder. Eu não conseguia nem imaginar o que Alexandria veria se entrasse em minha cabeça.

Andamos os corredores em silêncio, até alcançarmos um salão com um espetacular teto de vidro e três tronos gigantes no meio. Cada trono parecia decorado de acordo com a personalidade de quem o ocupava, um era todo de ouro maciço e imagens de guerreiros, o outro tinha um ar refinado com almofadas de veludo vermelho e encosto para os pés, o terceiro era obviamente ocupado por uma garota, tinha flores roxas e vermelhas esculpidas em puro prata brilhante. Dois escudeiros com espadas e lanças guardavam os tronos com uma reverência assassina no olhar.

— Temos uma audiência de destinação com a Irmandade. - Alexandria se aproximou com uma expressão determinada.

— Não eram esperados. - pronunciou o maior.

— Era um caso de emergência, além disso, o Conselho têm por obrigação receber todo e qualquer competidor que já tiver se unido a um guardião. - os guardas arregalaram os olhos e prestaram uma pequena reverência enquanto deixavam o salão.

Depois de tudo, eu esperava uma recepção mais amistosa, pensei. Ela se limitou a dar de ombros e esperar silenciosamente enquanto três pessoas acompanhavam os guardas que tinham saído. Eram dois homens que pareciam ter mais de um e noventa metro cada, um loiro de feições finas e refinadas, e um negro de olhos verdes vibrantes além de uma expressão assassina. A garota mal parecia ter quinze anos, era pequena e delicada, com cabelos ruivos e olhos azuis. Eles se sentaram cada um em seu respectivo trono e pararam para nos observar.

— Então, você se uniu a um competidor. - o loiro falou, seus olhos fixos em Alexandria com uma intensidade que me incomodava. - Depois de tantos anos, isso é meio inesperado.

— Ian não é um competidor qualquer, e acho que isso já é um fato mais do que provado. Por que ele deveria ter um guardião qualquer? - a voz dela era fria e cortante.

Tentei sondar seus pensamentos, mas o muro tinha surgido outra vez, mais forte que nunca. O loiro soltou uma risada e se inclinou no trono, parecia curioso com tudo mas tentava evitar demonstrar o interesse.

— Irmão, acho que já perdemos tempo demais com essa situação. - o homem negro falou, sua expressão impassível. - Alexandria está proibida de ter qualquer contato com um competidor de sangue.

— Não seja tão rude, Syrios. - o loiro sorriu ainda mais, estava se divertindo com aquilo tudo. - Aposto que ela já se arrependeu de ter quebrado as regras, não é mesmo?

— Lucius, acha que eu estaria aqui se não soubesse o que estava arriscando. - ela falou séria, mas eu sentia sua hesitação. - O juramento foi feito, Ian e eu estamos ligados de corpo e alma.

A pequena menina que esteve em silencio até aquele momento, se levantou do trono e antes que eu pudesse piscar os olhos, ela estava a centímetros do meu rosto. Seus olhos de um azul tão claro que pareciam ser impossíveis de ser reais me encaravam, pareciam olhar para dentro de mim. Dê sua mão à ela, Alexandria pensou. Fiz o que ela mandou e olhei enquanto a menina envolvia minha mãos entre as suas. Senti meu corpo contrair e toda minha energia se esvair, a menina me olhou com os olhos calmos.

— A ligação foi completada, de corpo e alma. - a voz da menina era doce e melodiosa, mas havia algo escondido em toda sua perfeição. - Parece que isso muda os termos de seu exílio, minha querida Alexandria.

— Selena, você têm toda razão. - Lucius, o cara loiro, mal parecia conter a felicidade. - Quer dizer que vocês chegaram bem a tempo das Batalhas Reais, e supondo que seu competidor sobreviva ao treinamento fico feliz em convidá-los ao baile cerimonial.

Alexandria não se deu ao trabalho de responder, apenas me arrastou salão afora. Estava irritada com alguma coisa que havia acontecido, mas aparentemente não queria que eu soubesse pois seus pensamentos estavam mais bloqueados que nunca. Fomos levados por guardas até um complexo de torres de cristal anexadas ao castelo, a torres eram ligadas por um jardim, um riacho que levava a uma gruta na encosta da montanha cortava o imenso jardim ao meio.

— São três torres Alfas, Betas e Deltas. Seus aposentos são os mesmos da última vez que esteve aqui, guardiã. - o guarda nos deixou na entrada da maior torre. Alexandria me guiou até um elevador e apertou o único botão que havia, um imenso salão apareceu quando a porta do elevador se abriu.

Havia espelhos e tudo parecia reluzir em prata e ouro, uma cama dourada imensa e uma lareira já acesa. Uma janela que ia do chão ao teto dava para o castelo com todas as suas luzes faiscando na escuridão da noite. Alexandria jogou a pequena mochila no chão e foi até o banheiro, ouvi o som da água correndo quando ela ligou o chuveiro. Me concentrei no som da água, nos pequenos ruídos e foi como um piscar de olhos. Eu estava em sua mente, vendo seus pensamentos. Eu era ela.

— Então você se uniu a um competidor. - ele deu um sorriso. - Depois de tantos anos, isso é inesperado.

Ele estava igual a minhas memórias, nada havia mudado além de mim. O mesmo sorriso se estampava em seus lábios e eu nem ao menos me lembrava qual foi a última vez em que sorrira de verdade... É claro que estou me enganando, a última vez que sorri foi com ele.

— Lucius, acha que eu estaria aqui se não soubesse o que estava arriscando. - forcei as palavras a saírem pela minha boca, enquanto ele tentava não reagir. - O juramento foi feito, Ian e eu estamos ligados de corpo e alma.

"Como pode fazer isso, de novo?" Sua voz invadiu minha mente fazendo meu corpo reagir no mesmo instante, achei que poderia aguentar mas mesmo depois de meio século eu ainda reagia a ele. "Sou uma guardiã e é meu dever proteger", respondi.

Ele se inclinou no trono, seus olhos fixos em mim. Ele sabia que se dissesse qualquer coisa naquele momento Syrios não hesitaria em me condenar e Selena, apesar de toda a doçura não sentiria nem uma gota de culpa. Não, ele não iria dizer nada.

"Me encontre a meia noite", ele disse e não era um pedido. "Você não pode me obrigar", respondi irritada. "Não, não posso. Mas acho que você não quer que nada dê errado desta vez", ele falou encerrando o assunto.

E de repente eu havia voltado a realidade, a minha própria cabeça. Eu era Ian outra vez, com mais dúvidas e apenas uma certeza. Alexandria escondia muito mais segredos do ela deixava transparecer.

— Sugiro que durma, amanhã vou treiná-lo. - disse séria.

Adormeci quase instintivamente, mas não rápido o bastante para não ver Alexandria deixar o quarto pouco antes da meia noite. Ela hesitava na porta, como se não tivesse certeza se deveria ir e muito menos se queria ir mas o que quer que tenha acontecido em sua mente, Lucius ganhara a batalha interna e ela saiu sem olhar para trás. Tentei entrar em sua mente de novo mas estava cansado demais para ver algo com clareza.

 


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Notas finais do capítulo

Meio curtinho, mas é apenas uma introdução para o núcleo dessa parte da história.

Até o próximo!
BJS



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