O dia amanhecera brando, os raios de sol invadiam o quarto timidamente pelas frestas das janelas entreabertas. A brisa gélida da manhã afagava-lhe o rosto e agitava suavemente os fios loiros de seus cabelos soltos.

    Aproximou-se da enorme cama e deitou-se novamente, com cautela para não acordar Gustav. Ele estava envolvido em alvíssimos lençóis de linho, a cabeça repousada sobre travesseiros macios e aconchegantes, um pouco de sua saliva corria por sobre a fronha. Roncava baixinho, ritmado à sua respiração serena, compondo uma melodia agradável, pelo menos para Natalie, que observava àquela cena atentamente, como se quisesse memorizar cada movimento e cada feição daquele que ela intitulou de “anjo”. Sorrateiramente, enlaçou-o com suas pernas e braços, visando sentir o corpo adormecido de Gustav roçando no seu. Por um breve segundo pensou ter visto um ameno sorriso aprontar-se naqueles lábios finos e rosados que por tanto tempo ela desejara em segredo. Sorriu involuntariamente. Mal podia conter a felicidade que palpitava em seu âmago, como uma bomba prestes a explodir. A noite anterior fora mais que memorável, ela fora celestial. Gustav e Natalie amaram-se intensamente, de uma maneira que jamais haviam experimentado. Natalie sentiu muito além de prazer carnal. Sentiu-se deleitada espiritualmente, e por alguma razão, sabia que ele havia sentido o mesmo. Era como se suas almas estivesse sintonizadas, e o resto do mundo fora esquecido. Como se todo o universo tivesse sido deixado à porta do quarto 483. Porém uma dúvida assombrou-lhe: E quando ele bater?  

    Olhou à sua volta, tudo ali era muito elegante e luxuoso. Um quarto bem projetado e decorado, causando admiração aos olhos de quem entrasse ali, porém nada era tão esplêndido e belo que conseguisse ofuscar perfeição daquele rapaz que dormia ao seu lado, e por mais incorreto que fosse ela o amava. Isso só tornava a situação mais complicada. Estava ciente de que mais cedo ou mais tarde, quando saísse por aquela porta, jamais veria aquele rosto de traços delicados novamente.

                                       “ Vire-se   

                     Se você puder me dar um copo de água,

             Porque meus lábios estão rachados e desbotados                                

                            Chame minha Tia Marie                

                 Ajude-a a juntar todas as minhas coisas                                  

                                  E me enterre                   

                   com a roupa nas minhas cores favoritas                  

                  minhas irmãs e meus irmãos continuarão                           

                           eu não vou beijar você,                        

                      pois a parte mais difícil disto,                                     

                                 é deixá-lo”