Nightmares escrita por Rafú


Capítulo 11
Capítulo 11 - Detention


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas fofas e queridas. Voltei em mais um domingo com mais um capítulo para vocês. Espero que gostem.



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Finnick e eu estamos no refeitório, esperando algum sinal de Katniss.

— Cara, onde foi que você a viu pela última vez? – pergunta Finnick olhando para os lados a sua procura.

— No segundo andar do prédio A. Ela ficou naquele e eu subi para o terceiro.- respondo.

— E onde ela se meteu?

— Não sei. – respondo em um tom despreocupado.

— Será que ela teve alguma crise?

A pergunta de Finnick me deixa em alerta. Será que ela teve alguma crise e se escondeu em algum canto?

— Vamos procurá-la. – falo me levantando de imediato.

Decidimos procurá-la nos lugares onde seria mais provável ela estar. Entramos na biblioteca e perguntamos por Katniss imediatamente.

— Senhora Potter, você viu a Katniss? – pergunta Finnick.

— Hoje eu não a vi, queridos. Sinto muito.

— Ok, obrigado.

O próximo lugar foi o nosso quarto, mas ele também estava vazio. Voltamos para o refeitório e fomos procurá-la nas mesas do lado de fora. Olho para todas as mesas, procurando algum sinal dela, mas nada encontro.

Até poder ouvir a voz dela me chamando e me viro para trás a vendo correr em minha direção com um papel na mão.

— Peeta! – ela se atira em mim, me abraçando e me fazendo quase cair para trás.

— Meu Deus! Onde você estava? Nós procuramos você por toda a escola. – eu surto de alívio.

— Por que não me ligaram já que estavam tão preocupados? – ela pergunta com uma sobrancelha erguida.

Finnick e eu nos olhamos como se fossemos dois patetas. A solução tão simples estava embaixo do nosso nariz, ou melhor, dentro dos bolsos das nossas calças: o celular. Afinal, para que serve estes aparelhos? Para se comunicar com as outras pessoas. Por que não pensamos nisto primeiro antes de sair pela escola a procura de Katniss?

Este tipo de estupidez é para poucos….

— O que é isto? – pergunto olhando a folha na mão de Katniss e tentando dar um fim no assunto da procura.

— Olha só. – ela levanta o papel em minha direção.

Era aquele teste de Matemática que ajudei Katniss a estudar. Ela tirou um A, um grande e verde A. Sorri para a folha.

— Um A? Você tirou um A? – pergunto estupidamente.

— Sim. Sim. – ela responde sorridente e alegre me dando um beijo.

— Não é possível. – afirma Finnick. E logo arranca o teste da minha mão – Deixe eu ver isto.

— Obrigada, Peeta! Obrigada. – ela me agradece me dando mais beijos e me abraçando.

— Sua maldita! – exclama Finnick – Não é que a danada conseguiu um A no teste? Meus parabéns!

— Mas onde você estava este tempo todo? – pergunto.

— Estava tirando algumas dúvidas com o Sr. Carl. Afinal, semana que vem começa as provas. – ela me abraça de novo – Eu não acredito que consegui tirar um A neste teste. Obrigada, Peeta!

— Tudo bem. – rio a abraçando de volta. Katniss de repente para de me sacudir com o abraço e me aperta mais em seus braços. Eu me afasto olhando para o seu rosto – O que foi? – ela não me respondeu, apenas ficou olhando para o lado. Olhei para a direção que ela estava olhando, vendo Gale olhando para Katniss com uma cara enfezada. – Ele te ameaçou de alguma forma? – Katniss não tira os olhos de Gale.- Katniss?

— Não! Claro que não. – ela responde olhando novamente para mim – Estou com fome, vamos entrar.

Ela empurra Finnick e eu para dentro do refeitório. Katniss foi buscar seu lanche enquanto Finnick e eu nos acomodamos na mesa novamente.

— Você acha que Gale poderia ter ameaçado Katniss? –pergunto para ele.

— Não sei. Gale fica insano às vezes. De qualquer forma é melhor ter cuidado.

Finnick mal termina de falar isto e posso ouvir Katniss gritar:

— NÃO ME CULPE, SEU IDIOTA! EU AVISEI QUE ISTO PODERIA ACONTECER! SE VOCÊ NÃO QUIS ME OUVIR, O PROBLEMA É SEU!

A cena que vem após os gritos de Katniss me deixa fora de mim. Gale levanta a mão, e dá um tapa no rosto de Katniss, fazendo ela cair no chão com a agressão.

Katniss foi agredida…. A garota pela qual estou apaixonado…. A garota que eu amo... Está jogada no chão porque aquele imbecil bateu nela.

Me levanto com os punhos fechados e caminho tentando regular minha respiração. Gale olha para Katniss mas não vejo um pingo de arrependimento pelo que ele fez.

Me aproximo dele, o segurando pelo colarinho e o arrastando para trás até Gale bater as costas em alguma parede. Ele olha para mim surpreso com minha ação.

— Você bateu nela, seu desgraçado. – eu falo entredentes.

Gale ri como se tudo fosse uma grande piada.

— Isto é o que se ganha por ser uma vadia. – ele fala naturalmente como se dissesse “Bom Dia”.

— Vou fazer você se arrepender de cada uma destas palavras. – argumento.

— O que você vai fazer, hein? – ele pergunta em desafio.

— Isto...

Acerto um belo soco na cara de Gale o fazendo quase cair, mas ele consegue manter o equilíbrio.

— Ora, seu filho da....

Ele se joga em mim, fazendo com que ambos caíssemos no chão. Ele me acerta um soco, mas no próximo eu desvio minha cabeça, fazendo Gale acertar o punho no chão. Eu paro por cima dele, não dando tempo dele pensar e preenchendo seu rosto com outros socos.

Consigo ouvir a voz de Katniss mais ao fundo, misturado com a roda de pessoas que estavam a nossa volta:

— Peeta! Chega! Parem, por favor!

Finnick me segura me jogando para o outro lado.

— Parem com isto, seus babacas!

O diretor Snow chega, colocando ordem na bagunça.

— Parem com isto imediatamente! Vocês dois, na minha sala agora! – ele fala apontando para Gale e eu.

Acompanhamos o diretor até a sala dele de cabeças baixas.

Entramos na sala e o diretor aponta para as cadeiras a frente da mesa para sentarmos. Mal nos sentamos e Gale se põe a falar:

— A culpa é toda deste idiota aqui. – ele fala apontando para mim.

Eu já ia contradizer, mas o diretor fala antes:

— Silêncio! Você... – ele aponta para mim – Me explique.

— Ok, Katniss foi pegar o lanche dela, Finnick e eu estávamos sentados em uma das mesas. Então ouvimos Katniss brigar com Gale e ele deu um tapa na cara dela. Fazendo Katniss cair no chão. Eu fiquei furioso e me avancei nele.

— Por que bateu na Katniss, Gale? – pergunta o diretor.

— Porque ela é uma grande vadia.

— Ela não é vadia coisa nenhuma.

— Este canalha roubou minha namorada. – Gale esbraveja apontando para mim.

— Eu não roubei ela. Ela que se cansou de ficar com um otário como você.

— Você sabe que um dia vai estar no meu lugar, enquanto Katniss vai estar aos beijos com outro.

O que iria dizer agora? O que Gale acaba de dizer não é mentira. Da mesma forma que aconteceu com os outros passatempos, acontecerá comigo também. Vou ver Katniss abraçando, beijando e se relacionamento com outro cara. Assim como Gale e os outros passatempos.

A única coisa que poderei fazer é tirar Katniss da minha cabeça…. Ou ao menos tentar.

— Pelo menos eu não irei ser um idiota como você. – sussurro.

— Não. Você vai sim. Todos nós somos uns idiotas para a Katniss. Ela nos enfeitiça, nos usa por certo tempo, no encanta com suas palavras doces e carinhos, mas, no fundo, ela não se importa com a gente, apenas com ela mesma. Ela vai jogar você fora quando achar algo melhor. E ela sempre acha algo melhor, senão eu não estaria na sala do diretor agora.

— Você não sabe...

— Por que você acha que Finnick nunca tentou nada com ela? Ele é mais esperto que nós. Ele sabe que vale mais a pena ter Katniss como amiga do que como namorada ou... passatempo, como ela fala. As chances de ser magoado diminuem se você for apenas amigo dela. Mas, acho que descobri isto tarde demais. Ela me avisou, eu sei. Mas... Eu não estava pronto para terminar tudo com ela. Eu sei que fui otário na maioria das vezes, sei que não fui justo com ela, sei que não fui o cara que ela merecia. Mas meu único consolo é dizer que Katniss Everdeen é uma vadia, apesar de não ser bem isso. Meu único consolo é saber que não sou o único... nem o último.

Nunca vi por este ângulo. Sempre vi Katniss como a vítima, não como a causadora do problema. Nunca pensei na amizade dela com o Finnick.

Mas e se Gale estiver mentindo? Ele pode estar tentando fazer minha cabeça para ter Katniss pra ele novamente. Ou talvez eu não seja o único que acabou se apaixonando por ela.

Ela não se importa apenas com ela. Se fosse o caso, ela não teria me perguntado centenas de vezes se eu tinha certeza se queria entrar neste relacionamento, ela não teria tentado me arrumar uma namorada, ela não teria me ajudado com o álbum de fotografias, não teria ido para Atlantic Beach comigo, não teria me ajudado a passar por tantas outras coisas.

Talvez ela se importe mais com os outros do que com ela mesma.

Gale falou tudo isto porque está magoado, da mesma forma que vou ficar. Não posso culpá-lo por algo que não foi sua intenção. Ninguém planeja se apaixonar.

— Você se apaixonou por ela. – sussurro, deixando meus pensamentos virarem palavras.

Gale ri antes de concordar:

— Quem não se apaixonaria por Katniss Everdeen? Eu tentei esconder isto, por isso nunca fui gentil com ela. Achava que assim, seria impossível ela descobrir. Mas tenho quase certeza que você também se apaixonou por ela.

— É. Acho que sim. – respondi.

— Então não deixe ela descobrir isto. Pois no dia que eu deixei ela saber dos meus sentimentos por ela, tive a surpresa de ver ela beijando um cara chamado Peeta Mellark.

— Oh...

Então foi por isto que ela me beijou. A história de “lábios inegáveis” era tudo mentira. E eu caí na historinha dela. Quem não cairia em alguma mentira de Katniss? Ela me beijou para se livrar de Gale.

Lembrei do momento que ela chegou chorando no meu quarto. Eu perguntei irritado se ela não gostava mais de Gale, e a resposta que ela meu deu foi: “Não! Eu gostava de Gale ainda.” Mas eu nunca havia me dado conta disto. Estava tão irritado naquela hora que fiz várias perguntas a ela, mas não prestei muita atenção nas respostas.

— Mas não se preocupa! – Gale fala como se estivesse lendo meus pensamentos – Ela não sente nada por mim.

— Como sabe? – pergunto desconfiado.

— Ela não teria beijado outro cara se sentisse, não acha? Ela tenta não nos magoar, mas é nesta tentativa insana dela de tentar não nos magoar que ela acaba nos magoando. Ela não vai se apaixonar por você, Peeta. Não fica imaginando isto só porque ela beija você e abraça você o tempo todo. Ela é assim. Ela é carinhosa, mas isto é apenas uma faixada... Uma tentativa de não magoar você. Katniss não se apaixona por ninguém, ela nunca vai dizer um Eu te amo para nenhum de nós.

— Se vocês não estão mais brigados então peçam desculpas um para o outro e pegam este papel porque vão passar uma hora na detenção. – fala o diretor nos estendendo uma folha.

— Desculpa. – falamos ao mesmo tempo e apertamos as mãos.

— Muito bem. Que isto não se repita e agora podem ir.

Antes de sair, Gale para.

— Que foi? – pergunto.

— Espera. Tenho que fazer cara de puto, porque, afinal, eu te odeio, não é? – ele pergunta sorrindo.

— Sim, claro. Agora eu te odeio também. – rio.

— Nos vemos na detenção. – ele diz.

— Até lá. – falo abrindo a porta e saindo.

Katniss estava sentada em uma das cadeiras que há no lado de fora. Ela se levanta assim que me vê.

— Está tudo bem? – ela pergunta preocupada.

Levantei a folha da detenção para ela enquanto Gale passa por nós com cara de irritado.

— Vou para a detenção.

— Oh, puxa! Eu sinto muito, é tudo culpa minha. – ela me abraça.

— Não é não. Afinal você levou uma bofetada do Gale. Eu não deixaria aquilo deste jeito. – eu afasto ela, avaliando seu rosto – Seu rosto inchou.

— Eu sei. Que droga! – ela fala começando a chorar.

— Ei! Fica calma! Seu rosto não vai ficar assim pra sempre. – eu a abraço de volta.

— Não é isto. Eu não sei o que eu tenho... Eu só quero chorar um pouco.

— Tudo bem.

— Vocês não vão brigar na detenção, não é? – ela pergunta.

— Não, é claro! Eu não pretendo ser expulso da escola. Agora vamos, temos aula ainda.

Fomos cada um para a sua aula. As pessoas ficaram me olhando, como naqueles filmes que tem o cara brigão que bate em todo mundo. Puxa vida! Eu não sou assim! Eu não sou um animal que sai dando patada em todo o mundo. Eu não notei o que tinha feito com Gale até o diretor Snow chegar.

Depois de outros três períodos fui para a biblioteca. Gale ainda não estava lá.

— Olá, querido. – fala a senhora Potter quando me aproximo do balcão.

Coloco a folha na mesa

— Detenção. – falo.

— Ok. Celular comigo, não pode pegar nenhum dos livros para ler. Só precisa ficar sentado em uma das mesas.

Entrego meu celular junto com os fones de ouvido.

— Posso fazer minha lição então? – pergunto.

— Isto pode.

Me sento em uma das grandes mesas da biblioteca e começo a fazer com calma minha lição sobre a Segunda Guerra Mundial.

Gale chega logo em seguida, deixando o celular com a senhora Potter e sentando em uma mesa próxima a minha.

Mais um garoto chega logo em seguida e faz o mesmo que eu e Gale fizemos. Ele também senta em uma mesa próxima a nós.

— Então, o que vocês fizeram? – pergunta o garoto.

— Eu briguei com aquele idiota ali. – respondo apontando para Gale.

— Vá para o inferno! – fala Gale.

— Vocês são os caras que se pegaram no pau no refeitório? – pergunta o garoto.

— Sim. Você não nos reconheceu? – pergunto, já que Gale parecia não estar interessado em falar.

— Não. Mas ouvi falar da briga pelos corredores.

Ótimo! Ficamos famosos….

— E você? O que fez?

— Gritei com o professor.

O assunto morre neste instante.

Continuo meu dever até o diretor Snow entrar na biblioteca.

— Só vim ver se vocês não haviam fugido da detenção... Já que estão todos aqui, vou me retirar.

E ele sai novamente.

O tempo passa tão devagar que eu tenho certeza que o relógio só pode estar tirando chacota da minha cara. Não é possível demorar uma hora para passar um segundo!

Terminei a lição, então comecei a fazer rabiscos no caderno, um hábito que peguei com a Katniss.

Ouço a porta se abrir novamente e pensei que era o diretor Snow vindo conferir se não havíamos drogado a bibliotecária e fugidos da detenção para conquistar a escola. Mas não era. Era apenas Katniss entrando na biblioteca.

Ergui as sobrancelhas e quase soltei um “Mas o quê?”.

— Oi, querida! Como posso ajudar? – pergunta a senhora Potter.

— Oi, eu só vim pegar um livro para um trabalho. Eu sei onde está.

— Tudo bem.

Katniss se dirige a uma das estantes, mas dirige um olhar pra mim e Gale, intercalando entre os dois. Olho para Gale, mas ele está bastante entretido olhando a mesa.

— Trabalho sobre o quê? – pergunta a senhora Potter.

— Religião. É sobre o...

— Dalai Lama. – respondo por ela. – Estou fazendo com ela.

Esta parte não era mentira. Realmente estávamos fazendo um trabalho juntos sobre Dalai Lama. A senhora Potter me dirige um pequeno sorriso e depois se vira de costas para nós.

Katniss pega um dos livros e olha para a senhora Potter.

— Será que tem algum problema eu trocar uma ideia com Peeta sobre o trabalho? – pergunta Katniss.

— Se for rápido...

— Vai ser sim. Obrigada. – ela vem até mim e coloca o livro sobre a mesa – Eu achei este livro. Eu acho que tem tudo que precisamos.

Ela põe o livro na minha frente, encima do meu caderno. Vejo uma pequena folha, usada como marca-página. Olho para Katniss, tentando descobrir se era o papel que precisava de atenção ou o livro.

Katniss olha de mim para o livro e do livro para mim. Abro onde a folha marca e leio o pequeno bilhete:

 

Não se matem!

 

Eu pego meu lápis.

— Eu acho este livro ótimo. – falo, virando o bilhete – Principalmente esta parte aqui.

Escrevo rapidamente no papel:

 

Não se preocupe. Está tudo bem.

 

— É. Acho bom. – ela diz, se referindo, secretamente, ao bilhete.

Ela empurra o bilhete para a mesa e fecha o livro. Indo fazer a retirada do livro com a senhora Potter.

Coloco o bilhete no meio do meu caderno e continuo os rabiscos. Katniss sai abraçada ao livro e não olha para mim novamente.

Sua preocupação me dá vontade de rir. É estranho? É sim. Mas…. Que tipo de pessoa vai querer arrumar encrenca dentro da detenção? Se ela ao menos soubesse que Gale e eu não nos odiamos. Poderia ser tudo mais simples.

Afinal, por que ela não pode saber? O que há de tão errado em Katniss saber que eu Gale não nos odiamos?

Não importa muito. Se Gale estiver longe de mim, estará longe de Katniss. Eu sei que isto é algo doentio e possessivo... Sem falar que é cético! Mas eu tenho medo de perdê-la. E não consigo mais imaginar Katniss beijando outra boca que não seja a minha.

Será que no final ficarei como Gale? Dizendo que Katniss não vale nada só para servir de consolo?

Eu não me imagino desta forma. Não me imagino arrasado. Claro, já fiquei antes, com Greta. Mas…. O que eu sentia por Greta não chega nem aos pés do que eu sinto por Katniss.

Meus sentimentos por ela estão cada vez mais fora do meu controle.

Meus pensamentos são interrompidos pela voz da senhora Potter:

— Muito bem, vocês já podem sair.

—Finalmente! – exclama o garoto que se juntou a nós na detenção.

Caminho pelo corredor da escola sem olhar para os lados. Gale está um pouco mais a frente. Acelero mais meus passos e caminho ao seu lado.

— Katniss não pode descobrir que não nos odiamos? – pergunto.

— Não! – ele responde sem me olhar.

— Por quê?

— Porque assim as coisas ficam mais simples. Pra mim, pra você e pra ela também.

Ele acelera mais os passos, demonstrando que eu deveria sair do seu lado. Forcei meus pés a caminharem mais devagar.

Quando cheguei ao quarto, Katniss estava escrevendo algo em folhas de caderno.

— O que você está fazendo? – perguntei.

— Oi, só estou fazendo nosso trabalho sobre Dalai Lama. Você vai falar isto e eu falo o resto. – ela me estende um pedaço de papel. Esqueci que o trabalho era pra apresentar e não para entregar. – Eu sei que você é meio encabulado, então...

— Valeu. – digo. Não posso negar que falar em público seja algo que fico desconfortável ao fazer. Tem alguns papeizinhos dobrados encima da escrivaninha, eu pego um e pergunto – Que isso?

— Ah! São frases de Dalai Lama, eu pensei em distribuir para a turma. Eu sei que eles vão jogar fora, mas talvez nos garanta uma nota mais alta no trabalho. – ela pisca um dos olhos para mim.

— Boa ideia. – admito.

Desdobro o papel lendo a frase escrita com uma letra cursiva cuidadosa:

 

Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez.”

 

Duvido que eu possua prazer ao olhar para o meu passado. Perdi toda minha família, fui traído pela minha namorada e, possivelmente, possa ser traído pela namorada recente. Então…. Como vou viver uma vida boa e honrosa se tudo já está saindo errado no começo?

Dobro o papel de volta e jogo junto com os outros.

— Então... Eu acho que posso fazer o cartaz. – afirmo, notando que não ajudei em nada.

— Não precisa. Eu já fiz. – diz ela apontando para uma cartolina enrolada encima da cama dela.

— Você fez tudo sozinha? Em menos de uma hora? – pergunto abismado, pegando a cartolina e desdobrando ela.

— Fiz. – ela admite orgulhosa de si mesma.

Olho para o cartaz, há uma foto de Dalai Lama e ao lado informações básicas sobre ele, como a data de nascimento e onde ele nasceu. Entre outras coisas.

— E eu vou fazer o que então? – pergunto, largando o cartaz na cama novamente.

— Você só vai decorar o que está neste papel e entregar as frases para a turma.

— Eu pensei que o trabalho fosse em grupo... Mas você fez tudo sozinha.

Eu sei que eu deveria agradecer por ela ter feito tudo, mas, para mim, trabalho em grupo é algo que todo mundo faz um pouco.

— Por que está irritado comigo? Estou livrando você de um trabalho!

— Mas não é justo você fazer tudo sozinha.

— Mas eu gosto de fazer isto.

— Tudo bem. – me rendo, levantando as mãos em forma de derrota. – Como conseguiu uma foto de Dalai Lama?

— Usei um dos computadores da outra biblioteca. É melhor você decorar isto logo. – ela fala apontando para o papel nas minhas mãos – O trabalho é pra amanhã.

— Ok.

Sento na cama, me dedicando em decorar todas as frases do papel.

— Você está com fome? – pergunta ela algum tempo depois, quando eu consegui decorar tudo.

— Não. – respondo.

— Eu vou no refeitório comer alguma coisa. Quer vir?

— Pode ser.

Não fui com ela apenas para fazer companhia. Fui porque queria falar com ela sobre Gale. Sei que Gale disse que seria mais fácil ela não saber de nada. Mas tenho algumas perguntas, e acho que mereço as respostas. Descemos as escadas em direção ao refeitório. Um grupo de meninas está sentada em uma das mesas. Uma delas cochicha com as outras e aponta pra mim. Uma outra acena pra mim e grita.

— Oi, Peeta!

Eu aceno de volta sem entender muito.

— Por que elas estão me cumprimentando? – sussurro para Katniss.

— Acho que você é meio que popular agora.

— Só porque bati em Gale?

— Pois é. Esta escola é estranha. – diz ela enquanto pega um sanduíche.

— Peeta! Senta aqui com a gente. – uma das garotas grita pra mim. – Traz a sua amiga.

Eu não queria sentar com elas. Eu queria sentar com a Katniss e esclarecer algumas dúvidas. Mas Katniss dá uma mordida no sanduíche e pega minha mão com a mão livre.

— Vamos satisfazer o desejo delas. – diz ela me puxando para a mesa com garotas.

Katniss senta em um lado da mesa e eu sento no outro lado, a sua frente.

— Então, Peeta, qual o nome da sua amiga? Não vai nos apresentar ela? – pergunta uma loira de olhos azuis como os meus.

— É Katniss. Ela é minha namorada. – falo a última palavra meio engasgado, pois sei que namorada não é o termo correto.

— Ah! – a garota parece decepcionada. – Meu nome é Margo.

— Prazer.

— Eu sou Julianne. – diz uma garota de pele escura com um grande sorriso no rosto. O cabelo cacheado dela, não chega nem nos seus ombros.

Eu sorrio como resposta.

— Meu nome é Liliane. Mas todos me chamam apenas de Lili. – diz uma terceira que é ruiva e possui algumas sardas no rosto.

Há mais uma que não se apresentou ainda. Seu cabelo castanho é um pouco mais claro que o de Katniss e tenho certeza que esta não é a cor natural do cabelo dela.

— Esta é Mary. Ela é meio tímida. – diz Margo quando nota que eu olho para a garota.

Mary levanta um pouco o rosto e me encara.

— Oi. – digo com um pequeno sorriso.

Sei como é chato ser tímido. Mas não sou tão tímido quanto Mary. O que me faz me sentir um pouco mais à vontade aqui. Mary apenas sorri de volta e passa a olhar para a mesa novamente.

— Então, Peeta, você foi muito corajoso ao bater no Gale. – diz Margo, chamando minha atenção.

— Ah! Bem... Obrigado.

— Acho que eu que deveria agradecer. – diz Katniss com um sorriso debochado.

— Você tem sorte, Katniss. Quem dera eu ter um cara bonito como Peeta. – diz Lili e pisca um dos olhos para mim.

Katniss revira os olhos, impaciente, e volta a comer o sanduíche. Ela mesma se exclui da conversa.

As garotas continuam a falar comigo, com exceção de Katniss, que faz rabiscos imaginários na mesa, e Mary, que olha em direção a rua. Eu respondo com frases curtas e rápidas.

Katniss dá um ligeiro tapa na mesa.

— Eu vou indo. Preciso decorar o trabalho de Religião. – diz ela e sai.

— Tchau. – digo enquanto ela contorna a mesa e me dá um rápido beijo.

Ela se vai e eu a observo até ela sumir do meu campo de visão.

— Ela até que é bonita. – afirma Margo.

— Quem?

— Sua namorada: Katniss. Ela até que é bonita.

— Ela é muito bonita. – acabo falando algo que deveria ter sido apenas um pensamento. Margo apenas dá de ombros. Fico mais um tempo conversando com aquelas garotas, até decidir ir embora – Foi legal conversar com vocês, mas está na hora de eu ir embora. Até mais, meninas.

— Tchau, Peeta. – elas dizem em uníssono.

Caminho vendo a tarde cair, o céu em um misto de cores que só aparece nesta hora do dia. Meio rosa, meio laranja, meio azul. Tudo se junta até formar o azul-escuro que aparece quando é noite.

Chego ao meu quarto ouvindo a voz de Katniss no banheiro:

— Não entendo como pode perdoá-lo... Claro! A culpa sempre será minha. Era eu que voltava podre de bêbada toda noite... Eu não estou me fazendo de vítima, mãe! Estou tentando fazer com que entre na sua cabeça que Ben não é mais quem ele era... Faça o que quiser. Tchau!

Estou parado na frente da minha cama sem entender nada. Katniss sai de lá com lágrimas nos olhos, ela para e parece surpresa quando me vê ali.

— Katniss?

Katniss ri de forma histérica, me assustando.

— Ela nunca vai entender, sabia? Ela e tão estúpida! Não acredito que ela seja a minha mãe. Não importa o que aconteça, ela sempre vai dizer que a culpa é minha. E... E... Talvez ela tenha razão! Talvez a culpa seja minha. Eu poderia ter feito mais, mas não fiz. – seu choro aumenta.

Culpa? Mas culpa de quê? Esta situação toda está me matando. E não estou falando só de hoje, falo dos outros dias também. Falo dos pesadelos, das crises, de tudo. Feito mais? Mas feito mais o quê? Sobre o quê? Como vou consolar ela se nem ao menos sei o que está acontecendo?

Faço o que os personagens de filmes e livros fariam: me aproximo e a abraço, deixando ela enterrar a cabeça no meu peito enquanto é sacudida pelos soluços.

— Está tudo bem. – sussurro.

— Nada nunca ficará bem. – ela afirma com a voz embargada e cansada.

Eu suspiro pesado pois não tenho nada para argumentar.

— Por que você não toma um banho? Talvez faça você relaxar. – eu proponho.

— É. Quem sabe. – ela aceita, se afastando de mim e indo para o banheiro.

Quando ela fecha a porta eu desabo na cama. Minha cabeça está girando com esta situação.

Conheço Katniss faz três meses, mas não sei quase nada sobre ela. Muito menos o seu passado. Quem sabe eu esteja com as peças nas mãos e apenas não consegui montar o quebra-cabeça.

O que sei sobre Katniss até o momento? Ela lê o mesmo livro mil vezes. O pai dela está preso e ela, aparentemente, o odeia... ou tem medo dele. Acho que é as duas coisas juntas. Ela tem Síndrome do Pânico por algo que aconteceu com ela há cinco anos atrás. Toma remédio. Tem crises. Pesadelos. Não se entende muito bem com a mãe pelo o que notei a pouco tempo. Frequentou psicóloga.

Tenho uma lista bem grande. E esta lista me leva a concluir que ela passou por algo que a traumatizou quando tinha doze anos. Mas o que será este “algo”? É isto que estou tentando descobrir e não consigo. Eu não tenho todas as peças necessárias para montar o quebra-cabeça.

Katniss sai do banheiro com o cabelo preso em um coque acima da cabeça. Eu rio quando a vejo.

— Qual a graça? – ela sorri.

— Seu cabelo está preso em um coque acima da cabeça. Você parece aquelas japonesas, ou chinesas, ou coreanas. Sei lá qual delas é!

Ela ri, se divertindo com a brincadeira.

— Sou a Mulan então. – ela junta as mãos a frente do corpo. – Eu já vou dormir. Estou meio cansada.

— E o remédio? – falo pegando o frasco na minha cômoda e atirando para ela.

— Obrigada. – ela fala quando pega o frasco.

O avô dela mandou um novo frasco já que, agora, Katniss está tomando o remédio corretamente.

Ela vai até o banheiro e volta logo após, me devolvendo o frasco, eu o recoloco no lugar.

— Boa noite, anjo. – falo, deitado na cama com as mãos juntas atrás da cabeça.

Katniss sorri para mim e se aproxima. Se ajoelha ao meu lado e me dá um beijo demorado.

— Boa noite. – ela diz quando afasta o rosto um pouco de mim e me olha com seus olhos cinzentos.

Ela parece ter esquecido que estava chorando a menos de meia hora atrás. Ou de que estava gritando com sua mãe a pouco tempo.

Ela sai da minha cama e vai para sua. Deita nela e se protege com o cobertor. Em pouco tempo ela dorme. Eu enrolo por mais um tempo. Redecorando a minha parte sobre o trabalho de Dalai Lama e tentando aceitar o fato de ela ter feito o trabalho sem a minha ajuda.

No final, desisto e aceito o que ela fez. Me enrolo no cobertor e caio na escuridão.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Beijocas da Tia Rafú pra vocês. ;)



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