O Sonho Que Vimos Naquele Dia escrita por Lacie


Capítulo 1
Os Fragmentos de Sonho




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I

Um baque.

Deixou-se cair ao chão. Os joelhos doeram com o contato, mas não importou-se. O peso sobre si era maior do que tudo.

Encarou a mulher em pé, incrédulo. Seu olhar sob a máscara era azul, frio e gelo. Não havia compaixão em sua expressão, e a lança em suas mãos era quente e carmesim. A tinta vermelha espalhava-se em suas mãos, e ela levou uma delas à boca, provando-a.

Não era tinta, pensou.

Era sangue.

A mulher de cabelos prateados sorriu. Seu nome ecoou na escuridão em um gemido. O sangue continuou a espalhar-se, tingindo suas mãos e roupas e o chão.

Tanto sangue...

A pessoa sobre si ergueu a cabeça, os olhos dourados faiscando na solidão da noite. Não saberia dizer como ele ainda tinha forças para se manter. Havia decisão em seu olhar, assim como um pesar infinito.

Corra, seus lábios formaram. O desejo de ser abandonado ficou no ar.

Não posso, um pensamento tão forte que teve a certeza de que havia dito em voz alta. Não poderia ir embora e deixar aquela pessoa à própria sorte. Apenas a abraçou mais forte e desafiou a mulher com o olhar.

— Se é o que deseja...

E acordou.

II

— Oi, Souma-kun!

A voz o tirou de seu estupor, e Souma levantou a cabeça tão rápido pelo susto que quase ficou tonto. Encarou a janela que mostrava o corredor da escola e lá estava ela. A moça de cabelos loiros riu de seu susto. Sua reação foi franzir o cenho e encará-la com raiva enquanto ela se apoiava no batente com um embrulho em suas mãos.

— Irmã! O que está fazendo aqui?

— Alguém esqueceu o almoço... saiu com tanta pressa de casa para vir ao colégio dormir? Não queria minha companhia?

— Eu saí mais cedo...? — Sua mente estava confusa. Não se recordava do que acontecera naquela manhã, só tinha lembranças daquele sonho estranho que o acometera.

Era uma quase memória — um sonho tão vívido que poderia jurar que ainda sentia o sangue quente em suas mãos; o odor ocre lhe revirando as entranhas; a visão dos cabelos dourados tingindo-se de carmesim e aquela voz a clamar seu nome...

Tentou expulsar aqueles pensamentos de sua mente. Vinha tenho aqueles sonhos há alguns dias... todos diferentes, mas iguais em essência. O mesmo rapaz de cabelos dourados, o mesmo sangue manchando suas mãos.

Como admitir que estava sonhando com o cretino do Mausi?

Sonhar que ele morria em seus braços?

(E que Souma o abraçava! Isso era o pior de tudo!)

— Ah, já sei! — O loiro virou-se novamente para a irmã, que depositara a mencionada marmita em sua mesa. — Você queria ver o treino de Mausi-senpai! Eu sabia que você não havia entrado em clube algum justo para poder presenciá-lo em toda sua graça no clube de arco e flecha!

Souma esqueceu-se de respirar por um momento.

— Quem disse que eu quero ver esse cretino logo pela manhã?! Você tem merda na cabeça?!

A reação de Nezumi foi simplesmente pegá-lo pelo ouvido, apertando e causando dor. Se Souma pudesse ver a expressão de sua irmã mais velha, saberia que ela estava aproveitando a situação, também.

— Moleque ingrato! Nem agradeceu eu ter perdido meu pouco tempo antes das aulas entregar sua maldita marmita na sua sala enquanto poderia ter deixado você passando fome! — Aproximou seu rosto do ouvido dele. — Não fale assim comigo nunca!

— Tá, tá, já entendi! — Tão logo que Souma soltou-se protegeu a área ferida, colocando uma mão em cima da orelha em uma tentativa de evitar um segundo ataque. — Obrigado, irmã.

— Que tenha aprendido sua lição. — A mais velha cruzou os braços. — Agora eu irei para minha sala. Preste bastante atenção à sua aula! — E sem esperar despedidas, a menina desapareceu corredor adentro, deixando Souma sozinho...

Sozinho?

Não, ele estava na sala, havia mais gente com ele, não era mesmo?

Deu uma olhada por sua sala e, apesar da impressão inicial de que não havia mais ninguém acompanhando seus movimentos, pelo sorriso no rosto de seus colegas, eles certamente haviam presenciado a cena usual dos irmãos Kyoku. Souma manteve a cara de enfezado, não queria ter mais um motivo de chacota entre seus colegas...

— Souma!

E, claro, para coroar, havia aquele cretino.

Ele, ao contrário de Nezumi, não fez cerimônia em invadir a sala do outro e aproximar-se de sua carteira. O rapaz mais velho, que tinha os cabelos do mesmo tom que os de Souma, parecia ter corrido uma maratona até ali. Seus olhos — os mesmos de tom de ouro que faíscavam na escuridão de seu pesadelo — pareciam vasculhar cada canto de seu corpo, e o dono deste corou. Era só o que lhe faltava, ser assediado a essa hora da manhã! Antes que pudesse reclamar, no entanto, foi interrompido.

— Você está bem? Está doendo em algum lugar?

— Quê? Cê tá louco?

O veterano parou para enfim tomar fôlego e agachou-se. Ele realmente tinha corrido uma maratona, pelo visto.

— Nossa, que sorte dessa vez... — Mausi passou uma mão pelos cabelos, afastando-os do suor de seu pescoço. Souma apenas o encarava, um misto de surpresa e — alívio? Poderia considerar aquele sentimento que o sonho não havia se concretizado como alívio quando não suportava o rapaz a sua frente tanto assim?

— Do que diabos você está falando? — exigiu, nada mais justo ao ser perturbado tão cedo pela manhã.

O olhar dele manteve-se sério por um momento, para então desfazer-se em um sorriso. — Não, está tudo bem, eu só queria lhe ver. — Respirou fundo. — Por acaso sentiu a falta de meus braços acolhedores enquanto dormia esta noite?

Mais do que tudo, Souma queria socar esse sorriso para fora do rosto de Mausi.

— Vai. Embora. Daqui. Já.

O outro se levantou rapidamente e tocou o queixo de Souma com a ponta dos dedos. O mais novo empalideceu, em geral o veterano continha seus avanços, mas, pelo visto, estava decidido dar um show à sua turma. Já conseguia ouvir os "kyaaah" de suas colegas ao fundo e isso o irritou ainda mais.

— Me larga!

— Não antes de provar meu amor em seus doces lábios...

— Mausi-san. — Aquela era a santa voz da salvação. Mausi prontamente largou Souma quando ouviu o colega de classe aproximar-se dos dois. O mais novo suspirou aliviado. — O que está fazendo aqui?

Só mesmo Amin conseguia fazer Mausi se acalmar em um de seus "surtos arrebatadores de paixão".

— Vim ver meu adorado Soumazinho, oras ♥. — No entanto, todo os trejeitos do corpo de Mausi voltaram-se para o recém chegado, como se não houvesse mais ninguém no universo além dele. O que era ótimo para Souma. Amin-senpai deveria aparecer mais vezes e ocupar a mente do outro.

— Mas estamos atrasados já, não vê que o professor dele está olhando para nós? — Amin beliscou a mão do loiro, para então a tomar com a dele. — Vamos, desculpe-nos, sensei.

— Certo! — Mas Mausi parou e tomou a mão de Souma que, sem sucesso, tentou se desvencilhar daquele beijo, mas não conseguiu a tempo. Assim que solto, passou a mão nas calças azuis para tentar desinfetá-la. — Nos vemos mais tarde, Soumazinho!

— Até nunca — resmungou de volta. E ignorando o olhar desaprovador do professor, abriu seu caderno e tentou se concentrar na aula, tentando se esquecer completamente do que passara naquela manhã.

E daquele maldito sonho, também.

III

Os dois caminhavam pelos corredores vazios de mãos dadas. Era um costume que, apesar de recente, Mausi logo se acostumara. Aquela mão encaixava-se perfeitamente à sua, como sempre fosse quisto assim. Era tão natural quanto esconder-se na curva daquele pescoço e acariciar-lhe as compridas madeixas morenas. Mas isso quando estavam a sós, é claro.

Não queria admitir, mas não estava com tanto clima para aquilo. Apesar de ter disfarçado, a respiração ainda não se aquietara por completo e aquele ferimento ainda latejava contra seu peito. Mausi parou por um momento, se apoiando em uma parede.

Estava ficando cada vez mais difícil suportar as dores.

Amin parou à sua frente, preocupado.

— Não se esforce tanto, Mausi... — O toque gentil em seu rosto o acalentou. Não importava o mundo, afinal. Amin seria sempre Amin. Levou a mão boa até a dele, a pressionando gentilmente. Fechou os olhos e sorveu daquele calor.

— Obrigado, Amin.

IV

E, como de costume, as aulas passaram em um piscar de olhos e Souma se viu em uma loja de conveniência, comprando tanto o seu jantar quanto o da irmã. Ela trabalharia até mais tarde, como era de costume, e ele...

Por que Souma não trabalhava também? Era o mais lógico a se fazer, afinal, se apenas existiam os dois para cuidar um do outro, por que ele também não se esforçava para conviver naquela pequena família?

(sua missão)

era cuidar de sua irmã, não era?

A mente enevoou-se mais uma vez, a tontura tão forte que achou que fosse cair ali mesmo no chão. Mas conteve-se, apoiando-se em uma prateleira de revistas. Não, estava tudo certo, não era mesmo? Já sabia o que faria, pegaria uma revista de empregos e logo cuidaria para estar trabalhando em uma lojinha ou supermercado. Não seria tão difícil, seria?

Olhou para fora, se surpreendendo pelo fato de que já anoitecera. Ele passara tanto tempo assim na conbini? Certamente sua irmã logo chegaria em casa! Deveria se apressar e levar logo o jantar dos dois!

Pagou os dois pratos de comida congelada (era só o que tinha dinheiro para, a irmã que o perdoasse...) e saiu do estabelecimento, o ar noturno estando frio. O inverno estava chegando, não era mesmo? Logo estariam trocando de uniforme e a neve cairia travessa e cobriria as construções de branco. Souma não gostava tanto assim daquela estação, mas era uma melhora-

Melhora?

Melhora do quê?

Viviam naquela cidade a vida dos irmãos Kyoku toda, não era mesmo? Como saberia diferente?

E, em meio àqueles pensamentos intrusivos, um grito ecoou na escuridão. O que era um tanto absurdo, já que aquela parte da cidade era muito pacata e tranquila, já que era uma área residencial.

Falando nisso, aquela área era muito familiar... Seu sonho tinha se passado nela, não era mesmo? Souma correu, assustado, não queria se envolver, não queria descobrir nada-

E a sombra dourada apareceu logo a uns metros em frente, fraca e cambaleante. Levou alguns segundos para reconhecer aquelas costas, mas quando deu por si, largara suas compras ao chão e se aproximou do veterano.

— Mausi! Você está bem?

— Ah, Soumazinho... — O outro sorriu, fraco. Ele tinha um corte muito feio no torso, do qual saía aquela

tinta

não, era sangue

e manchava o uniforme escolar dele, se espalhando por entre as fibras da roupa.

— Temos que arranjar ajuda pra você! O que aconteceu? — Souma foi mais prático, tentando fazer com que ele se apoiasse em si. Tinha que levar o rapaz para algum lugar que o tratasse, talvez conseguisse transporte para um hospital em uma área mais movimentada, como a da loja de conveniência...

— Ah, de novo te envolvi nisso, Soumazinho... Desculpe.

— Do que você está falando? E quer parar com esse apelido cretino?

Os dois tornaram a cair, mas dessa vez, Souma conseguiu amparar o veterano. Sentia sua respiração entrecortada em seu pescoço, e estremeceu. Mausi estava muito mal, não conseguiria caminhar daquele jeito. As mãos dele foram parar em seus ombros, segurando-os com uma força que Souma não sabia como Mausi possuía. As unhas deles cravaram em sua carne, e ele gemeu.

— Mausi, me larga!

— Desculpa... mas não tem outro jeito. — E Souma sentiu os lábios dele depositarem um pequeno beijo em seu pescoço, para então sentir algo úmido e quente percorrer sua pele-

Como assim, o que aquele pervertido queria fazer em uma hora como aquela?

— PARA COM ISSO-

Mausi estacou, e Souma respirou aliviado. Receber um beijo daqueles no meio da rua, o que o outro estava pensando... e ainda mais com outro homem como Souma! Definitivamente Mausi deveria estar delirando muito!

— Seu cretino, por que—

Mausi levou uma mão até os lábios de Souma.

— Ela está aqui.

Souma ergueu o olhar até o muro, onde um vulto os espreitava. Ela parecia estar usando algo parecido com um kimono aberto, e tinha faixas enroladas por todo o torso e cabelos tão claros que a luz da lua os tornava translúcidos. A figura tinha o rosto coberto por uma máscara decorada com pedras preciosas, mas o que lhe chamou mais a atenção foi a lança vermelha em sua mão. Ela sorria, a única parte de seu rosto que podia ser visto.

Era exatamente como em seu sonho.

— Mausi... mas o que diabos...?

— Tsc. — Mausi tentou se levantar, mas ainda não tinha forças para tal. Ele caiu ajoelhado em frente ao outro, mas tentou erguer-se novamente. — Precisamos sair daqui.

Ao mesmo tempo em que disse aquilo, a figura pulou do muro e pousou com graça ao chão, quase como se não tivesse peso. No entanto, ela não chegou a se aproximar dos dois, como se estivesse observando o próximo turno da dupla.

— Quem é ela? — Uma ameaça, pensou. Sua primeira reação não fora querer fugir, como imaginara, mas sim a de analisar a inimiga. Levantou-se como o outro que, apesar de seus ferimentos, posicionou-se em ataque, colocando-se na frente de Souma para defendê-lo.

— Não temos tempo para descobrir. Vamos! — Mausi segurou o braço do outro, urgindo-o. A mulher apenas sorriu de novo e ajustou o peso do corpo, inclinando a cabeça em um gesto de desafio.

— Vai fugir, vampiro?

Vampiro? Por que ela se referia a ele como

(mas você era um tritão, não era?)

não, eu sou humano-

e sua cabeça doeu por demais. Era tudo confuso… Mausi, notando sua confusão, virou-se para a mulher, exibindo seu melhor sorriso de cafajeste.

— Infelizmente a outra noite me cansou muito, temo que ainda não me recuperei por completo. Creio que a senhorita não se disporia a me dar uma noite de descanso, não é mesmo?

O sorriso horripilante morreu em seus lábios. Ela parecia ofendida pela mera sugestão de deixá-los ir.

— Sabe que não posso fazer isso. É meu dever, senhor Mausi, punir vocês.

— É uma pena mesmo. — Virou-se para Souma, que se levantara também, mantendo uma mão em sua cintura

faltava algo

e ele se colocou em posição de ataque, apesar de não ter como se defender de fato. — Souma, saia daqui.

— O que você vai fazer? Mal consegue se manter de pé!

— Não posso deixar você se meter nisso sem lembrar de nada. Só vai se machucar-

— Vocês não fazem o menor sentido!

No entanto, dentro de si, havia aquele sentimento pungente de que não poderia abandonar Mausi. Ele queria lutar, enfrentar a mulher também e… Irem embora dali.

Voltarem com a missão deles.

A garota arqueou as costas e colocou a lança em modo de ataque.

— Mausi...

— Acho que não está mais aberto à discussão, Soumazinho.

E, com um passo adiante, avançou sobre a mulher, e Souma queria gritar por ele ser tão idiota, tentar enfrentar a mulher sem arma alguma, quando notou que as unhas do outro cresceram em uma fração de segundos, tornando-se afiadas e resistentes. O vampiro atacou o lado esquerdo dela, mas ela, com uma agilidade que pareceria impossível, bloqueou o golpe com o cabo da lança e Mausi recuou, novamente se colocando entre ela e o garoto. Este percebeu que o outro cambaleou ao voltar ao chão, mas seu olhar permanecia sério e fixo em sua oponente.

Mausi obviamente não estava lutando com seu poder total, enquanto a outra parecia completamente recuperada. O resultado daquela luta era óbvio.

Souma precisava fazer algo.

A mulher avançou sobre Mausi, que conseguiu esquivar. Enquanto isso, a mente de Souma estava a toda. Precisava dar um jeito para que os dois escapassem daquela situação. Eles teriam que correr, mas o vampiro não estava em condições perfeitas, talvez eles não conseguissem despistá-la... Deveria haver algum modo de distraí-la. Algo... ou alguém...

— Cheguei a tempo, enfim.

Como um bater de asas, um vento forte soprou, bagunçando os cabelos loiros de Souma, passando por ele como um gentil acalentar, uma brisa quente e calorosa. A ele e a Mausi nada afetara, mas a imponente figura de sua adversária fora jogada para trás, batendo suas costas com tudo no muro. A lança caiu ao chão, e a mulher tentava avançar sobre eles sem sucesso. Era como se houvesse alguém a prendê-la e a impedisse que continuasse.

A voz melodiosa cantou em seus ouvidos novamente.

— Corra, caro Souma. Reencontrai seus amigos.

Como aquela voz era conhecida, Souma pensou, sem conseguir se recordar de onde exatamente a ouvira. No entanto, sentia que conseguia confiar nela. Mausi o encarava sem acreditar no que acontecia, quando Souma o puxou pela mão e simplesmente começou a correr.

Os dois correram na solidão da noite, os únicos sons que ouviam eram os de suas respirações entrecortando o ar. Há muito deixaram a mulher de lança e o vento misterioso.

Mausi parou de correr e Souma olhou para ele.

As manchas carmesim sujavam cada vez mais a sua roupa. O sangue chegava a pingar por entre os pés dos dois, e Mausi se curvou, fechando os olhos dourados.

— Não dá mais, Soumazinho... Acho que cheguei a meu limite.

— Não fala uma coisa dessas, vamos conseguir ajuda para você-

— Nami — o vampirou arfou aquele nome. — E Chibiko. Precisamos encontrar os dois e sair deste mundo.

— Sair... deste mundo?

— Meu faro diz que Nami-san está por perto, deve estar nessa região... mas não consigo encontrar a Chibiko-chan... Ele deve ter a escondido bem.

— Você não está fazendo sentindo, Mausi.

O vampiro ergueu os olhos dourados para o outro.

— Você ainda não lembra?

— Lembrar de quê?

— Da nossa missão. Dos outros mundos. Do nosso objetivo. Do que aconteceu com a sua irmã.

Souma estacou. Do que raios o outro estava falando? Sua irmã estava muito bem, obrigado, presa naquele turno interminável do baito

o corpo caído

esfriando repentinamente

os olhos fechados

o fragmento de espelho

e foi a vez de Souma cair ao chão, levanto Mausi junto. Sua cabeça doía tanto... As memórias

as novas

e as antigas

se misturavam em seu interior e vinham à superfície, confundindo seus sentidos e formando um mar tempestuoso dentro de si. Sem reparar, Mausi levou suas mãos até o rosto dele, segurando-o com firmeza, apesar de seus ferimentos. O olhar dourado encontrou o de Souma, e ele o reconheceu como seu veterano

não, era companheiro

mas ele ainda estava confuso, tão confuso.

— Souma. — Sua voz saiu baixa. — Encontre Nami, ok? Ele vai saber o que fazer...

— Não fale como se estivesse nas últimas, Mausi.

— Ora, Soumazinho ficou preocupado se eu morreria? Não fique, eu só preciso de um pouco de sangue e ficarei bem. Por isso precisamos encontrar Nami ou a Chibiko.

— Tem algo de errado com o meu sangue?

Mausi ergueu uma sobrancelha.

— Não, nada, apenas achei que você não gostaria de passar por essa experiência... Nami está mais acostumado a isso. — Um sorriso nasceu em seu rosto. — Está oferecendo seu adorável pescoço, Soumazinho?

— N-não! — Que diabos, por que ele tinha que perverter tudo?! — Você está caído, certamente não aguentará até encontrarmos Nami... sem falar que aquela mulher pode voltar ainda. Você precisa de forças, até porque, só você pode... farejar esse cara. — Corou um pouco. — Você é realmente um vampiro, não é?

— Acho que sua memória está suprimida ainda, mas sim. Eu sou. — Abriu a boca e mostrou os caninos afiados.

— E... não tem problema nenhum você beber meu sangue, né?

— Nunca achei que fosse ouvir estas palavras vindas de você, Soumazinho. — Mausi acariciou os lábios do outro com o polegar, fazendo o tritão corar ainda mais. Havia um sorriso malicioso em sua expressão. — Posso até fazê-lo sentir prazer com isso.

— Só um pouco! O suficiente para que você consiga ficar de pé de novo! E nada de perverter isso, eu conheço você!

— Hah... Muito obrigado... — Aproximou seu rosto do dele, e Souma corou ainda mais com a proximidade. Por um instante, achou que o vampiro fosse beijá-lo.

(Se ele fizesse isso, ia apanhar tanto...)

— Souma... — murmurou em seu ouvido e a face deste pareceu esquentar ainda mais. O vampiro encaixou os dois corpos, numa proximidade nunca antes vista — ai, se a irmã dele o visse assim, certamente teceria comentários e nunca esqueceria do caso. Estava quente, absurdamente quente. Mausi pendeu a cabeça em seu ombro, como se repousasse, para então repetir o gesto absurdo de depositar um beijo em seu pescoço. Ia reclamar quando enfim sentiu as presas dele penetrando a sua carne, e seu sangue sendo sugado. Era uma sensação estranhíssima, e Souma se agarrou ao uniforme do outro. Seu corpo parecia querer lutar contra aquela invasão, mas era necessário, Mausi não estava nada bem e... ugh, como doía, mas outra sensação começava a se formar.. algo quente e embolado em seu estômago... mais embaixo..

Souma prontamente empurrou Mausi para longe.

— O que você estava fazendo?!

Mausi sorriu, limpando com as costas da mão o restante de sangue que lhe escapara os lábios. — Obrigado, Soumazinho. — E, num gesto ousado, deu um beijo estalado na bochecha do outro. Souma o empurrou para longe mais uma vez.

— Tira esse sorriso do rosto.

— Você é realmente adorável quando encabulado, Soumazinho. — Mausi levantou-se, espanando a poeira de seu uniforme. Souma tentou fazer o mesmo, mas cambaleou, tendo Mausi que segurá-lo no lugar.

— Seu cretino, quanto sangue você tirou?

— Não muito, mas... — De novo aquele sorriso cretino. — Quer que eu te carregue, Soumazinho?

— Eu posso andar!

— Tudo bem, mas se cansar, já sabe que pode pedir, não é mesmo? — Mausi formou um coração com as duas mãos, e Souma, definitivamente, já estava cansado demais daquele dia. — Vamos achar Nami!

V

— Deixe-me ver se compreendi. — O homem de roupas confortáveis deixou a xícara em cima do pires em que segurava com sua mão. — O senhor Mausi e o senhor Souma não são deste mundo, não é mesmo?

— É o que esse cretino diz.

Os três se encontravam em uma casa não tão longe de onde acontecera aquela batalha, apesar da sensação de terem corrido muito até chegarem lá. Nami, apesar do horário (e que horas seriam aquelas, mesmo? Tão confuso...) os recepcionara com chá quente e biscoitinhos assados. E agora, Mausi finalmente parara para explicar o que realmente estava acontecendo.

— Sim. Nós três temos uma missão: temos que reunir os fragmentos do Espelho do Tempo, para que pessoas queridas à nós voltem a despertar. Estávamos viajando por entre mundos quando, repentinamente, um grande dragão surgiu e nos trouxe até aqui.

— Como você lembra de tudo isso? — perguntou o tritão cuja cabeça ainda doía devido ao grande número de informações que degladiavam em sua mente. Ele encostou a cabeça no apoio do sofá, fechando os olhos.

Mausi apenas deu de ombros.

— No começo, eu estava como vocês... mas assim que vi este falso Amin, minhas memórias voltaram com tudo. Apenas não estava certo. As memórias vieram como se tivessem sido de outra vida, mas eu me lembrei. E desde então, aquela mulher tem me perseguido todas as noites, tentando dar cabo do único ser que ainda lembra.

— Então é por isso que ela está atrás de você?

— Sim. Não é a primeira vez que você me pega enfrentando ela, aliás. Já perdi a conta. O problema é que ela sempre parece recuperada dos ferimentos, enquanto os meus não saravam, mesmo os dias retornando... Ela serve à alguém muito poderoso. Foi ele que nos prendeu aqui.

— E tem algum motivo para isso?

— A mulher, em uma noite, disse que o mestre dela estava esperando por alguém. Não sei quem é, mas acredito que ficaremos presos aqui até essa pessoa chegar ou, por sorte, descobrirmos onde o báculo de Nami está. Ele não conseguiu separar-nos, apenas nos afastarmos. Acredito que o mesmo aconteceu com a sua espada, Souma.

— Minha espada... — Sua mão tocou sua cintura solitária. Realmente sentia um peso faltando. — Você acredita que está perto?

— Sim, mas ele a escondeu muito bem. Na primeira vez, ela estava em sua casa, mas agora... acredito que ele escondeu em alguém.

— Alguém? — Souma encarou Mausi, sem mais palavras. Era difícil acreditar em tudo o que ele estava dizendo, mas, de certa forma, também era um alívio. As suas memórias antigas ainda estavam travadas, mas ele não conseguia ver mentira no que o vampiro dizia. Era como ser relembrado de um sonho que a pessoa não tinha há muito tempo.

— Em alguma dessas falsas pessoas que nos rodeiam. Nunca reparou que as pessoas só passam a existir quando as percebemos? Do contrário, são sombras de um sonho distante. As ruas são vazias, o colégio é vazio...

— Mas você fala com Amin-senpai, não é mesmo? — Souma deixou a xícara em cima da pequena mesa à sua frente. — Ele não existe também?

— Existe e não existe, acho. Talvez sua existência seja mais forte porque... eu sinta a falta dele.

E o vampiro Mausi tornou a sorver do chá, permanecendo em silêncio.

— Então... minha irmã também?

— Deve ser o mesmo que o caso de Amin-san, Souma-kun. — Foi a vez do homem de cabelos brancos falar.

— Nami-san... você acredita? Nisso tudo que o Mausi falou e conjecturou?

— Sim.

Souma ergueu uma sobrancelha.

— Tão fácil assim? Eu mesmo não tenho certeza de tudo...

— Eu só sinto que é verdade. Eu também me lembro do que aconteceu, mas as memórias deste "mundo" também persistem. Por isso é mais fácil eu aceitar melhor do que você, Souma.

— Sem falar que toda as vezes que o Souma lembra de tudo, a pessoa que está nos prendendo reseta o mundo...

— Resetar? Como assim?

— Começa de novo. Nós acordamos em nossas camas, como se nada tivesse acontecido... a não ser os ferimentos das lutas anteriores, no meu caso. Acho que essa pessoa não gosta particularmente de mim, já que os do Souma são curados também.

— Então, aquele sonho que eu tive...

— Provavelmente era sobre uma dessas tentativas.

— Quantas vezes...?

Mausi pareceu desconfortável.

— Muitas. Por isso eu precisei tanto de sangue.

— Ah...

— Então, apenas precisamos encontrar nossa quarta integrante, meu báculo e a espada de Souma para sairmos daqui?

— Seria o ideal, Nami. Posso encontrar a Chibiko-chan com o faro, mas temo que os objetos sejam mais difíceis de captar... Até porque, a pessoa os escondeu. Devem estar perto já que este mundo não é grande.

— Você realmente teve tempo de explorar tudo isso...

— Até demais, Soumazinho, até demais.

— Sinto que devemos escapar esta noite. — Nami olhou para a janela, pensativo.

— Por quê? — Souma estranhou.

— Este mundo está colapsando.

— O quê? — disseram em uníssono.

Nami apontou para sua janela, e tanto Mausi quanto Souma correram até ela. Os céus se confundiam e o sol e a lua se mesclavam, e fragmentos se desprendiam do céu em miríades de pedacinhos e desaparecendo.

— Temos que encontrar a Chibi logo! — Souma exclamou, largando a xícara de qualquer modo no chão, Mausi tendo a delicadeza de ao menos deixar a xícara em cima de uma cômoda qualquer.

— Não adianta nada sem o báculo de Nami! Sem ele, não temos como sair deste mundo! — Mausi parou, sua expressão séria. — Ela está aqui.

— Aquela mulher?

— E Chibiko.

— Como elas se aproximaram sem você perceber antes?! — Souma ralhou com o loiro que, novamente, deu de ombros.

— Esse mundo não segue a regra de mundos normais, pelo visto.

— Isso não é desculpa!

Nami escancarou a porta, e os três seguiram para a escuridão. A mulher de lança estava lá, os mesmos olhos escondidos por debaixo da máscara, emanando uma aura de perigo. Ao seu lado, Nezumi seguia com olhos vítreos, segurando em suas mãos uma espada e um báculo, com uma gema vermelha e asas douradas. Amin estava um pouco atrás, segurando com força a quarta integrante do grupo, a menina Chibiko de cabelos rosados.

— Pessoal! — Ela gritou, mas o moreno que a segurava tapou sua boca. Souma olhou para aquela que era e não era sua irmã, e cerrou os punhos. Seus sentimentos estavam confusos, ao mesmo tempo que desejava conquistar a guarda de sua espada novamente, era Nezumi... uma Nezumi que cuidou de seu falso eu naquele sonho, que o acordava e que o acalentava... E a saudades que tinha da sua irmã de verdade, aquela presa em Valikean com o fragmento de espelho a colocá-la a dormir... Aquela a sua frente era um espelho do que já fora

o espelho

e do que poderia ter sido

o sonho

mas Souma decidiu, enfim, que não poderia mais ficar ali apenas a sonhar.

Notou o olhar de Mausi sobre o outro veterano, e viu ali angústia. Provavelmente o vampiro estava tão amargo quanto o tritão estava, pelas mesmas oportunidades perdidas. Sem falar na preocupação da missão deles, desviada, e o quanto de tempo perderam ali. Souma podia não se lembrar, mas a ciência de que Mausi permanecera naquele ciclo por tanto tempo o assustava.

Eles perderem tempo por demais.

A guardiã ergueu a lança para eles.

— Vejo que conseguiram encontrar seu amigo.

— O que está acontecendo aqui? Por que o mundo está estranho?

Ela vacilou.

— Eu não sei... Está errado, o sonho está se quebrando...

O sonho cumpriu seu propósito. — Uma voz surgiu dos céus.

A mulher, no entanto, curvou-se imediatamente. O trio permaneceu surpreso quando uma imagem de um homem alto formou-se na frente da guardiã. Ele era um homem altivo e a aura que emanava dele era de puro poder. Seu rosto estava coberto por uma máscara, parecida com a dela, mas eles podiam sentir o olhar fixo do outro dominando-os e observando cada movimento seu.

— Curvem-se. — A voz era grave e com camadas de poder que impeliam os quatro a obedecerem. No entanto, outra pessoa se fez ouvir.

— Não é necessário, meus caros.

E dessa vez, em frente a eles, um redemoinho contornou-se em figura de uma garota. Ela vestia um vestido branco rodado e tinha longos cabelo ébanos flutuando ao vento. Sua aura era calorosa e confortável e confrontava as ordens do homem a sua frente. Ela sorriu.

Souma podia jurar que já a vira antes, mas suas memórias continuavam presas às inventadas pelo sonho.

— Por que interferir na viagem deles, Dragão?

— Fênix. Enfim chegastes.

— Acreditaria que um ser como você possuísse mais obrigações do que lhe seria permitido ter tempo livre para uma infantilidade como esta. Está atrapalhando a missão deles.

O homem exasperou-se e sua aura tornou-se mais sombria. A garota ergueu a mão, e a sensação de opressão deixou o grupo de viajantes, sendo substituída por uma brisa leve e quente.

— Entregai o que roubastes deles, Dragão.

— Assim, tão fácil? Nenhum de seu grupo conseguiu derrotar minha guardiã, e tentativas foram vastas. Acaso eles estão mesmo preparados para tal jornada? — Ele sorriu, sarcástico.

— Acaso as circunstâncias fossem justas, acredito que apenas um deles seria necessário para findar a vida de sua querida guardiã, mas você não os colocou em posição favorável em momento algum, não é mesmo, Dragão? Temor por perder um de seus preciosos Guardiões do Templo do Dragão?

Ele permaneceu em silêncio. Com um gesto, as figuras de sonho se desfizeram, causando gritos da parte do tritão e do vampiro, enquanto a quarta integrante do grupo correu até eles, enfim livre. Com um gesto, a espada e o báculo também voou até eles, e seus respectivos donos o seguraram, firmes. O homem aproximou-se da garota de cabelos escuros e depositou algo brilhante em suas mãos, para então recuar novamente.

— Pronto, não foi tão difícil assim, foi?

E deu as costas para eles, voltando-se ao grupo de viajantes.

— Tomai de volta o que é vosso, meus queridos.

Os fragmentos brilharam em sua mão, para então reunirem-se novamente no báculo de Nami.

— Peço desculpas pelo inconveniente. Certamente essa pessoa não mais atrapalhará a viagem de vocês. Vão, com minha benção poderão ir a um mundo mais tranquilo e curar-lhes as feridas.

— Quem é ele? — Souma se pronunciou, para então acrescentar: — Quem são vocês?

A garota sorriu, os olhos vermelhos com um brilho divertido. — Eu sou alguém que deseja o bem de sua jornada, e ele é apenas um velho rabugento que não sabe lidar com seus sentimentos por mim. Ele não mais atrapalhará vossa viagem, garantir-lhe-ei. — Lançou um olhar gélido para o outro, que não se dignou a dar uma resposta. — Vão — ela disse, uma ventania voltando a cobrir os cinco. — Pois estão sob a proteção da Fênix Eterna. E este é um voto que não poderá ser quebrado.

O báculo de Nami ativou-se, as asas girando constantes, e o grupo de viajantes escapou do sonho.

Fênix ficou a fitar o céu quebradiço daquela dimensão, pesarosa.

— Como você é cruel, Dragão... Precisava mesmo esconder a espada no fragmento de sonhos que representava a irmã dele? Acaso intencionava a destruição do espírito deles?

O eterno aproximou-se dela, em um gesto provocador. Fênix não se moveu, apenas o fitando. Quando ele finalmente algo disse, eram palavras de sarcasmo.

— Cruel é você, que o forçou a isso. Eu apenas queria dar um bom sonho a eles, Fênix.

A Deusa gargalhou.

— Não acredito que essa foi a sua intenção. Se estava com saudades, poderia ter me invocado de outras maneiras. Não precisava interferir na missão deles.

— Se a missão deles pudesse ser findada apenas por uma mera brincadeira, eles não eram dignos dela para começar.

O olhar carmesim dos dois se encontrou e Yukiko sentiu a terra tremer. Dois seres ancestrais, juntos, poderiam destruir facilmente o fragmento de sonhos em que eles se encontravam. Em nenhum dos mundos havia a memória de uma briga entre eternos, mas, com toda a certeza, a guardiã não gostaria de presenciar uma desavença entre os deuses mais antigos: Dragão e Fênix.

— O que quer, Dragão? Qual o motivo de ter chamado a minha atenção?

— Sei o que fez, Fênix. Interferiu mais uma vez.

— Era necessário.

— Quem poderia julgar que seria necessário? Agora seus protegidos tiveram que ser punidos, e um deles quase morreu. Isso é culpa da sua interferência excessiva. Deixai os mundos da Luz seguirem seus destinos. Se continuar a seguir assim, haverão consequências.

— Que elas caiam sobre mim, então.

— Não sabe o que diz. Haverão mais consequências do que a perda de sua clarividência, e eu não poderei resgatá-la de suas peripécias. Estará sozinha para enfrentar o que o Destino planeja para você.

— Agora está preocupado comigo, Dragão? Que sentimental. Não se esqueça de que eu sou sua irmã mais velha, deveria ser eu a protegê-lo.

— Fênix...

A garota se aproximou dele, estabelecendo o primeiro contato. Tocou em seu rosto por cima da máscara, e havia pesar em sua expressão.

— Peço que apenas observe, meu irmão. Tudo há de se resolver, eu prometo.

— Desista de seu desejo impossível, Fênix.

O vento novamente se interpôs entre eles. A Deusa se afastou, os cabelos ébanos flutuando pelo universo. Seu olhar vasto encarou os mundos que se afastavam e se entrelaçavam pelas tramas do Destino. Ela pensou em como aquele pequeno grupo de viajantes estaria se saindo naquele novo mundo, e rezou por eles.

— Isso sim seria impossível, Dragão.

E desapareceu, deixando apenas a figura sorumbática daquele homem e sua guardiã naquele fragmento de sonho.

VI

— Ah, que pesadelo! — Mausi exclamou, parecendo muito cansado.

O mundo em que eles estavam consistia-se de uma paisagem vasta e verde. A primeira palavra dita entre o grupo de viajantes foi a singela súplica do vampiro por uma banho quente. Ele parecia desesperado o suficiente, então logo o mago, feliz de poder utilizar sua magia novamente, compadeceu de seu pedido. Após uma breve divisória improvisada para que a senhorita Chibiko tivesse privacidade, os quatro apenas caíram dentro da água quente das termas, enfim relaxando.

— Um verdadeiro pesadelo. — Chibiko concordou, do outro lado da parede. — Mas foi bom rever a Yue, mesmo que por pouco tempo.

O vampiro e o tritão permaneceram em silêncio, cada um com seus pensamentos.

— Um sonho... — o tritão deixou escapar um suspiro. — Ei, Mausi... você se lembra da maior parte do sonho?

O vampiro passou uma mão pelos cabelos.

— Lembro de todo ele, mas ele não era exatamente linear. Muitas coisas apareciam e sumiam, assim como você poderia aparecer em outro local apenas com um leve fechar de olhos.

— Então funcionava exatamente como um sonho. — Nami finalizou.

— Era bem trabalhoso tentar encontrar vocês todas as vezes que aquele homem resetava a situação... mas bem, valeu a pena, afinal, pude sentir o caloroso corpo de Soumazinho enquanto degustava de seu delicioso sangue. Foi realmente um achado! ♥

— Eeeee... — a risadinha maliciosa de Chibiko foi ouvida.

— Ora, seu... seu cretino! Você falou que estava precisando muito!

— Eu agradeço, Soumazinho. — O vampiro sorriu. — Agora venha para meus braços para podermos desfrutar dessa noite fria!

— Não, me deixa em paz!

E eles brincaram muito mais, aos risos de Nami e Chibiko, enquanto Souma desesperadamente tentava escapar do vampiro, e depois, montaram a tenda para descansarem.

E, enfim, quando a noite veio, eles puderam ter seus próprios sonhos.


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