Arrow: A continuação da 4º temporada. escrita por RandR


Capítulo 1
Capítulo 1 (4x10): De volta dos mortos




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Os prédios da cidade parecem sem cor. Tão sem cor quanto da primeira vez em que Oliver os viu depois de tanto tempo perdido em uma ilha no litoral da China. Nessas ruas, ruas que ele não pode percorrer rápido como um raio, ruas que ele não pode patrulhar o tempo todo e impedir crimes e assassinatos, há uma contaminação. Não pelo ar, mas por dentro das pessoas. Tudo está desmoronando e, pela primeira vez, seu trabalho de prefeito parece ser em vão.

Seu trabalho de prefeito parece ter sido o maior erro de sua vida.

O brilho que não existe nas ruas de Star City está apenas nos seus olhos. O brilho de esperança. E se ela morrer? E se não houver jeito? E se, agora mesmo, descobrirem e invadirem o hospital e matarem-na antes que ele possa encostar o dedo em seu arco? Dane-se a identidade. Oliver a protegeria de alguma forma. A angústia crescente em seu peito, o desespero, a agonia... Tudo tão afiado quanto as pontas de suas flechas. Flechas que, por sinal, não foram suficientes para protegê-la.

Tudo isso passa pela cabeça do Queen enquanto ele a observa inconsciente numa maca. Os enfermeiros passam por ele sem nada a dizer. Silêncio pelos corredores. O que ele remoía há tanto tempo parece ganhar ainda mais força, afinal, ela está ali. Não ele. Deveria ser ele.

– Não é sua culpa, Oliver – diz Laurel, aparecendo subitamente das sombras. Ela está melhorando bastante nisso, é claro. Mesmo assim, por mais próxima que possa ser a companheira, por mais necessidade que ele tenha de sua presença, Oliver não pode se dar ao luxo de uma distração. Ele sai da frente da janela de Felicity, que recebe cuidados de primeira classe, e encosta-se na parede com Laurel em seu encalço. Sua mão desliza por sua barba rala enquanto ele bufa baixinho. Há exaustão em sua face. – Oliver, por favor, não se culpe...

– Não é minha culpa. É minha responsabilidade – ele responde, a frieza invadindo-o completamente. A mão abaixa. A expressão de um lobo caçador sedento por sangue está nos seus olhos. – Eu vou matá-lo.

– Sei como se sente, mas tem certeza? – ela estreita o olhar com desconfiança. – Oliver, Damien pode ser perigoso, mas matá-lo? Somos heróis. Somos a esperança da cidade.

– Felicity parece esperançosa para você? – sibila. Laurel morde o lábio, incerta. – Ra’s Al Ghul merecia ser preso? Isso não iria pará-lo. A morte é a única alternativa para esses dois.

– Tem certeza de que ele já não se foi?

– Nunca tive tanta certeza. Até mais, Laurel. Eu vou me distrair. – E Oliver começa a andar. Antes que dê mais um passo, a mão da linda mulher agarra seu braço com firmeza. Como se sentisse um choque térmico dentro do próprio corpo, Laurel lhe transmite algo. Uma certa certeza.

– Pediria para não fazer isso. Mas faça. Só me deixe ir junto.

Oliver dá de ombros.

Sirenes tomam conta da madrugada. Oliver não é tão rápido assim desde a ilha. Mãos deslizam rapidamente por canos como se ele estivesse fugindo – e na verdade ele está, só que do próprio desespero –, agarram-se à vigas de madeiras e botas de couro voam por cima de grades. Ele quase não faz barulho. A Canário, ainda em treinamento, deixa cair algumas latas do terreno abandonado em que estão. Ela pode estar melhor, mas ainda assim não passou cinco anos numa ilha.

O traficante se assusta com a flecha que se fixa perfeitamente na parede à cinco centímetros do seu rosto. O comprador musculoso cai para trás. Não deve ser mais que um aluno do ensino médio.

– Vá – ordena Canário Negro. Ele se levanta aos tropeços e desaparece. Oliver se aproxima do homem barbudo e de vestes de segunda mão com cautela, mas este tenta sacar uma pistola com desespero. Ela cai no chão. Oliver o prensa contra a parede, o braço firme contra o pescoço. O traficante sente sua respiração pesada, fria como a noite. Laurel o ouve gemer. – Arqueiro, solte-o.

Oliver soca sua barriga com força. O traficante revira os olhos, vendo estrelas por alguns segundos, e desaba. Ele dispara uma flecha que prende o pulso do coitado ao chão.

– Você está cansado desse sentimento, não está? – Laurel pergunta, mas Oliver já dá as costas rapidamente. Ele salta a lata de lixo e agarra uma escadinha que leva para o terraço. Ela se apoia rapidamente na parede com o pé para ganhar impulso e sobe mais rápido que ele usando alguns atalhos. – Responda-me, Oliver.

Eles alcançam o topo do prédio. Oliver tira o capuz e olha com ar pesado para a cidade que se estende lá embaixo. Tantas buzinas, tantas sirenes, tanto barulho...

– Queria que um raio me atingisse agora – Oliver resmunga ironicamente. Essa ironia é estranha, uma mistura de leveza e do garoto playboy de anos atrás. Talvez seja realmente um arqueiro mais verde. Fazendo piadas em uma situação assim? Quem diria? Seus olhos se encontram com Laurel. Há muito equilíbrio atrás da máscara. – Acho que eu seria mais útil. Traficantes em becos não seriam importantes.

– Quer dizer que tiro ao alvo não está bom para você? – Laurel brinca. – Sei o quanto está cansado, mas você é importante para esta cidade. Consegue ver as estrelas?

– Consigo, passarinho.

– Por que ainda guarda uma foto minha na sua carteira?

Oliver a olha com espanto.

– Quando foi que...?

– Pouco antes de sairmos de lá. Você está com Felicity, por que ainda...?

– Sabe o que é passar cinco anos numa ilha querendo ver uma única pessoa? – Oliver suspira. – Eu me arrependi de muita coisa, Laurel. Não estou assim só pela Felicity, estaria assim por qualquer um de vocês. Por Diggle. Por Thea. Especialmente por você. Estou aprendendo a manter o equilíbrio, só que mesmo assim a preocupação é enorme.

– Quando Sara voltou... eu te segui até o banheiro. Você estava chorando?

Oliver sorri bondosamente.

– Ela foi e voltou tantas vezes que já até me acostumei, mas foi um impacto. Passar horas procurando por Constantine, achar o seu número e tentar não criar uma expectativa de que fosse dar realmente certo... Sabe, o Poço de Lázaro não costuma ser tão efetivo assim. Temos dado bastante sorte ultimamente.

– Às vezes parece que nossas vidas simplesmente pulam essas partes, não é? – Ela aponta para uma ambulância nas ruas. – O treinamento. As tentativas em vão. Os fracassos. Nós sempre recomeçamos, sempre focamos no que simplesmente conseguimos. Às vezes parece que qualquer um pode treinar e fazer o que fazemos da noite pro dia.

– Mas não podem. – Oliver mostra todos os dentes num sorriso. – Por falar em treinamento, você está melhorando bastante. Como está Nyssa?

– Bem. Sabe, é difícil pegar um voo de três horas para ir e voltar, escalar montanhas e coisas do tipo só para vê-la, mas... Vale a pena. Ela me ensinou pontos vitais. – Laurel dá um soco de dois dedos nas costelas do Arqueiro. Ele desaba no chão e a fita indignado. Quando ela levanta o pé e o desce sobre o seu rosto, Oliver o agarra. Ela cai. Ele vai para cima dela e os dois ficam próximos como não ficavam, também, há anos. – O que acha de uma luta numa noite calma?

– Não estou com cabeça para isso, passarinho.

Ela se livra dele. Chutes, socos e flechas disparadas. Canário Negro prova seu valor e as agarra, as desvia com seus bastões. Oliver quase deixa de pegar leve e usa sua força, mas no fim a agarra e a escora no parapeito. Carros passam lá embaixo e o cabelo louro da moça balança com o vento.

– Tudo bem, eu me rendo. Puxe-me de volta.

– Não acho que você mereça.

– Oliver, eu mandei me...

– O quê? Não estou ouvindo. Quem sabe se...

Carros voam no próximo cruzamento pouco antes de onde começa a ponte sobre o enorme Rio Menea. Alguns tombam, alguns param. Pessoas gritam. Caos e chamas cobrindo toda a rua. Oliver solta Laurel, que cai todo o prédio com um gemido, e dispara uma flecha presa à uma corda que se agarra ao pé da mulher, impedindo uma queda de cabeça lá embaixo. Em seguida, ele prende a corda e desce deslizando por ela também. Assim que Oliver toca o chão, o velho e ranzinza herói que ele é de verdade murmura:

– Algo está acontecendo.

– Puxe o capuz – ela concorda, levantando-se. – Vamos checar.

A moto verde cruza ruas e avenidas. Oliver passa por entre carros e algumas viaturas e têm alguns dedos civis apontados para ele. Normal, não? É a consequência de ser um herói: não saber se falam bem ou mal. O seu veículo veloz está quase se aproximando quando Canário, sentada logo atrás dele, exclama:

– Ali! – Ela mira um bombeiro em chamas. Já está morto. O caminhão de bombeiros, tombado de lado e em chamas assim como dois outros carros, paralisam toda uma ponte. Mais policias estão chegando de todos os lados. – O que causou isso, Oliv...?

Outra explosão vem. O Arqueiro Verde salta da moto com a mulher assim que metade da ponte à sua frente despenca para o rio gelado lá embaixo. Algumas cordas que mantém a travessia estável se soltam. Pondo-se de pé rapidamente, Oliver recua para trás de um carro no momento em que dezenas, não, centenas de tiros de uma metralhadora por pouco não o acerta.

Um míssil tomba um carro de polícia lá atrás. Mais gritos.

– O que está havendo? Damien Darhk? – grita Canário.

– Não – responde ele, voltando seus olhos para o homem ali parado logo à frente. Duas espadas nas costas junto com uma metralhadora, uma bazuca em mãos e uma pistola no coldre. A máscara de duas faces: preta e amarela. O uniforme foi modificado, está mais preso ao corpo, mais justo, deixando-o claramente mais ágil.

E algo pista em vermelho ali no pescoço de Slade Wilson.

Oliver parte para cima disparando flechas um segundo antes dele disparar contra outro carro. O míssil voa para o céu e explode nas nuvens pesadas.

Socos, chutes e flechas voando. Slade desvia de todos os ataques e revida com força, mandando Oliver para cima de um capô. O herói desvia no último segundo quando duas espadas já se fincam no metal, então ele dispara uma flecha que é cortada ao meio.

O exterminador avança, deslizando as duas espadas – que habilidade insana, onde ele aprendeu? – e intercepta todas as flechas. Canário grita com suas ondas poderosas de cima de um carro, quebrando alguns vidros. O Exterminador a olha.

– Isso é tudo? – debocha. Ele saca a pistola rapidamente e aponta para ela, mas Oliver avança e o distrai. Socos e recuos. Investidas de espadas cortam o ar, assim como tiros que o arqueiro tem que desviar e algumas bombas. O carro que Oliver se esconde voa lá para baixo.

Embora policiais tentem controlar a situação, tudo está um caos. Laurel tenta ajudar Oliver, mas não aguenta muito mais que dois minutos de mano a mano com o Exterminador. Ele a leva ao chão e, quando ergue suas duas espadas para finalizar o serviço, uma flecha explode um material azulado.

Gelo.

Antes que Slade possa ter a mobilidade de suas mãos poderosas de volta, o Arqueiro Verde se joga para ele e o coloca à beirada da ponte.

– Como fugiu, desgraçado?! – exclama Oliver, socando-o sem parar. Laurel se levanta. – Como saiu da ilha? É impossível...

O chute que o arqueiro leva o faz parar no meio da rua. Policiais de prontidão se preparam para atirar, mas o exterminador é mais rápido e agarra Oliver pelo pescoço.

– Não atirem! – exclama Laurel, pondo-se à frente com braços esticados. – Por favor, não atirem!

– Não devia ter voltado, Slade. Já tenho muitos problemas na cidade – sibila Oliver, largando o arco por causa do sufoco. Seria possível que ele morresse ali?

– Como sabe meu nome? – Exterminador murmura. Então, num movimento repentino, ele empurra o Arqueiro e se joga de costas nas águas lá embaixo.

...

– Como assim “o Exterminador voltou”?! – exclama Diggle, ajudando um Oliver exausto e cheio de feridas de espadas a sentar numa maca. O quartel deles está como sempre. Os olhos do homem negro estão arreganhados. – E como assim ele não te reconheceu? Pensei que fossem inimigos mortais. Pensei que a Argus estivesse...

– Argus – ressalta Laurel, também sentando-se com exaustão. Há um arranhão perfeito abaixo do seu olho esquerdo que Slade fez com uma espada. – Aqueles movimentos, aquela roupa melhorada, aquela técnica... Slade estava realmente preso?

– Você acha que...?

– Eu acho – diz Oliver, gemendo com o remédio de ervas colocado sobre sua perna. Sua roupa de vigilante está toda danificada. – Slade andou treinando. Alguém lhe ofereceu suporte.

– Vou tentar contatar Amanda Waller – diz Diggle.

– Não é necessário – diz uma voz às sombras.

Oliver se levanta rapidamente, agarrando o arco e preparando uma flecha. Antes mesmo de perguntar, ele dispara contra o vulto que se aproxima.

A flecha vai parar no chão. Diggle, com a pistola já em mãos, não se dá ao trabalho de erguê-la. Ali, parado logo à frente com sua postura arrogante e desprezível, o nariz empinado e o ar de seriedade emanando para todos os lados, está ninguém menos que a própria Waller.

– Slade Wilson é um coelho grande demais para uma gaiola, senhores – diz ela, cada sílaba soando como um fogo ardente que queima no fundo de todos os ouvidos.

Laurel toma a dianteira, tirando a máscara do rosto e esboçando surpresa.

– Como entrou?

– Sei tudo sobre o Sr. Queen. Mas isso não importa. – Ela começa a andar de cima para baixo. – Dei-me ao trabalho de vir até aqui pedir para que não interfiram.

– Soltou Slade?! – exclamam Diggle e Oliver ao mesmo tempo. Eles trocam um olhar rápido e os voltam para a mulher. – Não acredito que pôde fazer isso, sua... – Oliver toma o assunto.

Ela levanta a mão grosseiramente.

– Ele não é um perigo para você ou para o que quer que chamem... isso. Diggle, você conhece melhor do que ninguém o que chamo de Esquadrão Suicida.

– Não me diga que colocou Slade no seu time – ele vocifera. – Ele é incontrolável, Amanda!

– Sei disso agora. Damien roubou uma quantidade de armas e arquivos secretos uma semana atrás. Mandei um novo Esquadrão atrás dele e eles recuperaram os arquivos, mas estão todos mortos. – Amanda fecha a cara. Ela com certeza odeia perder. – Percebi que Damien é algo grande. Por mais que não tenhamos nada um contra o outro além deste pequeno inconveniente, resolvi mandar Slade para esta missão de vingança.

– Agora ele está descontrolado! – exclama Oliver. Laurel aperta o seu braço para tranquilizá-lo, mas ele a afasta. – O que você fez, Amanda?!

– Já disse que ele não é um perigo! – ela reafirma com convicção. – Antes de libertar Slade e implantar uma bomba em seu pescoço, meus melhores profissionais removeram a memória que ele tinha de você, Sr. Queen. Sim, Slade ainda odeia Oliver por um motivo que ele não entende, mas ele perdeu a parte que liga você ao Arqueiro Verde. Não se preocupe, ele não terá motivos para atacá-lo agora.

Todos na sala trocam um olhar com pouca segurança. Oliver abre a boca e nada sai. Laurel balança a cabeça em discordância.

– Mexer com a cabeça dos outros é algo complicado. Agora temos um Slade descontrolado aí fora? – ela resmunga. – E se ele sair de seu controle...?

– Saiu. – Amanda bufa baixinho. – É oficial: Slade se tornou um mercenário. Eu o mandei para matar Damien, mas após uma batalha sanguinária que eles tiveram... Damien simplesmente comprou Slade. Dinheiro. Armas. Tecnologia. Por último, Exterminador recebeu um trabalho de destruir a ponte do Rio Meneas de Star City para atrair a atenção do Arqueiro. – Ela revira os olhos. – Slade devia tê-lo matado, Oliver. Só que ele já tinha dinheiro e não viu objetivo. Ele está longe agora.

– E quer que aceitemos isso numa boa? – diz Oliver. – Temos que caçá-lo. Prendê-lo. Nós temos que...

– Não, não tem. Mandarei meus homens atrás dele. Creio que, no futuro, eu possa vir a usá-lo para alguns serviços. – Ela começa a dar as costas. – Enquanto isso, peço para que não se preocupem.

– Como conseguiu desviar minha flecha? – Oliver se adianta, incomodado.

– De quem você acha que compra “escondido” armas tão letais? – ela sibila. Então, com mais uma troca pesada de olhares desaprovados, Amanda desaparece na sombra e a porta de metal é fechada para gerar uma nova senha.

– Vamos atrás do Slade? – Diggle se volta imediatamente para Oliver.

– Não. – Ele balança a cabeça. Há convicção em sua voz. – Não é bom contrariar Amanda. Se Slade aparecer por aqui novamente ou vier atrás de algum de nós, eu o matarei com minhas próprias mãos.

– Não parece sensato – intervém Laurel.

– Não estou sensato agora, passarinho. Precisamos treinar para Damien. Não teremos ajuda. – Oliver mira os olhos exaustos para a TV. Um homem vestido com colante preto de couro e com a máscara de traços felinos luta rapidamente contra uma gangue de quatro homens armados. A gravação de celular termina. – Parece que Pantera voltou a atuar. Flash está ocupado em Central City. E Malcolm... Bem, não há como contarmos com ele. Parece que somos apenas nós.

– Prepare-se para gritar, Laurel – diz Diggle. – Preparei um treinamento rigoroso para nós.


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Notas finais do capítulo

Ra's não está morto.



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