Amo. E amei. Amei a ti, sem me dar conta de que o fazia, meu bem. Tiraste de mim meu coração à força e o resto de mim não o percebeu. Eras longe, bem-amado. Longe demais de mim e de tudo o que sou, e por tão longe seres, fizeste-me cega. Como mariposa cerca da luz estava eu cerca de ti, mas como aquela que chegou perto demais, morri. E tu fostes a minha morte como a luz o é para a pobre mariposa. A minha morte foi perceber tarde demais o quão próxima estava de ti e o quão indiferente eras a mim. Brilhavas intensamente aos meus olhos, mas, tola que sou, dei-me conta apenas quando não havia mais solução. Mas tu? Tu nunca o percebeste.

E não penses tu que não dói. Amar, meu bem, é morrer de dor e amor; e eu morro todos os dias um pouco mais. Que cruel és, que cruel é a tua plena felicidade tão longe e tão culpada da minha dor. Singular é a tua capacidade ferir-me sem cessar. O punhal que se crava em mim, abrindo a mesma ferida vez a vez, tem o teu nome gravado nele. Lâmina aguda, gume afiado, quanta dor tens causado!

Clamo aos céus, rogo aos deuses “Piedade! Piedade de mim que sou fraca e indigna!” Desejo teu amor, mas não o posso ter. Como o Anjo, desejo o que é puro e belo, mas tenho alma torpe, ignorante e suja. Tenho pudores de sujar-te de minha imundície, mas meu desejo não arrefece. Faltam-me forças para deixar de amar-te; falta-me dignidade para receber teu amor.

Ai de mim, ai de mim! Tempos sombrios vêm e hei de sucumbir. Uma vez mais, hei de cair. Uma vez mais ao teu amor me renderei. E, então, o fim. Longe do teu corpo, hei de morrer de amar muito mais do que pude.