Minha História no Mundo Olimpiano escrita por Vencedora de Lesmas


Capítulo 21
Cigarro, Martelo e Angus Young.


Notas iniciais do capítulo

Faz tanto tempo... E ANDRESSA ESTÁ DE VOLTA, GALERA!!! Vamo que vamo.



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            Espada, espada, aqui vou eu! Certo, certo. Olho ao redor e não entendo nada. Hm, achei que eu tinha perdido a manha de esquecer tudo o que acontece em minha vida, mas tudo bem, hora da recapitulação com a tia Andressa! Missão para pegar uma espada de um tal Aahbran em El Paso, ok.

1º Fui parar em Memphis.

 2º Conheci um cara do Egito, Tot. Ele era legal, e... até sexualmente atrativo. Concentra!

3º E mais importante: Hermes falou que eu sou a namorada dele.

4º Hermes como é muito legal, lindo, maravilhoso, perfeito CONCENTRA! ...ele me trouxe para El Paso e quase me engravidou. Novamente.

5º algo pegajoso acabou de grudar em meu rosto. Isso não é legal.

            Dou mais uma olhada onde estou, uma sala grande (que mais parece um corredor, porém termina em uma plataforma/altar) com um teto alto, suportado por pilares enormes com representações de Atlas ao final. Tenho de admitir, aquilo era um pouco engraçado. Ok, bem pouco. De qualquer jeito, isso não muda o fato de o chão e as paredes serem pintadas de um tom irritante de cobre. No chão, estava desenhado um animal que eu nunca vira, com uma cabeça de lobo, uma de dragão e outra de leão. Um tremor gelado percorreu meu corpo.

            Finalmente criei coragem para tocar aquilo que viera de encontro à minha bochecha... era molhado, sem dúvida, mas sua temperatura me deixou desconfortável. Afastei os dedos do rosto e me coloquei a examinar o sangue dourado. Dourado?

            Andressa!, ouvi o grito estridente em minha cabeça e tudo veio à tona.

            Eu estava deitada de costas em uma clareira com Odisseu, dormindo, quando algo me acordou. Esse algo, obviamente, era meu grifo de estimação, que antes havia acordado com um barulho. E esse barulho, obviamente, era de alguém tentando me matar. Saco me espada como um ninja, já de pé e pronta para ação, maaaas levo uma pancada na cabeça e apago. É só disso que eu me lembro? Sério mesmo? Porra, preciso ver um médico.

            Me virei para olhar Odisseu, e senti instantaneamente meu estomago se contrair: a asa esquerda dele se contorcia em um ângulo não natural, as penas empoadas de sangue. O gosto da bílis inundou minha boca. Merda, merda, merda, merda. Sabe quando a raiva te invade e você só enxerga vermelho? Então... não consegui pensar em mais nada do que o meu anel do dedo médio escorrendo para minha palma; para situações como essa, você deve usar um martelo de guerra. Eu queria matar, estraçalhar e esmagar o que quer que tivesse encostado em uma pena do MEU grifo, até que eu o vi. Congelei em minha posição pré-correria-louca-e-psicótica.

            Meus demônios de infância e vida se contorciam em uma imagem solene de pé perto do altar, segurando uma lança farpada de aspecto não muito “vamos fazer churrasco!”. Alto, magro, de rosto pálido com olhos azuis profundos e um cabelo grisalho que lhe caia sobre os olhos. Não, não poderia ser ele. A imagem tremeluziu e se transformou em um rapaz esbelto que parecia apenas um pouco mais velho que eu, de cabelos cor de palha e olhos cinzentos; suas vestes eram as que os gregos usavam fazem muitas eras. De onde quer que esse cara venha, definitivamente o tempo não passa lá.

            E eu acho que eu preciso mesmo de um médico.

            O cara, que parecia ter acabado de sair de uma exposição sobre a Grécia Antiga, levantou a lança-de-churrasco-não-amigável e girou o braço graciosamente para o lado em um único movimento, desviando três balas seguidas que vieram do outro canto da sala. Meus olhos formaram o trajeto oposto ao do tiro e me deparei com um homem com aparência militar, casaco de couro e óculos escuros com um brilho flamejante em seu interior. Ares?!

            - Já tava na hora. – grunhiu o deus da guerra, me saudando com uma AK-47.

            - Desculpe, devo ter desmaiado com sua incrível beleza – rebati. Um sorriso maldoso surgiu nos lábios de Ares antes dele se voltar contra o grego. Tá, eu sou filha de Hefesto, inimigo mortal de Ares por questões pessoais (lê-se aqui Afrodite), mas o motoqueiro fantasma aqui não é de todo mal. Ok, eu deveria usar outro termo.

            - Vai me ajudar ou não? – rosnou ele, um gemido escapando de seus lábios.

            - Aaah... não sei... quem sabe daqui a pouco... – me espreguicei. Eu poderia continuar brincando com o cara da guerra o tempo todo, porém um arquejo de Odisseu me fez encarar a situação com mais determinação. Acredite, em qualquer outro momento, eu deixar um idiota de toga espetar e grelhar Ares, mas não quando esse maldito idiota de toga ousa atacar meu grifo. ELE É O MEU GRIFO, PORRA!

            Corri desenfreadamente, (e mancando, obviamente), até o grego, levantando meu martelo acima da cabeça. Modéstia parte, meu martelo é uma obra prima que ganhei no meu aniversário de 16 anos do papai, de um metal tão forte que amassava quase qualquer coisa, e o melhor de tudo: é muito leve. Parecia que eu estava levantando um canudinho de refrigerante mortífero. Papai tinha dito que era feito de bronze celestial mergulhado no Styx, fazendo com que fosse indestrutível. Por isso eu só usava meu martelo de guerra em situações extremas ou especiais, como quando um cara sem roupa íntima quebra a asa de seu leão/águia de estimação.

            Só quando eu estava a alguns metros, o grego pareceu me notar. Seus olhos de tempestade se viraram para mim lentamente, com uma expressão de tédio e dúvida. Não pude deixar de sorrir. Me aproximei um pouco mais e coloquei impulso em minha perna boa, lançando-me no ar e levantando o martelo um pouco mais a cima, deixando a cabeça pender pra trás e agarrando o cabo com ambas as mãos. Um riso histérico e maldoso e escapou de meus lábios. Deixei que toda a força, tanto de minha queda quanto a do martelo atingissem o homem de olhos cinza.

            - BANG! – gritei, rindo. O chão abaixo se quebrou em centenas de pedaços, mas nada de sangue, miolos ou ossos esmagados. Franzi o cenho.

            Aterrissei com mais força do que eu pretendia.

            - Merda! – praguejei, perdendo o equilíbrio e caindo sobre o meu ombro esquerdo com um baque doloroso. Rolei para o lado até que minhas costas que agora ostentavam cicatrizes encontrassem a base da plataforma, causando muita dor em minhas costelas; acho que quebrei uma.

            - QUANDO EU DISSE PRA AJUDAR, EU QUIS DIZER AJUDAR! – berrou Ares.

            - Ai...

            - VOCÊ NÃO CONSEGUE FAZER PORRA NENHUMA DIREITO?!

            - Aaargh...

            - QUE BOSTA VOCÊ PENSA QUE É? AQUELE MORTAL QUE MATOU OS DEUSES E SE DIZ DEUS DA GUERRA?!

            - Oh... ei, ‘pera, você quer dizer o Kratos?

            - NÃO INTERESSA!

            - ‘Cê... tá falando de um vídeo-game...

            - EU PEDI SUA OPINIÃO?!

            - Tecnicamente...-

            - CALA A BOCA!

            Minhas costelas estavam doendo tanto que eu nem me dei ao trabalho de replicar. Deixei que o ar entrasse e tentei controlar sua saída, mas aquilo doía muito mesmo. Um silêncio estranho se irrompeu na sala, o que me fez virar o rosto para tentar enxergar. Odisseu estava se arrastando para mim, e Ares tinha parado de rosnar. Não consegui encontrar o grego, mas também eu não conseguia ver mais nada, meus olhos começavam a embaçar.

            - Mas que droga... – resmunguei, passos se aproximavam de mim. Tentei reagir, mas uma mão foi mais rápida e me tocou de leve nas costelas. A dor do toque foi tremenda que eu perdi a cosciência.

***

            Abri meus olhos lentamente.

            Ah, ótimo. Fiquei desmaiada MAIS UMA VEZ. Sinceramente, acho que não posso continuar assim, eu tinha de levantar e ir embora de uma vez porque tudo tem limite, mesmo sendo louca a vida de uma semideusa como é, mas uma dor excruciante em minhas laterais me fizeram parar. Um cheiro forte de cigarro inundou minhas narinas e aos poucos fui compreendendo uma melodia que se mostrou sendo ACDC. Parei novamente, mas o estranho dessa vez foi que eu não sentia dor. Sentei-me, com sucesso, e me espreguicei. É, a dor tinha parado.

            E aí, gata?, ouvi a voz familiar em minha cabeça.

            Odisseu!, exclamei.

            O próprio. Quer um autografo?, pelo humor já dava pra saber que tudo com ele estava bem. Me surpreendi com o alivio que sinto quando tive certeza de que ele estava a salvo.

            Continuei meio deitada e estiquei o pescoço para trás, apoiando a cabeça no altar. Suspirei sonoramente.

            - Melhor? – ralhou uma voz familiar. Ares.

            - Sim. – resmunguei.

            - De nada.

            - Obrigada, senhor Ares.

            - Para uma filha de Hefesto, você é durona. – disse o deus, tirando o cigarro da boca e virando-o entre os dedos. Ah! Então o cheiro vinha daí. Ares estava sentado contra um pilar, usando a boca escancarada de dor de Atlas como cinzeiro. Um iPod estava conectado à uma daquelas caixas de som portátil. Outro mistério solucionado.

            - Obrigada, Ares. Senhor. – não cuspi as palavras dessa vez. Um estalido ecoou em minha mente – Onde... aquele cara.. o de toga... sabe?

            - Aahbran?

            Quase vomitei meu pulmão.

            - Aquele era Aahbran?!

            Ares deu de ombros.

            - Sim. Mas o que importa quem ele era? O filho da puta pegou a espada.

            Ok, isso era ruim. Muito ruim.

            - Merda. – gemi.

            - Merda. – concordou ele.

            Só uma coisa ainda não estava clara...

            - Então... o que você estava fazendo aqui?

            O deus da guerra deu de ombros novamente.

            - Assuntos do Olimpo.

            - Aham. – fechei os olhos novamente.

            - Quer um trago? – perguntou ele, me jogando o cigarro.

            O cigarro rolou até minha mão que estava apoiada no chão.

            - Eu não fumo. – respondi educadamente.

            - Quer um trago? – repetiu ele. Parece que um cigarro do machão dos deuses não é oferecido todo dia, então peguei-o e o levei aos lábios. Me engasguei com a fumaça.

            Ares riu e senti meu rosto esquentar. Peguei o cigarro com mais determinação e consegui tragar. Bufei a fumaça lentamente. Que legal, eu sou um dragão!

            - Obrigada. – falei, lançando o cigarro novamente a ele. Ares o pegou e o colocou no canto da boca.

            - Você sabe que vai ter que achar Aahbran e pegar a espada, não é? Antes que ele faça alguma merda.

            Anui devagar.

            - Bom, isso é tudo. Mate alguns por mim, pirralha. – ele levou a mão à têmpora em sinal de continência, e eu o retribui. Fechei os olhos e uma luz divina encheu a sala. Não os precisei abrir para saber que Ares tinha saído.

            Suspirei, ainda de olhos fechados.

            - Me explique. – ordenei à Odisseu.

            Peça com carinho, implicou ele.

            - Por favor...

            Vejamos... por onde começo? Além de você ser inútil e ter desmaiado, MAIS UMA VEZ (me sinto humilhada por um semipassáro) eu tive que salvar a pátria, porém... Odisseu levantou a asa que agora já estava curada, mas ainda salpicada de sangue.

            Ah, é... suspirei dentro de minha cabeça. Falar estava me cansando. Como isso aconteceu, aliás?

            Que bom que você se importa comigo só agora.

            Ora, vamos...

            Eram esqueletos escravos, todos gregos. Gregos mesmo. Como se Platão tivesse saído da cova e viesse tentar nos matar porque não prestamos atenção na aula de filosofia.

            Desde quando você sabe o que é filosofia?, perguntei.

            Não é porque você é imbecil que eu devo ser, rebateu ele. Realmente, ser humilhada por um grifo era horrível.

            Enfim, rematou Odisseu, eles vieram, te apagaram, me morderam e nos raptaram.

            Seus detalhes me encantam.

            Ele rosnou, seu lado leão aflorando.

            Isso é o mais importante.

            Sorri. Odisseu se aproximou e deitou a cabeça em meu colo. Deixei que meus dedos acariciassem as penas da cabeça dele e tamborilassem na superfície dourada de seu bico.

            E agora?, perguntou o grifo.

            Não sei, respondi, e foi quando eu reparei que meu martelo se encontrava a alguns metros a minha frente, polido e bonito como sempre, porém com uma aparência mais similar a de um machado. Esmagar e cortar. Agora eu estava começando a gostar.

            Não sei, repeti, mas Ares é um cara legal, se você desconsiderar que ele quebrou o meu carro, já cortou minha coxa e me prendeu em uma ilha por três meses.

            É, concordou Odisseu. Ele logo adormeceu e eu me concentrei em realizar desenhos em cima de suas penas da cabeça. Seria bom que ele descansasse, temos um grego alucinado e zumbi para achar e matar. Como é mesmo que se mata um zumbi? Droga, preciso assistir essa série mortal chamada de The Walking Dead.


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Notas finais do capítulo

Enrolação? Provável. Eu só queria tentar retomar a história e assim criar raízes frescas para ela. Acho que não vou conseguir voltar a escrever que nem antigamente (já faz um tempo, né?), mas espero que gostem. Aceito reviews, ok? Bj (: