Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 6
Pequenos Infortúnios


Notas iniciais do capítulo

Olá, humanóides!
Novo capítulo para vocês, seus fofos *-*
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/667769/chapter/6

DAREL

Sentia meu corpo estremecendo de adrenalina e dor.

Encarar a expressão atordoada de Nyree parecia tornar tudo ainda mais espantoso.

Ainda estava abismado com minha forma animal. Depois de ter presenciado a transfiguração de Nyree por tantos meses, não esperava que fosse tomar aquela forma em especial.

Os vergões que eu recebera dos dingos que havia atacado começavam a arder. Sacudi minha Cabeça, tentando ignorar o latejar das feridas.

Nyree deu um soluço tão forte que Tāwhai deu um pulo ao lado dela.

Arregalei os olhos, surpreso, quando ela ajoelhou na areia, me acolhendo num abraço apertado.

Tāwhai me encarou, sem conseguir acreditar.

– Darel? Ele... ele...

Senti o arrependimento me varrer, enquanto Nyree me abraçava. Eles deviam ter andado quase todo o redor da savana ao lado de Tokonga á minha procura. Se eu não os tivesse encontrado... os dingos teriam... e teria sido culpa minha.

– Darel, Darel... – guinchou Nyree – você salvou a gente...

Assustado, senti as lágrimas dela empaparem o pelo de meu pescoço.

Afastei a cabeça de seu ombro, focinhando sua bochecha, numa tentativa de consola-la. Era um saco não ter braços ou mãos para acalmar alguém.

Não podia culpa-la por estar taquicardíaca daquele jeito. Eu mesmo tinha hesitado para atacar os cães enormes que os haviam acuado.

Mas algo simplesmente tinha em impelido para frente. Algo maior do que qualquer medo que eu pudesse ter tido.

E, quando me dei conta disso, os machucados já nem doíam tanto, afinal.

Nyree afagou minhas costas, parecendo se acalmar os poucos, o tremor substituído pela admiração.

Tentei nãos sentir uma compaixão dolorosa quando encarei o rostinho choroso da minha melhor amiga.

– Por isso você desapareceu da aldeia? – ela murmurou.

Assenti, baixando a cabeça para lamber a ferida em meu ombro.

– Obrigado, Darel – Tāwhai sentou ao lado de Nyree – eu não teria conseguido proteger ela.

Olhei para ele, suspirando pelo focinho.

O pobre Tāwhai tinha feito o possível antes que eu aparecesse. Ouvira os gritos dele para os dingos, e o admirava por ter tomado coragem para fazer uma tentativa desesperada de afastar os animais.

Pateei o braço dele, soltando um grunhido que mais aprecia uma risada.

Nyree pareceu perceber, e deu uma risadinha também, aparentando estar bem mais aliviada.

Ela baixou as mãos para a pequena bolsa que trazia junto á cintura, retirando de lá um punhado de folhas e uma tira de pano.

Imóvel e curioso, assisti Nyree afixar as folhas em meus machucados, enrolando-as com a tira e cobrindo-os.

– Pronto – fungou, quando deu um nó no pano em cima de minhas costas – lá na tribo a gente arruma outra coisa pra sarar esses machucados – Nyree sorriu.

Quis agradecer, mas tudo que saiu de minha garganta foi um ganido irritante.

Bufei, chateado.

Mas Nyree acarinhou minha cabeça, dando uma piscadela.

– Eu sei – e acrescentou, brincalhona – agora tá me devendo uma.

Revirei os olhos, fazendo ela e Tāwhai rirem.

– Consegue andar, Darel? – perguntou Tāwhai.

Experimentei andar alguns passos para frente, mas minhas patas fraquejaram, o que fez meu corpo escorregar no chão.

– Acho que não – Tāwhai me mediu com as mãos – acho que posso carrega-lo, Nyree.

Nyree observou, apreensiva, Tāwhai me puxar para suas costas, amarrando-me na bolsa que trazia em seu dorso.

– Tudo bem, Darel? – Nyree me olhou quando Tāwhai terminou de me aninhar.

Fiz que sim com a cabeça.

– Ótimo – vi Tāwhai erguer os olhos para a direção da tribo – vamos. Temos que ir até Akahata.

– Nossos pais vão matar a gente – choramingou Nyree, assim que começamos a caminhar.

Engoli em seco.

A garota tinha razão. Papai e mamãe ficariam umas feras quando descobrissem que eu fugira para a savana. E ainda mais irritados quando soubessem que Nyree e Tāwhai quase haviam morrido para me encontrar.

Finalmente, encontramos Tokonga, após meia hora de caminhada á esmo pela savana escura.

Quando Akahata nos acolheu, achei que ele faria tudo rapidamente, como havia sido com Nyree.

Ledo engano.

Não bastando ter exigido explicações dos dois sobre terem desaparecido àquela hora da noite, enquanto citava o feitiço que me fez voltar ao normal, também convocou nossos pais á cabana do xamã.

No fim das contas, fiquei muito sem graça quando os pais de Tāwhai e Nyree entraram na cabana, já informados do que havia acontecido.

Senti o olhar sério de Akahata em mim, enquanto, e a vergonha me inundou. Sendo o feiticeiro excepcional que era, ele com certeza estava decepcionado com as nossas atitudes.

Por que, afinal, eu não fora diretamente para lá ao sentir a transfiguração começar? Por que nós tínhamos nos afastado tanto da tribo? Fora ideia minha e de Nyree mostrar á Tāwhai o que havia em Tokonga. Ele poderia ter morrido por nossa causa.

– Nyree, tama aroha – a mãe de Nyree a abraçou, dividida entre o aborrecimento e o alívio – o que deu na sua cabeça?

Os pais de Tāwhai, alarmados, viraram o garoto em todos os ângulos possíveis, parecendo temer encontrar um arranhão que fosse. Ele me encarou, exasperado, como se preferisse ouvir os gritos do pai de Nyree á ser revistado.

Quando papai e mamãe finalmente chegaram, baixei o olhar, preparando-me para os berros.

Mas quando olhei para papai, preferia mil vezes que ele tivesse gritado.

Por que a desolação deles desabou sobre mim como uma chuva torrencial, me fazendo enforcar um soluço.

Mamãe me aperou em seus braços, angustiada.

– Darel, toku tamaiti... você está bem, meu amor...

– Dois dingos... – papai parecia engasgar em cada palavra – e se não tivesse...

Mamãe encarou as feridas que Nyree acobertara, e então finalmente se debulhou num choro soluçante.

– Ah, Darel...

– Por que não voltou e nos avisou?

– Desculpa, mamãe... papai ... eu não quis... – solucei, sem conseguir continuar a falar.

Akahata chegou mais perto de nós. Baixei a cabeça outra vez, envergonhado.

– Acho que a noite foi bem agitada para nossos jovens – ele pousou a mão em meu ombro, e, para meu aturdimento, deu um sorriso torto – não haverá castigo. Acho que eles já foram suficientemente... alertados.

Suspirei, aliviado.

Pensara horrores no que Akahata poderia ter mandando meus pais fazerem comigo. O que eu fizera poderia ter sido ruim o suficiente para ser preso na Cabana Isolada, uma barraca afastada de Tokonga, onde os jovens mais rebeldes e indisciplinados eram presos e mantidos sem contato com ninguém por alguns dias – uma espécie de “canto da disciplina” que ás vezes existia nas outras culturas, como fui conhecer anos mais tarde.

Mas Akahata aparentou perceber o quanto já estávamos abalados com tudo aquilo, e senti a gratidão preencher meu peito. Ele era mesmo o bruxo mais sábio e fantástico de toda a Tokonga.

– Acho melhor levar nosso novo animago para a curandeira – ele orientou mamãe, sorrindo – vamos cuidar desses ferimentos, rapazinho.

Depois que toda a coisa foi explicada, e que eu havia pedido desculpas aos pais de Nyree e Tāwhai pelo ocorrido, finalmente nos retiramos da cabana do xamã, e eu fui em direção á cabana da curandeira, desesperado para tratar os ferimentos da minha recente travessura.

_____________O_______________

Antes de voltar para casa, fui me despedir dos dois, que já estavam indo em direção ás próprias cabanas.

– Tá tudo bem, Tāwhai?

Ele assentiu, sorrindo.

–Até que foi divertido.

Nyree encarou Tāwhai como se ele tivesse enlouquecido.

– Ficou maluco, foi?

Dei risada, no que Tāwhai e Nyree também riram.

Porém, nós dois demos guinchos de surpresa quando Nyree nos puxou para um abraço.

– Vocês foram muito corajosos – ela nos soltou, dando um sorriso tão orgulhoso, que me senti quase encabulado.

Com um último adeus, Nyree nos soltou e foi correndo em direção á sua cabana.

Tāwhai observou-a correr até desaparecer na escuridão.

– Ela é incrível mesmo – ele riu.

Olhei para Tāwhai, me sentindo surpreendentemente incomodado com a adulação dele sobre Nyree.

– Claro que é. A Mōkī é assim desde que a vi pela primeira vez – murmurei – a conheço desde que ela nasceu aqui na tribo.

– Sorte sua – ele comentou, dando um soquinho em meu ombro, antes de também partir em direção á própria cabana – mas a gente vai se dar bem mesmo assim, né, Darel?

Sentindo uma assustadora antipatia com o que Tāwhai dissera, entrei em casa, ainda observando-o atravessar a areia, e, por um horripilante segundo, desejando que ele e sua família nunca tivessem saído de Whanautanga.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

APENDICE


Toku tamaiti = meu bebê


Então, o que acharam?
Darel no início da ciumeira O_O rsrs
Beijinhos e até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nyrel - Uma História de Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.