Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 41
Para Sempre




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P.O.V. DAREL

 

 

— Tia.

— Acalme-se, Darel.

— Mas tia...!

Tuahine gargalhou, sacudindo-me pelos ombros. Dei uma risada nervosa, estremecendo.

Estava completamente nervoso, e tinha meus motivos.
Depois que havíamos retornado á Tokonga, e contado aos maoris tudo que havia acontecido, eu fizera a coisa mais assustadora e importante da minha vida. Seguindo nosso costume, eu havia ido até Atua, pai de Nyree, e lhe pedido a mão de sua filha.

Nunca vou me esquecer do amplo sorriso que ele e Ruau abriram para mim.

Num único movimento, eles imediatamente me abraçaram, uma confirmação que dispensava qualquer palavra.

E eu nunca havia me sentido mais emocionado.

Talvez, exceto, neste momento sobrenatural, enquanto tia Tuahine retocava os últimos detalhes de minha vestimenta matrimonial.

— Eu sei que está ansioso, aroha— ela afagou meus braços, sorrindo – é algo importante. É seu Faaipoiporaa.

— Eu sei – engasguei.

O fato é que a emoção parecia dominar cada centímetro dentro de mim.
Em poucos minutos, estaria unido pela eternidade á Nyree.

Ainda não acreditava no como tudo acontecera tão rápido. Era quase vertiginoso de se pensar.

Eu não tinha dúvida alguma. Estava decidido á manter Nyree para sempre ao meu lado. E se isso significasse que ela fosse minha verdadeira hawhe, assim seria.

Para nossa felicidade, Akahata não só nos dera sua permissão e benção, mas concordara em presidir ele mesmo nossa cerimônia. E isso era uma honra que ultrapassava todas as minhas expectativas.

Tuahine continuou ajeitando meu colar, cantarolando consigo mesma. E eu, suspirante e ansioso, mantinha meus pensamentos no rosto adorável de minha futura esposa.

 

 

P.O.V. NYREE

 

 

Mamãe não parava de soluçar, enquanto ajeitava meu vestido para o Faaipoiporaa.

Mama — inspirei, também lacrimosa, apoiando as mãos no braço dela.

Ela se reergueu, me olhando de baixo para cima, e voltou a guinchar.

— Oh, Nyree... – vi-a abarcar a boca com as mãos, chorosa – aroha... minha filha... – mamãe segurou minhas mãos, sorrindo – está tão linda, meu amor. Olha só pra você... ás vezes, eu e sei pai nos esquecemos de como vocês crescem... rápido.

— Ah, mamãe – recolhi a testa dela num hongi, rindo baixinho – não fique assim.

Papai surgiu próximo dali, também arfando, ao me ver vestida com o delicado vestido de penas.

— Nyree... – ele estendeu as mãos, me descendo do pequeno banco, e cingindo-me em seus braços.

— Papai... parem com isso – comecei a choramingar também – ou vou desmanchar os meus desenhos.

Fora Hana que desenhara os padrões de suaves tatuagens em meu rosto, chorando tanto que quase borrara toda a minha pele. Nunca pensei que minha irmãzinha ficaria tão sensibilizada com o meu casamento.

Ano e Tauwaenga, do contrário, não pareciam entender nada do que estava acontecendo, parecendo se perguntarem por que raios eu estava me casando com Darel.

Sorri, pousando a cabeça no ombro de papai.

Pois é. Eu também me perguntava por que.
Afinal, uma simples cerimônia de casamento como aquela não era o suficiente para traduzir o que eu sentia por aquele rapaz dos olhos da cor do céu.

 

 

P.O.V. DAREL

 

 

Toda a tribo já estava reunida na marae, aguardando o início de nosso ritual.

Olhei ao longo das fileiras de maoris sentados nos banquinhos de madeira, e senti uma angústia ligeira me assolar ao encarar as fileiras próximas ao lugar de Akahata, destinados aos familiares.

Abracei meu próprio corpo, sentindo a saudade me acometer como um aguilhão.

Só podia imaginar o que papai e mamãe sentiriam agora, vendo o único filho finalmente se casando, por fim de volta á nossa aldeia.

Outros dois lugares pareciam faltar também, mas a ausência deles era bem mais suportável, embora igualmente desoladora.

Sentia falta de Rony e Hermione. Se soubesse que ia cometer a loucura de pedir Nyree em casamento poucas horas depois da partida deles, poderíamos ter forçado aqueles dois a ficarem em Tokonga.

Mas eu sabia que eles precisavam partir. Sabia que tinham muito que reorganizar. E, principalmente, o que resolver com o Ministério da Magia britânico, depois de nossa pequena aventura.

Fiz Nyree prometer, ás risadas, que decididamente iríamos ao casamento deles, assim que soubéssemos do noivado, para compensar aquele deslize.

Virei-me para Hana, que me acenou alegremente da fileira de Nyree, conversando animada com minha prima Hau. Não poderíamos ter arranjado whaeawairuas melhores para nosso Faaipoiporaa.

Enquanto eu pensava nisso, porém, uma comoção descomunal iniciou-se entre os presentes.

Voltei-me para a entrada da marae, erguendo o olhar para o centro de reuniões.

E senti meu coração ir parar em algum lugar dentro no núcleo da Terra.

Os maoris, naturalmente, não acreditavam em anjos.

Mas, se anjos existissem, eu decididamente estava vendo um bem diante de mim.

Com um vestido delicado como uma pluma, em contraste com as faces pardas, Nyree sorria nervosamente, fitando timidamente o pequeno altar.

E, se um dia, eu achara que nunca veria a maior beleza e perfeição do Universo, finalmente descobri que me enganara.

A Natureza pincelara aquela figura que se aproximava lentamente, dando-lhe a aura de alguma criatura nascida fora daquele mundo terreno.

Pisquei lentamente, tentando disfarçar as lágrimas que tentaram escapar de meus olhos.

Naquele derradeiro momento, eu tive a certeza absoluta.

O Destino me enganara todo aquele tempo.

Por que nem mesmo ele poderia ter impedido de ficar ali, ao lado de quem eu deveria estar.

 

 

P.O.V. NYREE

 

 

Os olhos de Darel me radiografavam, misteriosos e maravilhados, o que só me fez ter vontade maior ainda de chorar ali mesmo.

O amor que eu via naquelas esferas azuis parecia me preencher de fora para dentro, em espirais que quase me entonteciam. Era a sensação mais maravilhosa do mundo.

Papai finalmente me posicionou diante de Darel, deixando-me defronte ao altar.

Fascinada como estava pelo olhar de meu noivo, me esquecera completamente da pequena tradição de casamento Tokonga, e comecei a rir, fazendo coro aos demais, quando Hau ergueu-se de um pulo do banco, desafiando papai para uma luta.

Darel gargalhou. Como não havia nenhum primo homem em sua família, sobrara para a pobre Hau representar o lado deles. Mas ela era tão pequena em comparação com papai que, quando ele se envergou para cumprimentá-la, teve quase que se ajoelhar para encostar sua testa na dela.

Os risos aumentaram quando ela se desequilibrou, caindo no chão e engatinhando, sem nenhuma dignidade, de volta para o banco onde sentara.

Aos risos, papai também retornou para seu próprio banco, ainda me focalizando com um olhar afetado.

Uma pequena figurinha correu ao longo da marae, vindo até nós, portando uma caixinha de madeira, com duas alianças igualmente feitas de resina e mogno.

Retiramos os anéis da caixa, agradecendo com meneios para o pequeno Aka, que saiu correndo na direção de Mere, rindo adoravelmente.

A marae mergulhou em silêncio quando, vindo detrás do altar, surgiu Akahata, erguendo duas taças de madeira, cheias de água, e pousando-as na superfície plana.

Ele posicionou-se diante de nós, olhando para a tribo presente na cabana.

Segurou nossas mãos, unindo-as uma na outra.

Levantei o olhar par Darel, que retribuiu, lançando-me um sorriso estonteante.

Akahata ergueu as mãos, sua voz ribombando dentro da marae.

— Eis um novo laço em Tokonga. Duas almas decidiram se unir em apenas uma, e, com isso, perpetuar nosso legado. A bênção de nossa tribo recairá sobre esta futura família, aceitando-as como um novo florescer de nossa comunidade.

Os presentes murmuraram em concordância.

Nosso xamã virou-se para nós, esbanjando um largo sorriso.

Uma quentura de gratidão e timidez brotou em meu peito, vendo o como Akahata estava verdadeiramente feliz por mim e Darel.

Ele tomou a mão de Darel entre as suas.

— Darel, filho de Ataahua e Kaitiaki, aceitará Nyree para ser sua outra parte, sua companheira pela eternidade, honrando-a e protegendo-a, voltando-se para ela, e sendo, com isso, uma só família e uma só vida?

Olhei para Darel, sentindo meu estômago se contrair de tensão.

Para minha alegria, não havia nenhuma indecisão nas íris elétricas que sondavam meus rosto.

— Sim, aceitarei – ele recitou, sorrindo - Te aroha koutou i ora ahau.

Tive que sufocar meu próprio soluço quando Akahata tomou minha mão, fitando-me solenemente.

­- Nyree, filha de Ruau e Atua, aceitará Darel para ser sua outra parte, seu companheiro pela eternidade, honrando-o e protegendo-o, voltando-se para ele, e sendo, com isso, uma só família e uma só vida?

Nesse momento, enquanto meu futuro marido destilava carinho em seu olhar, percebi a simples verdade.

Eu tinha passado os últimos dez anos achando que jamais poderia ser feliz outra vez.

E, agora, a ironia me chacoalhava como um furacão, enquanto eu via a felicidade explosiva que me cercava, fazendo-me esquecer de tudo que havia acontecido.

O que importava agora não era nosso passado. Não era nem mesmo nosso Destino, que permaneceria para sempre uma incógnita.

O que importava era o nosso agora.

— Sim... aceitarei – solucei baixinho - Te aroha koutou i ora ahau.

Darel sufocou o choro, o que só fez com que eu mesma quisesse me desaguar em lágrimas novamente.

Akahata voltou a unir nossas mãos, erguendo as taças de madeira e colocando-as em nossos braços livres.

Inclinei minha taça para Darel, que a bebericou em um só gole. Igualmente, ele verteu a sua em minha direção. Sorvi a água suavemente, suspirando baixo quando ele a recolheu de volta ao altar.

Sentindo a alegria resplandecer em meu corpo, trocamos nossas alianças, colocando a minha na mão de Darel, enquanto ele posicionava a sua em meu dedo.

Ouvia, ao longe, muitos dos Tokongas chorando e guinchando de satisfação. Papai e mamãe se abraçavam, chorando e abraçando meus irmãos.

Demo-nos as mãos com Akahata, que assentiu solenemente.

— Agora, Tokonga os recebe como um novo recomeço.

Os aplausos, ensurdecedores, coalharam a marae, abarcando os gritos dos presentes, que iniciaram uma haka em comemoração.

Akahata recuou, cercando-nos em seus braços ao dar a volta no altar. Com um último meneio, nos deu um sorriso, antes de se afastar em direção á multidão.

As risadas e gritos de contentamento serviram de fundo para o abraço impetuoso que Darel me deu, aproximando-me de seu corpo, pousando sua cabeça na minha no hongi mais doce que eu poderia ter trocado em minha vida.

Senti, enfim, suas lágrimas me molharem, e me permiti finalmente chorar.

— Para sempre – ele sussurrou, o fantasma de um sorriso dançando em sua voz.

Apertei-me ainda mais contra seu rosto, por que qualquer centímetro de distância me pareceu infinitamente insuportável.

E então, abraçada àquele que, um dia, fora apenas o meu melhor amigo, percebi que segurava agora, em meus braços, o meu futuro e minha vida.

E por isso eu selei aquela simples promessa, tornando-a real.

— Para sempre.

 

 


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