Nyrel - Uma História de Amor escrita por FireboltVioleta


Capítulo 18
Agitam-se as Águas do Rio


Notas iniciais do capítulo

lá, Nyrelers ♥
Não me batam. Vou tentar postar menos, prometo. A cada três, quatro ou cinco dias (depende da criatividade da criança :( rsrs)
Bem, sem mais demandas, boa leitura :D



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NYREE

 

Agitam-se As águas do rio
E só voltarão a acalmar-se
quando as atravessares

 

Volta para mim,
que morro de amor por ti.


Escrevi-te uma carta,
Mandei-te um anel,
Para que todos saibam
Como te amo


Partiu-se-me a pena
Acabou-se-me o papel,
mas o meu amor por ti
Continua firme

 

Não há Sol que seque
O meu amor por ti
As minhas lágrimas
São como o orvalho da manhã

 

— O que você ta cantando, Nyree?

Parei de entoar a canção que aprendera, soltando a tapeçaria que estava bordando com magia e olhando para Ano.

— È a Pokarekare Ana, Ano.

— Ah – ele saltou os olhos, impressionado – fala sobre amor, não é? É bonita.

Baixei o olhar, sem graça. Ano nem fazia idéia do quando aquela música maori expressava sobre mim.

— Sim, ela é linda – ouvi Hana suspirar, se aproximando de nós e continuando a cantar, enquanto pegava Ano em seu colo:

 

As ondas de Waiapu eram tempestuosas e selvagens;

Tornaram-se calmas quando tu passaste

 

Ano guinchou, sorrindo, e deitou a cabeça no ombro de Hana.

Olhei para minha irmã, desviando de minha cantiga tristonha para encará-la.

— Você a conhece?

— Sim – vi-a dar de ombros, embora tivesse estremecido – Mere me ensinou.

Pisquei, aturdida. Hana parecia eufórica, com um sorriso bobo marcando cada centímetro de seu rosto moreno. Lançou-me um olhar tímido enquanto balançava Ano em seus braços, e cantarolava o resto da música consigo mesma, evitando se virar para mim outra vez.

Não sabia se ria ou se ficava maravilhada.

— Hana... – cruzei os braços, humorada – acho que não foi Mere que te ensinou.

Se Hana fosse branca, tinha certeza que teria empalidecido mortalmente. Seus olhos quase caíram das órbitas com o olhar arregalado que me deu.

— Não. Não foi – ela soltou Ano no chão, mordendo o lábio – foi... foi o Teína.

Assenti, vitoriosa. Já tinha visto a cara de sonhadora de Hana em um bocado de garotas recentemente. E todas elas estavam acompanhadas de um rapaz.

Teína era ninguém menos do que o filho caçula de Akahata, um maori de dezesseis anos que já era cobiçado por mais da metade das meninas em idade de namorar. Hana tinha tirado a sorte que metade da aldeia não tivera.

— Você não vai contar para a mama, vai?

— E por que não contaria? – vi Hana fechar a cara, e revirei os olhos – tudo bem, não contarei. Mas não há motivo algum para não contar. Ela ficaria muito feliz – meu sorriso desapareceu quando acrescentei – por uma das filhas... ter alguém.

Hana suspirou, pescando, sem dúvida, a referencia que tentei omitir.

— Não me sinto bem com isso – comentou, desanimada, fingindo assistir Ano brincar com o boneco de palha dele – era para ser você. Eu...

Segurei sua mão, sacudindo a cabeça.

— Não pense nisso – falei, súplice – estou feliz pro você, tuahine. Não quero que seja menos alegre por minha causa – forcei um sorriso – já disse á ele o que você sente?

Ela titubeou, voltando a ficar envergonhada.

— Ele... – Hana arfou – estávamos na marae, assistindo o casamento da irmã de Mere. Depois da haka, Teína chegou perto de mim. Pensei que ia fazer um hongi ou coisa parecida... – ela ganiu, estridente – mas ele só segurou meu rosto e... e...

Ela fez uma espécie de haka ali mesmo, o que quase me fez morrer de tanto rir.

— Ele te beijou, não foi? – perguntei, rindo.

Hana só assentiu, esfregando as mãos uma na outra.

— E então?

— Não venha com essa – Hana finalmente riu – mas... sabe... eu nunca me senti assim. Senti-me tão bem. Tão... – ela gesticulou, abraçando o próprio corpo.

Sorri genuinamente, afetada. Minha irmãzinha estava completamente apaixonada. Era uma coisa realmente maravilhosa de se ver.

— E ele te cantou a música? – indaguei, curiosa.

— Sim – ela confirmou com a cabeça, dando pulinhos no mesmo lugar – e Teína me ensinou. Eu não tinha certeza antes, Nyree. Mas agora eu sei – ela encarou o teto, devaneadora – ele é meu hawhe. De verdade. Nunca aconteceu com nenhum outro Tokonga.

Ano olhava de Hana para mim e de volta para Hana, como se perguntasse de que raios estávamos falando.

Sacudi a cabeça, puxando Hana para um abraço.

— Sua pequena bobinha – dei risada, apertando-a em meus braços.

Hana também riu, pousando a testa na minha.

— Você é a melhor irmã do mundo, Nyree – ela me deu um beijinho carinhoso na testa, me soltando .

— E você é a mais destrambelhada e querida, projeto de canguru – baguncei seus cabelos, fazendo-a gargalhar.

— Vocês tão me assustando – baliu Ano, com o olhar arregalado.

Eu e Hana nos entreolhamos, ainda rindo.

— Você é pequeno demais para entender, Ano. Suma daqui – ela fingiu enxotá-lo para o quarto, enquanto ele me lançava um olhar exasperado, do tipo “o que deu em vocês?”.

Sentei na esteira da cozinha, voltando a trabalhar em minha tapeçaria, enquanto ouvi Ano e Hana conversando no meu quarto.

Pensei, com um assomo de ironia, que Hana não dissera exatamente a verdade.

Sim, Ano era novo demais para entender.

Mas eu já era adulta, e ainda não entendia.

Não entendia por que tudo parecia voltar a conspirar contra mim, quanto achava que finalmente estava dando a volta por cima. Não entendia por que pensar em Hana se casando e tendo filhos, enquanto eu me resumia á cuidar de meus sobrinhos, me trazia tanta angústia.

Mas jamais ia denegrir a felicidade de minha irmã por uma mágoa assim. Hana merecia o amor, assim como qualquer outra garota Tokonga. Merecia ser feliz.

Mas então... onde estaria minha felicidade?

Quando eu finalmente poderia sentir-me como Hana, e ter aquele brilho de pura alegria no olhar?

Passei a linha furiosamente pela tapeçaria.

Desde alguns meses antes, eu me limitara á simplesmente não pensar nestas questões, e tentava ignorar tudo aquilo, buscando algo no qual pudesse focar minha vida. Mas, ultimamente, parecia que tudo queria voltar.

Devia ser o Destino, zombando maldosamente de minha sina.

Ou foi o que pensei.

Por que eu descobriria, em breve, que a intenção do Destino, durante todo aquele tempo, havia sido outra...

Me preparar para o que estava por vir.

 

 


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Notas finais do capítulo

APÊNDICE

* Tuahine = irmã

* A "Pokarekare Ana" é uma música real, que foi composta por soldados maoris que lutaram na Primeira Guerra Mundial, e cuja letra não foi mudada em todos os 100 anos de sua existência.

Bem, um capitulozinho com mais uma pitada de cultura maori pra vocês. Sabiam que a "Pokarekare Ana" é considerada um hino não-oficial da Nova Zelândia? É, NEM EU SABIA O_O kkkkk
Comentários? Xingamentos? :P
Beijinhos e até o próximo capítulo!



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