— Que risada foi essa Mellark? - ferrou.

POV PEETA

Olhei para Katniss querendo rir também, sua cara era tão engraçada, era uma mistura de susto e alegria. Desse jeito Finnick iria descobrir que ela estava aqui, o que era uma possibilidade fora de cogitação. Esse vestiário era tão pequeno que se déssemos um pio meu amigo ia escutar.

— Vamos fazer o seguinte, você me deixa aqui com as coisas que tenho que fazer e depois conversamos, sim?

— Se você pensa que esqueci essa risada está muito enganado, padeiro. - falou e escutei a porta do banheiro batendo, deduzi que havia saído.

Eu e Kat disparamos a rir, espero que não tenha mais ninguém dentro. Dois retardados no box de um vestiário masculino fazendo coisas explícitas para menores de dezoito. Isso soava tão errado mas tão certo ao mesmo tempo, chamá-la de minha namorada e poder ter momentos de amor com ela é extraordinário. Amo minha pequena de todas as formas, todos os dias da minha vida.

— Melhor irmos embora antes que nos vejam. - avisei-a e saímos com cuidado.

Katniss foi a caminho de sua próxima aula e eu voltei para o ginásio. Ele era tão grande quanto uma arena de futebol, o considerava como uma casa para mim. Eu ficava ali 3 horas por dia a semana inteira, era cansativo, mas aproveito esse tempo para desviar de meus problemas. Até agora não estávamos fazendo nada demais, porém vi a expressão do time escutando Gloss, o treinador. Ele me mataria se eu não fosse o capitão, de repente eu saí para fazer “coisas” no vestiário. Que exemplo em Peeta?

— Onde estava Mellark?

— Tive que trocar de tênis, desculpa aí treinador Gloss. - menti.

— Sem problemas, mas me avise da próxima vez. Agora dê um jeito nesses garotos pois parece que não jogam faz anos!

O time realmente está ruim e estão todos fora de forma o que me deixa aos nervos. Pegamos duro o ano todo para nas férias esses preguiçosos pararem de treinar, santa paciência. Eu sempre vou com meu pai ao clube para jogar algum esporte ou só para correr mesmo, e Katniss me acompanha ás vezes na academia, o que deixa as coisas bem mais interessantes se é que me entendem.

— Vinte flexões seus covardes! Temos um campeonato semana que vem, querem envergonhar Panem? - gritei.

— Peeta tem um garoto querendo conversar com você ali fora. - Marvel, o goleiro, me avisou ofegante depois dos exercícios.

— Certo, vou deixar você tomando conta. Não deixe ninguém parar até todos terminarem as séries.

Fui em direção ao garoto e ele aparentava ter uns 15 anos, estava com uma prancheta e um lápis na mão, o que me fez pensar que isso seria um tipo de entrevista.

— Peeta Mellark, não é? Posso te fazer umas perguntas? Sou do jornal da escola.

Disse que sim, mas no fundo sei que essas perguntas dariam merda. Já fui assunto de muitas matérias e geraram muitos conflitos entre eu e meus amigos. Estar em um jornal parece incrível para quem vê, mas quando o assunto é sua vida pessoal e seus "segredos" mais profundos estampados na capa, é algo que deve se evitar ao máximo.

— Katniss me falou que vocês dois irão participar da votação do grêmio. Você conversou com ela sobre o assunto?

— Ainda não conversamos, mas a princípio iremos sim.

— Ela também afirmou que estava namorando, tem alguma ideia de quem seja?

Gelei na hora. Por que Katniss afirmaria que estava namorando? O nosso combinado era manter segredo por enquanto e falar aos poucos. Esse relacionamento secreto que estamos tendo não está saudável para ambos, ficamos quase o horário da escola inteiro sem nos falar, tirando algumas exceções como hoje. Eu agradeço por termos contado a nossos pais, pois o sentimento de culpa estaria empregando-se em mim.

— Tenho certeza que ela me falaria quem é, quem quer que seja essa pessoa, então não há motivo para se importarem se está namorando ou não. - foi a melhor resposta que encontrei.

— Gostaria que fosse eu esse namorado... - falou num tom quase inaudível, mas eu compreendi o que falou. O ciúme começou a subir em minhas veias e o que passou a seguir foi impulso.

— O que foi que você disse? - e sem pensar duas vezes dei um soco na sua cara.

Ele se virou para mim e vi seu nariz escorrendo sangue, tentei sentir pena dele mas só conseguia pensar no que havia falado. Comecei a imaginar Katniss com esse vagabundo e uma raiva subiu em meu corpo, quando de repente senti um chute entrando bem fundo em meu estômago. Depois disso não enxerguei mais nada, somente ruídos de pessoas se aproximando.

…

Acordei com um clarão em meu rosto. Estava me sentindo fraco com uma dor eminente em baixo do meu peito, não sabia o que tinha acontecido, mas quem quer seja que fez isso possuía uma força e tanto. Tentei lembrar o que aconteceu, mas a última coisa que passava em minha cabeça era eu treinando com o time e depois falando com Marvel. Será que tinha sido ele que fez isso em mim? Não, ele era meu amigo, dificilmente teria raiva de mim a ponto de me machucar dessa maneira.

Percebi que estava no hospital da escola quando vi dois homens com jaleco e enfermeiras com seus devidos medicamentos na mão. Além de avistar meu pai e minha mãe com uma expressão de preocupação, mas logo se aliviaram quando viram que acordei. Logo do lado deles estava minha namorada, com o seu rosto todo vermelho e com os olhos inchados, o que me fez pensar que estava desacordado por um bom tempo.

— Peeta, meu amor! - Katniss veio chorando em minha direção. - Você acordou!

— Não chore, Kat. Eu não valho tanto assim ... - tentei rir mas não tinha força e logo senti sangue saindo de minha boca. - O que aconteceu?

— Você estava sendo entrevistado pelo mesmo garoto que me entrevistou hoje cedo. Ele te fez algumas perguntas que eu entendo que são fora da realidade e invasão de privacidade, mas você bateu nele e ele revidou o que gerou esse baita machucado em seu estômago. - olhou para baixo. - Peeta, me promete que nunca mais vai fazer algo desse tipo. A única coisa que poderia ter feito você bater nele era eu, então por favor não faz isso de novo.

— Eu ainda não lembro muito bem o motivo da briga, pequena. Mas eu não te prometo nada, se algum desgraçado vier te machucar, não vou me segurar.

— Você é terrível, Peeta. - disse rindo e me fiz de ofendido. - O terrível mais lindo da minha vida.

— Docinho, deixa de encher meu filho de mel. Ele não merece tanto assim ... - falou meu pai rindo, esse sim é um grande palhaço.

As próximas horas passaram voando. Fiquei no hospital sob cuidados médicos, mas com a companhia de Katniss ao meu lado. Conversamos sobre trivialidades da nossa vida e namoramos, é claro. Infelizmente Pollux, o garoto da entrevista, passou em meu quarto e fui obrigado a pedir desculpa a esse infeliz. A culpa não era minha se ele desejava a filha dos Everdeen que já tinha dono, no caso eu.

— Senhor Mellark, já está liberado. - disse o doutor Beetee. - Senhorita Everdeen, faça-o ficar em repouso e vou avisando que sem esportes por pelo menos duas semanas.

— Eu tenho campeonato semana que vem, não posso deixar o time!

       — Sem mas Peeta, você vai descansar e não tem mais argumentos. Deixa que eu converso com o treinador. Gloss é o nome dele, não é?

A última coisa que quero nesse momento é ficar preso em uma cama, paralisado, olhando para o teto, entrando em depressão. Não é para tanto assim, mas é quase a mesma coisa.

— Vou ficar com você, seu bobo. - leu meu pensamento? - Nem em meus sonhos vou te deixar sozinho nesse estado.

Depois de tanta teimosia da minha parte, fomos para minha casa e como prometido, Katniss ficou comigo. Ela conseguiu pegar atestado médico, além de ter explicado para Gloss minha situação. O treinador "entendeu" perfeitamente o meu caso e me substituiu por Gale. Okay, whatever. Deixar um pouco da minha rotina de lado talvez seja bom para meu corpo e alma.

— Dá pra você deixar essa bunda parada na cama faz favor? - ri do seu jeito de falar, Kat era tão fofa com raiva. - E não se faça de desentendido Peeta Mellark! Estou tentando trocar essa porcaria de curativo e você não faz o esforço de manter esse corpo paralisado.

— Ai ai, meu amor. Você é tão amorosa...

— Já sei o que você está tentando fazer! Está tirando proveito da situação né seu... seu... mané.

— Confesso que ficar duas semanas do teu lado não é má ideia. - puxei-a para deitar-se comigo do meu lado.

A dor em meu corpo ainda era evidente. Muita coisa aconteceu em um dia só. Katniss e eu no banheiro, Finnick quase nos flagrando, treino, entrevistador oferecido, hospital, Katniss de novo e agora casa com Katniss. Tantos pensamentos em minha cabeça, nossa vida parece ser um conto de fadas, porém são aquelas coisas simples que podem se tornar uma bomba e criar um grande problema.

— Peeta ainda não conversamos sobre a votação... - disse olhando para mim, apoiada no travesseiro. - Você sabe que esperam muito de nós dois, mas agora que estamos namorando as coisas vão complicar. As pessoas que contamos foram poucas, nossos pais, Annie e Madge. Sabe como funciona, depois que ganharmos irão transformar nossa vida num reality show, parecia tentador há 2 anos mas agora isso não me parece ser o certo.

— Então o que você sugere? Não podemos simplesmente deixar de participar, até o diretor conta com nossa presença. Todos sabem a importância que temos para aquela escola.

— Que participemos da votação, mas vamos impor nossas condições.

— Tipo o quê? - perguntei, curioso. Katniss pode ser bem manipuladora quando quer, e isso me deixa um pouco nervoso.

— Não quero que interfiram em nossa vida.