Stars And Butterflies escrita por Lieh


Capítulo 1
Capítulo I




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Isabella Swan vagou os olhos por seu quarto num ato de despedida.

A escrivaninha estava completamente vazia, o que não era o seu habitual, pois num dia comum estaria cheia de papéis amassados e rabiscados. O enorme guarda-roupa estava obscuro num canto do quarto, a janela estava aberta, invadindo o ambiente com o sol brilhante e ofuscante do Arizona, iluminando e aquecendo o rosto da jovem mocinha. Os longos cabelos cacheados num tom de castanho avermelhado estavam esparramados no travesseiro como um leque, os olhos, do mesmo tom de castanho dos cabelos, estavam entreabertos, e sol fazia sua pele branca e meio pálida, ficarem com uma linda tonalidade de rosa.

Bella, como gostava de ser chamada, daria qualquer coisa para ficar ali, deitada na sua confortável e conhecida cama, que ficava virada para a janela, com o sol banhando-a. Daria qualquer coisa para ter certeza de que a noite voltaria para o quarto. O seu quarto, desde a infância. Era apavorante acordar em um local onde ama e está habituada, e não saber onde vai dormir ao cair da noite.

Ao pé da porta, estavam suas malas. Não eram muitas coisas, só roupas, e seus livros favoritos, além do pequeno pinheiro em miniatura que pegara no quarto de sua mãe.

A jovem moça tentava ao máximo não pensar em Renée Swan, porque sabia que toda vez que se lembrava da falecida mãe, não conseguia conter as lágrimas. A Sra. Swan havia morrido de tuberculose no inverno passado. Não houve muito que fazer quando os empregados a encontrou inconsciente no quarto, a doença já estava muito avançada e ela já se encontrava em estado terminal. Há muito tempo que os sintomas da doença estavam se apresentando na Sra. Renneé, mas ela dizia que só era uma gripe passageira, com descanso e chá ela se recuperaria, então todos fizeram a vontade dela de não chamar um médico. Menos de vinte e quatro horas depois, a casa se encontrava em uma correria dos infernos para levar a Sra. Renée ao hospital, mas já era tarde demais.

A notícia da morte da Sra. Swan foi um golpe emocional em Charlie Swan. Ele alimentava esperanças, mesmo com todos os médicos dizendo que não havia chance alguma de sua esposa se recuperar, que ela voltaria para casa sã e saudável, como sempre foi. Charlie Swan era alguém que dificilmente se via triste ou abalado. Da última vez que o Sr. Charlie chorou foi no velório do pai. Sempre foi um homem de caráter alegre e honesto e de muito bom humor. Era de estatura mediana, a pele bronzeada, cabelos preto quase calvo, olhos apertados da mesma cor dos cabelos, mas brilhantes, e um fino bigode. Preferia guardar sentimentos ruins para si e refletir sobre eles; não era de abrir o coração sobre suas preocupações em relação à esposa ou a filha, achava melhor resignar-se em si mesmo e encontrar soluções sozinho. Mas quando era para expressar seus sentimentos para com a esposa, o Sr. Charlie nunca, em todos esses anos de matrimônio, cansou de dizer o quanto amava a Sra. Renée.

De fato, o Sr. e a Sra. Swan tiveram um casamento feliz e bem sucedido, o que era muito raro na maioria das uniões.

Renée Swan era silenciosa e modesta, falava pouco, mas era muito perspicaz e sempre fui muito franca em suas opiniões, ao qual compartilhava sempre com o marido. Em sociedade, ela sempre se manteve reservada, mas no ambiente familiar, demonstrava seu amor para com o marido e a filha com gestos simples.

A esta última, a Sra. Renée tinha Bella como confidente e amiga. As duas eram muito próximas e a relação se estreitava mais do que mãe e filha; era uma verdadeira amizade. Além do mais, Bella herdou toda a beleza e graciosidade de sua mãe, o que as tornavam muito parecidas.

Era por isso que Bella sentia tanta saudade de sua mãe e de conversar com ela. Quando soube da notícia da morte da Sra. Swan, a garota não conseguiu refrear seus sentimentos; teve uma crise histérica de choro e soluços, quase desmaiando, e teve que ser levada às pressas para casa, onde ficou aos cuidados da governanta, seguindo as ordens do médico. Charlie Swan, por sua vez, preferiu chorar em seu íntimo no leito da amada esposa falecida. Não é necessário dizer que ele sofria tanto quanto sua filha, mas com diferentes demonstrações de sofrimento. Foram dias de luto na casa dos Swan’s. Até os empregados sentiram a dor da morte de sua patroa, a quem eles estimavam e respeitavam.

O velório e o enterro da Sra. Swan contou com poucos convidados. Além do marido e da filha, estavam avó de Bella, mãe de seu pai, a Sra. Helen Swan, e alguns amigos da delegacia onde o Sr. Charlie trabalhava como comandante.

A Sra. Helen era miúda de cabelos grisalhos, rosto ossudo e mãos finas como garras. Tinha algo em suas feições que demonstrava repulsa ao vê-la pela primeira vez, talvez seja por causa do seu olhar duro, e dos seus modos educados, mas ao mesmo tempo rude. Ela sempre alimentara uma antipatia em relação à nora. Vivia dizendo que a Sra. Renée era relapsa e de péssimo comportamento. Escandalizava-se por sua neta não ter freqüentado um colégio para meninas, e repreendia o filho por se deixar levar pelos caprichos da esposa. A Sra. Swan sempre fui educada para com a sogra, mesmo ela não merecendo tal gentileza, mas deixava claro que não se importava com o que ela dizia ao seu respeito, mas pedia para não dar palpites sobre a educação de Bella. Tanto a Sra. Swan quanto Bella combinaram que esta última iria estudar em casa. A família tinha condições de pagar tutores e reabastecer a biblioteca para o uso da filha e o Sr. Swan concordou. Além do mais, mãe e filha temiam se separar, pois a maioria dos colégios eram internos.

Para a Sra. Helen foi um absurdo quando a notícia chegou aos seus ouvidos. Mandou milhares de cartas implorando para o filho fazer alguma coisa, e outras milhares repreendendo severamente a nora. Só quando Bella mandou-lhe uma carta deixando claro que não estava sendo “influenciada pela mãe”, como era ao ver da Sra. Helen, e estava convicta de sua decisão, foi que ela se acalmou.

A Sra. Helen tinha grande estima e carinho por sua neta. Adorava dar-lhe presentes e elogiá-la; todas as vezes que os visitava, implorava para que Bella tocasse piano para ela, e a jovem sempre atendia ao pedido. Preocupava-se com o futuro da única herdeira da família, dizia que Bella era uma moça de boa educação, e inteligente, e deveria se casar com um homem a altura.

Perdida em seus devaneios, Bella esqueceu-se que precisava se arrumar. Com muita relutância se levantou e chamou a empregada pedindo para preparar-lhe o banho. Enquanto esperava, caminhou até a janela e passou a fitar o belo quadro que ali se formava. Lá estava Phoenix com os seus vales e cadeias de montanhas se estendendo no horizonte, tão abraçados pelo sol a pino quanto ela. Lembrou-se que sua mãe adorava acordar cedo, ir até o jardim, sentar-se debaixo de uma macieira e esperar aquele espetáculo da natureza começar.

Estava acostumada com a vida simples e tranqüila do interior da cidade, de vez em quando é que iam para o centro passear, ou fazer compras. Depois da morte da Sra. Swan, essas atividades ficaram só nas lembranças.

Logo após o banho, Bella se encontrava em seu quarto novamente, vestindo-se.  Optou por um vestido preto, com detalhes brancos no busto, apertando na cintura como um espartilho, de mangas até os cotovelos, leve nas pernas onde se estendia até as canelas; sapatilhas e meias da mesma cor e um chapéu.  Ultimamente ela escolhia vestidos com cores escuras desde o velório de sua mãe.

Enquanto a empregada a ajudava a pentear os cabelos, lembrou-se da turbulência que foi aquele dia, causada pela sua impertinente avó. Mesmo com a Sra. Renée morta, a Sra. Helen não media esforços para alfinetar a nora, com declarações cheias de indiretas, diante dos convidados. O Sr. Charlie foi obrigado a repreender a mãe em público, o que a deixou furiosa, e é claro que só fez aumentar suas ladainhas e sermões, que sempre dizia, mesmo com a nora em vida: “Charlie, você tem uma péssima esposa!” e mais outras declarações terríveis que não vale a pena relembrar. Bella foi obrigada a se retirar da presença da avó, pois não aguentava ela e sua língua maldosa.

Infelizmente, a Sra. Helen se tornou uma viúva amargurada, com a morte trágica do marido em um assalto. Como o Sr. Charlie é um policial de alta patente e reconhecido, coube a ele a difícil missão de procurar os assaltantes assassinos de seu pai e prendê-los. O crime foi cometido quando o falecido Sr. Geoffrey estava voltando para Forks, Washington onde morava, depois de uma temporada com o filho e sua família. Depois da morte do marido, a Sra. Helen acabou ficando com sua fortuna, que não era grande coisa, mas o suficiente para ela ter uma boa vida. Resolveu ir embora de Forks e se estabeleceu em Chicago, levando para lhe fazer companhia sua afilhada, Jéssica Stanley. Esses fatos ocorreram há cinco anos antes.

Era para a enorme Chicago que Bella e seu pai estavam se mudando. Havia muitas razões para que a jovem se opusesse a esta mudança, mas a menor delas era que ficarão perto da avó, e Bella temia que, agora que sua mãe está morta, que a Sra. Helen comece a se intrometer em sua educação, assumindo as responsabilidades e deveres que cabiam à sua mãe. Ela ainda tinha em mente a conversar que teve com seu pai quando soube de seus planos. Recordava daquela noite como se fosse ontem.

O Sr. Charlie tinha consciência do estado emocional que se encontrava sua amada filha. Temia a reação dela com a notícia que iria dar-lhe, mas que tinha que fazê-lo. Não sabia por onde começar ou como, e já estava ficando tonto de andar de um lado para o outro, enquanto Bella estava sentada o olhando interrogativamente. Por fim, parou de andar e sentou-se na poltrona de frente para ela. Olhou-a por alguns segundos suspirou e por fim disse:

- Bella, minha querida, eu recebi uma carta hoje, pela manhã, ao qual nela dizia que a polícia de Chicago está sem um comandante, e o cargo está sendo oferecido para mim. Eu ainda não enviei a minha resposta, porque primeiro você deveria saber sobre isto. A meu ver, esta oportunidade não poderia ter chegado em melhor hora. Há muito que eu venho pensando em nos mudar para alguma cidade, mudar de ares, e deixarmos as tristezas do passado para trás, principalmente você, minha querida. Magoa-me vê-la tão aflita e esta mudança vai ajudar, não só você, mas a mim também, a superarmos a perda da nossa amada Renée, a quem sempre amarei. Isto é a meu ver, agora quero saber o que pensas sobre isto.

O Sr. Charlie terminou seu discurso e se recostou na poltrona, suspirando de alívio, como se tivessem tirado um peso das suas costas. Porém, Bella estava rígida sentada na ponta do sofá, com as mãos cruzadas no colo e o olhar fixo. Depois, dirigiu o olhar para todo o cômodo da sala de estar, parando na lareira acesa com um fogo crepitante. Por fim, olhou para o pai e começou:

- Meu querido pai, fico muito agradecida e honrada pelo senhor querer ouvir-me antes de tomar sua decisão final. Quero que saiba que sei que o senhor se preocupa com minha saúde, física e psicológica, desde a morte de minha estimada mãe e entendo que o senhor pense que eu ficando aqui me fará mal. Mas não. Aqui eu tenho a certeza que a alegria dela, sua doçura, sua paciência, está viva nessas paredes, em cada canto desta casa. Aqui as lembranças dela é viva, concreta e me magoaria muito se eu fosse embora. Sei que ultimamente eu não venho sendo uma boa companhia para o senhor, que eu deveria estar consolando-o, dando-lhe forças, mas sou tão egoísta que estou preferindo enfrentar o luto sozinha esquecendo-me de amparar o senhor. De todo o coração eu lhe peço desculpas, meu querido pai, mas eu prometo-lhe que essa fase vai passar. È necessário que choremos, soframos, com a perda de alguém tão querido, para mais tarde superamos esta dor e fique só a saudade e as lembranças, e com isso, seguiremos nossa vida. Papai, eu ainda estou sofrendo, privando-me das lembranças que aqui se encontram de mamãe, só fará com que demore mais a minha recuperação, e talvez a do senhor também. Concluo que o senhor não aceite por ora esta proposta de trabalho.

Bella calou-se e seu pai a olhou, espantado. Tinha esperanças que com a notícia ela ficaria feliz. O Sr. Charlie nunca notou que sua filha era imprevisível. Quando ele pensava que ela ia fazer tal coisa, ela acabava fazendo o que ele menos esperava. Isso era porque o Sr. Charlie e Bella não tinham os pensamentos em sintonia, como acontecia com Bella e sua mãe. Como o pai amoroso que era sempre procurava fazer o melhor para sua filha, e ela sempre concordava em suas decisões. Mas dessa vez seria diferente. Seria a primeira vez que tomaria uma atitude que Bella era contrária, porém ele estava decidido que mudar-se para Chicago seria ótimo e faria bem para ela. E nada o faria mudar de ideia.

-Minha querida, eu entendo sua perspectiva e até concordo com ela, mas para mim, morar na cidade lhe fará muito bem. Você frequentará jantares, bailes, óperas, irá fazer amigos e quem sabe até encontrar um noivo! Por isso, minha filha, eu decido que o melhor é sim irmos para Chicago. Sei que agora você não entenderá e ficará zangada e magoada comigo, mas faço isso pelo seu bem e porque a amo muito e quero vê-la sorrindo de novo. Daqui a alguns anos, talvez, pode demorar muito, mas um dia você vai me agradecer por isto, querida.

Não tem como descrever a cólera e a tristeza que se apossaram de Bella naquele momento. Estava tão irada que saiu correndo aos prantos da sala e trancou-se no quarto. O Sr. Charlie sentiu-se mal por despertar a ira da filha e recolheu-se mais cedo do que de costume naquele dia, mas não voltou atrás de sua decisão.

Em alguns dias estava tudo pronto para eles partirem quando quisessem. O pai de Bella resolveu que não venderia a casa, a deixaria sobre os cuidados dos empregados. Era o mínimo que podia fazer por ela, sabia que se vendesse a casa, ela nunca o perdoaria e o Sr. Charlie tinha medo que sua filha passasse a odiá-lo; não aguentaria tal rejeição. Bella era seu único conforto e consolo. Faria de tudo para fazê-la feliz e já planejava casá-la em breve. Ela já ia completar dezoito anos e sua beleza ainda estava aflorando, mas já era o suficiente para atrair os olhares dos homens.  Claro que o Sr. Swan não casaria sua filha com qualquer um. O candidato tinha que vir de uma boa família, ter uma boa renda, e acima de tudo, Bella terá que amá-lo e querê-lo como marido. Ele jamais casaria sua Bella com alguém ao qual ela era indiferente. Não suportaria vê-la num casamento infeliz e sem amor.

Isabella já estava pronta. Sua bagagem foi levada para o hall e já se podia ouvir o som do carro na entrada da propriedade e a voz de seu pai conversando com o motorista.

Olhou-se no espelho e percebeu que estava mais magra, tinha uma rosto pálido e cansado. Já foi difícil dizer adeus a sua mãe, agora teria que dizer adeus ao seu verdadeiro lar. Deixou que algumas lágrima caíssem, mas as limpou rapidamente.

Desceu e se dirigiu ao alpendre, onde se podia ver os empregados colocando as bagagens no porta-malas do segundo carro, que acompanhariam o primeiro, que Bella e seu pai iriam até a estação de trem.

O Sr. Charlie acenou para a filha pedindo que ela descesse, pois já iriam partir.

Bella olhou pela última vez para a sua casa, desceu e entrou no carro.

Poucos minutos depois, eles já estavam partindo, deixando seu verdadeiro lar, abraçada pelas colinas do Arizona, para trás.


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