Just a Gift escrita por Kunimitsu


Capítulo 1
Capítulo Único




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||Just a gift||

|Capítulo Único|

-oOo-

Para ele, o sorriso mesmo cansado da mulher, era o mais belo que já vira.

Os dois andavam lado a lado naquele parque agora deserto, o vento era um pouco gélido que denunciava que o inverno japonês logo se faria presente. O jovem casal estava bem agasalhado, principalmente a mulher de traços ocidentais na qual acariciava com ternura a barriga inchada. Os olhos azul-esverdeados detinham um brilho que fazia o fôlego do moreno ao lado se perder em meio ao vento.

- Não está cansada, querida? – indagou ele, parando com a caminhada e observando com atenção a mulher.

- Está tudo bem, anata. – respondeu-lhe sorrindo. – Que tal caminharmos mais um pouco e então voltarmos? – sugeriu enquanto escovava os fios escuros e menores do rosto másculo.

- Sim, só mais um pouco. – concordou, acariciando com ternura a barriga da esposa.

Voltaram ao caminhar lento, ao que o moreno deixara um braço serpentear os ombros miúdos da menor; e esta lhe passara o braço fino na cintura do outro. O homem continuava o tempo todo a sorrir, qualquer sinal de preocupação indo-se para longe da mente e que só acontecia quando estava com a amada em seus braços.

- Eu te amo, Itachi.

-oOo-

O homem suspirou. As mãos que por muito tempo estavam a digitar e assinar intermináveis papéis, massagearam as têmporas cansadas. Abrindo os olhos, levantou-se da cadeira de couro onde ficara por horas sentado, ajeitou o terno desalinhado e amassado com cuidado. Desfez a gravata escura guardando-a no bolso da calça social.

O trabalho de C.E.O. na Uchiha’s Imperial House lhe consumia cada vez mais. Nem parecia que era um homem no auge de seus vinte e sete anos, onde muitos de sua idade estavam a aproveitar aquela noite de sexta-feira. Já passava das dez da noite quando o jovem empresário saíra da empresa em seu carro importado. Contudo, o moreno não poderia muito reclamar, já que era o herdeiro Uchiha e estava apenas a cumprir algo que idealizara e na qual fora guiado a ser desde pequeno.

Uchiha Itachi era, desde tenra idade, conhecido por ser um gênio. Não era a toa que se formara na universidade aos dezoitos anos e que consagrara como um dos melhores empreendedores antes dos vinte e cinco anos. Mas às vezes, Itachi apenas queria ser um homem normal, com um emprego tedioso e uma casa acolhedora para voltar no final do dia.

Porém, nada era normal para Uchiha Itachi.

O carro estacionara na garagem subterrânea e privada do condomínio em que vivia. Saíra do carro, com pasta em mãos e levando trabalho para casa como todos os dias. Não demorou muito para já estar se encontrando dentro do elevador que o levaria para seu luxuoso e frio apartamento. Saíra da casa dos pais desde que se formara, sendo um presente dos pais para comemorar o feito de seu primogênito. Itachi adorara no inicio, mas agora aquele apartamento parecia ser sua prisão.

Havia lembranças demais naquele lugar. Tanto bons quantos ruins.

-oOo-

Os primeiros flocos de neve caiam lá fora daquela residência, a mulher que na janela da espaçosa sala estava a desfrutar a vista que lhe era proporcionada, suspirou. Ajeitando melhor a manta quentinha em volta de si, a caneca fumegante de chocolate com marshmallow estava esquecida em mãos. Seus brilhantes olhos hora ou outra se direcionavam ao relógio de pulso com ansiedade. Ele está atraso, pensou com pesar.

Andou até a cozinha do luxuoso apartamento que apenas era separada da sala por um balcão de mármore com cadeiras altas. Observou a mesa posta e bem feita, com a comida que aos poucos ia esfriando. Abaixou o olhar para seu estômago proeminente, acariciando levemente e sentindo os movimentos que o pequeno ser dentro de si fazia. Ainda lhe fascinava que estava tendo aqueles momentos com seu pequeno, sentindo-o e comprovando para si novamente que tudo o que estava vivenciando nos últimos oito meses era verídico.

- Parece que seu papa não vem, meu filho. – murmurou para o ser dentro de si e como se o mesmo pudesse entender o que dizia, um leve chute sentira abaixo da palma de sua mão. Era reconfortante de certa forma. – Bem, somos apenas nós dois.

Deixando a caneca no balcão, andou de volta para a sala e permitiu-se desfrutar do aconchegante e grande sofá que a mesma possuía. Deitou-se de fronte a tevê igualmente grande, ligando-a. Navegava pelos canais sem muito interesse, a maioria era preenchida por especiais para o Natal que aconteceria dali a três semanas. Em pouco tempo estava nas terras dos sonhos.

E por tal não ouvira quando a porta do apartamento sendo aberta e logo em seguida fechada; ou mesmo vira a figura alta que adentrava a sala. A mesma, com seus olhos negros e cansados a observaram com interesse e um pouco de surpresa. O recém-chegado suspirou, passando uma das mãos pelos cabelos compridos e presos em um baixo rabo-de-cavalo.

Coçou a nuca como se não soubesse o que fazer naquela situação e por fim resolvera por sair dali apenas alguns instantes. Andando para as escadas e subindo para o segundo piso, onde lá adentrara uma das portas do corredor. O cômodo era grande e pouco iluminado naquela hora, já que passava da meia-noite. Deixou a pasta de couro em cima de uma poltrona ao canto do quarto e se dirigiu ao banheiro, onde lá se despiu e adentrara ao chuveiro na qual não tardou a sair.

Assim que vestira seu pijama voltou à sala onde sua jovem esposa ainda ressonava tranquilamente e alheia ao seu redor. O moreno deixou-se observar a esposa com os olhos brilhando em adoração mal contida. Um pequeno sorriso agraciara suas feições. Aproximou-se de manso, ajoelhando-se em frente à menor. Uma das mãos fora ao ventre inchado, acariciando-o de leve e com cuidado, sem o intuito de perturbar a mulher.

Seus olhos negros observavam com admiração a esposa, traçando sua forma e delicada feição. Desde as grossas coxas, a cintura larga devido a sua condição além de sua barriga e os seios maiores e sensíveis. Ela é tão linda, pensou ele tocando com as pontas dos dedos a bochecha corada da dona dos cabelos castanho-avermelhados escuros e tez clara.

Itachi a amava como nunca amou outra pessoa, não daquela forma.

E sabia ser correspondido com a mesma intensidade ou mais que si. E por isso sentia seu peito apertar na probabilidade de alguma forma decepcionar a amada. Tinha conhecimento que de umas semanas até aquele momento estavam lhe custando muito. A empresa na qual era herdeiro exigia-o de uma forma sufocante, seu pai o cobrava demais e o Uchiha menor quase nada podia fazer para aplacar o incessante trafego que era a empresa naquela época do ano.

Sabia estar desapontando, pouco a pouco, a esposa.

Não conseguia se lembrar direito quando os dois puderam jantar ou almoçar apenas os dois; ou pior, ir às consultas do pré-natal de seu filho. Justo na reta final que estavam enfrentando. Faltava pouco para ter seu bebê em seus braços e era algo que não conseguiria se perdoar se não estivesse presente no momento ao lado de sua esposa. Então, apenas decidira que iria ao máximo dedicar-se para que todos os assuntos pendentes estivessem resolvidos antes do momento aguardado.

- Só tenham um pouco mais de paciência comigo, meus amores. – sussurrou o moreno, acariciando o ventre e plantando um cálido beijo na testa da mulher.

Esperava que realmente conseguisse realizar seu desejo.

-oOo-

O despertador tocava, incessantemente. A mão prontamente o desligara, para então bagunçar os fios escuros da cabeleira pertencente à Itachi. O moreno massageou as têmporas, sentindo uma dor de cabeça o assolar, se era pela falta de sono ou o estresse, não conseguiria dizer. Itachi gemeu em frustração, um dos sentimentos que sentia profundamente a alguns dias.

Seus devaneios foram cortados ao som de uma baixa música preencher o quarto. O moreno optara por ignorar o celular a tocar, mas quando o mesmo tocara por uma segunda vez Itachi o atendeu com um extremo mal humor.

- O que é? – indagou com a voz rouca, não se importando em como soara rude.

- Bom dia para você também, nii-san. – ouviu a tom sarcástico característico de seu pequeno irmão tolo. O moreno mais velho suspirou, não estava com paciência para aturar o outro naquele momento.

- Sasuke... Só me diz que ligou para informar algo realmente importante. – informou de forma ameaçadora, irritando-se ao ouvir uma risada do outro lado da linha.

- Calma nii-san, só liguei para convidá-lo para jantar na véspera de Natal. – contou Sasuke, indiferente.

- Eu acho que terei que recusar esse ano. – passou a mão no rosto, deitando-se na cama e fitando o teto escuro. – Você sabe...

- Hun. – o moreno menor resmungou e um silêncio caiu entre os irmãos por alguns instantes antes de Sasuke continuar a falar: - Naruto também a convidou, apesar de não significar que ela venha. Além disso, o dobe não vai parar de incomodar-me até você vim.

- Eu pensarei... – e desligou, encerrando a chamada mesmo sabendo que o Uchiha menor ficaria irritado.

Naquele momento, não queria pensar na desgraça que o abatera ou mesmo alimentar falsas esperanças; mesmo com seu peito comprimido.

Sentando-se na cama e deixando o lençol escorrer para revelar um torço nu e bem definido. Esfregando a cara como se assim fosse despertar e espantar o sono mais depressa, levantou-se. Fora até o banheiro adjacente ao quarto ainda escuro, lá se olhou no espelho de fronte a pia. Não poderia negar o que eu reflexo revelava a si, era a mais pura verdade.

No espelho refletia o rosto de um aparente jovem homem com olheiras profundas e olhos caídos. A tez pálida, muito mais que o normal e os cabelos desgrenhados e sem brilho. Mas eram seus olhos os mais reveladores, o rosto antes sempre impassível agora detonava uma estranha melancolia fria, tão gélida quanto o inverno que reinava em Konoha. Parecia mais velho e nada do que fazia podia esconder completamente o ser quebrado que era no momento. Itachi conhecia esse fato. E mais ainda, sabia que a culpa por estar assim era toda sua.

Abaixou o olhar, fitando a pia de pedra e apoiando-se na mesma quando a ânsia subia-lhe pela garganta. Ofegou sentindo o estômago revirar e comprimir, um frio na espinha lhe perseguira momentos antes de correr para o vaso sanitário e despejar o pouco que havia em seu estômago. Nessas últimas semanas também não se alimentava bem.

Não soube quanto tempo estivera a regurgitar tudo o que tinha e não tinha no seu estômago. Chegara ao ponto de tossir uma tosse seca, engasgar-se devido à ânsia persistir mesmo não havendo nada a cuspir. No final suspirara aliviado, escorando-se na parede oposta e escondendo o rosto entre os joelhos. Seus olhos estavam vermelhos e ardiam pelas lágrimas não derramadas.

Mesmo depois de recuperar o controle de seu corpo, Itachi ainda permaneceu alguns instantes naquela posição. Logo então se levantou e despiu-se. A água morna ajudara-lhe a deixar seus membros do corpo mais relaxados, a tensão quase totalmente dissipada. No momento não se importando que algumas gotas salgadas estivessem misturando-se com a água do chuveiro.

Saíra dali não muito tempo depois, andando de volta ao quarto com apenas um roupão cobrindo-o. Não tardou a vestir o terno cinza, com a blusa azul escura e grava preta. Penteou os cabelos e os prendeu no típico penteado e saíra indo direto a cozinha onde se prontificou de fazer um café bem amargo na cafeteria e ter pegado apenas uma maçã para degustar enquanto esperava o café ficar pronto. Sabia que não era um café-da-manhã digno para quem iria trabalhar horas em uma empresa, mas era o único que conseguia digerir.

Pouco tempo depois o primogênito dos Uchiha estava a caminho da empresa em seu carro de marca. O trânsito estava a seu favor, pois era uma hora cedo, nem mesmo era sete horas quando saíra de casa. Contudo, Itachi preferia assim, o sossego sempre fora seu amigo em seus momentos difíceis. Porém, essa paz nada durara muito quando chegara à empresa de fachada monumental e estonteante fora logo abordado por um cara alto e topete azulado. O sorriso de tubarão típico no rosto anguloso.

- Yo Itachi, como sempre chegara cedo. – cumprimentou o homem maior, sarcasticamente. O moreno limitou-se apenas a revirar os orbes escuros.

- Kisame. – retornou a saudação, maneado a cabeça e passando pelo outro na qual o seguira de forma relaxada.

- Acho que você tem uma reunião as nove, certo? – perguntou Hoshigaki Kisame e mesmo sem receber uma resposta, continuara a falar: - Que tal almoçarmos depois?

- Não, estarei ocupado. – retorquiu parando em frente ao elevador, chamando o mesmo.

- Com o quê? – bufou o azulado, revirando os olhos cinzentos. – Sério, se reclusar na empresa ou no seu apartamento não mudará nada. Por que não manda de vez o divorcio, hun, Itachi?

- Minha vida conjugal não é da sua conta, Kisame. – disse friamente, entrando no elevador vazio e não dando chance para o outro argumentar ou mesmo entrar no cubículo metálico.

Suspirou pesadamente quando sentira o elevador subir, encostando-se à parede de metal e observando o teto iluminado. Não queria ninguém se metendo em seus problemas, não queria preocupar ninguém. A culpa era sua pelo afastamento da esposa, mas não sabia o que lhe dera na cabeça para recusar – ainda – a assinar os papéis do divórcio que a mesma mandara dois dias antes.

É porque não estou pronto para deixá-los, pensou com tristeza.

-oOo-

Ele estava confuso. Não fazia nem cinco minutos que chegara a casa, mas parecia que não conseguiria reconhecer a mesma. Não com toda aquela decoração em verde, branco, dourado e vermelho. Seu apartamento estava irreconhecível e tudo graças à jovem estrangeira que estava confortavelmente sentada de fronte a tevê e com um pote de biscoitos em mãos.

- Querida... O que é tudo isso? – indagou o moreno aproximando-se da mulher, deixando a pasta de couro no chão no meio do caminho.

- Ora, não vê que é nossa decoração para o Natal, anata? – a mulher disse com os olhos azul-esverdeados brilhando.

- Mas ainda é a primeira semana de dezembro, não achas que está um pouco adiantada? – Itachi sentou-se ao lado da esposa acariciando-lhe o rosto e depositando um cálido beijo nos lábios rosados, os mesmo que formaram um gracioso beicinho.

- Sim? E daí? – dera de ombros, as bochechas coradas e desviando o olhar. – Estava entediada depois que voltei da casa de Konan.

- Hun. – assentira não querendo discutir tal assunto frívolo. – E você já quer montar a árvore?

- Bem, eu estava pensando... – hesitou antes de olhar o outro nos olhos, inconscientemente com olhos pidões que Itachi negaria, mas não conseguia resistir aos mesmos. – Será que esse ano nós poderemos comprar uma árvore de verdade? Onegai! Onegai, Itachi!

- Por que esse súbito desejo? Até agora estava satisfeita com nossa árvore de plástico. O que lhe motiva, meu amor? – perguntou curiosamente, enquanto aconchegava a esposa em seus braços e tendo a oportunidade de acariciar a barriga proeminente com carinho.

- Oh, é que eu pensei, já que nosso bebê logo estará em nossos braços, quero começar o ano o melhor possível. – argumentou, sorrindo.

Itachi maneou a cabeça esboçando o mais leve dos sorrisos, mas assentira para a alegria da moreno-arruivada. A mesma lançara-se em seus braços, distribuído beijinhos no rosto do moreno antes de lhe dar um beijo sôfrego. As línguas batalharam-se, antes da moça render-se aos encantos do maior, deixando-se levar pelas sensações. Ao final do ósculo os dois se encaravam com os olhos cintilando em amor e adoração.

Itachi acariciou as bochechas rosadas.

- O que não faço para lhe ver feliz?

-oOo-

A neve caia incessante sobre a cidade de Konoha, como um véu branco que cobria todo o lugar. A noite era fria, mas mesmo assim havia aquele toque de calor no ar e Itachi não sabia dizer se era pelo Natal ser dali a dois dias, ou por qualquer outro motivo.

A ligação de Sasuke no dia anterior martelava em sua cabeça.

Não queria lhe dar falsas esperanças, pois sabia que sua esposa – ou ex-esposa? – já não queria saber nada de si. Tanto que cogitara que a mulher deveria ter voltado ao seu país de origem, apenas para afastar-se. E o moreno a entendia, pois em seu lugar teria feito o mesmo.

- Sabe, ficar olhando para a janela não resolverá nada. – o tom de voz acusador e grave tirou o moreno de seus devaneios.

- Konan. – reconheceu o moreno a presença recém-chegada da mulher dos cabelos azuis cobaltos. Não precisava virar-se para saber que a amiga lhe mandava um olhar acusador.

- Itachi. O que ainda está fazendo na empresa? – indagou a jovem executiva sentando-se em uma das cadeiras estufadas em frente à mesa do C.E.O.

- Pensando. – murmurou distraidamente. Konan estreitou o olhar amendoado, não verdadeiramente acreditando no outro.

- Ou apenas evitando voltar. – acusou balançando a cabeça, os fios grudando de fronte ao rosto pálido dela. – Ainda dá tempo. Ela não se foi.

- Mas deixou bem claro que não me queria perto de si ou de... nosso bebê.

- Ela estava magoada. Foi um choque, ainda é um choque para quem não conhece a história completa, Itachi. – contou com preocupação mal disfarçada. O moreno parecia não ter dado muito atenção a essa nova informação que chegara. Konan suspirou, resignada.

- Não se intrometa, por favor. – suplicou, enfim, virando-se para enfrentar a amiga. E esta não pode conter o suspiro chocado ao constar no que poderia visualizar da aparência do maior.

- Ela está lhe esperando, não faça com que seja tarde demais depois. – aconselhou depois de superar o choque inicial, recompondo-se e levantando-se com graciosidade.

Konan lhe dera um beijo na bochecha para logo seguir porta a fora. Itachi lhe acompanhou com os olhos cansados, mas a cabeça em frenesi. Por que fui tão idiota?, indagou-se mentalmente e tomando um gole da bebida esquecida em mãos. O que a amiga dissera poderia ser verdade, mas não se permitiria de machucar novamente a amada, ou ainda pior, o bebê que ainda nem chegara a conhecer o mundo.

-oOo-

- Oh, my God, Itachi! Isso é horrível para um bebê!

- Eu gostei. – retrucou contrariado, revirando os olhos apesar do pequeno sorriso nos lábios ao admirar as feições graciosas da mulher ao lado se contraírem em uma careta.

- Não, não chamaremos nosso filho disso. – maneou exasperada. O marido não conteve uma risada. – Hun... Pra falar a verdade, gosto de Kazuhiko. O que achas?

- Aa, até que não é ruim. – ditou o moreno, pensativo, enquanto acomodava-se melhor no sofá da sala onde os dois estavam a desfrutar aquela manhã de sexta-feira. – Mas também gostei de Akira. É complicado...

- Oh! Também gostei de Akira. – a mulher franzira o cenho, a dúvida estampada no rosto belo. – E agora, qual?

- Saberemos na hora certa, querida. – pronunciou indiferente e lhe dando um beijo na testa e levantando-se sob o olhar atento da outra. – Irei me arrumar.

- Aonde vai a essa hora? – indagou curiosa e seguindo o marido até o quarto na qual dividiam a exatos três anos e meio.

- Oras, tenho uma reunião na empresa às duas horas. – respondeu ao mesmo tempo em que adentrava ao banheiro para tomar um banho.

- Como?! – exclamou a arruivada, assustando o maior que voltara depressa para o quarto, preocupado. – Itachi eu tenho uma consulta hoje, você prometera que viria dessa vez!

- Ah, era hoje? – pediu em confusão, pois jurava que a consulta da esposa fosse à semana seguinte. Suspirou. – Eu sinto muito, eu pensei que seria na semana que vem. Não imaginei...

- Você prometeu que iria comigo. – acusou, cruzando os braços de fronte ao corpo e sentando-se pesadamente na cama macia. Era evidente a sua mágoa. – Itachi, você nem parece mais se importar.

- É claro que me importo! – alterou-se, indignado. Respirou fundo, não querendo discutir com a esposa. – Olha, eu tentarei chegar a tempo, tudo bem?

- Não, não precisa. – recusou, levantando-se. – Pedirei a Konan para ir comigo. Por algum motivo, ela tinha um pressentimento que não viria.

- Amor, eu juro que se eu pudesse, eu iria. Mas é uma reunião realmente importante, não posso faltar.

- CHEGA!! – gritou de repente, parada na soleira da porta do quarto e olhando um atônico moreno com os olhos brilhando com lágrimas que se recusava a derramar. – Desde que eu anunciei estar grávida você parece estar evitando tudo que se relaciona a esse bebê. Só participa quando quer!

- Não é bem assim... – Itachi recuou, desviando o olhar. – É só que... Sabe que tenho medo de ser pai, não me acho estar preparado.

- Mas eu disse que estaria com você o tempo todo! Que aprenderíamos juntos a sermos pais. Somos humanos Itachi, é claro que cometeremos erros ao longo do tempo, mas aprenderemos. E a única coisa que pedi a você é que também ficasse ao meu lado, me apoiasse!

- Eu estou ao seu lado... Só... O bebê veio em um mau momento de nossas vidas. – murmurou tão baixo que duvidava que a esposa tivesse escutado, mas enganou-se.

- Itachi... – suspirou com a voz quebrando-se e as lágrimas escorrendo.

- Eu não queria dizer isso, sinto muito... – tentou se desculpar aproximando-se, mas a mesma rejeitara-o.

- Não, você disse tudo. – saíra tão apressada quanto podia indo trancar-se no quarto na qual fora destinado ao bebê.

Itachi suspirou, passando a mão pelo rosto como se não acreditasse no que acabara de acontecer. Sentou-se na cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e o rosto entre as mãos, respirando pesadamente. Nada estava acontecendo como desejava. Sentia tudo ruir ao seu redor. Claro, nada disso tinha a culpa de seu filho por nascer, mas os problemas surgidos na empresa estavam deixando Itachi estressado e sobrecarregado. Será que sua esposa não conseguia ver isso?

- Droga!

-oOo-

Fora tão inesperado que Itachi ainda tinha dificuldades de assimilar àquela situação.

Parada a sua frente, elegantemente vestida com um vestido preto de mangas e os negro-azulados cabelos perfeitamente que caiam pelas costas daquela mulher de meia-idade e olhos observadores; ainda que carinhosos ao direcionassem a si. Sua mãe, Uchiha Mikoto, estava em sua casa, convidando-o para almoçar naquela véspera de Natal.

- Estou esperando sua resposta, Itachi. – a voz da mãe fizera o moreno mais jovem sair de seu estado atônico e encarar seriamente a outra, a mesma que lhe mandava um olhar divertido apesar da face impassível.

- Okāsan... – murmurou suavemente, antes de abanar a cabeça e engolir em seco. – Claro, apenas deixe que eu me arrume direito.

- À vontade, querido. – concordou Dona Mikoto, indo sentar-se confortavelmente no sofá.

- Há algo que eu possa oferecê-la enquanto espera-me? – indagou com o cenho franzido.

- Não se preocupe, vá se arrumar. – assentiu de forma um pouco distraída ao deixar seu olhar navegar ao redor do cômodo.

Ainda meio desnorteado pela visita repentina de uma parenta que um dia fora tão próximo de si; Itachi fora até seu quarto. Sua mente tentava recordar-se quando tivera algum encontro adequado com o restante de sua família, e parecia ser uma tarefa árdua. Afinal, os famosos irmãos Uchiha se mostravam verdadeiros rebeldes na fase adulta.

Itachi, o primogênito e o mais cotado a ser o perfeito herdeiro do império Uchiha, desde a tenra idade mostrava-se ser um gênio. Não era a toa que se formara aos dezoitos anos na faculdade mais renomado do Japão e tornara-se um empresário de respeito antes dos vinte e um anos.

Contudo, todo o orgulho que a família sentia parecia desmoronar ao ter o moreno se recusar terminantemente a casar-se com a filha do dono de uma estimada empresa internacional. Itachi não se venderia daquela forma. E por tal, como punição – ao ver do patriarca da família, Uchiha Fugaku – fora mandado para o estrangeiro, como coordenador de uma das filiais da empresa mestra.

Não fora a melhor escolher, dependendo do ver de cada pessoa. Pois, mandado para Londres, Inglaterra, o moreno se engajara no trabalho e mais nada pensava sobre qualquer outra coisa. Durara apenas alguns meses até, pelo destino pra quem acredita, se encontrara com uma das mulheres mais encantadoras. Não fora poucas semanas mais tarde que, com apenas a presença do irmão mais novo e da melhor amiga, que Itachi se casara secretamente.

Ao voltar, o choque fora demasiado para Uchiha Mikoto e Fugaku aguentarem.

O risco de ser deserdado por tamanha afronta esteve pairando sob si por dias, até que Fugaku decidira-se. E Itachi tinha muita consciência que a decisão do mais velho fora influenciada pela mãe – ademais, os acionistas da empresa também puseram pressão –. O moreno acabara por ser eleito o C.E.O. com apenas a condição de manter a melhor imagem da empresa, e consequentemente, da família aos bons olhos do público. E o jovem gênio em conjunto da esposa conseguira, até a algumas semanas atrás.

Olhou-se no espelho com atenção. Exteriormente, vestido com roupas casuais davam-lhe a aparência de um jovem homem bem sucedido. Uma carcaça que escondia os rochosos sentimentos, mas que ameaçavam quebrá-lo. E o japonês não se importava com o que poderia lhe acontecer, não conscientemente.

Dando mais um checada no cabelo bem preso pelo elástico vermelho, Itachi saíra do quarto a passos calmos. Ao entrar novamente em sua sala, sua mãe lhe esperava, estando a mesma em frente à lareira elétrica, olhando os pouco retratos em cima da mesma. Seus olhos eram clínicos, mas com um brilho compreensivo.

- Okāsan, estou pronto. – anunciou ele suavemente, mas não fazendo nenhum movimento para aproximar-se da mais velha, apenas observando-a com leve curiosidade.

- Bom. – Mikoto assentira com um leve repuxar dos lábios finos e virando-se para o filho. – Vamos? Meu motorista nos espera lá embaixo.

- Hai.

Não fora tão ruim quanto o moreno pensava que seria. O trajeto até o restaurante fora em total silêncio, quase maçante. E não sabia dizer se poderia esperar ser um sinal bom ou ruim. Tentou mesmo decifrar as intenções que sua mãe tinha, mas o belo rosto era quase tão inexpressível quanto o seu próprio. Talvez fosse uma característica familiar, pensou ele com escárnio.

Quando o carro tomou uma parada e ambos saíram do carro, Itachi conteve um revirar dos olhos. Era óbvio que Uchiha Mikoto não poderia ser vista, se não em um dos restaurantes mais refinados – e caros – que Konoha possuía. Contudo, o primogênito até que poderia dar crédito a mãe, já que a mesma escolhera um lugar na qual poderiam ter, no mínimo, alguma privacidade.

Após a confirmação de sua mesa – que Itachi não conteve um bufar baixo ao ver o contentamento praticamente irradiar daquela mulher que os recebia –, ambos foram guiados a cabine vip e privada do estabelecimento. Itachi suspirou, olhando sem interesse o cardápio em mãos. As letras lhe embaralhavam a vista, pois a mente devaneava para longe. No final, escolhera o prato mais simples e a bebida mais forte. Não lhe passou despercebido o olhar clínico de sua mãe.

- Acho que agora poderemos conversar com mais calma, não? – indagou a mais velha, mas Itachi não se limitara a responder e apenas desfrutava a bebida servida instantes antes enquanto aguardava a refeição chegar. – Itachi...

- Estou curioso... – começou a dizer com os olhos voltados para o copo cristalino em mãos. – O que a senhora gostaria comigo? Depois de tanto tempo...

- Eu soube o que acontecera. – informou indiferente e concentrando seu penetrante olhar no filho. – Vim saber o porquê de ainda estar parado.

- O quê...? – confuso, encontrou o olhar da outra. Engoliu em seco.

- Acho que me ouvira muito bem Itachi. – a expressão de Mikoto era dura, fria. – Acho que, acima de tudo, não criei um filho covarde.

- Não entendo. – franziu o cenho querendo dizer mais alguma coisa, quando um garçom trouxera suas comidas. Assim que o homem os deixara, continuou: - Do que está a falar, okāsan?

Mikoto não lhe respondera de imediato, parecendo deleitar-se com a comida que pedira e o vinho que se servira. Todavia, a mulher tinha sua mente freneticamente a trabalhar, olhando de esgueira o seu primogênito. Também não sabia dizer ao certo o porquê de estar tendo tal conversa com o outro, mas seu coração apertava toda vez que pensava no menor. E por fim, não aguentara e o procurara.

- Sua situação com sua esposa. – disse ouvindo o suspiro alheio. – Não acha que é hora para arrumá-la? Há um bebê vindo, Itachi.

- Eu sei mãe, meu filho. – o moreno disse em voz baixa, contendo a irritação. Parecia que todos resolveram intrometer-se em sua vida agora. – Mas me espanta a senhora dizer tal coisa. Sempre fora contra meu casamento.

- Sim, é verdade. – Mikoto calou-se, pensando. – Mas intriga-me que justo você, que fora tão tenaz por aquela mulher, tenha desistido tão fácil.

- Eu não desisti, apenas estou dando um tempo. – falou teimosamente enchendo novamente seu copo. – Não quero pressioná-la a nada.

- Então, agir como um falso cavalheiro é a solução? – perguntou friamente fazendo o outro parar de comer. – Apenas está escondendo-se. Está com medo.

Ficaram minutos em silêncio, nenhum dos dois ousando dizer algo enquanto àquelas palavras afundavam-se na mente do jovem empresário. Seria mesmo verdade? Estaria sendo covarde? Era medo? Não, não poderia ser, dizia para si mesmo, encarando o olhar de azedume da mais velha Uchiha. Tomou uma profunda respiração, como assim poderia aliviar seus pensamentos de derivar-se para um negror de sua mente que não se atrevera a aprofundar-se.

Era lá que se encontrava a verdade; sabia disso.

- Eu não sei o que a senhora está falando, mãe. – tentou deixar o assunto de lado, porém a morena não tinha os mesmos planos.

- Itachi, você se lembra o que eu lhe disse quando negou ter quebrado um vaso que ganhei de presente?

- Que não deveria contar mentiras. – as sobrancelhas enrugaram-se e os lábios comprimiram quando murmurara. – Mas, mãe, não sou mais criança.

- Sério? Então, mostre o quanto é homem, o quanto você tem amadurecido. – retrucou abanando a cabeça. – Itachi, posso não ter sido a melhor pessoa para você nesses últimos anos, mas como mãe, me preocupo com você.

- É desnecessário, okāsan.

- Já que insiste. Pois bem, apenas devo aconselhar da melhor forma que posso. – começou a dizer a mulher, cortando o mais jovem com um olhar penetrante quando este tentara retrucar. – Só ouve-me. – pediu e mesmo com relutância, Itachi assentira. – Itachi, não previsse da felicidade. Se você a ama, se ama o bebê por nascer, então lute. Vê-lo dessa forma me angústia mais que os acontecimentos passados, por isso, não me importa se a moça na qual escolhera possa não ser de meu agrado ou de seu pai. Porém, ela lhe faz feliz e isso me é o suficiente.

- Eu cometi erros, erros graves. – argumentou, tentando em vão em não pensar na noite onde tudo começara. – Ela e o bebê quase...

- Somos humanos, Itachi. – a mulher lhe cortou, estreitando o olhar. – Erramos e aprendemos com eles. Você aprendeu com seu erro, mas está sendo um energúmeno com medo de ser rejeitado. Medo de machucá-los. Não vê que eles... Ela o quer de volta? Que o espera?

- Eu os amo, okāsan. – sua voz não saíra mais que um sussurro, porém provendo de uma pura e forte convicção.

- Não se importe com a opinião alheia. – Mikoto, pela primeira vez que estivera na presença do filho, sorrira com sinceridade e carinho maternal. – Itachi, mostre a ela o quanto a ama. Lute, filho.

E olhando nos olhos de sua mãe, ouvindo suas palavras penetrarem tão profundamente em sua mente; e a mão quente que lhe fazia um carinho em seu rosto, Itachi deixou uma lágrima escorrer por seu rosto alvo.

Ele sabia o que iria fazer a partir daquele momento.

-oOo-

- Obrigado por fazer negócios conosco, senhor Tamaski.

O moreno dos cabelos longos e negros apertara a mão do senhor de olhos miúdos a sua frente, em um gesto amigável de despedida. O sorriso no pálido rosto era de puro contentamento, bem como das demais pessoas presentes naquela sala de reuniões; na qual havia perdurado por quase três horas de constantes discussões até se chegar a um acordo que satisfaria ambas as partes envolvidas. Itachi não poderia estar mais contente com o resultado obtido. Seus problemas, finalmente, estariam resolvendo-se.

- Que tal sairmos para comemorar? – indagou o azulado ao lado que se sobressaía sob o Uchiha.

- Não irei poder me juntar a vocês, tenho outros planos. – o C.E.O. respondeu já recolhendo os papéis e pastas da mesa e colocando-os em sua pasta de couro.

- Ei, Itachi, não seja assim, apenas uma bebida. – tentou argumentar um moreno dos olhos negros e cabelos rebeldes de igual cor que detinha características muito parecidas com as de Itachi.

- Ah, Shisui, deixa ele. – dissera um ruivo menor que todos ali, mas com o sorriso mais malicioso dos demais. – Acho que a senhora Uchiha o espera, não?

- Oh, então Itachi está aprontando, hun. – um loiro de longas mexas disse, rindo.

- O deixem em paz, Deidara e Sasori. – Shisui tentou amenizar a situação ao ver o rosto do primo contorcer-se em uma careta de desagrado. O mais velho sabia que Itachi não era muito amigável com aqueles tipos de piadas.

- Hai, hai. – Sasori murmurou com indiferença enquanto Deidara apenas dava de ombros.

- Homens, às vezes tão idiotas. – a única mulher dali dissera, revirando os orbes amendoados com leve divertimento. – Enfim, também irei recusar. Até uma próxima vez rapazes. E parabéns.

- Obrigado Konan. – agradeceu Itachi, abraçando-a rapidamente. De relance pudera pegar dois ruivos saindo discretamente junto a mulher. Oh, bem, parece que esse trio irá aprontar novamente, pensou com carinho e mentalmente bufando.

- Bem... Você virá ou não, Itachi? Vai ser rapidinho... – quis saber Kisame novamente, olhando o menor com aquele costumeiro sorriso predatório.

O Uchiha não sabia o que o acometera naquela época, todavia, quando notara já estava saindo de seu carro e entrando naquele pequeno bar na qual fora informado pelos demais. Percebera, mais tarde, que nem todos os nove de sua empresa estavam presentes. E no final, acabara aceitando o convite.

Arrepender-se-ia amargamente mais tarde por aquela decisão impensada.

Inicialmente, tinha o objetivo de não passar mais que dois drinques da mais leve bebida oferecida pelo estabelecimento. Seu erro fora concentrar-se nas conversas ao seu redor, regadas de louvação para si e sem perceber, o álcool já consumia seu sistema pouco a pouco. De apenas bebidas fracas as mais fortes passavam por sua mão e garganta.

Quando se dera conta, já estava com os ânimos mais exaltados do que pretendia. Arrulhara tanto com os amigos que Shisui resolvera por levá-lo para casa e o empresário não refutara. Do pouco que se lembrava, ao longo do trajeto até sua casa não parava de resmungar – recusava-se a admitir que choramingara pateticamente – sobre tudo o que acontecia consigo; a empresa, o bebê, a esposa e seus medos. Claro, sabia que o primo era uma pessoa confiável e não lhe causaria problemas ou piadinhas mais tarde por tais confissões. Mas isso não impediu de sentir-se envergonhado quando totalmente sóbrio.

Seu pesadelo realmente começara ao chegar a casa – com Shisui praticamente o carregando pelos ombros –, a mesma estando tão silenciosa e escura. Fria. O primo lhe deixara no sofá e fora a cozinha no intuito de lhe preparar um café bem forte que Itachi apreciaria. Era um jeito peculiar para o moreno deixar um pouco a embriagues de lado, mas funcionava no C.E.O.

E pelos breves momentos que Shisui saíra sua esposa aparecera vestindo um roupão quentinho e o rosto vermelho. Lembrava-se de ver os olhos vermelhos, inchados e cansados da moreno-ruiva. Contudo, o que mais lhe marcara na mente era o olhar de pura decepção presente nas íris azul-esverdeadas.

- Itachi, o que você fez...? – ela indagou em um sussurro e aproximando-se do moreno esparramado no sofá.

Fora o estopim para que sua embriagues o dominasse por completo.

O desenrolar dos eventos que se seguiram aconteceram quase em um piscar de olhos em sua mente. Eles discutiram em vozes alteradas, gritos ecoando por todo o apartamento. Não adiantou Shisui ou Konan – que soubera depois que sua esposa havia chamado-a horas antes para lhe fazer companhia – tentarem aplacar a descontrolada discussão.

Eram gritos, lágrimas e então, o som de um tapa sendo desferido no rosto de porcelana da esposa que fez com que quase tudo silenciar; se não fosse o som do corpo pequena e de situação delicada chocar-se com a mesinha de centro de vidro. Ouvir o som de milhares de cacos de vidros caírem no chão junto ao corpo da mulher fez Itachi voltar à realidade com um choque.

Desespero tomou-lhe o corpo, assim como nas próximas horas em que se seguiram.

Lembrava-se da sirene da ambulância quando chegara, dos paramédicos atendendo a mulher e a levarem com pressa. Lembrava-se do olhar sombrio que Konan lhe mandara antes de seguir com os paramédicos até o hospital. Shisui o impedira de seguir até o hospital. E o agradecia agora, mesmo que naquele momento esperneara como um louco até quando seu irmão mais novo, Uchiha Sasuke, chegara e lhe desse um soco e lhe mandara, mesmo atordoado, que fosse descansar no quarto.

Fora o suficiente para acalmar-se, por hora.

O outro dia chegara e para sua surpresa, Sasuke o aguardava com um café pronto e remédios para a ressaca que sentia. Mas nem sua dor de cabeça e o mal-estar eram os suficientes para aplacar sua preocupação com sua esposa e filho. Sasuke contara tudo o que sabia da situação e aconselhara que Itachi não fosse ao hospital, pois mesmo sendo o marido da internada, a mesma lhe barrara a visita. Além disso, havia a impressa, toda a mídia, em cima de si sobre o acontecimento da noite passada. As mais diversas especulações começaram a surgir deixando o japonês cada vez mais frustrado.

Não fora dois dias mais tarde que Itachi tentara fazer uma visita a amada, saber como ela e o bebê – que por um milagre não se ferira e continuava a progredir saudavelmente dentro do útero – se encontravam. Todavia, como Sasuke havia lhe alertado, não pudera nem mesmo chegar perto do quarto onde sua esposa estava.

E Itachi, de alguma forma já sabia, mas tinha perdido a esposa.

E era tudo sua culpa.

-oOo-

O que estou fazendo aqui mesmo?

Indagou mentalmente o moreno enquanto saia de seu carro e andava pela calçada encoberta pela neve branca e pegajosa. Parara diante da casa de aparência rústica e bem conservada, e mesmo estando em frente à mesma podia ouvir uma canção acalorada vindo de dentro dela. Os cantos de seus lábios repuxaram para cima sem intenção consciente.

- Vai apenas ficar parado aí, Itachi-san? – uma voz suave soou atrás de si fazendo o moreno virar-se.

Deparou-se com um casal que lhe sorria de forma amigável. E para sua surpresa não havia julgamento nos olhos dos mais velhos. Contudo, Itachi tinha a sensação que deveria esperar algo assim vindo do casal Namizake-Uzumaki. Seu sorriso aumentara um pouco.

- Iie, apenas admirando Kushina-san. – o moreno respondera a ruiva dos olhos azuis escuros. – Ah, Merī kurisumasu, Minato-san e Kushina-san! – disse em uma reflexão tardia e sendo recebido por sorrisos dos outros dois.

- Merī kurisumasu, Itachi-san! – disseram os dois, com Kushina sem constrangimento lhe dando um abraço e um beijo em sua bochecha. O loiro maior apenas lhe dera um aperto de mãos, antes de puxá-lo também para um rápido abraço.

Realmente, não era algo para se surpreender vindo daqueles dois, contudo, Itachi ainda era pego admirando como afetuoso o casal era. Principalmente, com as pessoas na qual gostava. Ao menos, para o empresário, Namizake Minato e Uzumaki Kushina sempre lhe passaram um calor que só é encontrado dentro do seio familiar. Era demasiado grato por tal coisa.

Os três não tardaram a andarem até a porta da casa em um silêncio apreciado por todos. A porta fora rapidamente aberta por um moreno alto e pálido, que carregava em seus braços uma garotinha de três anos, sendo a mesma tão parecida com o homem que a segurava.

- Ah, Minato-ojīsan e Kushina-obāsan!! – gritou a menina em êxtase e com um sorriso grande, os bracinhos esticando-se em um pedido mudo para que os mencionados a levassem.

- Se não é minha pequena netinha, Sarada-chan! – a ruiva tomou a garotinha em seus braços animadamente, dando-lhe um beijinho em sua bochecha rechonchuda. Tal ato imitado pelo Namizake.

- Está tão linda, hime-chan. – Minato a pegara no colo, ouvindo o gritinho feliz da menor, antes de direcionar o olhar ao homem que lhes davam passagem para entrar na casa. – Obrigada pelo convite, Sasuke-kun.

- Hai, Merī kurisumasu, Sasuke-kun. – disse Kushina abraçando o mais novo Uchiha enquanto entrava seguida dos demais.

- Obrigado por virem, Merī kurisumasu. – Sasuke retornou o agraciar para então direcionar o olhar para o irmão mais velho que se manteve quieto todo aquele tempo. Não pode negar a surpresa em vê-lo. – Itachi, olá.

- Yo, otōto. – Itachi cumprimentou o outro assim que foram deixados sozinhos pelos mais velhos, estes que andavam falando animadamente com Sarada.

- Sinceramente, pensei que não veria. – comentou, dando de ombros e sobrancelhas franzidas. – O que fez mudar de ideia?

- Minha determinação, otōto. – retorquiu com um sorriso de lado.

Sasuke não quis intrometer-se mais ainda nos assuntos do mais velho. Ambos então seguiram pelo corredor que os levaria direto para a sala toda decorada, onde a maioria dos convidados se encontrava. O falatório logo chegara aos ouvidos de Itachi, que assim como o irmão, entrara na sala aconchegante de forma silenciosa; não querendo ser notado imediatamente. Itachi preferiu ficar ao canto, observando os convidados, aceitando a bebida que Sasuke lhe oferecia. Os dois engajaram em uma conversa confortável, apesar das poucas palavras serem trocadas entre si, havia um entendimento mútuo.

O cômodo estava consideravelmente cheio e barulhento. Itachi permitiu-se deixar seus olhos ônix percorrerem, observando a alegria dos demais e os tramites que os rodeava. Reconhecia a maioria que estava presente. Tanto que uma mulher de longas mechas loiras claras e figura formosa lhe acenara sorridente quando seus olhos se encontravam. Ou como um ruivo menor com a testa tatuada se aproximara, o cumprimentando. O Uchiha não pudera conter o riso ao ver o irmão menor se distanciar com uma careta. Não era desconhecido que Uchiha Sasuke e Sabaku no Gaara não se davam bem. Principalmente se o ruivo era o ex-namorado do amante de Sasuke; Uzumaki Naruto.

Era aos poucos que Itachi ia se enturmando com os demais. Poucos foram os que questionaram sobre sua atual situação, ou deixá-lo desconfortável por algum comentário impróprio e pessoal. E por tal, Sasuke estava com um mau-humor na direção do único garoto dos InuzukaKiba – e com Hōzuki Suigetsu. Itachi revirou os olhos para isso, pois sabia que seu irmão tinha a mania de tomar suas dores, mesmo que preferisse morrer a admitir tais coisas.

O moreno também fora agraciado com a presença de sua única sobrinha, Uchiha Sarada. Que outrora estava sendo monopolizada pelos outros, mas que agora regava a atenção para seu jisan preferido. Não era segredo que Itachi mimava a menininha de três anos como ninguém mais conseguia. Sarada muito lembrava o seu irmãozinho quando naquela idade.

- Itachi-jisan quando o meu primo vai nascer? – a indagação da morena menor o pegara de surpresa. Os dois se encontravam sentados em uma poltrona perto da árvore de natal.

Itachi sabia ser uma pergunta inocente, sem nenhuma intenção maliciosa por trás, apenas aquela curiosidade infantil de típicas crianças daquela idade. Todavia, não pode conter o espanto e sentir o seu coração se apertar em agonia. Bem como, vinha a sua mente um dos motivos de ter aceitado o convite do genro e de seu irmão ao vir naquele jantar. Queria vê-la novamente. Mas ela não estava ali e sabia que nem viria.

- Itachi-jisan? – a voz preocupada e infantil tirara de seu devaneio, fazendo-o direcionar o olhar a sobrinha em seu colo. – Daijōbu?

- Oh, sim, apenas lembrando algumas coisas, querida. – respondeu o moreno, sorrindo levemente. – Seu priminho? Bem, logo, logo ele estará aqui para brincar com você.

Ainda conversaram por um bom tempo, com hora ou outra alguém se aproximando para conversarem. Até que Kushina, que recém saída da cozinha viera chamar todos para a sala de jantar, anunciando que a refeição iria ser servida. Com Sarada em seus braços e conversando amenidades com dois ex-professores seu durante o ensino médio, Hatake Kakashi e Umino Iruka.

O empresário sentara-se entre o irmão e sua sobrinha, sendo a mesma alimentada por Kushina. A garotinha nunca parecia cansar em falar sobre tudo e com todos. A sua frente estava Kakashi ladeado pelo Umino e a sua esquerda uma mulher pálida e olhos vermelhos em contraste com os cabelos negros. Itachi não conseguia lembrar-se direito o nome da mulher, mas tinha noção que a mesma era a esposa de Sarutobi Asuma e mãe da pequena Mirai que estava sentada em uma cadeirinha no meio do casal.

O jantar fora tudo, menos quieto.

Itachi não negaria que se divertira estar no meio daquele alvoroço, fazia algum tempo que não sentia aquela leveza o tomar. Era bom, muito bom e refrescante tanto para sua mente quanto para seu espírito atormentado. Sorrira e até mesmo rira em algumas ocasiões. Parecia que sua vida estava entrando nos eixos.

Porém, tinha o conhecimento que não poderia sustentar esta ilusão por muito tempo.

E isso veio com uma simples ligação.

Logo depois do jantar, Itachi fora convidado por seu irmão a acompanhá-lo e mais alguns amigos a uma pequena rodada de drinques no barzinho que havia dentro do escritório de Sasuke. Sentado confortavelmente na banqueta e com uma bebida em mãos, Itachi divertia-se com as conversas ao seu redor. Contudo, o som de uma música o tirara daquele conforto. Desculpando-se, saíra do cômodo indo atender o celular tocando.

- Moshimoshi? – disse rouco e encostando-se na parede ao lado da porta do escritório.

- I-Itachi? – a voz suave e hesitante do outro lado da chamada deixara o momento preocupado. Reconhecia àquela pessoa. – Oh, por Kami! Itachi algo... Algo ac-aconteceu... Oh!

- Konan! Por favor, acalme-se e me explique o quê aconteceu. – pediu o Uchiha um pouco assustado, pois conhecia a melhor amiga que tinha. A mulher não era assim, como se estivesse prestes a desmoronar em meio ao choro. – Konan?!

- É, é ela Itachi... E-ela, oh, eu sinto tanto, tanto... – os soluços da outra fizeram com que um frio na espinha o percorre-se em um mau agouro lhe apossar.

- Konan, acalme-se. – pedia, mas apenas os soluços eram ouvidos até que a linha de repente ficara muda por alguns instantes. Pode identificar algumas vozes mais graves, mas incoerentes para si. Seu peito apertou ofegante, seus olhos não conseguiam permanecer no mesmo foco por muito tempo. Fora assim que Sasuke o encontrou.

- Itachi, o que está acontecendo? – indagou o menor franzindo as sobrancelhas demonstrando um pouco de preocupação. O maior apenas conseguiu abanar a cabeça, o rosto mostrando também preocupação bem como confusão.

- Itachi, ainda está aí? – o tom rouco e áspero foi reconhecido de imediato pelo jovem C.E.O.

- Hai, Yahiko. Mas por que Konan ligou? O que aconteceu? – as perguntas saíram depressa pela boca do moreno ofegante.

- Eu... Eu não sei como dar essa noticia, mas... – o ruivo do outro lado fizera uma pausa, como se para pensar, antes de suspirar pesadamente. Itachi sabia que boa coisa não poderia vir. – Ela entrou em trabalho de parto algumas horas atrás, Itachi. O bebê está bem, mas...

- Yahiko? – ele sabia a resposta, porém tinha medo de ouvi-la. Sentia tudo ruir ao seu redor, seus olhos perdendo o foco.

- ... Eu sinto muito.

Depois disso, tudo fora mergulhado no mais profundo negror.

-oOo-

Tudo ao redor era branco, paredes, teto e móveis. As roupas daquelas pessoas tinham igual tom. Era enjoativo para o jovem homem dos cabelos pretos e olhos de mesma cor. Ou mesmo o cheiro asséptico que todo aquele grande local possuía lhe dava a sensação opressora de náuseas.

Ela se foi... Se foi e me deixou... Para sempre.

Sentado naquela cadeira de plástico desconfortável, o jovem Uchiha mantinha uma expressão impassível, como se congelada no tempo. Itachi, para quem quer que o visse naquela hora, parecia uma estatua humana. Mas para seu irmão, Sasuke, era um homem regado de dor, estando o mesmo ainda em choque. O próprio Sasuke havia ficado atônico com a notícia do falecimento da cunhada.

Sasuke estava lá quando Itachi recebera a notícia devastadora. Viu como o mais velho cambaleara e deixara o celular cair e o corpo do moreno maior só não tocara no chão por intervenção sua. Levou o irmão de volta ao escritório e deitando-o na poltrona que lá havia e comunicando aos amigos – que observavam preocupados – que chamassem seus sogros e Naruto de uma forma muito discreta.

Não fora dez minutos depois que Itachi recobrara a consciência todo alvoroçado, enquanto isso Minato tentava entrar em contato com Konan; a última pessoa na qual indicava no visor do celular que falara com o C.E.O. Itachi havia se levantado em um ímpeto, resmungando sobre hospital e a esposa. Estava claramente perturbado, deixando os demais apreensivos com o que poderia ter acontecido. Só quando estava suficientemente calmo e explicando por menores a ligação que recebera, Sasuke ofereceu-se imediatamente para levá-lo ao hospital. Não confiava no irmão todo inquieto e angustiado para dirigir.

Ao chegar ao hospital e seguindo direto para a ala da maternidade foram recebidos por Uzumaki Nagato e uma chorosa Konan que era consolado por Yahiko. Sendo o único que parecia em condições de explicar o ocorrido, Nagato relatou o que acontecera horas antes.

Sasuke estava preocupado demais com o Itachi.

Aparentemente, sua cunhada havia ido – depois de sair do hospital anteriormente – para a casa de Konan e lá ficado todo aquele tempo. E no inicio daquela tarde, enquanto desfrutava do repouso absoluto que havia sido indicado para si, a mulher entrara em trabalho de parto de repente. Konan, obviamente, havia levado-a a maternidade onde souberam que teria que ser realizado uma cesariana de emergência devido ao bebê não estar na posição correta, além disso, o cordão umbilical tinha se enrolado em volta do pescoçinho da criança. Não havia tempo para hesitação e a cirurgia havia sido feito, demorando horas. O bebê havia sobrevivido e estava na incubadora por ter nascido com apenas trinta e três semanas. Já a jovem mãe... Devido aos riscos que acometeu a mulher, a mesma tivera hemorragia interna e não resistira.

E Itachi não reagiu bem a notícia.

O moreno das longas mechas ainda estava sentado naquela cadeira, imóvel. O rosto hora ou outra adquiria uma expressão agonizante, como se estivesse sofrendo a mais dolorosa tortura. E Sasuke sabia que o principal sentimento que dominava o outro era a mais pura e ardente culpa.

- Itachi. – chamou o mais novo, suspirando logo depois ao ver que o outro nem mesmo se mexera. – Itachi, como vocês ainda eram casados, você têm que assinar os papéis referentes ao despacho do... do corpo para o enterro.

- Sasuke, acho que agora não é a melhor hora. – aconselhou um loiro dos mais brilhantes olhos azuis que atualmente expressavam tristeza.

Sasuke apenas observou o irmão, antes de assentir para Naruto. Itachi estava mergulhado demais em seus próprios pensamentos de auto-aversão para notar o seu entorno. Sua mente parecia adorar lhe mandar as cenas daquela fatídica noite, lembrar-lhe de seu medo e de como agira tão covardemente até então. Nem mesmo tinha a coragem de sair daquele estado ou mesmo perguntar sobre seu filho recém-nascido. Não sabia nem qual fora o nome escolhido para aquele serzinho. Se é que fora nomeado.

Alguém se movera ao lado de Itachi com graça e se abaixara de cócoras a sua frente, segurando suas mãos em um aperto forte. Os olhos ônix se encontraram com os olhos inchados e amendoados da melhor amiga. Porém, havia um brilho determinado e compreensível que penetrava aquelas íris de maneira que o empresário nunca pensara que poderia ver em Konan.

- Itachi, lembra-se no que ela dizia todas as vezes que algo não ia bem? – quis saber ela, mesmo adivinhando que o mais velho não lhe responderia, contudo ao menos isso chamara sua atenção. Se o brilho curioso e melancólico que tomara as íris negras fosse qualquer indício. – Itachi, vai ficar tudo bem.

Todavia, o Uchiha tinha suas dúvidas.

Ele conseguiria superar tudo isso e seguir em frente?

-oOo-

Era manhã de Natal.

Andando por entre os corredores longos e brancos, o moreno detinha as mãos trêmulas. O rosto mostrava a sua ansiedade. Caminhando ao seu lado era uma mulher alta, e de aparência jovem e que usava um jaleco branco. Um sorriso pequeno aparecera na face alva diante do comportamento do mais novo. Senju Tsunade finalmente levaria o Uchiha para conhecer o filho, as emoções do mesmo ainda estando no mais alto pico. Mas tinha a esperança de que ver o filho pudesse o acalmá-lo aos poucos.

Seu rosto contorceu-se em uma careta ao rever os momentos antes. Itachi havia chegado cedo ao hospital no intuito de, pelo menos, uma última vez poder ver a esposa. Fora uma briga. Konan, Nagato e Naruto não achavam que seria uma boa ideia já que o herdeiro Uchiha quase surtara na noite anterior quando vira o corpo da esposa. Muitos duvidavam em como ele agora reagiria. Todos, menos Sasuke e a médica renomada, Tsunade. E apenas por intervenção dos dois é que Itachi pode ter seu momento.

E sozinho naquele cômodo frio que era o necrotério do hospital, Itachi deixou-se desmoronar.

- Eu te amor... Por favor, me perdoe... Eu te amo...

Sua esposa, sua bela mulher... Sua amada estava tão gélida e imóvel, flácida. Porém, aos seus olhos ainda continuava a ter o mesmo brilho juvenil como aquele que possuía quando a conhecera. Ainda estava tão bela. Com feições delicadas e únicas, inglesa dos longos cabelos castanho-vermelhos, cílios longos que tocavam as bochechas pálidas, uma boquinha rosada e que outrora sempre detinham um sorriso; seja um sorriso de pura felicidade ou o sorriso matreiro. Contudo, talvez o que mais sentiria falta seriam os belhos olhos azul-esverdeados, que sempre brilhavam como a mais encantadora pedra preciosa.

Just a beautiful woman, pensou acariciando a bochecha amavelmente.

Emoções dos mais diversos tipos lhe passavam no ser, adjunto as lembranças que preenchiam sua mente. E deixou-se levar, naufragar naquele mar tortuoso. Não sabendo quanto tempo levara, mas sua alma parecia ter se encontrado ou ao menos, ter visto algum caminho que lhe satisfazia.

Não sabia como, mas quando saíra daquele lugar fúnebre, uma leveza o tomou.

Agora Itachi se encontrava em fronte a uma janela larga de vidro em um corredor vazia além dele e a Senju. Os orbes escuros observando fascinados o cômodo visível além do vidro. Eram muitos os bebês envoltos em mantinhas e roupas confortáveis dentro daquele berçário. O Uchiha se deslumbrava, mas seus olhos procuravam com afinco o que deveria ser o seu, seu pequeno filho. Tsunade percebendo tal euforia do outro apontara para um canto do vidro, onde ficavam as incubadoras. Lá, Itachi deu a primeira olhada em seu filho.

- Oh... – murmurou sentindo-se como se estivesse em um feitiço que o deixava inerte ao que acontecia ao seu redor, focando apenas o serzinho dentro da incubadora. A médica lhe mandara um sorriso.

- Você quer ir vê-lo, Itachi-kun? – indagou depois de alguns minutos em que deixara o moreno apreciar a cena, o mesmo que lhe mandava um olhar confuso, mas não menos que sôfrego.

Tsunade o levara até o berçário, falando todas as medidas preventivas que deveria tomar. Itachi lavou as mãos, colocando uma roupa e máscara higienizadas e junto à médica entrara no local. Havia apenas bebês e uma enfermeira que os cumprimentara. Andou até sua criança, vendo-o de perto era tão pequenininha que tinha a impressão que qualquer toque poderia fazê-la desfazer. Algo no peito do Uchiha vibrou e aquece-o. Um sorriso adornara suas feições e seus olhos ficaram úmidos.

Aquele serzinho era seu único bem precioso que a amada lhe deixara.

- Qual... Qual é o seu nome? Ela já tinha escolhido? – perguntou em um sussurro, não ousando falara mais alto.

- Hai. Antes de... Bem, ela conseguiu ver a criança e nomeá-la. Acho que é propício. – a loira de curvas vantajosas disse suavemente com melancolia. – Akihiro, Uchiha Akihiro.

Itachi sorrira concordando com a Senju. Novamente, sua esposa lhe surpreendia.

- I promise to love you and protect you, my son. – sussurrou deixando lágrimas inundarem seus olhos. – Always.

-oOo-

“Itachi,

Não sei o que me apossara para escrever-te nessa manhã, na véspera de Natal. Porém, me traz uma refrescante calma, paz. Como se eu, inconscientemente, precisasse de tal coisa para seguir em frente. Nem sei para onde irei, mas queria que você pudesse vir comigo. Contudo, sinto que não é o certo. Não no momento. Acredita em pressentimentos? Pois não sei o que sinto, mas é algo que me deixa de certa forma feliz. Algo me diz que nosso filho – que agora se encontra um pouco agitado. Acho que ele sente sua falta. Eu sinto sua falta. – enfim, nosso filho ficará em boas mãos. As suas, por que não? É o que espero.

E se me perguntasse, sinto ressentimento por ti? Pois não, não sinto. Por quê? Por que depois de tudo o que eu passara, não posso mesmo odiar-te? A resposta é óbvia, pois eu amo-te como nunca amei ninguém. Fui feliz em viver em teus braços, sentir seus carinhos e ser dona de seu coração. Eu te amo, Itachi? Para sempre.

Itachi, eu tenho fé e acredito que será um bom pai. Um dos melhores. Não privarei você de seu filho, ele é um Uchiha afinal, nee? Eu sorrio agora, com meu coração mais leve, porque sei que meu pequeno Akihiko estará em boas mãos contigo. Sim, eu escolhi ‘Akihiko’ como seu nome e espero que ele leve seu sobrenome. O que achas? Gostaria de ouvi tua resposta...

Itachi... Talvez, algum dia haverá esperança para nós.

Eu te amo... Então, por favor, não se esqueça de viver sua própria vida, mesmo eu estando longe.

Always,

Tayla”

-oOo-

||The End||


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Notas finais do capítulo

Hello!

Enfim, eu sei, tô um pouquinho atrasada, mas gente, eu também tenho o Natal para comemorar.
Bem, o que acharam? Bom? Ruim? Esterco de cavalo? Maravilhoso? Escolham qualquer adjetivo ai, só me digam, please!
Eu realmente não sei o que me deu pra fazer esse tipo de One, mas... Eu sei, saiu muito deprimente, não? Eu mesma estava dando uns trecos enquanto escrevia, pois não gosto de ver meu moreno lindo sofrendo, enfim...

Tudo bem pessoal, desejo bom Natal e um Feliz Ano Novo!!

Bye Bye,
Kunimitsu.

P.s.: É uma vergonha admitir, mas parece que só conseguo ter fanfics terminadas se elas forem Ones. Oh, vergonha!



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