Wicked escrita por Boca de Netuno


Capítulo 2
parte dois.




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  Nathan estava no mesmo ano que eu, na primeira sala do corredor. Apesar de ter passado apenas três semanas desde que nos falamos pela primeira vez, eu me vi muito mais próxima dele do que da maioria dos meus amigos. O sinal mal havia tocado naquela quinta-feira, avisando que a aula havia terminado, ele já estava parado ao lado da porta, me  esperando para que voltássemos para casa juntos.

 

  'Gazeou aula novamente?' ri, ajeitando a bolsa no ombro.

 

  'Só a ultima. O que você carrega tanto nisso? Parece seriamente pesada.'

 

  'Não é tanta coisa assim. É só a apostila do colégio, meu caderno de histórias, o de matéria, um pequeno para anotações, um estojo com material básico, um de canetas coloridas, minha carteira, maquiagem e uma sombrinha.' listei, contando nos dedos 'E meu celular.'

 

  'Esqueceu a chapinha hoje? Estou sentindo meu cabelo meio frisado.' disse ele, levando ambas as mãos a cabeça, fingindo preocupação.

 

  'Cale a boca, Nate.' ri, o empurrando enquanto andávamos pela rua, até o ponto. 'Quer ir lá em casa hoje?'

 

  'Whoa. Hoje é um marco.' ele começou, muito serio 'É a primeira vez que estou sendo convidado para sua casa.' ele fingiu emoção.

 

  Senti meu rosto esquentar ligeiramente, e me apressei em dizer 'Não precisa ir, eu só pensei que você podia me ajudar em química.'

 

  'Eu estava brincando, Nat.' ele segurou uma risada 'Eu vou.'

 

  Mais uma vez, ao subir no ônibus, ele calou-se. Sentei na janela, com ele novamente em minha frente, de pé. Não lembro de estar tão cansada, e nem de ter dormido. Mas acordei apenas com a voz de Nathan ecoando em minha mente.

 

  'Nat. Nat, precisamos descer.' ele falou, com a mão fria em meu braço, onde o casaco escorregara. 'Estamos no terminal.'

 

  'Nate!' levantei de repente, percebendo a situação. 'Por que não me acordou quando chegamos ao nosso ponto?' peguei minha bolsa, já no chão, e descemos.

 

  'Desculpe. Sentei ao seu lado e acabei dormindo também.'

 

  O garoto parecia realmente arrependido e, por parte da culpa ser minha, eu simplesmente suspirei 'Perfeito,' ironizei 'estamos longe de casa e já começou a chover.' vasculhei minhas coisas, tirando do meio a sombrinha azul claro e puxando Nathan para baixo dela. Ele sorriu,  com o rosto levemente enrubescido, e apressamos o passo, visando chegar em casa antes que a chuva engrossasse.

 

  Inutilmente, devo dizer.

 

  Em menos de cinco minutos de caminhada, uma chuva torrencial nos atingiu e estávamos quase correndo quando o pseudo guarda-chuva arrebentou, rasgando o frágil tecido que nos mantinha secos.

 

  'Natalie, quer usar meu casaco? E impermeável.' ele ofereceu docilmente.

 

  Meneei. 'Já vamos chegar em casa.'

 

  Nunca demorei tanto para chegar em casa quanto naquele dia. Estávamos pingando ao atravessar a porta da frente, embora Nathan tivesse sorte: seu grande casaco o mantera seco, deixando apenas a barra da calça e o cabelo molhado.

 

  Coloquei nossos casacos na secadora e peguei toalhas para nós.

 

 

  Depois de secos, Nate sentou-se ao meu lado, tentando me ensinar sobre algo que eu nunca me interessei antes: química. Não demorou muito para que eu já estivesse distraída com outra coisa, rindo. 'Você disse que sabia essa matéria!'

 

  'É, eu achei que soubesse.' ele reclamou, folheando minha apostila

encharcada.

 

  'Nate.' comecei timidamente, olhando para o chão 'Por que tudo isso?'

 

  'Isso o quê?' ele perguntou, mal prestando atenção.

 

  'Bom, você não acordou e simplesmente decidiu entrar na minha vida.'

 

  'Não. Você decidiu.' ele sorriu. Colocando a mão no bolso da jeans, o garoto pegou seu celular, checando o horário e levantando um tanto quanto subitamente. 'Esta ficando tarde, e melhor eu ir embora.' e, pegando seus pertences, saiu sem dizer outra palavra, me deixando  sozinha e confusa na sala.

 

  Era realmente tarde e, por um lapso meu, dormi cedo, sem comer nada. Não sabia se meus pais já haviam chego, e não voltei a abrir os olhos ate cerca de cinco da manhã, quando acordei com febre. Tentei me sentar na cama, mas senti o sangue esvair rapidamente de minha cabeça  e vi o quarto girar antes de cair deitada novamente.

 

  Ainda meio ofegante, estiquei o braço, alcançando meu celular preto e cinza, buscando na agenda o nome de Nathan, apertão o botão verde logo após. O pequeno aparelho chamou duas vezes antes de ser atendido.

 

  'Green, você tem idéia de que horas são?' a sua voz parecia arrastada e sonolenta, e eu não o culparia por me odiar naquele momento.

 

  'Nate.' consegui sussurrar 'Eu só precisava pedir pra você avisar no colégio que eu não vou hoje.'

 

  'O que aconteceu?' a voz tornou-se alerta e preocupada, o que me fez sorrir.

 

  'Não estou me sentindo bem, nem levantar eu consigo.' fui falando devagar.

 

  'Febre?'

 

  'Provavelmente. Estou com frio.' ofeguei 'Mas não precisa se preocupar, eu vou dormir mais um pouco e vai estar tudo bem.'

 

  Ouvi um alto 'NAT!' antes de desligar e virar para o lado, adormecendo quase imediatamente.

 

  Puxei o endredon branco de cima de minha cabeça, franzindo o cenho quando um feixe de luz me atingiu o rosto. Virei a face para a janela, me encontrando no quarto de meus pais, afundada na grande cama no meio do aposento. Virando para o outro lado, me deparei com Nathan, me  observando. Senti um arrepio percorrer minhas costas devido ao susto.

 

  'Bom dia.' ele sorriu.

 

  'O que está fazendo aqui?' perguntei, passando a mão pela minha testa, encontrando uma faixa prendendo rodelas de batata crua a minha fronte.

 

  'Delicada como sempre.' ele resmungou, sem deixar de sorrir 'Eu não podia deixar uma enferma sozinha em casa.'

 

  'Minha mãe já saiu? Como você entrou?'

 

  'Ela disse que não podia perder a reunião, mas foi ela quem colocou as batatas.' ele apontou 'E eu entrei pela janela do seu quarto.'

 

  'Nate, estamos no segundo andar.'

 

  'Não sou um ninja, mas consigo subir em árvores.' ele deu de ombros 'São quase onze horas, quer comer algo?'

 

  'Você deveria estar na escola.' fui ignorada 'Pare de ser tão legal comigo.'

 

  'E qual seria a razão?' ele parou, uma vez que já estava em pé, dirigindo-se para o corredor.

 

  'Por que você parece perfeito demais, e eu não quero me decepcionar novamente.' falei calmamente, sentindo uma lágrima fria escorrer.

 

  'Eu sou do jeito que você quer que eu eu seja.' ele disse 'Talvez não tenha notado, Nat, mas eu mudo conforme sua vontade. Não é de mim que você ouvirá a verdade, mas quando ouvir, vai entender.'

 

  'Do que você está falando, Nathan?'   O garoto deu meia volta, parando ao meu lado. Puxou a faixa para

 

cima, livrando minha testa das rodelas já quentes e encostou seus lábios gélidos suavemente ali.

 

  'Eu te amo, Natalie. Mesmo antes disso tudo.'

 

  'Eu não acredito mais em amor.' foi o que eu consegui responder.

 

  'Eu sei.'

 

  'Então não diga que me ama se sabe que eu não posso responder.'

 

  'Não é assim que funciona. Amar nunca é inútil.' Nate sorriu tristemente 'E, como eu disse, você ainda está por saber a verdade.'

 

  'Seria bom se você me explicasse o que isso tem a ver.' reclamei, falando alto, fazendo minha cabeça doer.

 

  'Adeus, Nat.' ele acenou, saindo.

 

  'Wow. Adeus não significa algo permanente?' tentei gritar, não obtendo resposta alguma. 'Nate?'


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