Era uma noite de natal, perfeita para se passar ao lado dos familiares. No entanto, não para Rapunzel. Sua mãe não gostava de festividades tais quais o natal e a garota menos ainda. Preferia estar ali, ao lado de Jack, lendo confortavelmente seu livro.

Jack, por outro lado, amava o natal. Mas não gostava de lugares lotados, e era exatamente assim que sua casa se encontrava no momento, fazendo com que ele fosse obrigando a se retirar para o próprio quarto. O som abafado de jazz ressoava através das paredes, o vento frio de inverno invadia o cômodo. Uma atmosfera agradável e deleitável para uma noite de natal.

Rapunzel encontrava-se encostada ao lado da cama de seu amigo, lendo atentamente a um livro. Sua expressão era engraçada. A testa franzida e os lábios comprimidos, como se pensasse "Oh, não. Esse cara não fez isso!". Ela deu, em seguida, um rápido gole em sua xícara de chocolate quente e sua expressão suavizou-se com um sorrisinho, provavelmente alguma situação cômica passava-se no livro.

Sim, com o passar do tempo, Jack aprendera a ler algumas "expressões faciais de leitura de Rapunzel Corona" - assim, devo ressaltar, chamadas pelo albino. Era sempre estranho pensar no quanto ele conhecia a menina.

O garoto remexeu-se na cama, ainda a olhando. Jack adorava observá-la enquanto lia. Ele poderia apreciar os mínimos detalhes de sua aparência; o pequeno nariz levemente arrebitado, o rosto de feições delicadas e infantis suavemente salpicado por sardas, ou mesmo a quase imperceptível madeixa castanha por entre os fios loiros. Sim, Rapunzel definitivamente era adorável em sua opinião. 

— Rapunzel... — a chamou manhoso.

Ela deu uma última corrida com os olhos pela página, antes de prestar a total atenção em Jack.

— Sim? — perguntou, as sobrancelhas arqueadas.

— Eu já disse que você fica linda quando está lendo? — ele sorriu de canto.

As bochechas da menina adquiriram um tom rubro. Jack adorava lhe deixar sem graça. Ela respirou fundo, passando as mãos pela pele quente do rosto.

— Cale a boca, Jack. — retrucou em resposta. — Estou tentando ler.

E, por fim, voltou a sua leitura. Jack riu de sua reação, voltando a observá-la sem vergonha alguma. Gostava de constrangê-la pelo simples fato de lhe arrancar algumas reações. Rapunzel era calma e tranquila, dificilmente se estressava - Jack era, provavelmente, uma das poucas pessoas que conseguia irritá-la.

A loira ajeitou a postura, os olhos, arregalados e vidrados, percorriam os parágrafos com notável rapidez. Algo muito interessante ocorria no livro. Jack deu um sorriso travesso, uma ideia arquitetando-se em sua mente.

Sem aviso algum, puxou o livro das mãos da menina. Ela levantou-se, pronta para pegar o objeto de volta. No entanto, o albino fora mais rápido. Jack estendeu o livro para o alto, impedindo a menina de alcançá-lo.

— Jack! — ela esbravejou. — Me devolva!

Ele riu, negando com a cabeça. Sabia que não deveria irritar alguém quando se está lendo - mesmo que este alguém não tenha inclinação para atos violentos -, mas adorava mexer com a loira. Ela pulou, tentando sem sucesso alcançar o livro.

— Jack, eu estava na melhor parte! Me devolva agora! — ela disse, evidentemente irritada.

— Certo, certo. — ele folheou o livro em suas mãos. — Eu devolvo, mas com uma condição.

Rapunzel suspirou.

— Que seria...?

Ele sorriu, um sorriso que ela não gostou nenhum pouco.

— Um beijo.

Novamente, ela sentiu seu rosto arder e suas bochechas ficarem vermelhas. Sentiu vontade de dar um tapa no albino, mas resistiu ao impulso.

— O que?! — gritou com perceptível indignação. — Eu não vou fazer isso!

Um sorriso divertido brincava nas feições do albino.

— O beijo pelo livro. — Jack deu de ombros. — Você que sabe...

Ela inspirou profundamente, tentando se acalmar. Por fim, agarrou a gola da camiseta dele e uniu os lábios em um beijo.

Era algo calmo e suave, por conta de Rapunzel, obviamente. Já haviam se beijado antes e seus beijos eram sempre assim (com exceção do gosto de chocolate quente por parte da loira, é claro). Não era algo ruim - estava demasiadamente longe disso na verdade -, mas precisava de um pouco mais de agitação naquilo. Jack a puxou para mais perto, de modo que seus corpos ficassem colados. Ele agarrou firmemente a cintura da loira, enquanto ela passava os braços por seu pescoço, acariciando sua nuca com a ponta das unhas. O beijo tornou-se mais intenso e a garota puxou ambos para a cama.

Jack não se conteve, acabou por rir. Ele abriu os olhos, Rapunzel o olhava com as sobrancelhas franzidas e uma expressão interrogativa. As maçãs do rosto da menina mais coradas que o habitual.

— Qual a graça? — perguntou confusa.

Jack riu novamente, dando um beijo em sua bochecha aquecida e lhe entregando o livro. Sentou-se em sua cama, deitando na mesma logo em seguida.

— Para quem não queria me beijar até que você estava bem animada. — ele respondeu praticamente cantarolando.

Com o rosto ardendo em vergonha, Rapunzel sentou-se ao lado da cama de novo e voltou a sua leitura.

— Cale a boca, Jack. — ela falou, mas não parecia irritada. — Só cale a boca.

Ele riu simplesmente.

Sim, aquele de fato fora um dos natais preferidos de Jack.