Surpresa de Natal escrita por Mirtle


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi, queridos. Sim. Eu ressurgi. E (o melhor de tudo) com uma one de Natal.
Atena e Poseidon estão simplesmente a coisa mais fofinha do universo nessa história e juro que eu queria ganhar os dois de presente esse ano ♥
Essa fanfic é completamente pura, lindinha e natalina. Espero de todo coração que vocês gostem.
Com todo amor desse mundo, Mirtle.



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Atena se esgueirou para fora do Salão de Festas do Olimpo quando pensou que ninguém estava olhando e suspirou aliviada, inspirando o ar fresco daquela noite de Natal.

A deusa conjurou um sobretudo preto que ia até o meio das coxas e o colocou por cima do vestido longo e dourado. Normalmente o clima mundano e fenômenos meteorológicos não ultrapassavam as barreiras mágicas do Monte Olimpo, mas como era Véspera de Natal os deuses permitiram que a neve ultrapassasse as barreiras e deixasse tudo com uma palidez encantadora.

Ela se agarrou ainda mais ao casaco e agradeceu mentalmente pelo frio, pois assim sentia de fato que estava respirando e podia clarear os pensamentos.

Ficar naquele salão de baile era sempre enfadonho para Atena, e era por isso que na maioria das comemorações de fim de ano ela saia mais cedo e se recolhia em seu quarto pra dormir. Ninguém sentia sua falta, de todo modo. Todos estavam bêbados ou entretidos demais com qualquer demonstração de diversão que se esqueciam uns dos outros. E era por isso que ela achava tão sufocante ficar na festa.

Atena não entendia qual era o sentido de reunir todos os Olimpianos em um cômodo para que eles bebessem e comemorassem um acontecimento que nem sequer fazia diferença na vida da maioria deles, já que eles nem sequer acreditavam no sentido do Natal. Os deuses do Olimpo não entendiam o sentido de união, de família e de amor na maior parte do tempo, pelo menos não como a festa de Natal sugeria que eles acreditassem. Ela achava que aquilo tudo era uma grande encenação, ou um momento pra que eles pudessem fingir que não havia problemas que eram como rachaduras nas relações familiares entre eles.

A deusa bufou e uma nuvem de vapor se formou graças ao frio. Ela não deveria ficar refletindo sobre tudo aquilo, afinal de contas. Todo ano era a mesma coisa, e não seria a deusa da sabedoria que conseguiria mudar a cabeça dos outros. Ela deveria ir para seu quarto de uma vez por todas, mas não estava cansada, nem com sono e, o mais incrível de tudo, não queria ler ou estudar. Foi assim que seus pés acabaram levando Atena para perto do pequeno lago que ficava ao lado do Salão de Oferendas aos deuses antigos e forças da natureza, como Pã.

Instintivamente ela tinha escolhido ir para um lugar que era pouco movimentado e que ainda sim não era tão isolado quanto seu quarto e mantinha uma boa quantidade de vento e ar fresco. Ela queria pensar. Ou relaxar um pouco.

A deusa foi até a beirada do lago congelado com cuidado, para que seus sapatos de salto não afundassem muito na neve fofa. Ela realmente detestava aqueles sapatos de salto, e, sem pensar duas vezes os tirou dos pés. Afrodite e Hera certamente surtariam se vissem algo assim, mas ela apenas deu de ombros e os abandonou num montinho de neve e lama.

O lago refletia as luzes do Salão de Oferendas, mas ainda era distante o suficiente para que as formas mostradas na camada de gelo fossem disformes. Os pinheiros ao redor do lago estavam enfeitados com pisca-pisca mágicos, de modo que não precisavam de qualquer tipo de energia, e alguns vaga-lumes zanzavam por ali, de forma que o efeito era ainda mais bonito. A deusa queria apenas absorver aquela beleza e acreditar que estava tudo bem.

Ela prendeu o cabelo em um coque no topo da cabeça e colocou as mãos no bolso do casaco, mexendo automaticamente no pequeno pingente que estava lá dentro.

—Estou aqui me perguntando em quanto tempo seus pés vão congelar.

Atena abriu os olhos subitamente, espantada por não ter ouvido os passos dele. Ela não precisou se virar para saber quem era. Reconheceria aquela voz que ostentava um tom superior e irritante a quilômetros de distância.

—O que você quer?

—Hmm... – Ele ponderou. – Nada.

—Então o que diabos você está fazendo aqui? – A loira se virou, irritada, e se assustou ao ver que Poseidon estava a um palmo de distância dela. Absurdamente próximo. Ela recuou.

—Wow! – O deus disse, surpreso. – Seu nariz também vai congelar em breve. Acho que você vai perder todas as extremidades do corpo em poucos minutos, Atena. Tome cuidado com as mãos.

Ela rolou os olhos, sem se conter. O mais irritante de tudo é que ela estava realmente com frio, mas não se daria por vencer.

—Se preocupe com as extremidades de outra pessoa e vá embora, Poseidon.

—Parece que alguém aqui está irritada. Mas eu não deveria estar surpreso com isso. – Ele deu de ombros. – É a sua cara.

—Qual a sua dificuldade em entender comandos básicos?

—Hein? – Poseidon franziu as sobrancelhas.

—Vá. Embora.

—Ah, deixe me ver... Não, obrigada. Estou bem aqui. – Ele abriu aquele sorriso irritante, que ela sabia que Poseidon guardava só pra ela, e se balançou sobre os próprios pés. Ela bufou.

O silêncio durou alguns segundos. Atena podia sentir as pontas dos seus dedos dos pés ficando adormecidas e se amaldiçoou por ter tirado o sapato. Ela realmente precisava ir embora antes que congelasse. O único problema é que não queria admitir que Poseidon estava certo.

—Você não me respondeu. – Ela disse, de má vontade.

—Você não calçou os sapatos.

—Largue de ser irritante. O que é que você está fazendo aqui?

—Bem... – Ele a rodeou e ela viu que Poseidon carregava uma garrafa de vinho. Álcool. Aquilo explicava um pouco das coisas, como o fato dele estar conversando civilizadamente com ela. – Esse é um lugar público do Monte Olimpo, onde eu posso entrar por ser um deus grego. Digo, literalmente, um Deus Grego. Por sinal, o Deus Grego mais bonito de todos...

Atena apenas ignorou aquilo. Ela conhecia Poseidon muito bem pra saber quando ele estava se esquivando de uma pergunta.

—Aham. – A loira o cortou no meio de sua fala. – E o que o Deus Grego mais Irritante de todos está fazendo aqui, ao lado desse lago, além de me perturbar?

Ele passou a mão pelo cabelo e olhou para os pés dela. Atena viu que ele estava escondendo alguma coisa.

—Ah, por Merlin! Seus pés estão roxos. – Ele balançou a cabeça exasperado e conjurou um par de botas. – Aqui. Não precisa me agradecer.

Atena pensou seriamente em recusar, mas agarrou as botas antes de abrir a boca e quase suspirou de alívio ao ver que os pés ainda estavam com a circulação normal e sem nenhum dano aparente. Calçou-as antes que tivesse uma hipotermia.

—Bem, já que você fez a boa ação do dia e não quer me contar o que está acontecendo, vou embora.

A deusa se virou e deu três passos, sabendo que ele morderia a isca.

—Está tudo bem. – Ela sorriu ao ouvir a voz derrotada dele. Conhecia Poseidon muito bem. – Eu te segui.

—O que?

—Eu te segui.

A loira se virou e encarou os olhos verdes dele. Olhos absurdamente verdes, da cor de esmeraldas. Ela piscou, pra não se distrair. Poseidon passava a mão desajeitadamente pelo cabelo preto liso, e ela sabia que ele fazia isso quando estava desconfortável ou nervoso. Nesse caso, os dois.

—Posso perguntar por que fez isso? –Ela respirou fundo, tentando se acalmar. – Será que é pedir demais pra ficar sozinha por alguns minutos sem que o cara mais imbecil do mundo venha me provocar? Ah, é claro que é, quando esse cara é você.

—HEY! – Ele ergueu as mãos, como em rendição. – Não precisa brigar comigo o tempo todo, sabia?

Atena se sentiu um pouco culpada, pois ele realmente parecia chateado. Ou talvez só tivesse bebido demais.

—Você parecia chateada, então eu te segui pra saber o que era. Não queria deixar você sozinha pra que não fizesse nenhuma besteira, como se jogar de um precipício, pular de uma ponte, congelar os próprios pés ao lado de um lago...

Atena deliberadamente ignorou a última parte. Intimamente estava se perguntando como ele teria notado, dentre todas aquelas pessoas que estavam dentro do salão, que ela estava chateada.

—Eu não posso me matar porque sou imortal, Poseidon. E não estou chateada a esse ponto. E não faria uma coisa dessas.

—Se você quisesse conseguiria.

A deusa tentou não levar aquilo como um elogio à sua inteligência, até porque não parecia com um e porque Poseidon jamais, em toda a vida, a elogiaria.

—Bem. Eu não fiz nada disso aí. Então acho que você já pode ir.

—Não fez porque não deixei. – Ele resmungou baixinho e ela quis rir. Ele se parecia muito com uma criança.

O silêncio durou alguns segundos, pois Atena não queria discutir uma coisa daquelas, mas também não queria ir embora.

—O quanto você bebeu?

—Pouco. – O deus refletiu por um segundo. – Eu acho.

A loira passou por ele e pegou a garrafa de sua mão, analisando o rótulo.

—Bem, eu espero mesmo, porque isso aqui é horrível.

—Obra de Dionísio.

—O que você tem na cabeça pra confiar em um vinho que Dionísio te deu? Ah, meus deuses, esqueça. – Ela apenas riu da expressão de Poseidon.

—....

—....

—Você acha que o lago está congelado o suficiente pra que a gente patine sobre ele?

—Não. E não está polido também.

—Droga. Eu sou muito bom em patinar.

—Aham. – Ela riu.

—...

—...

—O que você acha de construir um boneco de neve?

—Sem. Chance.

—Larga de ser chata, Atena.

—Nops. Não mesmo.

—Ah, qual é. Eu sei fazer um boneco igualzinho o Olaf.

—Poseidon, você está parecendo uma criança.

—É noite de Natal, meu feriado favorito. Eu posso parecer uma criança, ainda mais considerando que não ganhei nenhum presente. Dá pra acreditar?

—Uau, que decepção.

—Não me zoe. Estou profundamente magoado.

—Ok.

—....

—...

—Sem boneco de neve, então?

—Sem boneco de neve.

—Você não tem um coração.

—É, eu sei.

—...

—...

—Podemos sentar naquele banco do outro lado do lago?

—Bem... – Ela ponderou. – Acho que sim, considere isso o seu presente.

—Isso o que?

—Eu estar te aturando bêbado.

—Eu não estou bêbado. Acredite.

Atena não discutiu. Ele parecia razoavelmente sóbrio, mas estava sendo agradável, e ela decidiu atribuir essa qualidade ao fato de ele estar (supostamente) alterado por componentes alcoólicos.

O banco ficava há uns trinta metros de onde eles estavam, e eles andaram até lá em silêncio. Poseidon tinha as mãos dentro do bolso do casaco e Atena adotou sua postura. Ela limpou a neve pra fora do assento e se sentou ao lado dele, incrivelmente mais perto do que ela aceitaria caso não fosse Natal.

O deus batucou os dedos na própria perna por alguns instantes, em um gesto muito pensativo.

—Por que você estava chateada?

—É complicado.

—Aposto que sim.

—Você vai ficar aqui até que eu te diga, não é?

—Provavelmente. – Ele concordou, com um sorriso.

—Seria bom se você tivesse alguma coisa de útil pra fazer...

—Infelizmente hoje estou por conta de fazer perguntas pessoais à você.

—Ah, droga. Eu não sou boa em responder perguntas pessoais.

—Aposto que não.

—Você é muito irritante, Poseidon. – A deusa desviou os olhos, como se de repente suas cutículas se tornassem muito interessantes para serem analisadas. – Foi só um contratempo que aconteceu hoje.

—Ei. – Ele ergueu o queixo dela com o dedo. – Não minta pra mim.

A deusa foi incapaz de falar alguma coisa ao observar a curva do maxilar dele e ver o quão preocupado e tenso ele parecia.

—E eu sei que você está mentindo, porque não é a primeira vez que vejo você indo embora mais cedo das festas de fim de ano. Ano passado você mal esperou a ceia, e antes disso você saiu quando Zeus deu o comunicado de fim de ano...

A deusa tentou não transparecer sua surpresa ao perceber que ele estava a analisando há algum tempo, mas teve certeza que ele percebeu.

—Bem... Eu não sei como me justificar quanto a isso.

—Não precisa se justificar. Eu só queria saber o que está te aborrecendo, e ver se dá pra fazer algo em relação a isso.

—Porque você se preocupa?

Ele deu de ombros.

—É Natal, meu feriado favorito. Acho que não quero ver as pessoas tristes.

Ela suspirou. Ele estava sendo honesto, talvez fosse a hora de ser sincera também.

—Acho que é porque eu não entendo essa euforia toda com um feriado de fim de ano. Eu não entendo muito bem esse espírito de natal, e a necessidade de reunir toda a família, quando a nossa família passa por tantos problemas...

Ele analisou o que ela disse por um momento e passou a mão pelos cabelos desgrenhados antes de responder.

—Todas as famílias tem problemas.

—Eu sei, Poseidon. Mas aqui tudo é ampliado. As pessoas aqui realmente odeiam umas às outras, sabe, de verdade. As pessoas aqui fazem ameaças que são verdadeiras e se pudessem matariam uns aos outros. Há apenas o pequeno empecilho de sermos imortais.

Poseidon arqueou uma sobrancelha e a encarou por alguns segundos. Atena sentiu suas bochechas corarem.

—Eu sei, eu sei... Parece muita hipocrisia da minha parte falar isso pra você. – Ela abaixou os olhos para os dedos pousados no próprio colo. – Mas eu não te odeio o tempo todo... Quer dizer, bem, eu não te odeio agora, então acho que isso quer dizer alguma coisa, e, bem..

A deusa se calou quando percebeu que não conseguia chegar a uma explicação muito lógica pro que queria dizer. Poseidon tentou esconder um sorriso pra que ela não ficasse mais desconcertada e resolveu não provoca-la por dizer com todas as letras que não o odiava. Ele podia atormentá-la depois. O deus voltou seus olhos verdes para Atena, que ainda olhava para baixo.

—É verdade, a maioria das pessoas aqui se odeia. Mas também acho que a maioria aqui não se odeia o tempo todo. Isso é, se você não contar eu e Zeus. – Atena soltou uma risada abafada e ele deu de ombros. – Mas é aí que está a magia do Natal. É nesse dia que as pessoas se permitem serem bondosas e gentis. Permitem que as diferenças que as separam fiquem esquecidas. Permitem que os sentimentos de união e de amor prevaleçam.

—Eu não sei se acredito nisso. – Ela resmungou baixinho, com esperança de que ele não ouvisse.

—Você não acredita nisso porque acha que as pessoas não são boas o suficiente pra deixarem de lado suas desavenças? Você não acredita que as pessoas são capazes de amar?

Poseidon não esperava que Atena respondesse a uma pergunta tão direta como aquela, e muito menos que ela o encarasse e falasse com tanta clareza. Mas, como sempre, a deusa se deu ao direito de surpreendê-lo.

Os olhos extremamente cinzentos de Atena pareciam prestes a transbordar quando ela o fitou, quase se perdendo na imensidão verde que eram as orbes do deus.

—Eu não acredito pois eu não sou capaz.

Poseidon abriu a boca duas vezes na tentativa de falar alguma coisa, mas não sabia o que dizer, então deixou que o silêncio perdurasse. A deusa suspirou.

Ela queria continuar calada e não se explicar pelo que tinha dito, pois sabia que se abrisse a boca provavelmente falaria tudo que estava sentindo, tudo que estava engasgado em sua garganta e a sufocava há tanto tempo. Mas aquele silêncio era perturbador, era aquele tipo de silêncio que pede pra ser preenchido, aquele silêncio que machuca seus ouvidos e lateja em seus tímpanos. Atena mordeu o lábio inferior e começou a falar, já sabendo que se arrependeria daquilo depois.

—Eu... Eu não sei. Só não me sinto parte disso tudo. Não sei se sou capaz de esquecer meus problemas, como as outras pessoas fazem, e olhar pras pessoas com quem eu discuti e briguei o ano todo e fingir que está tudo bem. Não sei se consigo rir das piadas de outras pessoas, beber com elas até amanhecer, comer uma ceia de natal gigantesca e me apoiar nelas quando dá meia noite, sendo que existem rachaduras por todos os lados, sabendo que o teto pode desabar a qualquer momento, em qualquer discussão. Eu não consigo me livrar do sentimento de que toda essa comemoração é na verdade uma encenação, pra que a gente se sinta mais leve e finja que, pelo menos no Natal, nós somos uma família unida que se ama. Eu... Odeio pensar assim. Odeio analisar tudo logicamente e não conseguir me distanciar da razão. E é por isso que não sei se sou capaz de amar e fazer parte de tudo isso.

Poseidon fingiu não notar a fraqueza de Atena ao falar aquelas palavras. Fingiu não notar as lágrimas que escorriam pelas bochechas avermelhadas dela. Fingiu que não sentiu o próprio pulso acelerar ao ouvi-la descrever seus sentimentos.

—Não seja tão dura consigo mesma. – O deus coçou a nuca com uma das mãos, se sentindo um pouco desconfortável ao considerar fazer algo que provavelmente a assustaria. Ah, que se dane. Foi o que ele pensou ao tirar a mão do pescoço e segurar delicadamente a mão dela que repousava no banco de madeira.

O primeiro impulso de Atena foi puxar a própria mão para que se desvencilhasse da dele. Mas estava tão frio e a mão dele era simplesmente tão quentinha... A deusa estremeceu ao pensar nisso, mas não se moveu um milímetro.

—Você é plenamente capaz de se sentir parte, de se encontrar no espirito de Natal. Só é mais, hm... racional e crítica que a maioria de nós. – Ele sorriu de lado, pensando em como aquilo poderia irritá-la se ele não falasse com as palavras certas. – Mas isso não é necessariamente ruim, Atena.

—Como pode não ser? Eu não acredito nos sentimentos mais simples das pessoas. Não acredito que minha própria família possa se unir em uma comemoração de forma verdadeira.

—Shh... – Ele sussurrou, levando as mãos unidas deles aos lábios para fazer o sinal de silêncio. – Só me escute, está bem? Eu não sou nem de longe tão inteligente quanto você... – A deusa abriu um sorriso tímido e fofo que Poseidon tentou não prestar muita atenção. – Mas me ouça dessa vez, e acredite no que eu vou te dizer. Você é extremamente intensa em tudo que pensa e sente, você é racional e às vezes não deixa que seus sentimentos prevaleçam. E acho que se até hoje você não acredita que o Natal pode transformar as pessoas, mesmo que minimamente, é porque ninguém nunca te deu motivos pra acreditar verdadeiramente nisso. Se você não acredita que as pessoas possam dar uma chance aos sentimentos de amor e união que a gente só vê nessa época do ano é porque você nunca se deu uma chance de sentir isso.

A deusa engoliu em seco enquanto absorvia aquelas palavras. Ela ficou um pouco espantada com a linha de pensamento de Poseidon, que fazia muito sentido, mas não admitiria aquilo nem em um milhão de anos. Ele era irritante demais para que ela lhe desse aquele pequeno prazer.

O deus baixou os olhos para suas mãos que ainda estavam entrelaçadas e abriu um pequeno sorriso, enquanto dava o espaço que Atena precisava pra analisar suas palavras. Sem realmente pensar no que estava fazendo, ele puxou a mão dela pra mais perto. A deusa arregalou os olhos e se virou para Poseidon, surpresa.

Ele, sem pensar muito no que estava fazendo, se aproximou dela. Poseidon deslizou seus dedos pela franja de Atena, colocando os fios que tinham se soltado do coque de volta no lugar.

—Seu nariz ainda está vermelho como se fosse congelar. – Ele comentou, num sussurro. Atena mordeu o lábio inferior e tentou sorrir, pois não conseguiu formular uma resposta ao ver que Poseidon a encarava abertamente.

Ele olhava no fundo de seus olhos, analisava cada sarda que ela tinha na ponta do nariz, cada pigmento de cor que se espalhava pelas suas bochechas, os fios loiros que haviam se soltado do coque e grudavam em seus lábios entreabertos. O deus sorriu de canto e contornou a linha do maxilar de Atena com a ponta dos dedos, antes de se aproximar e simplesmente beijá-la.

A loira manteve os olhos abertos por alguns instantes, muito chocada pra fazer qualquer coisa, como pará-lo. E, por fim, seus olhos estremeceram e se fecharam e antes que ela realmente pensasse naquilo estava retribuindo o beijo. De Poseidon. Com toda certeza do mundo ela se arrependeria daquilo quando seu cérebro voltasse a funcionar, pois naquele momento ele estava dando curto circuito.

Ele estendeu o beijo pelo máximo de tempo que conseguiu, pois Atena ter correspondido com tamanha boa vontade era um bônus que Poseidon definitivamente não esperava. Quando eles se separaram ele ainda deu um selinho nos lábios dela. E outro. E mais um. E a beijou de verdade outra vez, aproveitando para segurar suas costas e trazê-la mais pra perto. Atena passeou com os dedos nos fios de cabelo dele.

—...

—...

—O que foi isso?

—Um beijo. Incrivelmente bom, por sinal.

—Idiota. – Ela riu baixinho ao rolar os olhos, se repreendendo segundos depois e ficando mais brava a cada segundo. – Por que você fez isso?

—Porque acho extremamente injusto ninguém nunca ter te dado um motivo pra acreditar que no Natal as pessoas podem ser mais bondosas, mais unidas, mais felizes. E que podem demonstrar amor livremente de uma forma natural e verdadeira. Então resolvi fazer isso eu mesmo. E agora seu nariz está quentinho, como deve ser.

—Você definitivamente bebeu muito daquela garrafa.

—Eu não vou discutir isso com você. – Poseidon ignorou todo o discurso dela, o que fez com que Atena ficasse de fato irritada.

—Você é realmente muito, muito idiota. – Ela deu um soco no estômago dele (que não foi tão leve assim). O deus engasgou e logo começou a rir. – Ei! Pare de rir de mim! Poseidon!

—Eu gosto de te ver irritada.

—Posso perguntar o que te deleita nisso?

—Quer dizer que você está prestando atenção em mim.

—Egocêntrico.

—Nunca neguei. – O deus dos mares deu de ombros.— O que você quer fazer agora?

—Esmagar a sua cabeça na parede do templo. Te jogar no lago. Ir embora. Não sei.

—Posso perguntar o por quê?

—Porque você faz essas coisas, como me ajudar, me beijar e me irritar. E eu nunca sei o que você está fazendo ao certo, ou onde que chegar. Então eu quero te dar um soco e deixar bem claro o quão idiota você é, e fazer com que você deixe de ser tão estúpido e detestá...—

—Shhhhhh. – Poseidon colocou os dedos suavemente sobre os lábios de Atena, fazendo com que ela se calasse imediatamente. – Achei que eu tivesse te ensinado algo hoje. Ainda é Natal, então você pode admitir que consegue deixar de lado os nossos problemas pra aproveitar o aqui e o agora. Porque é isso que eu quero fazer.

—Achei que você quisesse fazer um boneco de neve. – Ela sussurrou baixinho, desviando os olhos.

—Depois. Agora, venha aqui que eu ainda não dei o seu presente.

O deus dos mares sorriu suavemente antes de colar suas testas e afagar a bochecha de Atena com carinho. Às vezes, como naquela noite, valia muito a pena escutar as ideias do deus mais irritante de todos os tempos e esquecer qualquer outro contratempo.


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