Nessa vida que segue, tenho que ser minha própria líder, aparentemente. Meu nome é Ana e tenho quatorze anos.

Meus pais, eu nunca os conheci, apenas por fotos, ambos morreram após meu aniversario de três anos em um acidente de carro. Minha tia, Marisa, tomou minha guarda, mas apenas pela pensão do governo, e me negligenciou a vida toda, me dando só o suficiente para não morrer de inanição.

Vivemos em Vitória no bairro Andorinhas em uma casa pequena com cinco cômodos. Parei de ir à escola depois do oitavo ano. Precisava achar um jeito de conseguir algum dinheiro para ajudar Marisa a quitar suas dividas com um agiota.

Foi nessa hora que tive contato com a magia mortal, a heroína. Quando via os compradores usando-a, percebia que eles entravam em um estado de êxtase, fugiam completamente da realidade.

Vendendo e me contendo para não usar, trabalhei duro um ano inteiro para comprá-la. Guardei e a levei para casa. Chegando fui para o meu quarto, com meu canivete.

Enquanto eu sentia meu corpo formigar e pesar com os nervos relaxando, aquela musica me veio à cabeça e eu comecei a cantá-la:

— “Tenta achar que não é assim tão mal, exercita paciência. Guarda os pulsos pro final. Saída de emergência...” - Com a heroína correndo pelas minhas veias, posso esquecer o mundo que me cerca, fugir dessa realidade torturante e assim como a musica diz, guardando os pulsos para o final. Passando por essa porta não poderei mais voltar. Mas abandonarei essa vida de abusos com a minha Papoula da Índia