A Órfã Doce 2.0 escrita por morangochan


Capítulo 3
A fonte da escola


Notas iniciais do capítulo

Oi Morangolinas, aqui é a Morangochan ♥
Vocês estão gostando do rebut do rebut da AOD? :v
Deixe sua opinião nos comentários. Ela é importante para que eu possa melhorar a história cada vez mais.
Faz muito tempo que não me sinto tão confiante com a AOD. Vocês não têm ideia do quanto eu refiz e refiz. Teve uma amiga minha que passou o ano inteiro brigando comigo porque todo mês eu refazia o primeiro capítulo e nada de postar para vocês. Peço minhas sinceras desculpas. Mas vamos ao que interessa.
Boa leitura ♥



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— Ele disse que eu afugentei os caras que queriam surra-lo de novo.

— Ah, até que faz sentido. Você tem cara de super-heroína.

— Sério?

— Não.

A hora do almoço com Elizabeth já havia se tornado bem familiar para mim. Embora eu não estivesse completamente acostumada com os olhares que lançavam para nós duas nos corredores. Era sempre um olhar torto e um cochicho com o amiguinho ao lado. Isso ainda me deixava intrigada, embora Elizabeth houvesse me explicado o porquê das pessoas acharem que ela é uma doida varrida.

— Mas ainda faz sentido. — a ruiva insistiu.

— Ah, é? E como faz sentido?

Pausei minhas garfadas assim que notei a conversa ganhando rumo e se alongando. Mas a ruiva continuava a entupir a boca de comida e continuar falando.

— Você disse que veio de uma escola militar. — ela deu de ombros com a boca cheia de pãozinho.

— E o que isso tem a ver?

Elizabeth suspirou, engolindo toda a comida e finalmente pausando sua refeição.

— Lílian Maxine veio de uma escola militar. — a ruiva iniciou. Suas mãos começaram a gesticular em cima da mesa. Pelo que entendi eu estava sendo representada pelo dedo indicador de Elizabeth que dava pequenos pulinhos ao simular um andar. — Ela veio para a Elite Acadêmica de Shaper's Green, onde a maioria das pessoas vale menos do que nada. E decidiu ser amiga de uma garota que dizem que é maluca. — ela prosseguiu com os gestos. Agora ela mesma era representada por seu outro indicador. Fazendo nós duas, ou melhor, seus dois dedos pularem juntinhos. — Daí todo mundo. — ela agitou todos os outros dedos, exceto os indicadores. — Começou a associar Lílian com Elizabeth Faber. E essa foi a história de como Lílian Maxine se tornou maluca por tabela. Fim.

Eu não sabia se ria ou se retrucava alguma coisa dita por Elizabeth. Então fiz os dois. Primeiro ri um bocado e, limpando as lágrimas, perguntei:

— Mas as pessoas daqui não acreditam que escolas militares são como reformatórios, acreditam?

— É claro que acreditam. Por isso os caras tiveram medo de você. Todo mundo aqui é burro.

Um grito estrondoso ecoou pelo refeitório. Automaticamente meu olhar voltou-se para a cena, conseguindo ainda ver o que acontecera. Uma garota havia tropeçando e tentou puxar seu amigo na esperança de se equilibrar novamente. Mas ao invés disso os dois foram ao chão.

— Viu só? — Elizabeth apontou com o queixo.

Tratava-se de um quarteto. Três garotos e uma garota, que foi erguida pelo braço por um dos amigos completamente ruborizado e zangado.

— Pelo amor de Deus, soltem esses celulares e olhem por onde andam! — ele disse tomando os dois aparelhos.

— Meu jogo! — berrou a garota esticando o braço em busca de seu telefone.

— Meu arquivo! — urrou o garoto erguendo-se do chão velozmente. — Salva o arquivo!

O garoto em posse dos celulares foi seguido pelos dois amigos desesperados e o último, que estava apenas se divertindo com a situação.

Estranhamente notei que TODO o refeitório havia parado tudo o que estava fazendo para assistir a hilária cena dos quatro amigos. Quando voltei o olhar para Elizabeth notei uma expressão tão desgostosa quanto a que fazia nas aulas de história.

— Bleh! — ela fez.

— Quem são esses? — perguntei.

— CLEAS. — a ruiva respondeu.

— Tipo aquele de passar no cabelo?

— Pfff... Não! — Elizabeth deu uma gargalhada e não pude deixar de rir também. Pois a risada da garota vinha com ronquinhos de brinde. — Na verdade é uma sigla, por isso CLEAS.

Meus lábios soltaram um "ah!" de compreensão enquanto eu mantinha os olhos no grupo agora sentado numa mesa com suas bandejas. A garota era asiática, provavelmente japonesa. Ela revirava os olhos e discutia aborrecida por não ter recebido o celular de volta. O amigo a quem ela derrubou tentando se equilibrar tinha uma cabeleira comprida e de aspecto macio, bem mais do que o meu, inclusive. Já o rapaz que tomara os aparelhos celulares era moreno e expressivo. Na verdade sua aparência era bem padrão, mesmo que ele fosse bonito o suficiente para ser um modelo. E por fim o garoto que só ria da situação. Seu corpo era robusto e facilmente se via mais músculos nele do que no resto dos amigos. Não só isso se via de longe como também a cor de sua pele, que era bem mais escura.

— Mas o que é CLEAS?

— É um clube metido a besta que praticamente todos os bobões da escola se inscrevem. — Elizabeth revirou os olhos e logo prosseguiu falando cada palavra com preguiça, indicando assim uma situação rotineira. — E todos os anos ninguém entra porque eles dizem que nenhum candidato se encaixa no que eles querem.

— Mas os clubes não deveriam receber quem se inscreve?

— É, mas o deles é diferente.

— Isso é esquisito. Você disse que quase todos se inscrevem. — ela confirmou com a cabeça. — As pessoas costumam querer entrar em clubes dos quais se identifiquem. Todos se identificam com a mesma coisa? O que esse clube faz?

— Ah, isso ninguém sabe. — ela deu de ombros. — Mas até que é engraçado porque surgem várias teorias. Mas a minha teoria é de que acontece zero coisas lá. Possivelmente o líder do clube combinou com a mãe dele, que é dona do colégio, para tomar uma sala que servisse como espaço de jogos para ele e seus amiguinhos.

— E quais são seus nomes?

— Ih, qual foi? Vai querer se inscrever no clube idiota deles também?

— Não, né? Eu sou só uma novata tentando aprender o nome de algumas pessoas.

Não tão convencida Elizabeth fez vista grossa e começou a responder-me:

— A japonesa é a Tsubaki, o garoto que se espatifou no chão com ela é o Christopher. O cara negro é o Kyle Aiden e o líder é o Charlie Peters.

"Charlie" esse nome ecoou em minha mente. Por segundos a fio permaneci perdida em meus pensamentos tentando lembrar onde ouvira o nome daquele garoto antes. Foi ai que me recordei dos dois garotos falando sobre Nathan e Charlie. Minhas deduções estavam começando a vir, mas Elizabeth interrompeu este processo.

— Ficou hipnotizada, é? — debochou a ruiva.

— Vai sonhando. — devolvi.

A tarde passou suave. Sem aulas chatas, sem trabalhos de casa longos e aborrecedores. Quando vi, já estava andando pelo corredor infinito dos armários, novamente cruzando a galáxia para guardar meus livros. Por sorte Elizabeth me acompanhava, mesmo que seu armário não fosse perto do meu.

— Já anotou o número? — ela perguntou.

— Claro.

— Ótimo. — ela disse empolgada. — Agora é só chamar no Windowlady.

— Você já ouviu falar do Grapeople? Disseram que vai substituir o Windowlady daqui a uns meses.

— Que nada. Isso é só marketing!

Conversamos até a saída do corredor infinito. Elizabeth não parava de tagarelar sobre seus planos para o feriado que nos livraria da escola amanhã.

— Eu vi na internet uma receita de pão de banana que parece ser uma delícia. Você pega um pouquinho de canela e... Ei! Está escutando?

— Desculpa. — sacudi a cabeça para me libertar de tantos pensamentos. — Eu só estava me perguntando por que você não vai viajar para a capital. — ela me olhou confusa. — Na escola militar as pessoas com maior poder aquisitivo viajavam para a capital no feriado da Revolta de Maya. E você me contou que sua família tinha até uma fazenda então eu pensei que...

— Ah, relaxa, Lílian. — ela me interrompeu levantando as mãos e respirando fundo em sinal de paz. Embora que um sorrisinho habitasse seus lábios rosados, notei que ela prosseguia hesitante. — É que eu... Não fico tão animada com feriados nacionais.

— E por que não? — quis saber.

Elizabeth me olhou atônita por uma fração de segundo. Depois passou a língua nos lábios, recompondo-se:

— Ué, todos precisam amar, por acaso? É um país livre, não é?

Sem ter como rebater, dei de ombros.

— E para quê as pessoas vão para a capital, afinal? — disse a ruiva com um tom de aborrecimento na voz. Seus braços já estavam cruzados. — Só para ver a Torre Rosa? Para mim é mais simples ver a miniatura da torre na fonte aqui do colégio.

Não tive como questionar, Elizabeth estava certa mesmo. Cansada, ela jogou sua mochila no chão e sentou-se na beirada da fonte. Quase não havia espaço para se sentar, pois a base da fonte era uma concha cheia de irregularidades. Além disso avistei um pequeno, porém chamativo adesivo amarelo que proibia os alunos a não se sentarem na fonte.

— Elizabeth, eu acho melhor você sair daí. — aconselhei apontando para o adesivo grudado no corpo da mini Torre Rosa.

— Ah, que droga. — ela resmungou. — Mas por que colocaram esse adesivo aí?

Estávamos uma de frente para a outra: ela sentada e eu de pé com as mãos na cintura. No minuto em que a ruiva decidiu erguer seu corpo, alguma coisa me empurrou, fazendo com que caísse em cima de Elizabeth dentro da fonte. Eu, claro, usei meus braços para não mergulhar de cabeça na água. O máximo que me aconteceu foi molhar as mangas. Minha amiga, por outro lado, levou a pior. Ela caiu de costas e ficou completamente encharcada. O uniforme, o cabelo. Sua juba que era antes armada agora mais parecia um suflê de cenoura murcho. A ruiva grunhiu frustrada.

— Sinto muito. — disse em desespero.

Instintivamente virei meu rosto ao escutar risinhos atrás de mim. Eram três garotas da nossa sala. Uma delas, a loira que estava mais perto de mim, eu conhecia como Amelie. Ela e suas amigas estavam conversando sobre o CLEAS no meu primeiro dia de aula.

— Que ótimo mergulho, Faber. Nota dez para você. — Amelie disse simulando um aplauso.

— Eu não acredito nisso! — berrou a ruiva.

Claro que minha posição perante a situação era necessária, mas eu me sentia a deriva mesmo que acabasse de entender que Amelie havia nos empurrado. Meu corpo estava imóvel entre as duas garotas, mexia o rosto alternadamente, mas nada conseguia fazer.

— Olha só, Faber, acho bom você se secar. Pode pegar uma pneumonia ou coisa do tipo. Você sabe, né? Pessoas ruins como você atraem coisas ruins.

Talvez o “coisas ruins” tivesse sido empregado de forma genérica, mas logo mudei de opinião quando vi a garota loira ser bem especifica ao olhar para mim. Depois disso só virou as costas e saiu na maior tranquilidade com suas risonhas amigas. Enquanto isso Elizabeth levantava-se da fonte com as pernas tremendo por medo de escorregar e cair.

— Vaca. — a ruiva resmungou. E logo em seguida disparou uma torrente do que deveria ser palavrões, porém eu não entendi nenhum deles.

— Elizabeth, você tem que falar com a diretora!

— Ah, pelo amor de Deus, Lílian. — ela respondeu farta. — É porque você é nova e não sabe, mas a diretora daqui não faz porra nenhuma. Não é a primeira vez que a Amelie me sacaneia. — e dito isso, ela baixou o tom de voz. — E não será a última.

Em resumo, eu não pude parar de pensar no ocorrido pelo resto do dia. Mila veio me buscar não muito tempo depois, mas não contei sobre o que tinha acabado de acontecer. Para falar a verdade ela nem notou que as mangas do meu uniforme estavam molhadas. Possivelmente estava cansada demais para notar essas coisas. E mesmo que o certo a se fazer fosse informa-la sobre o que havia acontecido no colégio, pensei no tipo de confusão que isso poderia gerar. Afinal, se ela faz escândalo no transito, imagine o que poderia fazer insatisfeita de frente à diretora. Ela poderia por fogo na escola e na diretora. Por isso decidi que deveria omitir algumas coisas para o bem de todos.

Assim que cheguei ao apartamento tive que tomar um longo banho e um chá morno para por minha cabeça no lugar. Meu cérebro não estava moído somente porque uma garota idiota havia sacaneado Elizabeth, e sim porque aquela cena havia embaralhado minha mente. Desde que fiquei sob a guarda de Mila, prometi a mim mesma que seria uma pessoa diferente. Porém, deixar de defender um amigo e ocultar informações necessárias do meu responsável eram duas coisas que o meu eu de antigamente costumava a fazer.

Embora que tivesse prometido mudanças, eu ainda era a mesma.

Beethoven apareceu para mim aquela noite sacudindo os braços para chamar minha atenção. Ele limpou a garganta e tentou novamente harmonizar a orquestra. A respiração era funda, puxando e soltando o ar lentamente. Por algum motivo achei que aquela situação deveria ser digna de choro, mas nenhuma lágrima caiu de meus olhos. Então decidi que estava na hora de tomar o remédio e ir dormir. Não muito tempo depois eu apaguei, deitada com a frustração de um lado e a vergonha do outro.

A manhã me despertou de uma maneira nada delicada. E não, não me refiro a raios de sol brotando da janela em direção a meu rosto – até porque Shaper’s Green não tinha sol. E muito menos de uma mãe batendo em todos os móveis enquanto fazia faxina de feriado – até porque eu não tinha uma mãe. Refiro-me ao barulho de quebradeira que soou do apartamento ao lado. Naquela manhã deram um baque tão forte na parede que tive a sensação de ser acordada com um tapa na cara. Isso porque minha cama fica encostada na parede. E por um momento pensei que estavam demolindo o prédio e que eu morreria atolada nos escombros.

— Nathan, não faz assim! — berrou uma voz feminina.

E enquanto o barulho de quebrarei e de empurra-empurra de móveis continuava a soar, ouvi, por fim, Nathan repetir várias vezes:

— Cai fora daqui! Vai embora! Sai! Eu vou te bater se não sair!


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Notas finais do capítulo

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