É natal.

A rotina no Santuário de Athena continua a mesma, sem enfeites, luzes, presentes ou qualquer coisa do tipo. Ao contrário do Santuário, o vilarejo vizinho estava em festa. Albafica observava todas aquelas pessoas festejando e se perguntava como conseguiam fazer isso. Ele não entendia a felicidade daquelas pessoas, parecia tão distante. Tinha medo de se juntar aos outros, com certeza os machucaria com seu veneno. Como uma pessoa que nunca abraçou ninguém poderia entender o natal?

Albafica permaneceu ali, sentado na entrada da casa de Peixes, observando. Sentiu uma presença subindo a escadaria, mas estava desanimado demais para sair dali. Não demorou muito para uma jovem entrar em seu campo de visão. Conhecia aquela garota, encontrou-a nos arredores do Santuário em um dia de chuva. Ela se aproximou com um presente em mãos.

-Feliz natal, senhor Albafica! - Ela disse sorrindo.

-Bom dia.

-Eu... - Ela corou e tentou se aproximar.

- NÃO SE APROXIME! - Levantou-se rapidamente.

-Mas eu queria te dar um presente...

-Já disse pra não se aproximar de mim, é perigoso!

-Eu posso...te abraçar?

-Claro que não! Jamais me toque! Saia imediatamente das dependências da casa de Peixes!

-Sim, senhor. Me desculpe - Ela saiu chorando.

Albafica ficou muito mal por causa daquilo. Ele não era ruim, só não queria machucar ninguém. Respirou fundo, estava cansado de tudo aquilo. Retirou a armadura de ouro e a colocou na urna. Vestiu sua roupa de treinamento e começou a descer as escadas em direção ao coliseu. Treinar certamente o acalmaria.

Ao passar por Aquário, presenciou um acontecimento um tanto quanto interessante. Dégel, que sempre permanecera calmo e frio, estava desesperadamente tentando se soltar do abraço que Aspros lhe dava. Era engraçado ver a vergonha estampada no rosto do aquariano. Aos poucos, depois de se debater muito, Dégel retribuiu o abraço do geminiano mais velho.

Pensando bem, ele nunca havia abraçado ninguém. O único idiota que insistia em se aproximar dele era Shion de Áries. Teve raiva de si mesmo por pensar em abraçar o ariano. Como ele, Albafica de Peixes, abraçaria alguém com aquele veneno mortal correndo em suas veias? Era absurdo o fato de pensar que poderia chegar tão perto assim de alguém. Mas Shion era diferente. Ele fazia o pisciano perder o controle sobre seus sentimentos.

-Ei Dégel - Aspros o chamou.

-Hm?

-O Albafica ta vendo.

-ME SOLTA! - Dégel o empurrou.

-O que aconteceu com o "eu te amo?" - O geminiano perguntou.

-QUIETO, IDIOTA - O aquariano gritou desesperado.

-Não sou obrigado - Aspros o puxou e beijou.

Enquanto Dégel se debatia, Albafica saiu correndo da casa de Aquário. Aqueles dois eram estranhos, gritavam um com o outro e depois se beijavam. Mais uma coisa que não entendia nas pessoas. Em Capricórnio, El Cid estava fantasiado de rena e brincado com algumas crianças. Resolveu ignorar completamente o ocorrido e continuou seu caminho.

Em Sagitário, Sisiphos estava brincando com a jovem Athena ao lado de uma árvore de natal. Recusou educadamente o convite para se juntar a eles e saiu. Ao passar pela casa de Escorpião, percebeu que Kardia parecia estar procurando alguma coisa.

-Saudações, Escorpião, está procurando alguma coisa?

-Você viu o demônio por aí? Não to achando aquele idiota.

-Demônio? - Perguntou confuso.

-É, o idiota do Defteros.

-Ah - Olhou pra cima - Tem uma sombra estranha no telhado da sua casa, não percebeu?

-Sombra estranha...? - Analisou a sombra - MALDITO DEMÔNIO IDIOTA!

Kardia subiu no telhado e deu um abraço asfixiante no geminiano mais novo, que tentava se libertar a todo custo. Albafica não sabia dizer se todos naquele Santuário eram estranhos ou se o anormal ali era ele. Por que Kardia ficou tão feliz ao encontrar o geminiano que estava se escondendo dele? Não fazia sentido algum. Resolveu continuar seu trajeto até o coliseu. Como a casa de libra estava vazia, Albafica passou direto.

Ele não tinha a menor ideia de quem havia feito aquilo, mas alguém havia colocado um gorro vermelho de papai noel na cabeça do virginiano. Asmita continuou meditando sem desconfiar de absolutamente nada. Em Câncer, Manigold estava fazendo biscoitos, ou melhor, tentando fazer biscoitos. Mal entrou eu já foi expulso pelo dono da casa, que negou desesperadamente estar tentando cozinhar. A casa de Gêmeos estava vazia, afinal os donos estavam "festejando" em outro lugar.

Em Touro, Hasgard estava se divertindo com seus discípulos. O interior da casa estava muito bem decorado e iluminado. Recusou mais uma vez o convite para de juntar e seguiu seu caminho até o coliseu.

Sentiu um certo receio ao passar por Áries. Respirou fundo e continuou andando. Seu coração acelerou ao ver o ariano, quando pensou em falar com ele, Dohko surgiu de Athena sabe onde e o abraçou. Sentiu uma certa inveja do libriano ao ver a liberdade com que abraçava o ariano. Aquela cena o fez amaldiçoar seu sangue por alguns instantes. Queria abraçá-lo também. Quando Dohko o soltou, a jovem que o visitou mais cedo se aproximou de Shion. Albafica se escondeu atrás de um pilar e continuou observando.

-Aqui, senhor Shion, pra você! - Entregou o presente sorrindo.

-Obrigado! - Shion aceitou o presente e a abraçou.

-Já é essa hora? Shion, eu vou levá-la de volta, até mais - Dohko pegou a menina no colo e saiu correndo.

-Tudo bem! Obrigado pelo presente!

Albafica esperou ansioso pra ver o que tinha na caixa. Quando Shion foi abrir o laço, o elmo da armadura de Gêmeos caiu perto de seus pés.

-Parem de reclamar! Eu não aguento várias gerações de gêmeos problemáticos falando na minha cabeça ao mesmo tempo! Já entendi, já entendi! Eu vou concertar a armadura agora, mas que stress!

Deixou o presente em cima da mesa e foi reparar a armadura de Gêmeos. Não era nada fácil lidar com ela, mas era seu dever como reparador de armaduras concertá-la. Albafica ficou ali, observando como sempre. Queria dar o melhor presente de todos a ele, mas não sabia como. Na verdade, ele queria dizer que o amava, mas jamais conseguiria dizer algo do tipo. Albafica se odiava por isso.

Já era tarde quando Shion terminou de reparar a armadura de Gêmeos. Estava muito cansado, então resolveu tomar um banho. O pisciano continuou escondido, pensando no que fazer. Ao voltar do banho, Shion esqueceu do presente e se jogou no sofá.

-A armadura de Gêmeos vai me deixar louco, aqueles problemáticos não conseguem se controlar, tem que falar tudo ao mesmo tempo enquanto eu trabalho naquela coisa! Eu ein, tenho cara de psicólogo? Eu nem tive tempo de abrir o meu presente...PRESENTE!

Shion pulou do sofá e foi correndo até a mesa. Pegou a caixa com cuidado e começou a abrir. Albafica ainda estava lá, esperando pra ver o que era. Shion sorriu ao ver que o conteúdo do presente era um cartão de natal e uma rosa. Ele gostava muito de rosas, principalmente das vermelhas. Elas o lembravam de alguém muito importante pra ele.

-Uma rosa... - Analisou-a - Queria poder tocar o cavaleiro que as usa como posso tocá-la agora - Respirou fundo.

Ao ouvir isso, o cosmo de Albafica oscilou e Shion pode perceber a sua presença.

-Albafica? Desde quando está aqui?

-Eu só estou de passagem...Vejo que ganhou algo - Tentou mudar de assunto.

-Sim, hoje é uma data comemorativa para os cristãos, então ela veio me dar um presente - Mostrou a rosa e o cartão.

-Entendo - Seu treinamento havia ido por água abaixo, ficara tempo demais na casa de Áries - Bom, eu vou me retirar.

-Espera! - Tentou tocá-lo - Deixa eu te dar um abraço.

-NÃO ME TOQUE!

-Não vai me matar com um toque, Albafica! Deixa de ser tão paranoico!

-JÁ DISSE PRA NÃO SE APROXIMAR DE MIM, ENTENDEU?

-Eu já te disse que não tenho medo do seu sangue, entendeu?

-Não ter medo não quer dizer que ele não pode te matar.

-Ele não vai me matar, eu te garanto.

-Como pode ter certeza? - Perguntou curioso.

-Quer fazer um teste? - Abriu os braços.

-Me recuso.

-É só um abraço! Hoje é natal, não é?

-Não somos cristãos.

-Então arruma qualquer outra desculpa convincente e me abraça logo - Sorriu.

-Você realmente ta querendo morrer, vou desconsiderar isso.

-Mas Albafica...

-O que diz no cartão? - Perguntou curioso.

-Isso aqui - Entregou o cartão ao pisciano.

Ao ver o que estava escrito no cartão entendeu o que o ariano queria. Sorriu e o abraçou com cuidado.

-Eu tenho ciúme quando alguém te abraça - Albafica disse abraçando o ariano com força.

-Por que? - Shion perguntou sorrindo.

-Por alguns instantes, essa pessoa está segurando o meu mundo inteiro...

Deixou o cartão cair e beijou o ariano.

Uma frase pode nos fazer desistir de tudo, assim como pode nos mostrar um novo caminho.

"Abraços foram inventados para que as pessoas saibam que você as ama sem ter que dizer nada!"