Presente escrita por Makimoto


Capítulo 1
CAPÍTULO ÚNICO — “NÓS TEMOS UM AO OUTRO.” 》


Notas iniciais do capítulo

Conforme eu expliquei nas notas, essa história é baseada no universo de Outono e retrata um casal que não teve foco na série principal. É só uma ceninha fofa que eu sempre quis escrever. Espero que gostem e Feliz Natal, gente! ♡



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Nem o vento gelado, muito menos a escuridão da noite, foram capazes de enfraquecer o rapaz alto e de envergadura larga que estava parado na frente de uma bonita casa. Ele vestia um grosso moletom verde, com as mangas erguidas até perto dos cotovelos, calças escuras e tênis surrado. Trazia uma sacola nas mãos, mas a ocultava nas costas. Seus olhos acastanhados estavam fixos na porta branca e ele parecia um pouco impaciente, pois engolia em seco em intervalos pequenos, além de esfregar a sola do sapato no chão sobre uma pequena mancha aleatória.

Ouviu ruídos abafados vindo de dentro da casa, que aumentavam conforme se aproximavam, e vozes em timbres distintos. Em poucos segundos a porta se abriu, revelando um rapaz de cabelos negros, trajando um sobretudo escuro e bem alinhado, que sorriu para ele no instante em que o viu. As vozes se tornaram mais nítidas, denotando claramente que se tratava de mais de uma pessoa, divididas entre tons masculinos e femininos, porém a atenção de Naoki estava voltada exclusivamente para o anfitrião que viera recepcioná-lo.

Você está atrasado. — Murmurou Rei sem conter uma risadinha baixa. — Muita algazarra na sua casa?

Ah, é... — Naoki coçou a cabeça. — Eu tive que ficar brincando de cavalinho com a minha irmã por quase duas horas até ela ficar cansada e resolver dormir.

A Haru é bonitinha. — Rei balançou a cabeça. — Eu queria ter visto isso. Você deve ter ficado uma graça bancando a rena.

Já que é Natal, resolvi ser bonzinho. Minha mãe já tinha tido muito trabalho mesmo...

De repente, e interrompendo o dialogo dos dois, a voz fina de uma mulher ecoou de dentro da residência:

É o Naoki? — Indagou a princípio. — Vem jantar com a gente, Naoki, ainda tem muita comida!

O loiro riu, dizendo a si mesmo como era engraçado o fato de ele ter tanta intimidade com os pais de Rei, tanto por já serem amigos há muito tempo tanto porque faziam tudo juntos, e enfiou a cabeça na porta. Ao longe, viu uma mulher e um homem socialmente vestidos sentados em uma mesa comprida, acompanhados de três jovens — dois homens e uma mulher — de idades distintas, e a primeira acenava alegremente em sua direção.

Obrigada, senhora Takagi, mas eu já comi. — O mais alto respondeu amigavelmente.

Espero que a sua mãe e a sua irmã estejam bem. — Ela se aproximou da porta e parou atrás de Rei. — Feliz Natal.

Para a senhora também.

Vocês vão sair? — Indagou a mulher de cabelos negros.

Ah, sim, nós—

Eu prometi que ia acompanhar esse prego na loja de videogames para comprar um jogo que está em promoção por causa do Natal. — Naoki interrompeu o outro, que parecia ter visíveis dificuldades em dar uma desculpa para a mãe, e ela ergueu as sobrancelhas. — Não vai demorar.

Só tenham cuidado. — Ela disse. — E não deixa o seu pai saber disso senão ele vai pegar no seu pé.

Ambos concordaram e, depois de se despedirem brevemente dos pais de Rei, partiram em uma caminhada que durou cerca de meia hora até a estação de metrô. Trocaram piadas e implicâncias, enquanto comentavam como tinha sido a ceia de Natal para ambos, e embarcaram no trem já cheio.

————— ❅ —————

Quando desceram no ponto que dava acesso ao centro da cidade, mesmo nas escadas, já era possível notar as luzes coloridas que se insinuavam do lado de fora. A atmosfera gelada tomava conta de tudo, compelindo as várias pessoas que caminhavam na rua a se agasalharem, e os letreiros acesos das lojas brilhavam e chamavam a atenção. Vários casais podiam ser vistos aqui e ali, caminhando de mãos dadas e sorrindo, e uma enorme árvore de Natal — que aparentava ter por volta de três metros e estava cheia de penduricalhos vistosos — adornava o calçadão entre as vitrines.

Os dois rapazes caminhavam um ao lado do outro. Vez ou outra, Naoki olhava para as pessoas, depois para Rei, e suas bochechas assumiam um tom levemente avermelhado. O moreno, por outro lado, parecia bem confortável observando o ambiente que os cercava enquanto ria e fitava maravilhado os enfeites de Natal.

Apesar de o Japão não comemorar propriamente o Natal, pois a maior parte da população era adepta do Budismo ou do Xintoísmo, aquela data tinha um clima diferente. Felicidade coletiva pairava por aí. Ainda que as pessoas só pensassem em aproveitar o feriado para adquirir produtos por um preço menor, ou viajar com mais tranquilidade, Rei sempre achou curioso o modo como as coisas mudavam puramente por causa de um nome.

Ele não duvidava que o Natal fosse uma data superficial para algumas pessoas, e que muitas delas encaravam aquela história de perdão e solidariedade como uma obrigação, mas, para ele, sempre existiria o outro lado da moeda. Mesmo que um pouco, ou sem perceber, as pessoas pareciam mais felizes, se dedicavam um pouco mais aos outros, e ajudavam a criar uma atmosfera gostosa que cercava a cidade.

Era quase mágico.

Rei sentiu, de súbito, alguma coisa tocar a sua mão direita e isso o arrancou de seus devaneios. Quando olhou para baixo, viu que Naoki tinha entrelaçado os dedos — um pouco trêmulos — aos seus. Ele olhou para o lado e o loiro não o encarava. Ele parecia emburrado e ocupado com qualquer coisa no lado oposto.

Naoki não era do tipo sentimental, nem gostava de demonstrar certas coisas em público, mas sabia que o outro apreciava. Sempre era visto como o piadista bobão e másculo do time de basquete. Ele se enganava, dizendo a si mesmo que tudo era para agradar Rei, mas ele próprio passara o dia anterior inteiro desejando ir para longe; para um lugar onde pudesse passar um dia com o outro sem que precisassem se esconder ou agir como amigos.

Rei nada disse e apenas sorriu. Conhecia o companheiro. Sabia que ele estava sem graça e que o fato de ele estar emburrado — que era extremamente adorável aos seus olhos — só provava esse ponto.

Eles andaram de mãos dadas por algum tempo. Naoki pensava o quão pequena e fina era a de Rei, e o segundo aproveitava o calor gostoso da do maior. Algumas pessoas olharam para eles, outras cochicharam entre si, mas eles não deram a mínima. Eles eram um casal e mereciam estar ali tanto quanto todo mundo. Porque tudo o que importava era aproveitar a companhia um do outro.

Eu tenho... uma coisa para você. — Naoki disse de repente quebrando o silêncio. — Um presente.

Ainda embaraçado, ele estendeu para Rei a sacola que estivera carregando desde que se encontraram. Rei até notara no início, mas depois esquecera. Demonstrou surpresa, com as sobrancelhas soerguidas, e pegou o embrulho com um sorriso.

Você sabe que não prec—

Ele parou de falar quando viu que era um bicho de pelúcia. Porque ele colecionava bichos de pelúcia. Era um hipopótamo arroxeado, rechonchudo e com uma cara abobalhada. O mesmo que ele havia visto em uma loja, uma vez, quando voltavam do treino. Lembrava-se que comentara com Naoki que quando tivesse dinheiro o suficiente compraria com certeza.

Rei pensou em muitas coisas para dizer, todavia nenhuma delas parecia boa o suficiente. Seu coração palpitava e ele sentia uma sensação gostosa e quente no peito. Ergueu o rosto, encarando o mais alto, e sorriu.

Obrigado.

Ora, não me olhe desse jeito. Parece até uma garota apaixonada. — Naoki bufou, coçando a cabeça, visivelmente desconcertado. — Eu vi que você queria esse troço e comprei. Pronto.

Rei achou graça do companheiro, pois sabia que ele demonstrava estar bravo quando estava sem jeito ou nervoso, e abraçou o hipopótamo peludo. Teve a impressão de sentir o cheiro de Naoki nele e era bom.

Também tenho uma coisa para você.

O loiro franziu o cenho, pois nem tinha pensado em receber nada em troca, e observou o moreno remexer nos bolsos de seu sobretudo sofisticado. Naoki ficou se perguntando o que podia caber ali que ele não fosse capaz de ter percebido antes. Não precisou esperar muito tempo pois o outro retirou dali algo que parecia ser feito de um tecido vermelho.

Abaixa. — Rei disse.

O pivô do time de basquete, mesmo sem entender, obedeceu e curvou ligeiramente o corpo para a frente.
Rei desembrulhou o que, mais tarde, mostrou-se ser um gorro escarlate. Esticou-o e calmamente o encaixou na cabeça de Naoki, raspando os dedos em seus cabelos sedosos, fazendo-o estremecer suavemente.

Combina com você. — Disse, por fim.

O loiro passou a mão sobre o gorro por instinto, sentindo a textura grossa da qual era feito, e riu timidamente.

Onde você arrumou isso?

Eu fiz. — Admitiu. — Eu tentei fazer em duas cores, mas ficou todo misturado e desigual, então acabei deixando ele liso mesmo.

Não sabia que você costurava. — Naoki quis rir, especialmente porque, se fosse o contrário, sabia que ia acabar saindo com os dedos todos furados.

Minha mãe me ensinou um pouquinho.

Eles se entreolharam, cada qual com seu presente, e sorriram. Era como se as pessoas que passavam por eles, ou os carros buzinando na rua, ou mesmo o murmurinho alheio, não existissem; apenas eles e a enorme árvore de Natal.

Ah, espera, ficou meio torto, deixa eu ajeitar...

Naoki se inclinou novamente, para que o menor pudesse endireitar o gorro supostamente torto, mas foi surpreendido por um beijo.

Demorou alguns segundos para absorver o ocorrido, porém, uma vez feito, sua mão percorreu o caminho da cabeça dele — passando por sobre os fios escuros e sedosos do ala-pivô — até chegar a parte traseira. Empurrou-a mais para si, enquanto Rei se agarrava delicadamente ao pano do moletom do outro, e ambos fecharam os olhos.

A noite de natal era realmente mágica.

Tão mágica que nenhum deles percebeu uma garota ruiva os observando de longe com um sorriso nos lábios.


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Notas finais do capítulo

SIM, É A EMIKO ALI NO FINAL OBSERVANDO ELES!! Ela não é stalker, foi por acaso, hihihi... Aceito críticas! ♡