Mhysa escrita por Brenda Armstrong


Capítulo 1
Capítulo 1




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Quando conheci Daenerys, ela não passava de um rosto bonito. Invejei seus cabelos tão belos e brilhantes (os meus sempre foram negros e sem graça, comuns na multidão), bem como sua pele alva (que não invejei tanto ao reparar na ardência das queimaduras de sol que lhe proporcionava) e seus belos olhos violetas, os quais invejo ainda hoje, e invejaria até o fim de minha vida, embora não inveje o preço Targaryen neles embutido.

Treze anos, com o peso de um marido e pouca buceta pra dar. Westeriana demais para o khalasar, mas principalmente, desacostumada demais a qualquer vida para objetivar a qualquer coisa.

Naquele jantar do qual compartilhamos, ela ainda sofria tentando se adaptar. O corpo machucado da cavalgada eterna, a mente cansada de ser a khaleesi do maior khalasar das Terras do Verão, e simplesmente sem rumo, controlada por um irmão psicótico tão sem rumo quanto ela própria.

Daenerys jamais se adaptaria completamente ao khalasar. Seu destino sempre foi ainda mais do que isso, mas nenhuma pessoa viva sabia disso.

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A vi novamente em Vaes Dothrak, e a vi observando a morte de seu irmão, ao que me era sussurrado ser este seu único parente vivo. Não conseguiria ler o que seus olhos diziam nem em um milhão de anos, mas deduzi um ponto de dor, junto a algum tipo de alívio. Daenerys se retirou dignamente ao lado de seu marido, como se tivesse acabado de ver um mero escravo morrer. O corpo não havia sido retirado do chão até bem tarde da madrugada, quando foi minha vez de me retirar.

Mas a morte do irmão deve ter tido algum peso em Daenerys. Ela era a última, e por isso, devia ser ela a se vingar dos inimigos de seus ancestrais, a tomar o trono que lhes havia sido tomado. Daenerys adquiriu tantos deveres naquela noite, mas sua inocência talvez tenha demorado um pouco a compreendê-los.

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Certa noite, uma de minhas antigas criadas comentava, em tom de fofoca sigilosa, que a nova khaleesi pedira a uma prima sua que lhe ensinasse as artes do sexo.

Daenerys havia compreendido como ser uma esposa, mesmo que isso não significasse tanto quanto é valorizado.

E Daenerys, de qualquer jeito, não teria essa qualidade como principal, e em momento algum a usaria além de Drogo, embora a própria não soubesse disso.

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Sequer me lembrei dela até que chegou aos meus ouvidos a notícia de que Drogo estava morto, e ela tinha dado a luz a três dragões e um natimorto. Desacreditei, mas 40000 homens sem dono não são fidelidade a ser desperdiçada, e meu khal partiu imediatamente para o local, comigo fazendo questão de acompanhá-lo, mas ao chegar ao deserto, descobri que a Targaryen havia partido sem deixar vestígios.

Mas haviam dragões, e eu sentia isso. Não era simplesmente a palavra de 40000 homens. Podia me sentir em Valyria, mesmo que não o estivesse. Os dragões trouxeram Valyria até o local, e trouxeram Valyria exclusivamente para Daenerys.

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A partir de então, acompanhei sua situação por meio de informantes.

Daenerys certamente não era mais uma menininha, e eu pude afirmar isso com clareza quando ouvi sobre o que fez com os escravos em Astapor. Admirei-a com uma fervura que talvez nenhum de seus seguidores tenha tido.

Mhysa significa mãe em Ghiscari. E é assim que os libertados de Daenerys a nomeiam. Eles a idolatram, e a servem, porque sabem que precisam fazer parte de algo, embora não saibam o que seja. Eu sei. Algo grande, a primeira líder, que vem em busca de ser justiça, em busca de ordem, em busca de ideais morais antes de seus próprios deveres.

Daenerys tinha um objetivo, jamais tão inalcançável. E essa foi sua evolução. De menina sem adaptação, sem objetivo, Daenerys se tornou carvão em brasa.

E então seguiu seu destino, inacreditavelmente determinada.

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O próximo incidente de Daenerys que ouvi foi Mereen. Tomar a cidade lhe teve um preço alto, embora não o pareça. Os corpos que foram colocados no caminho foram a última resistência e ameaça moral. A libertação dos escravos, como Daenerys o fazia, não era bem aceita por pessoas poderosas, e pela primeira vez, ela confrontou isso. E venceu, com o que me foi descrito “um discurso convincente de uma boca adulta e firme”.

Eu não esperaria menos. A menina que conheci foi forçada a crescer, e o fez grandiosamente.

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Daenerys, em seu percurso pelas Terras Livres, foi o fogo que queimou a todo o mal. Foi o fogo necessário para a liberdade, e foi aquela a qual as pessoas se submeteram, e não foram dobradas.

Provou ser inteligente e forte, provou ser digna, e provou ser uma rainha, tanto que a desolação dos Sete Reinos, após a Guerra dos 5 Reis, parecia implorar por seu comando.

Deu liberdade aos presos e fogo aos injustos. Deu a si própria o doce sabor da vingança. Mas sobretudo, teve coragem, de assumir, aos poucos, ciente de tudo, o reino que assumiu.

E assim Daenerys cumpriu seus deveres. Com seu povo, seus filhos, e sua família assassinada.

Daenerys se tornou eterna.


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