What If? escrita por Miss Addams


Capítulo 10
Capítulo 10




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2012 – Paris

 

“The storms are raging on the rolling sea”

Adele

 

— Não sei se é seguro o que estamos fazendo. – ainda que as palavras tenham servido de alerta não havia nenhum rastro de arrependimento em seu tom de voz. Para confirmar ele virou o rosto para olhar o dela e ela retribuiu o olhar com um sorriso fechado, ventava e os cabelos dela teimavam em dançar na sua frente e atrapalhar sua visão.

— Se quiser voltar para o hotel, podemos encontrar algum táxi. – ele sugeriu, mas não sentia nenhuma vontade de voltar agora.

— Não, eu prefiro estar aqui, com você. – mais uma vez enquanto caminhavam ela olhou para ele. Alguns passos depois, ele parou e ela o seguiu, ele enfiou uma mão no bolso de seu casaco preto e tirou dali uma boina preta. Mesmo com a menção dela de se afastar, ele colocou a boina na cabeça dela não sem antes arrumar inutilmente o seu cabelo.

Anahi tirou a boina na cabeça e a segurou entre os dentes ainda olhando para ele, com as mãos fez movimentos para arrumar o cabelo liso e então colocou a boina isso arrancou um sorriso de Christopher, não era a melhor, mas era uma solução para aquietar o cabelo. Eles voltaram a andar só que dessa vez ela levou sua mão de encontro com a dele e cruzaram os dedos tudo em silêncio.

Fazia aproximadamente uma hora que eles saíram do hotel a convite dele para caminhar, o problema era que estavam andando a noite pela cidade de Paris, e um policial na trajetória os alertou que estavam acontecendo alguns assaltos aos turistas para eles tomarem cuidado, era quase um conselho grosso para que voltassem para o hotel. Mesmo assim não o fizeram.

Desde então eles continuaram caminhando lado a lado, mas em silêncio. E não se sentiam incomodados. Era prazeroso um fazer companhia ao outro, Christopher estava contente por ela ter aceitado o convite sabia que aquele era um ponto positivo. Anahi viu que estava acontecendo uma movimentação próxima da Torre Eiffel e se aproximaram vencidos pela curiosidade, próximo do ponto turístico estava acontecendo um festival de música, decidiram ficar por ali após ter caminhando por Champ de Mars.

— Vamos um pouco lá para trás? Quero me sentar. – Ela falou na orelha dele e teve como resposta um aceno de cabeça. Outra vez em silêncio eles caminharam até onde ela queria. Ali ela se sentou e ele sentou atrás dela lhe abraçando a cintura, ela encostou-se a ele.

Não estavam tão longe do médio palco onde aconteciam as apresentações de músicos, naquele momento estava um saxofonista. Não existia nada de grandioso, algumas barracas com comida, outras com bebida, havia jovens em grupo bebendo talvez aquele fosse o começo de uma divertida noite para eles, haviam famílias em várias toalhas estendidas pela grama comendo juntas, crianças brincando, grupos de amigos comentando sobre a apresentação. Alguns policiais, bombeiros circulando para a segurança de público e algumas pessoas assistindo o show.

Não era nada extraordinário, só que era um excelente programa para Christopher ele notou que Anahi estava concentrada no músico no palco porque ela balançava o pé de acordo as notas que escutava.

Ele aproveitou aquele momento para fechar os olhos e fazer um parâmetro de tudo. Se lembrando.

— Christopher? – a voz de Jason lhe veio à cabeça começando a lembrança. Ele deixou de olhar o seu celular e encarou o homem. – Vamos lá? O carro acabou de chegar.

— Claro. – ele guardou o celular no bolso e foi até o amigo que o acompanhava nessa viagem. Estava em Paris, contente por uma boa causa, trabalho.

Não demorou mais que vinte minutos para eles chegarem no local, era a estreia de seu filme Pacifico em Paris e ele veio prestigiar e divulgar seu trabalho. Ao chegar para o tapete vermelho e fazer poses para as fotos se lembrou dela, já que o tinha ajudado a escolher o terno num azul marinho escuro, tinha um lenço vermelho num dos bolsos pequeno, suspensórios caídos, se fosse por ele estaria mais largado só que a ocasião pedia elegância e uma pessoa que tivesse melhor gosto para moda do que ele. Anahi o ajudou a escolher um estilista mexicano que desenhou a roupa, ela tinha razão porque recebeu alguns elogios.

Participou junto com um dos diretores do filme, da coletiva de imprensa antes da apresentação do filme, deu várias entrevistas. Atendeu alguns fãs e pouco antes do filme começar estava conversando com Jason, foi se sentar no seu lugar. Desbloqueou seu celular e viu se tinha chegado alguma mensagem dela, fazia tempo que ela não o respondia mais e isso o deixava preocupado, não era uma boa fase.

O filme começaria logo, Jason veio se sentar próximo a ele, entretanto pulou uma cadeira antes que Christopher pudesse estranhar o fato. Alguém ocupou o lugar, e ele ao se dar conta de quem, sentiu o coração pulsar mais forte. Ela.

— Oi. – ela deu um sorriso tímido. – Ainda bem que não cheguei tão tarde.

— O que faz aqui? – Ele perguntou sorrindo, sem entender nada.

— Quis te fazer uma surpresa.

— Nossa - ele a abraçou forte.

— Jason é um bom cúmplice – ela apontou para ele assim se separaram, o amigo apenas acenou dando os ombros e Christopher voltou a atenção para ela, feliz por sua presença. – Queria ter chegado antes, mas meu voo atrasou. Ao chegar no hotel, me arrumei o mais rápido e estou aqui.

— Muito obrigado, estou tão feliz por te ver. – ele agradeceu e ela ficou corada.

— Era importante para você, esta falando disso há semanas, tinha que estar aqui.

Para surpresa dessa vez de Anahi, Christopher se aproximou e lhe deu um beijo singelo lhe acariciando a bochecha com o polegar, a presença de imprensa e ele ter desviado de qualquer pergunta que fizeram sobre sua vida amorosa não foi um impedimento para nada.

— Obrigado. – ele repetiu dessa vez sorrindo e ela lhe correspondeu.

Após a exibição do filme, houve um coquetel entre os organizadores e os presentes, Anahi era a companhia de Christopher só que ele passada a alegria de ter ela aqui sentiu que havia algo diferente nela. Nos últimos tempos ela passou a se recolher, tenta esconder seus sentimentos, ficou mais séria. Escutava mais do que dizia. Ele detestava isso por imaginar o que significava tanta reclusão.

Então de todas as formas ele tentava lhe chamar a atenção, a incluía nas conversas, falava sobre qualquer assunto. Ainda assim a viu distante com os outros, e o outro fator positivo era o fato de que ela não estava fumando, só que ele estava preocupado.

Alegando cansaço ele veio antes para o hotel e a trouxe consigo, ela estava hospedada no mesmo que o dele por sorte no mesmo andar, no caminho ele fez o convite para saírem para caminhar. Anahi pensou em recusar queria ficar no hotel, mas pensou na razão de ter viajado até ali e então aceitou, trocaram de roupa e então se encontram no hall do hotel para caminhar, no começo ela pensou que ele queria levar em algum lugar em especial, mas ele só queria mesmo andar. E fizeram isso em silêncio.

Christopher abriu os olhos e voltou para a realidade que o cercava ele tinha que começar um diálogo, aquela era a hora.

— Sabe. – Ele depois de muito tempo quieto absorvido de pensamentos e lembranças, chamou a atenção dela.

— Hm – Respondeu voltando o corpo para ele da forma que podia de acordo como estavam sentados.

— Aprendi uma lição nessa vida que não vem de alguma religião em específico, e sim de espiritualidade. – ele engoliu saliva sabendo que ela prestava atenção nele, mesmo sem ver seu rosto. – Aprendi que temos que agradecer o que temos, que temos que valorizar. Várias pessoas por muitos motivos me ensinaram isso e pratico. O que quero dizer nisso tudo é falar dos últimos tempos. – revelou.

— Christ... – ela se remexeu na frente dele, mas ele imediatamente a cortou.

— Por favor, só me deixa falar. – ele pediu.

— Claro que sim. – ela soltou um suspiro, mas voltou a se mexer e virando de lado para que ambos se vissem. – mas, essa conversa tem que ser feita assim, olho no olho. – ela apontou para o olhou dele e depois para o dela e isso arrancou um riso baixo dele. Aproveitando do momento ela virou o corpo totalmente para ele e cruzou as pernas numa posição praticamente de Ioga. Ele a imitou, agora eram apenas os dois e o resto estava avulso à volta.

— Te sinto tão distante ás vezes que é difícil te resgatar. – Ele começou falando. – Mas, quando consigo fazer você sair do seu mundo e vivemos momentos bons, é como se valesse mais a pena. Por que são nos detalhes que me apego a fazer a diferença, ver que você esta aqui comigo, hoje me faz muito feliz. E sou muito agradecido a isso. – ele lhe sorriu emocionado. - Só que eu quero nesse momento lhe pedir algo.

— Pode me dizer.

— Quero que saiba que existe segurança total para que faça o que vou lhe pedir, que para você sempre tenho o coração e a mente aberta. Mas, eu preciso saber o que passa aí dentro, Anahi. Depois de tanto tempo eu preferi não conversar deixei que os outros o fizessem, mas sinto que este é o momento ideal para isso. Se sente que tem um peso maior do que consegue carregar, divide ele comigo. – ele levantou a sobrancelha lhe dando a expressão de preocupação já evidente.

Mais uma vez, como era comum o silêncio se fez presente só que dessa vez era incomodo. Era perceptível isso, e Christopher teve receio que ela não fosse acatar o que ele tinha pedido, mas ela abriu a boca para então fechar e morder os lábios. Ela precisava só de espaço e isso ele daria a ela.

— Eu sinto que quando fui diagnosticada com a doença – começou a falar e parou para olhar para o céu como se encontrasse palavras e forças para tirar isso de dentro de si, confessar seu íntimo a ele. Um nó estava começando se formar e quando falasse a voz sairia embargada e o seu olhar ficaria molhado – foi como se eu tivesse criado naquele mesmo instante um calabouço aqui dentro – apontou para o peito olhando para ele e retornou a falar justamente embargada – onde eu me trancava aí, sempre que queria fugir de pensamentos ruins. Me afundava ali no escuro. – Se calou. Porque as lágrimas começaram a descer e ele buscou a mão dela e apertou com a sua. Era justamente isso. – E quantas vezes eu queria me esconder ali. Seja do que fosse ou de quem, todavia parecia só você me alcançava. – ele assentiu. – Quando eu mais precisava você estava ali. – com a mão livre ela limpou o rosto de algumas lágrimas que caiam. – Seja para ver um filme ou para ouvir música, para um passeio, para comer, um show. Caminhar, falar dos seus estudos, sobre política, filosofia, viajar. Sempre.

— Todos estamos preocupados com você! – ele disse num tom sério. – Sua mãe conversou muitas vezes comigo sobre como foi antes no tempo em que estava doente de anorexia, porque você estava fazendo igual, levantando várias barreiras para que não chegassem a você. Foi difícil quebrar isso. Parecia que algo muito pior estava para acontecer, você esta se isolando. O meu medo era que você pensassem em desistir, não suportaria isso. Assim que sempre estava ali.

— Quando levamos um baque como este algo o transforma completamente seja por bem ou por mal. – as lágrimas dela pararam de cair – De repente me diziam que tinha Carcinoma basocelular e na minha mente só tinha a frase câncer de pele, ali eu tornei meu bicho papão maior do que ele realmente era eu encarava, e ainda o faço ás vezes, que a minha vaidade quase me destruiu, antes pela anorexia e agora pelo câncer.

— Todos nós nos equivocamos.

— Eu sei, mas saber disso na prática é preciso sentir! Quantas pessoas me têm como um ser perfeito e como me deixei levar por tudo isso? Quando me dei conta que não sou esse ser foi como se o mundo tivesse desabado. Sabe do tamanho gigante da pressão que os outros fazem em cima de nós, desde tanto tempo. Tínhamos tanto apoio uns dos outros e com o fim da banda isso acabou, depois tenho minha carreira e tem certo tipo de patamar a ser buscado, colocam tantas expectativas e frustrações que em algum momento eu cedo.

Christopher soltou da mão dela e passou a mão no seu rosto, para mostra que compreendia, parecia não ter palavras para descrever, mas a entendia muito bem. Ela fechou os olhos sentindo a carícia para depois beijar a mão dele.

— Estamos falando de agradecimento e a cada passo pequeno que dou em prol de estar bem, eu o agradeço. Mas, especialmente eu abraçado a você que desde aquele momento na piscina se reaproximou, que foi meu companheiro, que me suportou bem e mal. Por isso tive que estar presente hoje, eu não tenho tantas palavras suficientes para dimensionar o bem que você me faz. – ela se curvou para ficar mais próxima a ele e apoiou suas mãos nas cochas dele para que ficassem claras significado de suas palavras. – Estar hoje aqui é o mínimo que poderia fazer para o um dia importante, que estou orgulhosa, Christopher você é minha dádiva. Eu te amo profundamente. – Anahi completou com um sorriso.

Ele não sabia o que dizer pela surpresa do momento. Anahi não precisava que ele dissesse nada, sabia que momentos ainda ruins ela passaria e saberia que ele estaria ali por ela.

— Quero te mostrar uma coisa. – Ele falou ainda sem deixar de encarar ela. Vasculhou em seu bolso esticando a perna ao máximo e de lá tirou uma pequena gaita. – Eu comprei a pouco tempo, queria te mostrar isso quando voltasse pro México. Jason, me ensinou e ando treinando, espero que valha a intenção já que não sou tão bom, sou regular, mas como você gosta dessa música. Quero te dar esse presente que também é minha resposta para tudo o que disse, e se trata de como eu me sinto.

Ela só soube assentir e esperou ansiosa que ele começasse a tocar, e assim que ele tomou fôlego e começou a assoprar para que a canção ganhasse vida, Anahi lhe deu um sorriso voltando a ficar emocionada porque reconheceu de imediato e começou a balançar o corpo num vai e vem para o lado direito e esquerdo totalmente envolvida pelo momento. Estava novamente emocionada e chorou timidamente ao ver o que ele fazia.

Ao terminar a canção com um último sopro e assim a última nota, ela afastou o instrumento da boca dele e lhe deu um beijo também entregado. Ao fim, ele respondeu.

— Te amo muito. – em voz sussurrada e grave, ela assentiu para selar mais um beijo curto.

Se separaram porque próximo a eles começou o novo show, mal eles sabiam que alguns músicos já tinham se apresentado enquanto conversavam. De vez no meio de algumas pessoas que estavam de pé, o artista iniciou os primeiros toques em seu acordeon num ritmo que só lembrava músicas típicas francesas. Ela voltou a se sentar entre as pernas dele que a com os braços a abraçou novamente, em meio ao inverno parisiense o músico tocava la valse d'Amelie, mas na orelha de Anahi, Christopher cantava versos da canção que ele tocou em gaita para ela e ela sentiu que além da cidade luz, Paris era mesmo a cidade do amor.

 

Nothing that I wouldn't do go to the ends of the earth for you, to make you feel my love

Make You Feel My Love

Adele

 

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