Relatório Especial escrita por André Tornado


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Mais um Natal, mais uma fanfic especial, esta inteiramente dedicada à Izabela.
Espero que gostem deste pequeno texto em que se misturam saiyajin e festas natalícias.



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O relatório era claro: aquela raça merecia ser extinta e sem qualquer lugar para compaixão ou hesitação. Por isso, ainda era mais estranho por que estúpido motivo o meu irmão não desempenhara essa tarefa que seria simples, demasiado simples. Coisa de criança!

Bem, pensei de olhos semicerrados, cínico e desdenhoso, fora essa a razão de terem despachado Kakarotto bebé, poucas horas de vida, do planeta Vegeta para aquele planeta azul, situado nos confins da galáxia do Norte e que se chamava Terra. Porque era habitado por uma raça fraca e dispensável, suficientemente imbecil para até um bebé saiyajin exterminá-la e que merecia sem qualquer sombra de hesitação ou compaixão ser extinta.

Olhei novamente para o relatório suspirando impaciente. Quanto mais lia, mais vontade tinha de formar uma esfera de ki e rebentar com alguma coisa. Se eu não precisasse tanto do Kakarotto para uma missão difícil a um sistema planetário que, digamos, era problemático – esse sim, era um desafio digno dos maiores guerreiros do Universo, que exigiria todas as habilidades de um saiyajin adulto, para o caso, dois, que eu sozinho não conseguira desempenhar aquela maldita tarefa com os resultados esperados e não queria morrer tão cedo, muito menos por causa de um passo mal calculado – nem me daria ao trabalho de pedir ao computador da minha nave cápsula aquele relatório estúpido que, apesar de útil, só continha informações para me irritar.

Os terráqueos eram complicados. Inventavam mil e um disparates para se distraírem, o que só queria dizer que deveriam viver num tédio monstruoso. Tinha a sua lógica, admiti. Se constituíssem uma raça forte, ocupavam o tempo completamente sem espaço para momentos vazios – treinos, combates, massacres e mais treinos. Numa rotina destas não existe a possibilidade de se inventar distrações, pois tudo é trabalho e tudo é distração. Não existe melhor divertimento que massacrar ou treinar ou até combater. Nunca me canso de lutar, nem de me exercitar e é certamente libertador matar sem piedade. Acalma-me os nervos, confesso.

O relatório era mais do que claro: os terráqueos eram completamente dispensáveis. Não havia nada de interesse naquela raça, a não ser, a bem de se ver, o sítio que habitava. O planeta Terra, esse sim, era bastante interessante, rico em recursos naturais, como minério e pedras preciosas, água em abundância – mesmo que a grande maioria fosse salgada, havia processos simples de dessalinização que poderiam ser utilizados para melhorar a sua qualidade – fauna diversificada que poderia ser vendida para consumo ou para criação intensiva, paisagens distintas que serviriam como poiso turístico para vários alienígenas, havendo a possibilidade de satisfazer quem gostasse de deserto, de planuras, de gelo ou mesmo de vulcões em erupção.

Se houve coisa naquele relatório aborrecido que me saltou à vista foram as festas dos terráqueos e aquela que mais me impressionou, pela absoluta estupidez e inutilidade, foi o Natal!

Era uma festa muito antiga, quando os humanos se dedicavam quase exclusivamente à agricultura, relacionada com o ciclo das estações e das mudanças de ano, depois adaptada para comemorar o nascimento de um tal de Jesus de Nazaré. Atravessou os séculos ganhando iconografia e rituais próprios, transformando-se finalmente numa comemoração em que se trocavam presentes, acendiam-se luzes, enfeitava-se uma árvore chamada pinheiro com esferas coloridas, grinaldas e outras inutilidades desde que fossem douradas, vermelhas ou prateadas, cantavam-se cantigas, faziam-se encenações sobre o momento do nascimento do Salvador, comiam-se em banquetes onde predominavam bolos e doces tradicionais da época que variavam consoante a região onde eram os festejos (aqui, o meu estômago exigente de guerreiro saiyajin soltou um ronco de fome e confesso que fiquei curioso com essas iguarias mencionadas) e exigia-se um frenesim de compras. Era geralmente associada às crianças, por causa do nascimento do tal Jesus, e costumava-se pedir desejos, aos quais se chamavam sonhos de Natal.

Os desejos mais normais e mesmo dignos daquela raça inferior tinham que ver com a paz no mundo, amor e felicidade para toda a humanidade, saúde e riqueza, as famílias unidas e todo um rol de lamechices.

Bati com uma mão na testa, prestes a vomitar.

De seguida, esbocei um sorriso matreiro.

- Raditz, meu velho! – disse de mim para comigo. – Vamos fazer um jogo. E se tu também tivesses um sonho de Natal… qual seria?

Atirei a cabeça para trás, o peso da minha farta cabeleira negra espigada pesando-me nos músculos do pescoço, punhos assentes na cintura, fitando o céu lilás daquela paisagem inóspita onde me encontrava a analisar o curto relatório sobre a Terra. Havia vento, rajadas mornas que ajudaram à minha concentração.

Comecei por fazer o pequeno exercício de regressar à minha infância, já que o Natal era para as crianças… Não me lembrava exatamente de algo distinto entre os dias em que era um fedelho, um jovem adulto e o que era agora. A rotina militar dos meus dias era basicamente a mesma desde essa altura, todos os meus desejos centravam-se num único ponto: o gosto pelo sangue. O que poderia eu ter como um sonho de Natal da Terra?

O relatório também dizia que havia um velho, uma figura gorda vestida de vermelho que voava pelos céus noturnos sobre um veículo arcaico chamado trenó, puxado por uns animais voadores de quatro patas, um deles com um nariz que iluminava a noite para abrir uma estrada celeste, velho esse que visitava as casas de todos os meninos e meninas do planeta, entrando pelas chaminés, pelos fogões ou pelas lareiras, deixando presentes, materializando os sonhos de Natal dos pequenos.

As imbecilidades eram demasiado ridículas e eu não evitei rasgar um sorriso irónico.

- Pois bem, meu velho anafado – falei para essa figura imaginária, um tal de Papai Noel. – Eu, o saiyajin Raditz… desejava para o Natal… um massacre!

Soltei uma gargalhada boçal que ribombou pelos pedregulhos que recortavam o horizonte.

Um massacre lindo, regado com uma queda de meteoros, riscos de condenação amarelos por todo o céu, explosões, cheiro pestilento de terra queimada, gritos e terror absoluto. Que imagem perfeita! Por um instante consegui emocionar-me. O Natal é deveras bonito!

Recuperei a postura.

Definitivamente, os habitantes dessa Terra eram para eliminar. “Kakarotto, imbecil, devias ter feito o teu trabalho!”.

- Mas agradeço-te por não o teres feito, por um lado – ri-me satisfeito. – Se não fosse por causa do teu desleixo, nunca eu teria sabido que era possível ter sonhos… de Natal!

Seria um autêntico festival, esse ataque que imaginava, pensei a desligar o computador, a entrar na minha nave cápsula, a preparar-me para partir, marcando a rota para o planeta azul. Tempo de chegada: cinco meses. Chegaria a tempo do Natal?

Seria uma festa inesquecível, retumbante e explosiva como há muito não se veria na Terra. E eu estaria no centro da tempestade, impondo a minha vontade e o meu poder, sentindo-me o melhor guerreiro do Universo, existindo como um deus vivo a despejar a sua fúria, rindo-me orgulhoso, apreciando o momento, os olhos brilhando de felicidade.

E enquanto mataria aqueles imbecis, e quando gritassem de terror e pedissem clemência, eu haveria de sorrir com toda a brandura, um rosto inocente e feliz, explicando:

- Mas este é o meu sonho de Natal!


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Notas finais do capítulo

Confesso que não tinha pensado escrever nada este ano, mas a Izabela convenceu-me e mais uma vez dedico-lhe este texto - e o que há de aparecer no fim do ano, pois a tradição vai manter-se.
Obrigado por lerem!!
Boas Festas!
Happy Holydays!



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