Coisa Nossa escrita por Brenda Armstrong


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Então... tataaaan, vamos pra revelação do grande mistério
Essa fanfic foi feita pro amigo secreto do Indign@adas, e é meu presente do coraçãozinho pra Laura Viana!



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A coisa sobre finalmente se casar com alguém, é que por mais que você ache que já sabe tudo sobre a pessoa, você não sabe. Você pode saber como ela gosta de tomar café da manhã na bancada antes de se casar com ela. Mas você nunca adivinharia que ela odeia que você mude o lugar da caneca. Isso é o tipo de coisa que você precisa estar casado para saber.

No excelentíssimo quarto mês de casado, Ronald Weasley já tinha uma longa lista de coisas que ele não sabia antes sobre Hermione Granger. Podemos citar alguns exemplos:

3-Apesar de arrumar o cabelo antes de sair, Hermione para no espelho da sala e ajeita a franja todos os dias. É a última coisa que ela faz antes de pegar o casaco e ir pro trabalho.

9-Hermione gosta que eu faça o jantar de sexta.

10-Hermione não gosta que eu queime o jantar de sexta.

16-Ela precisa ter o sofá inteiro depois de um dia de trabalho estressante. (Nota mental: não deixar bagunçado)

27-Ela gosta que limpemos a casa juntos. Eu não.

36-Ela fica chateada se eu comer a bolacha dela.

Certo, é inegável que talvez, maridos com um emocional maior do que uma colher de chá já teriam notado algumas dessas coisas. Mas aquilo tudo estava sendo uma experiência fantástica, conhecer alguém tão nos mínimos detalhes, com tanta dedicação.

Apesar do aproveitamento, havia um certo limite. Tudo bem conhecer hábitos de refeições ou gostos quando à vida conjugal. Mas Rony não podia sequer imaginar que o Natal seria uma experiência de conhecimento tão intensa e ampla.

Tudo começou no dia 8 de dezembro de 2000. Era sexta-feira, e como em todas as segundas sextas-feiras do mês, eles pediriam uma pizza. Pizza era, de acordo com a descrição de Hermione três anos atrás, no primeiro aniversário de namoro deles, “a coisa trouxa mais maravilhosa de todas”. Para alguém que era nascido-trouxa, Rony aceitou a opinião. E após o primeiro de muitos pedaços, concordou plenamente com ela. Por que raios os trouxas precisavam de feletones, gelameiras, se eles tinham pizza?

Hermione não havia chego ainda, e ele esperava no sofá, com uma cerveja amanteigada na mão e folheando a parte do Profeta Diário sobre quadribol. As Harpias haviam perdido um jogo importante... Viktor Krum havia feito uma declaração polêmica sobre o fim do seu contrato com o time nacional da Bulgária...

Foi quando Hermione entrou, carregando nada mais que 6 sacolas imensas, vermelhas, cheias das mais estranhas coisas que um passeio pela Londres trouxa na época de Natal podia render. E com um sorriso contagiante:

-Eu tive uma ideia.

Ron mal pode se levantar, embasbacado. Todas aquelas sacolas... quem era aquela, o que havia feito com Hermione? Ah droga, vai ser algo muito, muito complicado. Aproveitou o momento que ela tirou pra colocar tudo sobre a mesa de cento para espiar. Bolinhas... umas coisas verdes... Algo dourado que se assemelhava a um enfeite de um show das Esquisitonas...

Mas afinal, Hermione conhecia o marido que tinha. Mais de 15 segundos com aquela cara de interrogação, ele não ia se manifestar mais. Então, ela prosseguiu.

-Achei que podíamos fazer algo pro Natal. – e deu de ombros, a expressão de menina travessa.

Foi o suficiente. Ronald ergueu os olhos.

-Algo..?

Hermione se jogou sobre o sofá, e o segurou pela mão, de um jeito tranquilo e relaxado.

-Tipo enfeitar a casa. Fazer uns biscoitos. Montar uma árvore.

-Mas não vamos passar o Natal na Toca?

-Vamos! Claro que vamos! Mas é porque sabe, daí aproveitamos pra entrar no clima.

-Ah... tudo bem então.

-É que a gente sempre fez assim em casa. E é muito legal. E eu queria fazer com você, todo o processo...

-Claro. E por onde a gente começa?

Foi o que bastou pra restaurar os ânimos da esposa. Ela se levantou de um pulo sdo sofá, abrindo a sacola com a coisa verde e jogando pra cima dele.

-Pela árvore, né.

Pegou outra coisa verde pra si e ficou mexendo. Como se fosse a coisa mais normal do mundo. Passaram 30 segundos. Quase um minuto inteiro!

-Ahm... Mione?

-Uhm?

-Você percebe que... isso não é uma árvore...

Ela ergueu o olhar, os olhos castanhos arregalados. Um segundo de dúvida, um estalo de realização.

-Aaaaaaah. Me desculpe. Não, não é uma árvore. É uma árvore de mentira. Vamos montá-la. Você tem que abrir os galhos, assim...

Enfiou os dedos entre as folhinhas falsas e foi separando como que ferros que eram os “galhos” maiores.

-Entende? Daí, vamos colocar todos juntos e vai ficar uma árvore de mentira.

Não parecia muito plausível que aquela coisa verde peluda fosse ficar parecendo uma árvore. Mas as coisas que fazemos pelas pessoas que amamos. Desatou Rony a desembaraçar os galhinhos da árvore.

Vinte minutos depois, várias perguntas incoerentes de Ron e um grande esforço de Hermione pra encaixar a metade de cima da “árvore” na metade de baixo, voilá.

-E é por isso, que na Toca usamos uma árvore de verdade. – declarou, certeiro.

Hermione deu de ombros como quem pede desculpas.

-Você precisava ter a experiência de montagem completa. – sequer esperou resposta. – Agora as bolinhas.

Na sacola número 3 (a árvore havia ocupado 2), haviam várias pequenas caixas com bolinhas coloridas e ganchinhos. Hermione puxou o marido pra perto, beijou-lhe a bochecha em incentivo e passou-lhe a primeira.

-É só pendurar onde você acha conveniente. – e parou, observando-o atentamente.

Com toda aquela plateia na expectativa, aquilo pareceu quase mais sério do que os tempos de quadribol em Hogwarts. Rony estendeu a mão, escolheu um galhinho, posicionou o ganchinho e colocou. Hermione sorriu largamente em aprovação, estalando um beijo em seus lábios e lhe passando uma nova bolinha.

-Ei mocinha, acha que vai ficar só olhando enquanto eu faço o trabalho duro? – ele provocou.

Ela franziu o cenho por um instante, depois riu e pegou a própria bolinha, se dirigindo até a árvore e colocando num ponto ainda mais alto que a dele.

Esse negócio de colocar bolinhas na árvore, teoricamente, seria muito menos trabalhoso do que a parte anterior (de montar a árvore e tal). Mas, acontece que Hermione era completamente paranoica.

Para Rony, pareceu muito plausível colocar todas as bolinhas vermelhas juntas. Mas Hermione achou horrível, disse que a distribuição de cor era muito importante e não podia ser feito errado, e até gargalhou do amontoado que ele havia feito com tanta dedicação.

Acabou que, na completa loucura de Hermione, que de dois em dois minutos ia até o outro lado da sala, subia no sofá e olhava tampando um dos olhos para ver se dourado e vermelho não estavam em excesso, e se as bolinhas brancas não estavam estranhas, e se aquela dourada não era muito pequena e aquela prateada, muito grande... foi-se um bom tempo. Quando acabaram, o relógio batia 20h.

Hermione se sentou no sofá e pegou uma caixa de pequenas luzinhas.

-Vá buscar cervejas amanteigadas na geladeira para nós. Estou com sede. Vou desembaraçando isso aqui.

-Olha lá, vá devagar, não quero perder nada importante. – Rony avisou, sorrindo ao deixar o cômodo.

Quando voltou, Hermione estava ao lado da tomada, completamente enrolada em luzinhas que piscavam. Elas passavam por sua cabeça, seu pescoço, a cintura, o braço esquerdo e as duas pernas. Ron ficou boquiaberto com a cena. Sua exclamação de surpresa chamou a atenção da mulher.

Ela sorriu sem graça, toda piscando enrolada no fio, os olhinhos desesperados por ajuda. Merlin, como ela era linda. Não que Ron precisasse vê-la piscando na sala para saber disso. Ela era tão linda, e naquele momento parecia tão perdida, não tinha mais aquela aura de “eu sei o que estou fazendo”, ele deixou as cervejas sobre a mesa e num segundo correu até ela e a abraçou, beijando-lhe na testa e sorrindo largamente.

Hermione não sabia bem como reagir. Na verdade, ela ainda estava se sentindo bem sem-graça por ter se embaralhado toda. Ela só estava tentando desembaraçar, e talvez se girasse poderia esticar o fio sem sair de perto da tomada... A verdade é que não gostava nadinha quando as coisas saíam de seu controle.

Mas Ron estava adorando. Aproveitava o momento de fragilidade da mulher pra mostrar o quanto a admirava, apertando-a nos braços por um longo instante antes.

-Ron...

-Já vou te tirar daí, meu amor. – o sorriso parecia que não ia deixar seus lábios nunca mais. Ainda estava lá quando ele se levantou, com a ponta na mão, e passou por sobre a cabeça dela, desenrolando a primeira das muitas voltas que ela havia feito.

-Eu nunca fui... muito boa com desembaraçar coisas... eu...

Rony beijou seu nariz.

-Para a sua sorte, quando eu tinha oito anos, coloquei tônico dos nós no xampu de Gina. Mamãe ficou tão brava que me fez pentear o cabelo dela até voltar ao normal. – comentou, terminando de desenroscá-la.

Hermione se afastou dos fios, como se fossem uma grande ameaça.

-O que faço com isso? – perguntou Rony, sem entender.

-Tem que enrolar na árvore. – explicou Hermione. – Daí a gente liga na tomada e fica piscando.

-Então pra isso que serve a fomada? Mas... Não seria mais fácil usar encantamentos de luz, que nem fazemos na Toca?

-A vida não é fácil, Ron. – respondeu Hermione, sem ter uma resposta melhor. As palavras saíram rasgando sua garganta. Acostumada a ter sempre a resposta certa na ponta da língua, Hermione não sabia bem o que fazer quando não tinha resposta.

Rony, por outro lado, sorriu ainda mais.

-Uma coisa em que Hermione Granger não é boa, e uma coisa que não consegue responder. Estamos cheios de surpresas hoje, não?

Hermione corou, franzindo a testa.

-Eu estava desprevenida. – reclamou, cruzando os braços.

Mas a verdade é que Rony adorava o jeito com que ela ficava levemente irritada. Não perdeu a oportunidade, pegou-lhe de um puxão na cintura e deu um beijo demorado em sua bochecha – quase o suficiente pra tirar os vincos da testa da garota. Depois, se concentrou em enrolar as luzinhas dela ao redor da árvore falsa, enquanto Hermione já havia se jogado no sofá, observando-o e tomando um gole de sua cerveja amanteigada.

Quando Rony acabou, se jogou no sofá ao lado dela. Lá estava, a primeira árvore de Natal (apesar de falsa) daquela casa. Daquele lar. Ele abriu a própria cerveja amanteigada, sentou ao lado dela e passou um braço nos seus ombros.

-Que achou?

-Eu adorei. E você?

-Eu adorei também.

Silêncio.

-Qual o próximo passo?

Ao vê-la levantar na mesma animação de uma hora antes, Rony decidiu que não devia, definitivamente, ter dito aquilo.

-Tem duas coisas. Eu comprei um Papai Noel para colocarmos na porta. E também comprei coisas para fazermos biscoitos. – Hermione voltou a remexer nas sacolas remanescentes.

-O que biscoitos tem a ver com o Natal?

-Biscoitos em forma de coisas natalinas. – ela revirou os olhos, como se fosse muitíssimo óbvio, obrigada.

-Vamos poder comê-los?

-Claro Ronald. Acha que vamos usar pra que, enfeite?

Era tudo o que precisava pra tirar Rony do sofá, carregando uma sacola com vários ingredientes em direção à cozinha.

-Vamos começar então.

Hermione já nem achava mais estranho, o tamanho gosto que Rony nutria por comida. Apenas pegou a enorme tigela onde juntariam os ingredientes, e foi, do modo trouxa, despejando as quantidades apropriadas.

-Rony, me passa a farinha?

-E esse aqui, pode pôr?

-Não Rony, esse é o fermento, é por último só.

-Vai ir chocolate?

-Não, só depois, na cobertura.

-Isso aí tá muito líquido, tem certeza que vai virar biscoito?

-Vai Rony.

-Ah, agora tá parecendo mais com biscoito. Não tá, Mione?

-Acho que você podia bater.

-Bater? Não gosto de bater em ninguém não. Só se for no Malfoy, aquele cabelo lambido dele me deixa...

Hermione ergueu a cabeça e riu.

-Não, querido. Bater... é a palavra pra... sabe, mexer a massa.

-Mas você não quer mexer?

-Mas tem que ser com mais força.

-Ah. Passa pra cá.

Rony pegou a tigela, a colher e se dedicou imensamente ao trabalho de deixar a massa ainda mais parecida com biscoitos. Mordia os lábios, suava e gemia de nervoso, segurando a tigela como se fosse um filho.

-Calma aí, amor. – murmurou Hermione, rindo, ao passar por trás dele para buscar a forma de biscoitos. Depositou um beijo suave na nuca do marido, e colocou a forma sobre a bancada. – Acho que já deu.

Olharam os dois a massa, depois um pro outro e concluíram que parecia bom.

-Vamos fazer desenhos natalinos agora, amor? – perguntou Rony.

Hermione se sentou na bancada ao lado dele, enquanto estendiam a massa juntos – Hermione colocava e Rony passava o rolo sobre ela. Apesar de não ter um lado muito artístico, ela se sentia confortável naquela situação.

-Acho que vou tentar fazer um hipogrifo.

-O que tem de natalino nisso?

-Uhm... um hipogrifo com um laço vermelho?

-Vou fazer um pomo de ouro.

-Com um laço vermelho?

-Não. Dourado. A distribuição das cores tem que ser perfeita.

Hermione ergueu o rosto, boquiaberta. Como ele ousava?

-Ron...

Não deu tempo. Rony enfiou um pedacinho de massa de biscoito bem em sua língua, antes que ela pensasse num xingamento apropriado.

-Sugiro que guarde seu choque para você, isso foi um pedaço da asa do meu pomo. – comentou, usando o dedo pra espalhar mais e delinear a asa.

Enquanto isso, Hermione usava o vermelho pra colorir o laço de seu hipogrifo.

-Acho que seu pomo ficou meio torto – comentou, meia hora depois, quando tiraram os biscoitos do forno. – Mas a vassoura ficou fantástica.

-Posso comer seu caldeirão natalino?

-Faça as honras.

Afinal, o biscoito nem ficou tão bom assim. Não que precisasse, porque:

1-Eles tiveram todo o trabalho e diversão de fazer. Depois de tudo, quase qualquer coisa pareceria boa.

2-Na realidade, para o estômago esfomeado de Rony, qualquer coisa realmente seria boa.

-Falta alguma coisa, Mione? – perguntou, depois de empanturrados, quando terminaram de encantar toda aquela louça.

-O Papai Noel na porta...

-Claro. Acho que isso é muito importante, né?

Ela revirou os olhos, passando por ele em direção à sala:

-Claro que é importante, Ron.

Ele a seguiu. Ela chamou por um prego, e pegou o enfeite comprado. Era um velhinho simpático, vestido de vermelho e com uma barba grande, parecida com a de Merlin.

Saíram pra rua, e ele posicionou o prego. Depois, ela colocou o enfeite.

Já nevava de leve, e eles nem usavam casacos. Rony passou os braços em torno de Hermione, e olharam o enfeite, o céu e as casas vizinhas.

-Eu poderia dizer que te amo agora. – ele sugeriu.

-Seria bem clichê.

-Então obrigada, amor. Foi muito divertido.


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